Agrodependência: uma realidade que exige uma nova consciência, por José Luiz Tejon

Publicado em 15/09/2014 12:07 e atualizado em 21/09/2014 22:10
José Luiz Tejon Megido é Diretor Vice Presidente de Comunicação do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável (CCAS), Dirige o núcleo de agronegócio da ESPM, Comentarista da rádio ESTADÃO.

O Brasil, no acumulado do primeiro semestre teve um déficit na balança de pagamentos de US$ 2,49 bilhões. Se não fosse o agronegócio, esse déficit seria de US$ 43,3 bilhões, e a situação do país estaria insustentável. O agronegócio foi responsável por uma venda de US$ 49,1 bilhões, gerando um saldo positivo na sua conta de US$ 40,8 bilhões. 

Neste ano, no cenário econômico do país, só nos resta rezar e esperar por uma venda na casa dos US$ 100 bilhões no agronegócio para termos alguma chance de terminar o ano com alguns trocados positivos no caixa. O capitão de indústria, Antonio Ermirio de Morais, dizia que a força brasileira e que deveria puxar sempre o crescimento é o agronegócio. Ele afirmava termos as condições e os talentos, ou seja, fatores críticos de sucesso mais prontos. E que a indústria seguiria a reboque.

Para compreendermos essa posição, precisamos nos despir dos conceitos antigos, de associarmos esse novo agronegócio a simplesmente “commodities”. Hoje o balanço de pagamentos do país tem 50,4% conectados ao que classicamente chamamos de produtos básicos, a maior participação desde 1978. Mas a tecnologia envolvida nesse tal de produtos básicos mudou extraordinariamente e mesmo na mineração, aspectos de segurança, logística, automação, diferenciação de matérias-primas, acesso a mercados e inteligência de gestão mudaram espetacularmente.

O  agronegócio, o responsável pelo único êxito no acerto das contas do país, até agora, revela um contexto de tecnologia, índices de produtividade ascendentes, educação, formação e espírito guerreiro do setor que combate com estruturas de logística, impostos riscos e custos, os quais não controlam, mas que tem superado e vencido.

Se estamos tendo uma diminuição dos preços dos grãos, neste momento, por uma previsão de super safras de soja e milho, no mundo, falamos ainda de uma saca de 60 kg de soja em torno de R$ 55 a R$ 60, o que é sim o menor preço dos últimos quatro anos, porém, bem acima dos patamares clássicos históricos, o que permite aos agricultores, aqueles que realizam uma competente gestão, estarem ainda com lucro, mesmo com os preocupantes custos incontroláveis crescendo.  Por outro lado, no reino da proteína animal estamos vivendo um momento único na história da produção e das vendas.

No primeiro semestre deste ano o Brasil aumentou a receita com exportações na carne bovina, comparado ao mesmo período do ano passado, em 15% Hong Kong, Rússia, Venezuela, União Europeia e Egito, nossos maiores clientes, onde Hong Kong, leia-se distribuição e capilarização para a China que agora abre o mercado chinês para vendas diretas brasileiras. A suinocultura teve preços ascendentes e demanda maior, tanto interna quanto externa, e a avicultura opera com expectativas de crescimento no segundo semestre deste ano. 

As recentes confusões geopolíticas envolvendo a Rússia, abriu mercados para o Brasil, e, no mês de junho a Rússia foi o nosso cliente que mais cresceu. A Venezuela, da mesma forma, numa crise agroalimentar, veio na segunda posição. E a China, com um consumo per capita de carne vermelha de apenas 6kg/ano, e com a necessidade de transferir cerca de 400 milhões de habitantes do campo para a cidade nos próximos 30 anos, revela necessidades seguras de oferta de alimentos mais nobres. 

Importante ainda comentar sobre o mercado halal, os consumidores muçulmanos, cerca de 2,2 bilhões de pessoas, onde o Egito, Irã, Argélia figuram como os três maiores destinos da carne brasileira. Essa agrodependência, se for tratada com respeito e num contexto de agrossociedade com todos os elementos que a compõem no antes, dentro, pós-porteira das fazendas e no além do pós-porteira, incluindo serviços, turismo, nichos, especialidades e a alta tecnologia embutida, com educação sofisticada, representa uma vocação legítima e verdadeira do Brasil no cinturão tropical planetário. 

