Eleições e agricultura, por CIRO ROSOLEN

Publicado em 24/07/2014 16:15 e atualizado em 24/07/2014 17:42
Por Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (FCA/Unesp Botucatu)

Apesar do aborrecimento pela propaganda gratuita no rádio e TV, uma eleição, com a possibilidade de mudança, traz esperança. Uma chance de trocar pessoas, pensamentos, objetivos, enfim, mudança de políticas públicas. A agricultura brasileira precisa disso. E a urgência vai muito além do problema de logística, já bem conhecido. A agricultura tem, de muito, sido a âncora econômica brasileira. Cresceu embalada por novas tecnologias, novos investimentos, por vezes com preços internacionais atrativos. Mas novos tempos se avizinham. Foi divulgado que os preços internacionais de commodities agrícolas deverão cair nos dois próximos anos. Até agora, crises de preços baixos foram vencidas com aumentos na produtividade, mas este elástico está quase no limite. Não deve ser mais esperado crescimento significativo nas produtividades, pois nossa produtividade já é alta, cada vez mais próxima do que o ambiente permite.

Grosseiramente, pode se dividir os produtores rurais em três “tamanhos”. Os pequenos (enquadrados normalmente como agricultores familiares), os médios e os grandes. Os pequenos, bem ou mal, vem sendo assistidos, muitas vezes subsidiados por diversos programas governamentais especiais, dirigidos especialmente à agricultura familiar. Não quero aqui discutir o uso de recursos públicos em assentamentos que, muitas vezes, se configuram como investimentos duvidosos. Os programas existem. Os grandes, por sua capacidade econômica e gerencial, mais sua escala de produção, tem conseguido produzir a custos muito competitivos. Existem problemas, mas as grandes empresas tem recursos para enfrentá-los. E os médios?

Os agricultores médios constituem uma vasta legião, responsáveis por significativa parte da produção nacional. Os agricultores médios vivem, trabalham, se divertem em sua cidade no interior. Compram na revenda da esquina, nas lojas de sua cidade, contratam os profissionais do interior. Muito diferente das grandes empresas agrícolas. Assim, em função de sua escala de produção, seu produto é mais caro. Sua competitividade é menor no mercado. Por isso a agricultura de médio porte vem diminuindo de tamanho no Brasil. Em algumas regiões as cooperativas tem tido papel importantíssimo na manutenção do médio agricultor. Mas, onde estão os programas de governo? Onde estão as políticas públicas visando à manutenção deste segmento fundamental de nossa sociedade? Por exemplo, o que acontecerá no estado de São Paulo com os médios produtores de laranja expulsos da atividade pelo greening? É desejável que todos arrendem suas terras para usinas? Outro exemplo: os pequenos ficaram desobrigados da área de reserva, no atual Código Florestal, mas os médios foram tratados como grandes, sem uma transição minimamente aceitável.

Nota-se um aumento no número de grandes grupos, inclusive com empresas de capital aberto, atuando na agricultura brasileira. Isso tem trazido competitividade. Enquanto os preços internacionais estiverem altos, há esperança para os médios agricultores, mas isso deve mudar. Então, o que será daqueles que estão sendo expulsos da atividade? É isso que queremos? De um lado grandes empresas agrícolas, muito eficientes e de outro o agricultor familiar muitas vezes subsidiado? No meio de um deserto? Qual a consequência para a economia da maioria dos municípios?

Eleições: tempo de discussão de ideias e de mudar políticas. Quem encampa a defesa do médio produtor rural brasileiro?

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
CCAS

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Professor Ciro, em que pese no Brasil imperar a fraude estatal unida ao empresariado, não me è possível defender os médios produtores utilizando a política como exercicio de garantias materiais. Não è possível que o médio produtor, o trabalhador, tenha garantias em um sistema em que ele próprio è quem garante os benefícios recebidos por outros. A igualdade nesse sentido não è possível e o estado inchado e mantenedor è uma fraude. O programa renda mínima, vitrine do senador Eduardo Suplicy e do PT, visa a igualdade, e a igualdade nesse caso trata-se apenas de tirar do trabalhador para o que não trabalha. No oposto temos empresas “investindo” 250 milhões de reais em indùstrias de produção de álcool de milho, em regiões com grande desvantagem logística, e em uma època que grande parte das indùstrias tradicionais, produtoras de álcool estão falidas. Qual banco, ou por que artifícios esses projetos são financiados? Por qual artifício cientifico, de repente, produzir álcool combustível de milho tornou-se mais barato que o de cana? Como muito acertadamente o Sr. afirma, no meio disso està o deserto em que estão perdidos os médios produtores. È através desse raciocínio que chego ao ponto de afirmar que as garantias devem ser à todos, dentro do possível, e aqui afirmo não garantias de igualdade e sim de condições pré-estabelecidas e que serão inevitavelmente cumpridas, incluindo aì os trabalhadores que não devem de maneira alguma, serem sacrificados no altar dos exportadores, pela via da desvalorização de seus salários.

    0