Prejuízo iminente... o que fazer? por Glauber Silveira

Publicado em 29/09/2014 18:22 e atualizado em 03/10/2014 18:20
Por Glauber Silveira é Presidente da Câmara Setorial da Soja, Diretor da Aprosoja e produtor rural em Campos de Júlio-MT.

A safra de soja já se iniciou, e quando perguntamos ao produtor qual a sua maior preocupação a partir deste momento, mais de 90% respondem: o clima. O que é mais do que natural, afinal na semente colocada na terra está toda a esperança de uma safra e da renda desejada. Esta safra, porém, se inicia diferente, a maior preocupação do produtor é o mercado, é o preço. Há muito tempo não víamos um cenário tão assustador, não só pelo preço da soja, mas também pelo custo de produção.

A safra norte-americana se consolida como a maior de sua história e o frio que poderia atrapalhar a colheita não ocorreu até agora. E além de produção recorde de soja e milho nos Estados Unidos, aqui na América do Sul, as perspectivas são de aumento de área com clima favorável. A soma destes fatores não poderia dar em outro resultado. A produção alta, a oferta sobrando e os preços baixos.

Pelo que tudo indica as chances de termos preços perto do que o produtor deseja está cada dia mais distante. Por isso, o que nos resta neste momento é racionalizar esta safra cuja semeadura iniciamos agora. Muito produtores, inclusive, já estão tomando suas providencias para diminuir custos. Uma das alternativas é a racionalização do fertilizante, afinal foram vários anos de preços bons e com isto o produtor que investiu em adubação pode nesta safra reduzi-la mantendo a produtividade.

De forma geral, na Região Centro-Oeste os produtores colocam de 80 a 100 pontos de fósforo e potássio, quantidade suficiente para altas produtividades. Neste caso, a pesquisa já mostrou que a redução na adubação após várias safras de boa adubação, pouco interfere no resultado. Este é um dos pontos que o produtor deve fazer as contas. Afinal no Mato Grosso os custos de adubação estão, em média, US$ 224,00/ha. Com a soja a US$ 16,00 a saca, o custo fica 14 sacas por hectare e neste caso um ajuste na adubação onde se tem reserva no solo pode ser uma opção.

É preciso fazer uma gestão muito eficiente do manejo da lavoura. Fiquei muito assustado quando fui fechar os defensivos para a lavoura. Na primeira cotação o custo com defensivos fechou em U$ 250,00/ha. Após muita briga os custos caíram para U$ 220,00/ha, ou seja, US$ 30 a menos e isto hoje significa quase duas sacas de soja por hectare. Me impressionou a quantidade de aplicações de inseticidas recomendadas ou previstas que vão de 7 a 10 aplicações. Realmente precisamos juntar esforços para reverter este cenário de defesa vegetal.

O manejo adequado da lavoura pode significar economias importantes em um ano como este. Qualquer aplicação de inseticida significa uma saca de soja por hectare de custo. Portanto, é fundamental se monitorar e fazer o controle adequado para se evitar a reaplicação. O mesmo ocorre com os herbicidas e fungicidas, qualquer vacilo do produtor significa custos a mais. E nesta safra, se o produtor não zelar pela eficiência no manejo da lavoura a cada erro verá sua renda ficar cada vez menor. Por outro lado, com uma boa gestão o produtor ao invés de aumentar os custos em 2 a 3 sacas/ha, poderá reduzi-los.

Há poucos anos fertilizantes, defensivos e sementes significavam custos em torno de 22 a 24 sacas/ha. Nesta safra, porém, representam de 32 a 36 sacas/ha, lembrando que temos ainda custos operacionais como plantio, colheita, transporte, mão de obra, aplicação de defensivos, prestação de máquinas e equipamentos, depreciação, arrendamento e etc. Somando tudo isto e com os preços atuais, já amargamos um prejuízo de 3 a 6 sacas/ha.

