Por que produzir nos EUA é mais fácil?, por Glauber Silveira

Publicado em 23/07/2013 16:04 e atualizado em 04/03/2020 14:36
Glauber Silveira, presidente da Aprosoja Brasil.

Quando vamos aos EUA e percorremos as lavouras, visitamos as propriedades, falamos com os produtores, voltamos com um pouco de depressão, pois a diferença de valores é imensa. E não é só financeira ou estrutural, o que mais deprime é ver a valorização dada ao produtor Norte Americano, seja pelo governo, ou pelas próprias empresa. E olha que na composição do PIB Norte Americano a agricultura responde por 1,2%, enquanto no Brasil representa 5,8%.

Mas se não bastasse à questão de valorização do produtor, tem toda a conjuntural de produção e de país. É verdade que eles poderiam estar em situações melhores que a nossa, mas falando em termos de país, solo, clima, riquezas naturais, não teríamos o porquê de tanta diferença. Eles são o terceiro país em tamanho e nós o quarto, mas a pouca diferença acaba aí.

Talvez, um dos fatores de sucesso dos EUA seja a educação, pois os índices são muito diferentes do Brasil, e olha que evoluímos muito nos últimos dez anos. Mas nosso analfabetismo ainda é de 11,4%, enquanto o deles é 1%. Outro ponto importante é referente ao peso dos impostos no PIB: no Brasil são 39,9% do PIB e nos EUA 15,3%. E ainda que tenham caído bastante, os juros oficiais para agricultura no Brasil ainda ficam acima. Aqui são 5,5% contra 3% nos EUA. Sem falar que o PIB per capita dos EUA que é quatro vezes o nosso.

Para produzir, como colocado os juros brasileiros são o dobro e enquanto temos 28 mil km de ferrovias eles têm 224 mil km. Rodovias, nós temos 96 mil km asfaltados e eles, três milhões de km asfaltados. Bom, mas em hidrovias potenciais temos mais que eles, nosso potencial é de 50 mil km de hidrovias, mas utilizamos, segundo a Confederação Nacional de Transportes (CNT) 13 mil km, enquanto eles usam 19,3 mil km.

Temos o modal de transporte mais desfavorável do mundo. No Brasil a soja anda em média 1.100 km para chegar ao porto, nos EUA 1.000 km. A diferença é que o custo médio nos EUA é de 23 dólares e no Brasil 90 dólares. Segundo estudo da FIESP, estamos perdendo quatro bilhões de dólares por ano com nossa ineficiência logística.

O problema todo é que enquanto nos EUA o modal de transporte é formado de 60% hidrovia, 35% por ferrovias e apenas 5% de rodoviário, no Brasil são totalmente invertidos sendo apenas 11% de hidrovias, 36% de ferrovias e 53% por rodovias. E para agravar, o modelo de concessão ferroviária não gera competitividade, com um custo ferroviário igual ao rodoviário.

Armazenagem é outro gargalo, toda propriedade dos EUA tem seu armazém. Os Estados Unidos têm capacidade armazenadora para 130% da sua produção de grãos, ou seja, mais do que recomendado pela FAO que é de 120%. Já no Brasil, a capacidade de armazenagem é de 74%. Talvez, o fator desta diferença sejam os custos dos armazéns que lá custam à metade do armazém brasileiro.

Andando pelos EUA sentimos a diferença, percorri a poucos dias mais de três mil quilômetros por estradas com quatro pistas de cada lado. A todo o momento vemos trilhos que andam laterais as estradas e ao passar por rios vemos as barcaças. Sem falar que nas estradas a cada 50 km encontramos áreas para descanso de motoristas com água gelada e banheiros limpos.

A outra grande diferença é o custo, não só da produção, mas de tudo. A matriz energética dos EUA é totalmente baseada no carvão, são termoelétricas. Eles têm poucas hidrelétricas como no caso do Brasil, e o transporte do carvão mineral é feito de trem. Mas, mesmo com um custo bem maior que das nossas hidrelétricas, a energia lá custa à metade da nossa.

Um produtor nos EUA paga em um pivô de irrigação novo mil dólares por hectare. Aqui no Brasil custa dois mil dólares o hectare. Ou seja, um pivô para irrigar 100 hectares custa lá 200 mil dólares, enquanto no Brasil custa 400 mil dólares. E o custo mensal irrigando no Brasil também é o dobro, já que a nossa energia custa duas vezes mais, mesmo que não transportemos energia de trem.

