Vitória de Pirro - ou - o que eles comemoram?

Publicado em 17/04/2015 19:06

Caros amigos. Depois de ter participado de mais outro momento histórico da democracia brasileira no último dia 12 de abril, onde mais uma vez milhares de brasileiros saíram às ruas para mostrar a sua indignação com o atual estágio de deterioração da estrutura política, econômica e ética do país. E saíram num domingo à tarde, sacrificando parte de suas poucas horas de lazer. E não precisaram receber “vale-protesto”. Embora entenda que a insatisfação atual está relacionada com a descrença generalizada na classe política brasileira, o foco das manifestações foram evidentemente a presidente da república, seu mentor, e seu partido, responsáveis diretos por colocar o país nessa lamentável situação. Mais um passo nessa dura caminhada que teremos pela frente na tentativa de resgatar a identidade perdida de nossa nação e colocá-la novamente na direção certa.

Entretanto, durante esta última semana ouvi e li manifestações governistas e de seus seguidores que conseguiram mais uma vez me deixar estupefato. E por esse motivo optei pelo tema deste texto. De forma resumida, o que vi foi uma espécie de comemoração com a diminuição na adesão no número de manifestantes em relação às manifestações do dia 15 de março. Esses comentários me passaram a sensação de que ficaram aliviados e até felizes, entendendo que o pior da insatisfação da população já passou e que agora é só uma questão de tempo para que essa história de impeachment da presidente seja abandonada. Portanto, depois da ladeira abaixo iniciada no segundo semestre do ano passado, essa menor adesão nas ruas foi efetivamente considerada como uma “vitória do governo”. 

Quando vi esse termo entre aspas me veio imediatamente à mente a expressão “vitória de Pirro”. A expressão “vitória de Pirro”, é uma metáfora para descrever uma vitória, que de tão sacrificada, de tão desgastada, de tão violentamente conquistada, praticamente não valeu a pena alcançar. Pirro, Rei do Epiro, primo de Alexandre, após a vitória sobre os romanos, na batalha de Asculum, teria dito aos seus generais, depois de verificar as enormes baixas em seu exército: Mais uma vitória como esta e estarei perdido! Embora não haja uma definição de dicionário para a expressão, na verdade, "vitória de Pirro" passou a ser mais usada no sentido de "vitória inútil" e  não tanto como "vitória difícil" (o que acontece em quase todas as vitórias). O que quero dizer, é que se eles entendem que tiveram uma “vitória” no último domingo, se é que ela realmente aconteceu, ela foi completamente inútil. Não vão conseguir deter os rumos da história. E a história está sendo escrita por cada pessoa de bem que não aguenta mais este estado de coisas.

Passei então a tentar entender o que eles estão comemoram? Alguma coisa de fato melhorou no país entre os dias 15 de março e 12 de abril? Para responder fui buscar a lista de motivos que enumerei em minha coluna do dia 6 de março pelos quais tinha decidido ir às ruas no dia 15. E como enumero a seguir, não encontrei absolutamente nada que pudesse motivar uma comemoração. Pelo contrário, tive que aumentar a minha lista de 15 para 18 itens:

1) Escândalo 1: o escândalo do Mensalão. O começo de tudo; 

2) Escândalo 2: o escândalo do Petrolão (Operação Lava-Jato da Polícia Federal). Apesar da tentativa de abafamento por parte do governo através do procurador geral da república, as investigações continuam e a cada semana novas prisões vão sendo feitas;

3) Escândalo 3: no meio das investigações da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal encontrou outro escândalo paralelo, ainda sem “apelido”, que passou a ser investigado através da Operação A Origem.  São contratos milionários e fraudulentos de publicidade envolvendo a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Saúde;

4) Escândalo 4: a Operação Zelotes da Polícia Federal encontrou fraudes milionárias por grandes empresas do país na sonegação de impostos através do pagamento de propinas;

5) Congresso 1: compra de votos na aprovação do orçamento da união no final de 2014; 

6) Congresso 2: aumento dos próprios salários enquanto o país mergulha no abismo econômico e moral. Você sabia que um deputado federal chega a ser 30 funcionários?;

7) Congresso 3: liberação de passagens para cônjuges;

8) Agronegócio: tentativa até aqui frustrada de obrigar o emplacamento de máquinas agrícolas;

9) Mentiras de Campanha: mensalão, economia, petrolão, arrocho, etc...

10) Economia 1: inflação fora de controle – em fevereiro chegava anualizada a 7,7%. Em abril já chega a 8,2%;

11) Economia 2: PIB zero em 2014 e previsão de -1% em 2015, o menor desde 1990?

12) Economia 3: absoluto descontrole das contas públicas. Governo tentar distribuir a conta para a parte da 

sociedade que paga impostos e que sustenta esse devaneio;

13) Economia 4: pior nível na criação de emprego desde 2002; desemprego sobe o a 7,4% em fev;

14) Economia 5: aumento de impostos, mesmo com o país entrando em recessão;

15) Economia 6: aumento de juros para 12,75% em março. Pode vir outro em 29 de abril. Com o país sem demanda, juro maior só para atrair capital especulativo;

16) Economia 7: tarifaço nos combustíveis – com o petróleo caindo de US$ 100 para US$ 50/barril;

17) Economia 8: tarifaço na energia elétrica – a somatória dos recentes ajustes chegou até 80%!!!;

18) Pesquisas: apenas 12% dos brasileiros avaliam atualmente o governo Dilma como bom ou ótimo. Onde estão os outros 39% que a reelegeram? Levy, manda a “fatura” para eles;

E quantos outros fatores virão? A que número chegaremos no próximo texto? Com uma lista como essa, e crescendo, eles não podem festejar, não podem comemorar. E nós não podemos esmorecer e nem desanimar. 

Porque é exatamente isso que o governo e seus asseclas esperam. Ou seja, que com a conhecida banalização da corrupção, se tornando a tal ponto sistemática e institucional, daqui há pouco começaremos a achar normal tanto escândalo e desgoverno.  

Um “AgroAbraço” a todos!!!

Flávio Roberto de França Junior

Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria

www.francajunior.com.br e [email protected]

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Fonte:
Flávio França

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    "Agora chegou a nossa vez!"... Esta foi a sensação da maioria dos PeTistas, depois da eleições de 2002 quando o Larapista do Exú Eneadáctyllus alcançou a Presidencia da república. Esta semana o ex Min Joaquim Barbosa, em Florianópolis resumiu o modo operacional deles: Disse que eles alegam: "Nós não inventamos a corrupção, sempre houve corrupção na vida brasileira, ou seja, é como se tivesse chegado a vez deles", respondeu com ironia. A plateia riu e aplaudiu Barbosa.

    Ele contou que não é militante político, mas votou no Lula duas vezes e uma vez na presidente Dilma Rousseff. E que no início do partido havia uma fé como se o PT tivesse vindo "redimir os nossos pecados."

    "Mas o partido, num determinado momento não soube se expurgar, especialmente da sua cúpula, das pessoas que visivelmente se utilizaram da filiação ou da sua posição de poder dentro do partido para enriquecer e se corromper. A visão messiânica, como uma seita, que seriam imunes à corrupção, permitiram chegar ao nível que está", falou. Noticia completa em https://br.noticias.yahoo.com/joaquim-barbosa-diz-governo-mente-ao-afirmar-combate-123632263.html

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