Já passamos por um cenário deste em 2004 e 2005 que fez um estrago não só no Mato Grosso, mas em vários estados brasileiros. O que temos diferente agora é que naquele momento os produtores estavam muito alavancados o que não ocorre no geral nesta safra. Mas em algumas regiões que já vem de safras com dificuldade como no Rio Grande do Sul e algumas regiões da Bahia, Mato Grosso do Sul também e mesmo quem entrou a pouco nas áreas de pastagem de Mato Grosso, sentirão muito caso os preços não retornem ao menos para patamares aceitáveis que compensem a falta de logística e armazenagem brasileira.

Como podemos ver, é uma safra de muita gestão e racionalização dos insumos agrícolas. Os produtores terão que ter uma precisão cirúrgica na condução da lavoura, afinal isto pode significar uma redução de 4 a 6 sacas/ha de custo. É preciso estudar bem antes de fazer qualquer operação na lavoura para que ela seja muito eficiente. Claro que isto todos sabemos, é a máxima da agricultura “a eficiência e a eficácia são sinônimos de rentabilidade”. Então vamos lá, uma boa sorte e um ótimo plantio, pois ele é a base de tudo.

ENTREVISTA AO DIÁRIO DE NOTÍCIAS / MT:

SOJA: MERCADO PREOCUPA PRODUTOR

Até a safra passada, o clima era a maior preocupação de nove entre dez produtores ao iniciar mais um ciclo. O temor, como explica o presidente da Câmara Setorial da Soja, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Glauber Silveira, é mais que legítimo, porque na semente colocada na terra está toda a esperança de uma safra e da renda desejada. Porém, nesse ciclo que acaba de se iniciar com o plantio da oleaginosa em Mato Grosso, a maior preocupação do produtor é com o mercado, com o preço.

“Há muito tempo não víamos um cenário tão assustador, não só pelo preço da soja, mas também pelo custo de produção”.Em momentos como esses de custo alto – e com tendência a subir com possíveis problemas fitossanitários - e preço baixo - e com tendência à pressão baixista - é preciso fazer uma gestão muito eficiente do manejo da lavoura. “Os produtores terão de ter uma precisão quase que cirúrgica na condução da lavoura, pois isso pode significar uma redução de 4 a 6 sacas/ha no custo”Conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o custo total desta safra de R$ 2.404,47/ha, exige a cautela, tanto no plantar quanto no vender. Com custo recorde e produtividade média aguardada em 52,4sc/ha, os preços de paridade para março/15 próximos a R$ 37,50/sc tornam a lucratividade desta safra inexistente.

“A estes preços, apenas o custo com os insumos de R$ 1.458,71/ha poderia ser pago pelo produtor mato-grossense”. O cenário atual lembra em muito o vivenciado na safra 2004/05, quando a alta do dólar em plena aquisição de insumos elevou o custo de produção, juntamente com a severidade da ferrugem asiática, doença pouco conhecida naquele momento. Há dez anos, teve início a maior crise do segmento no Estado, afetando outros produtores nacionais, deste século.Como explica Silveira, a safra norte-americana se consolida como a maior de sua história, mais de 100 milhões de toneladas, e o frio que poderia atrapalhar a colheita não ocorreu até agora. E além de produção recorde de soja e milho nos Estados Unidos, na América do Sul as perspectivas são de aumento de área com clima favorável. “A soma destes fatores não poderia dar em outro resultado: produção alta, oferta sobrando e preços baixando”.

GESTÃO - Como frisa, ao que tudo vem indicando e se consolidando até o momento, as chances de preços perto do que o produtor deseja está cada dia mais distante. “Por isso, o que nos resta neste momento é racionalizar. Muito produtores, inclusive, já estão tomando suas providencias para diminuir custos. Uma das alternativas é a racionalização do fertilizante, afinal foram vários anos de preços bons e com isso o produtor que investiu em adubação pode nesta safra reduzi-la mantendo a produtividade”. De forma geral, na região Centro-Oeste, os produtores colocam de 80 a 100 pontos de fósforo e potássio, quantidade suficiente para altas produtividades.

