Os efeitos Aécio-Dilma sobre o mercado, por Flávio França Jr

Publicado em 24/10/2014 17:22
Flávio Roberto de França Junior é Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria

Prezados amigos. Nesta última semana estivemos em Guarapuava/PR onde participamos de dois debates com produtores da região promovidos pela Aprosoja-Brasil e Aprosoja-Paraná, em conjunto com o Canal Rural. O sucesso de ambos os eventos pode ser medido pelo grande número de participantes, pelo alto interesse e pelo elevado nível dos debates ocorridos, e que certamente contribuíram para o conhecimento geral. Especialmente na questão do entendimento dos diversos aspectos da economia e das tendências de mercado de grãos, que foram as áreas cobertas pela minha participação. E o fato de ter sido convidado de última hora para substituir outro painelista que deixou a organização do evento “na mão” (como isso pode acontecer?!?!), será assunto para outro texto. 

Além de comentar as principais projeções econômicas a nível mundial e nacional, e traçar os cenários de mercado para este final de 2014 e, especialmente, para o binômio 2015-16 (os quais vocês podem acompanhar com detalhes em nosso site www.francajunior.com.br), houve grande questionamento por parte dos presentes, sobre o que seriam afinal os chamados efeito-Aécio e efeito-Dilma sobre o mercado financeiro e a economia em geral. Afinal, porque a eleição de Aécio Neves tenderia a trazer calmaria para o câmbio e otimismo para o mercado de ações? 

Para explicar o que são e quais os impactos desses “efeitos”, primeiro é preciso entender que eles estão relacionados essencialmente à questão econômica, de forma aproximadamente pura, ficando de fora os aspectos ideológicos da discussão e o aspecto moral que envolve o significado de uma ou de outra candidatura. Em outras palavras, nessa percepção de mercado não importa se o novo governo será socialista, social-democrata, de esquerda, de centro, de direira, populista, ou qualquer outra classificação alternativa. E não se discute se a continuidade do atual governo traria a perpetuação da brutal onda de corrupção a que vamos sendo apresentados quase que diariamente nesses últimos anos.

A percepção do mercado de forma generalizada, valendo tanto para a parcela doméstica, como para a internacional, é a de que a reeleição da presidente Dilma Rousseff traria a continuidade do atual modelo de política econômica para o país, considerado desastroso pela grande maioria dos agentes, e que levou o Brasil para a condição de estaginflação (recessão econômica com inflação). A questão central aqui é duvidar que ocorram ajustes e mudanças significativas nas diversas categorias que compõem o que chamamos de política econômica, ou seja, política fiscal, política monetária, política externa (que engloba as políticas comercial e cambial) e a política de rendas. Portanto, a sensação é de que o país continuaria ladeira abaixo, com queda no mercado de ações e altas especulativas na taxa de câmbio. Ou alguém imagina que na segunda-feira, caso reeleita, a presidente vai anunciar mudança radical em algum desses aspectos?

Já o chamado efeito-Aécio teria repercussão inversa, com provável melhora geral do humor no mercado, alta no mercado acionário e diminuição da parte doméstica do recente nervosismo da taxa de câmbio (as atenções neste caso ficariam mais restritas ao andamento da economia mundial e a possibilidade de novas altas do dólar no mercado internacional). Em outras palavras, a aposta do mercado seria em mudança radical de política econômica a partir do início de 2015, para tentar recolocar o país nos trilhos. E essas mudanças esperadas envolveriam de forma resumida, os seguintes aspectos:

•    Política fiscal (é a administração de receitas e despesas do Estado): a diminuição brutal e a racionalização da máquina administrativa permitiria o governo a aumentar e qualificar os gastos em infra-estrutura, e diminuir a absurda carga tributária do país. Este é o ponto central da grave crise econômica pela qual estamos passando.

•    Política monetária (é o controle da liquidez da economia, ou a quantidade de moeda circulante): a inversão da atual política fiscal permitiria, por sua vez, a inversão da política de juros altos vigente, que tem provocado de tudo, menos o controle da inflação.

•    Política externa (compreende as administrações das políticas cambial e comercial): no aspecto cambial, ao desarmarmos as armadilhas fiscal e monetária em que nos metemos, poderemos trazer a taxa de câmbio para patamares que permitam a reativação dos aniquilados setores industrial e de exportação. E no aspecto comercial, mudarmos o equivocado atual modelo isolacionista adotado.

•    Política de rendas (política de redistribuição de rendas): apesar de reconhecer o grande avanço social ocorrido na política de rendas nesses últimos anos, entendemos que o modelo atual está esgotado e precisa de uma urgente mudança de gestão, a fim de evitar a perpetuação da miséria. Bolsa-família tem que ter prazo de validade. 