O povo brasileiro, eleitores das grandes cidades pesquisados pela Abag/ESPM neste ano, considerou numa proporção maior do que 90% que o agronegócio é muito importante para o Brasil, e ainda é o grande gerador de empregos, mesmo nas cidades. A voz do povo é a voz de Deus, quando perguntados livre e corretamente a respeito dos importantes valores das suas vidas.

Essa nova consciência precisa vir forte e clara, não apenas nos papéis bem intencionados dos presidenciáveis, mas como um foco a ser bem tratado, pois, a partir dele, puxaremos o resto dos setores. As associações da agrodependência, formatados com preconceito e menosprezo, não ajudarão em nada ao próprio agronegócio, e principalmente a todos os demais setores da indústria, comércio e serviços brasileiros. 

O mundo mudou e não se extraem mais produtos básicos como antigamente. Isso agora chama alta tecnologia, logística, educação e formação, marketing e gestão sofisticada. E que, acima de tudo, o governo ajude e não atrapalhe, como no caso do biocombustível.

Leia também no Blog do Tejon, no Notícias Agrícolas:

>> Boa intenção sem cooperativismo não passa nem da porteira

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CCAS

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1 comentário

  • João Alves da Fonseca Paracatu - MG

    COLEGAS PRODUTORES,penso que está na hora de cada um parar um pouco para uma pequena reflexão antes de seguir na lida,primeiro vamos às oportunidades:

    _O mundo precisa comer e se locomover e o Brasil tem ótimas vantagens para prover isto;

    -As produtividades ,a mecanização e o aproveitamento do solo evoluiu imensamente nos últimos 20 anos;

    -A integração global praticada hoje,era inimaginável;

    Agora vamos aos desafios:

    -Como manter a competitividade,levando em conta o tal custo Brasil,impostos e taxas que chegam aos absurdos 37% do PIB?

    -Como pagar pelo menos o dobro, em dólar, por máquinas ,implementos e insumos agrícolas que pagam nossos pares americanos, para disputar o mesmo mercado?

    -Como driblar nossa logística defasada,inoperante e cara?

    -Como conviver com leis trabalhistas e ambientais, feitas por gente que nem sequer tem noção das peculiaridades do meio rural?

    -O que fazer para se ter segurança jurídica e social?

    Não querendo entrar na seara das preferências eleitorais de cada agricultor,até mesmo por aqui se tratar de uma opinião pessoal,penso que fazer um programa de governo e divulgá-lo é a coisa mais simples do mundo,a própria CNA o fez antes de sabatinar os principais candidatos,mas fazer compromissos com gente séria do nosso setor, seria antes de mais nada,o programa de governo,discursos vazios, empolgados,visitas à feiras ,exposições e congressos, não significam nada.

    Dentro da previsibilidade possível, o futuro próximo se apresenta como tempo de arrocho,baixa remuneração,aumento do endividamento(Já é alto),desvalorização do patrimônio e quem sabe até a volta daqueles terríveis anos do endividamento, onde deixamos tantos colegas pelo caminho.

    Para não fazer como diz naquela música do cantor mineiro José Geraldo(“tudo isto acontecendo e eu aqui na praça,dando milho aos pombos”),precisamos pegar nossa meiga senhorita(ou senhora) ,sentar,discutir com nossas famílias,colaboradores,parceiros,entes públicos e tentar errar o mínimo possível,para que, em pouco tempo não transformemos ótimas oportunidades em tragédias duradouras e de soluções traumáticas.

    Se tivesse de dar como resposta qual seria a solução mais adequada para a situação que se desenha, eu diria, como agricultor, que o mais sensato seria não aumentar a área,adequar tecnologias, usar a poupança de adubação em áreas consolidadas,não plantar em áreas, regiões e cultivos poucos competitivos,pressionar os fornecedores para que diminuam margens,negociar,negociar e negociar...Por fim pensaria muito no futuro de meu País analisando o passado,as propostas ,os pensamentos,palavras,atos e omissões de cada um dos candidatos, e, diante da conclusão, tentaria convencer o máximo de pessoas que quero bem.

    Saudações mineiras,uai!

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