A pesquisa já mostrou que a redução na adubação após várias safras de boa adubação, pouco interfere no resultado. “Em Mato Grosso, os custos de adubação estão, em média, US$ 224/ha. Com a soja a US$ 16 a saca, o custo fica 14 sacas por hectare e neste caso um ajuste na adubação onde se tem reserva no solo pode ser uma opção”.Ele relata o seu susto ao fechar o desembolso com os defensivos. “Na primeira cotação ficou em U$ 250/ha. Após muita briga os custos caíram para U$ 220/ha, ou seja, US$ 30 a menos e isto hoje significa quase duas sacas de soja por hectare. Impressionou-me a quantidade de aplicações de inseticidas recomendadas ou previstas que vão de sete a dez aplicações. Realmente precisamos juntar esforços para reverter este cenário de defesa vegetal”.Como ele argumenta, o manejo adequado da lavoura pode significar economias importantes em um ano como este. Qualquer aplicação de inseticida significa uma saca de soja a mais por hectare de custo.

“É fundamental monitorar e fazer o controle adequado para se evitar a reaplicação. O mesmo ocorre com os herbicidas e fungicidas, qualquer vacilo do produtor significa custos a mais. E nesta safra, se o produtor não zelar pela eficiência no manejo da lavoura a cada erro verá sua renda ficar cada vez menor. Por outro lado, com uma boa gestão o produtor ao invés de aumentar os custos em 2 a 3 sacas/ha, poderá reduzi-los”.Há poucos anos fertilizantes, defensivos e sementes significavam custos em torno de 22 a 24 sacas/ha. Nesta safra, porém, representam de 32 a 36 sacas/ha, “isso sem considerar custos operacionais como plantio, colheita, transporte, mão de obra, aplicação de defensivos, prestação de máquinas e equipamentos, depreciação arrendamento e etc. Somando tudo isto e com os preços atuais, já amargamos um prejuízo de 3 a 6 sacas/ha”.

(Diário de Cuiabá - MT - 29/09)
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Fonte:
Glauber Silveira

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4 comentários

  • Arci Mendes Pompéia - SP

    - "Depois do dia vem a noite!" Shunji Nishimura... Quem fez uma administração correta dos recursos adquiridos nos anos anteriores, estará tranquilo para passar esta maré!

    AGORA QUE A MARÉ ESTÁ BAIXANDO, VAMOS VER QUEM ESTAVA NADANDO PELADO!

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  • João Biermann Tapera - RS

    Já fiz alguns cenários de preços e produtividades, voltamos a realidade, esses 2 últimos anos foram de uma boa renda, mas agora colhendo bem é pra tocar a vida sem muitos excessos. E dependendo de quem for o presidente, só pra tocar a vida.

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  • Diego Sandro Wischneski Cascavel - PR

    O problema é que as coisas boas acostumam fácil...preços altos, ninguém ligou muito para os custos(claro, tem produtores que sempre olham para isso).

    O momento é de aumentar a produtividade para diluir o custo, deixar de ser um "sortudo" que produziu muito e virar um PROFISSIONAL que SABE produzir muito...

    O sortudo, ao cortar investimentos acaba cortando itens essenciais, o PROFISSIONAL, faz as análises certas, monitoramentos e corta o que não vai fazer falta a curto prazo, até que os preços melhorem...

    Avaliem o que é certo cortar e o que não é...até que ponto podemos deixar de investir na lavoura? até onde é lucrativo? vale apena baixar a fertilidade em um ano e demorar quantos anos para recuperar?

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Agricultura é uma "disputa" para ver quem é que vai quebrar por último... mas o último não quebra!

    Preços da Soja tem perspectiva de voltarem ao normal depois de alguns anos de altas consideráveis.

    NORMAL é uma oscilação em torno de 8.00 dólares por bushel de 27,215 kg

    Milho tem preços abaixo da critica, se aproximando dos 3.00 dólares por bushel de 25 kg o que faz os brasileiros aumentarem ainda mais a área de soja, já superofertada.

    O mais importante disto tudo é o agricultor estar consciente da situação na hora de tomar suas decisões.

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