É possível afirmar categoricamente que um eventual governo Aécio promoveria todas essa mudanças entendidas pela lógica, pelo bom senso e pelo mercado, recolocando o Brasil na rota do crescimento e do desenvolvimento social? É evidente que não. Por mais determinação e boa vontade que exista, haverá o duro enfrentamento com o sistema vigente. Especialmente contra o fisiologismo dominante no Congresso Nacional. Mas certamente essas mudanças seriam buscadas, mesmo que parcialmente. A aposta seria então, no Brasil ladeira acima. Por outro lado, é possível afirmar que não dá para imaginar um eventual segundo governo Dilma se reinventado, abandonando seus dogmas ideológicos e adotando alguma mudança nessa direção citada.

A aposta seria então, no Brasil ladeira abaixo.  

Um “AgroAbraço” a todos!!!

www.francajunior.com.br e [email protected] 

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
França Junior Consultoria

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

6 comentários

  • ARLINDO ALBRECHT Campo Alegre de Goiás - GO

    Sr. Rodrigo Polo Pires,sobre as declarações do Senador Ronaldo Caiado,este quando era Deputado Federal tentou "depor" um Ministro da Agricultura, o último dos bons Ministros da Agricultura que tivemos,estava equivocado nesta tentativa de "depor" o Ministro, e quem garante que não esta cometendo o mesmo erro?

    0
  • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

    Falta explicar o que é crony capitalism para o Brasileiro (Capismo de compadrio, ou capitalismo estatista) que é o que vemos atraves do Bolsa BNDES, dos negocios escusos entre ditos grandes empresarios e partidos socialistas/comunistas.

    aqui esta a reportagem sobre Lula e Blairo Maggi em Cuba promovendo o plantio de soja na ilha presidio do Fidel: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,lula-leva-maggi-a-cuba-para-aconselhar-castro-sobre-soja,1135014

    0
  • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

    De pleno acordo Rodrigo,

    O mercado se baseia nos fatos do presente e no histórico passado para fazer previsões futuras e balizar suas decisões.

    Vamos a um exemplo de um produtor rural que vai investir em terra:

    1) o produtor vai estudar o histórico da área, se lá existe risco fundiário para ser invadido posteriormente pelo MST ou Índios (lógico que esses só vão invadir depois da propriedade estar toda estruturada)...

    2) Buscar a documentação da propriedade para ver se esta tudo legalmente constituído;

    3) analisar tecnicamente a propriedade em função da atividade a ser explorada;

    4) vai analisar como o governo se posiciona em relação ao direito de propriedade e afins...

    a partir desses dados ele vai definir se compensa ou não comprar e quanto vale a propriedade. Assim vai definir o que fazer com seu dinheiro em um investimento a longo prazo e de risco em um país onde a ideologia socialista/comunista impera.

    0
  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Sr. Flàvio França, o congresso terà que cassar 40 deputados federais, mais os estaduais, que participaram da roubalheira do PT. Inclusive esses ai da reportagem da RBS, http://globotv.globo.com/rbs-rs/rbs-noticias/v/agricultores-vitimas-de-fraude-no-rs-abandonam-campo-e-temem-novos-emprestimos/3716678/

    0
  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Em que pese o Sr. Flavio França querer diminuir o candidato Aècio Neves, utilizando como sempre a omissão de fatos, não dà para duvidar da capacidade de Aècio Neves, desacreditado no inicio foi ao segundo turno, enfrentou uma campanha difamatória sem precedentes na història, enfrentou a fúria e o ódio de Lula, enfrentou as pesquisas negativas à sua candidatura que sempre erraram a favor do governo, enfrentou a poderosa màquina governamental numa luta desigual, assimétrica, e o Sr. França “acredita” que Aècio não conseguira enfrentar os fisiológicos do congresso? Aècio Neves è o homem que irà vencer as eleições de domingo com a palavra, a palavra de esperança de um Brasil melhor e com o voto das pessoas de bem deste nosso Brasil.

    0
  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Sr. Flàvio França, o mercado de capitais não trabalha com "sensaçoes", e sim com fatos. O que de fato os operadores de bolsa dizem è "quem è que vai por dinheiro em uma empresa no Brasil, como a petrobras por exemplo, sabendo da roubalheira que hà dentro dessas empresas?". O dinheiro vai para a bolsa americana, onde não tem politico metendo a mão no dinheiro das empresas. Amigos, todos sabem minha opinião à respeito de Dilma, do PT e de lideranças que andam por ai dizendo ser ruralistas. Se não acreditam em mim, aqueles que acompanham meus comentàrios vejam o que diz Ronaldo Caiado, senador da repùblica," Segundo Caiado, Blairo não apoia a reeleição de Dilma para defender Mato Grosso ou a agropecuária brasileira. “Infelizmente, está defendendo o interesse próprio porque usou o governo do PT para renegociar suas dívidas e garantir facilidades na obtenção de empréstimos. Todo mundo sabe que o senador até assessora o Lula no plantio de soja em Cuba”, disparou em entrevista ao Rdnews, nesta quarta (22). A reportagem com as declarações do senador Ronaldo Caiado estão aqui... http://www.rdnews.com.br/eleicoes-2014/caiado-reage-e-diz-que-blairo-apoia-presidente-por-interesses-pessoais/57334

    0