É notória a diferença quando abastecemos o carro nos EUA. O combustível lá é 30% mais barato que o nosso. E isso, mesmo com o cambio mais alto neste momento, se pegarmos uma média de 2,00 reais por um dólar, nosso combustível fica 50% mais caro que o Norte Americano. E a ironia é o Brasil ser autossuficientes em petróleo, enquanto os EUA são os maiores importadores, importando 8 milhões de barris/dia.

Como podemos ver, essas são algumas das diferenças que penalizam não só o produtor brasileiro, mas toda a sociedade. Talvez essa seja a matriz de toda essa manifestação nas ruas do Brasil. Realmente, o Brasil precisa mudar. Mudar o alto custo das coisas, dos serviços públicos, essa falta de infraestrutura, as obras inacabadas ou mal feitas e todos os outros problemas que sabemos que existem. E a base de tudo isso é a corrupção, as negociações de partidos e por aí vai.

Quem sabe, essas manifestações tragam essa mudança, e que isto se reflita em toda a sociedade, e principalmente, em mudanças estruturais que aumentem a competitividade brasileira. Afinal, temos potencial, mas precisamos de uma reforma profunda e não de um plebiscito. A presidente Dilma sabe o que é preciso fazer, mas precisa ter a disposição de enfrentar uma máquina defeituosa e acreditar que o povo será seu grande exército.

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Aprosoja Brasil

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7 comentários

  • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

    Quanto ao custo do pivot, eu fiz um projeto com a principal empresa fornecedora de equipamentos de irrigação no Brasil, e o orçamento foi de 520,000,00 reais para 34 hectares (completo). Com cambio de 2 reais isso dá 250,000,00 u$, mais de 7,000,00 u$ por ha

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  • Izabel Lima Mococa - SP

    Sem contar a "eficiência" das ongs americanas em promover a CRIMINALIZAÇÃO do produtor rural brasileiro!!!! Afinal a meta deles é :

    FARMS HERE(USA), FORESTS THERE(BRASIL)!!

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  • Andreas Rohm Chicago - TO

    Além disso, o produtor Americano tem acesso ao seguro agrícola. O pagamento de prêmio é fortemente subvencionado (em promedio 62%) e as coberturas permitem um efetivo risk management da operação de produção agrícola. Depois uma sequia tremenda de 2012, nenhum produtor Americano tem que renegociar seu crédito, tem problemas de acceso aos créditos para a próxima safra, nem tem problemas com o ajuste de sinistro, porque existem reglas claras estabelecidas pelo governo junto com as companhias de seguro. Isso dar menos dor de cabeça e mais estabilidade nas comunidades rurais.

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  • LUIZ CARLOS SOBRINHO Aparecida de Goiânia - GO

    - Bom Dia, Sr. Glauber; Parabéns pela matéria. MARAVILHOSA.

    - Da infra- estruta dos EUA, conheço pouco; Mas da Brasileira, conheço bem e com pouca coisa melhora muito.

    - No periodo do Presidente João figueiredo o estoque era enorme e mal armazenado.

    - Algumas empresas armazenadora aproveitava este estoque emprestado da Conab para negociar e industrializar;

    - Fernando Henrique, modernizou isto ai, criou alguns mecãnismo tais como pep, pepro , mercado de opção, prop,vep e vendeu o estoque tudo.

    - Na sequencia veio o Presidente Lula, deu continuidade as leilões e não repoz estoque algum.

    - E não apareceu ninguem, que consegui aproveitar está fartura toda e armazenar com qualidade.

    - Na região produtora sobra cereais no relento e na região que poderia ser consumidora; Os animais morre de fome.

    - E como fazer para exportar, não temos portos de qualidade, não temos ferrovias, hidrovia.

    - Transportes Rodoviários carrissimos, e não tem infra- estrutura para oferecer aos caminhoneiros.

    - O governo deveria ouvir a sociedade e pedir algumas idéias e projetos para melhorar isso.

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  • José Elias Nova alvorada do sul - MS

    Que Pena a populacao da cidade grande nao reconhecer que o campo produz alimento para as mesas de todo o pais e podemos produzir para o mundo se quisermos!!!!

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  • Vicente Roxo Nobre Dias Araxa - MG

    Excelente reportagem, o brasileiro nem imagina o ato estamos atrasados e o qto pagamos de imposto a mais comparado c a realidade de outros.

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  • Edison tarcisio holz Terra Roxa - PR

    que podemos fazer se o agricultor brasileiro para o pt é um bandido um criminoso e o indio é o bom temos que reagir contra esse cardozo e carvalho

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