Mosca branca, a cigarrinha mais importante do Brasil, por Rui Scaramella Furiatti

Publicado em 25/01/2016 09:59
Rui Scaramella Furiatti é formado em Engenharia Agronômica pela FFALM; Mestre e Doutor em Entomologia Aplicada pela UFPR, Professor Associado e responsável pelo Laboratório de Entomologia Aplicada da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, tendo como linha de pesquisa principal o manejo integrado de pragas. Trabalha a mais de 35 anos como consultor na produção, manejo e monitoramento de pragas de hortaliças e grãos em diversas regiões do Brasil.

mosca branca - com borda branca

A mosca branca, Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) (Hemiptera: Aleyrodidae) não é uma mosca, mas uma cigarrinha. A sua origem provável é o oriente, porém hoje está distribuída em praticamente todo o globo terrestre habitável. No Brasil os primeiros relatos da B. tabaci foram realizados na década de 1920, porém a partir da década de 1990 o inseto vem aumentando a sua importância. Atualmente se considera a existência de biótipos de B. tabaci para explicar as diferenças na capacidade de colonizar plantas, transmitir vírus, resistência a inseticidas, que se observam entre as diferentes populações do inseto. Porém, De Barro et at. (2014) sugeriram que a B. tabaci é uma espécie críptica, ou seja, constitui um grupo de espécies morfologicamente idênticas, mas que não cruzam entre si, composta de pelo menos 24 espécies distintas.

No Brasil hoje temos identificados obiótipo B (MiddleEastAsia-Minor I, MEAM1);New World (NW) e New World 2 (NW2), biótipos indígenas das Américas (Barbosa et al. 2014) e Biótipo Q (Mediterranean, MED) (Krause-Sakate 2014).O biótipo B coloniza diversas plantas cultivadas ou não, tendo a soja como importante hospedeira. O biótipo Q parece estar ainda restrito ao Rio Grande do Sul e se caracteriza pela capacidade de desenvolver resistentes a inseticidas.

A B. tabaci passa por quatro estádios jovens, sendo que o último deles, erroneamente chamado de pupa, não se alimenta em boa parte de sua existência, permanecendo livre da ação dos inseticidas sistêmicos e de profundidade. Altas populações de “pupas” revelam a ineficácia dos controles realizados para o manejo das ninfas e o tamanho da geração seguinte de adultos. A “pupa” se caracteriza pela cor amarelada e pela presença de “olhos” vermelhos, os quais pertencem na realidade ao adulto abrigado no seu interior.

Os danos da B. tabaci podem ser diretos e indiretos. Entre os danos diretos está a sucção da seiva e o efeito deformante na planta causado pela saliva tóxica do inseto. A fumagina – fungo de cor negra que cobre as folhas da soja – e os vírus são os danos indiretos. A soja é hospedeira de diversos vírus, sendo a B. tabaci a principal vetora. Há fortes indícios de que o vírus do mosaico dourado do feijão (BGMV) está presente em campos de soja no Brasil, entre outros mosaicos.Na soja brasileira os danos diretos e indiretos têm sido medidos e publicados, revelando perdas significativas na produção nas variedades cultivadas atualmente.

Entre os fatores responsáveis pelo aumento da população da B. tabaci estão: plantios consecutivos de soja, feijão e algodão, entre outros hospedeiros cultivados; plantas voluntárias e socas; hospedeiros naturais; altas temperaturas; seca e ambientes com grande estresse por pesticidas. Certamente a falta de manejo das grandes populações de B. tabaci em soja tem contribuído para o aumento da importância do inseto, especialmente no cerrado brasileiro. Embora os fatores chavepara o aumento da importância da pragasão assunto de grande controvérsia.

O monitoramento do adulto da mosca mostra a tendência geral da população enquanto a amostragem das ninfas e “pupas” fornece uma boa estimativa populacional no campo, porém, ambos são fundamentais no manejo da praga.No momento, onível de controle para a B. tabaci em soja é o bom senso, pois o estabelecimento dele envolve problemas complexos.

Entre as medidas de controle mais utilizadas na entomologia está a rotação de culturas, a qual deve ser adotada mesmo para uma praga polífaga como a B. tabaci, pois favorece os inimigos naturais, cujas atividades são aprimoradas com as rotações. Levantamentos de campo têm mostrado a ocorrência de inimigos naturais promissores para o controle de ninfas e adultos, os quais devem ser protegidos pelo uso de inseticidas e fungicidas seletivos, pelo menos.

O problema da mosca branca no Brasil tem que ser entendido como um problema sistêmico e deve ser assumido pelos produtores regionais. A circulação desse inseto entre várias plantas, cultivadas ou não, deve ser monitorada o ano todo, o que nos leva a crer que a interação entre os produtores vizinhos pode ser a forma mais inteligente e eficazno manejo da praga. Os vazios fitossanitários são importantes, porém a sua implantação depende de constante verificação e incentivo, o que pode ser implementado entre vizinhos.

O controle químico é o mais usado contra a B. tabaci, no entanto, quase sempre, mal utilizado. O contato do inseticida com as formas imaturas do inseto na face inferior (abaxial) das folhas e na parte inferior da planta, a grande diversidade de hospedeiros e a possibilidade de resistência, devem ser levados em conta na escolha do inseticida e da metodologia de aplicação.

O uso de inseticidas deve levar em conta ainda o modo de ação no inseto e seu estágio de desenvolvimento (ovo, ninfa, “pupa” e adulto), dosagem adequada, entre tantas outras boas práticas agrícolas. Porém, igualmente importante é a responsabilidade de técnicos e produtores, em adotá-las. A recomendação de químicos sem acompanhamento criterioso dos campos é causa de erros crassos e cada vez mais comuns, evidentes, sobretudo, durante períodos de grande incidência da praga. 

Syngenta

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Por:
Rui Scaramella Furiatti
Fonte:
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