"Lula faz do país uma sub-República de bananas", por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Publicado em 16/03/2016 12:36
+ Folha de s. Paulo

A conversão de Lula em superchefe da Casa Civil de uma Presidência em franco encolhimento, aplica na conjuntura política do país um redutor. Tudo fica menor a partir do instante em que, incapaz de elevar a própria estatura, Dilma rebaixa o teto de sua autoridade por meio de um autogolpe.

Em condições normais, os suspeitos costumam ser expurgados dos governos. Sob a anormalidade que passou a reger sua ex-gestão, Dilma rebaixa todos os padrões éticos. Lula chega ao quarto andar do Planalto arrastando as correntes dos processos em que é investigado por corrupção, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

Os ministros do STF frequentemente acham que estão sentados à direita de Deus. Ao fugir da caneta de Sérgio Moro para refugiar-se atrás do biombo celestial do foro privilegiado —agora convertido em 'desaforo privilegiado'— Lula trata o Supremo como uma espécie de Casa da Mãe Joana de toga, reduzindo-o ao patamar de tribunal de quinta instância.

Considerando-se o conjunto da coreografia, o Brasil, com sua presidente autoconvertida em ex-presidente ainda no exercício da Presidência, virou uma sub-República de Bananas. É o primeiro país do planeta a ser presidido por uma piada.

 

Para tentar se salvar, governo acaba e Dilma vira 'presidente emérita', por Igor Gielow (na FOLHA)

O segundo mandato da presidente Dilma Rousseff acabou, sem de fato nunca ter começado, com a volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto.

Investido da inédita função de "primeiro-ministro" de fato, o agora chefe da Casa Civil Lula capitaneia um ato de desespero político para tentar salvaguardar o que restou do seu projeto de poder iniciado em 2003.

Sua relutância em aceitar o cargo, alimentadas por resistências que vêm de PMDB a Banco Central, sinaliza os riscos que antevê.

Lula assume no meio de mais uma turbulência grave, com a já explosiva delação de Delcídio do Amaral a acusar o petista e Dilma de interferir nas investigações da Lava Jato. Ambos podem acabar investigados pela acusação de obstrução de Justiça.

A dramaticidade do movimento só é comparável ao que pode acontecer se ele der errado, o que é bem possível. Os dois objetivos de Lula, o de salvar a sucessora do impeachment e de tentar reanimar a economia, visam robustecer sua defesa como presidenciável em 2018.

Analisando os dois movimentos táticos imediatos, é possível dizer que Lula está melhor colocado do que Dilma para negociar com o PMDB e outros o estancamento do processo de desagregação aberto na base aliada.

Há alguns obstáculos. Uma fatia expressiva do PMDB expôs reservas ao chamado Plano Lula, por considerar a crise irreversível e também para elevar o preço da fatura na hora de sentar à mesa com o petista, buscando reduzir-lhe estatura política.

Por sua vez, o herdeiro da cadeira de Dilma em caso de impedimento, Michel Temer (PMDB-SP), faz jogo de espera desde que retomou o controle nominal do PMDB com ajuda de Renan Calheiros (AL), presidente do Senado.

E o alagoano, que em circunstâncias normais se alinharia a Lula por débitos pretéritos, está com um pé e meio na canoa do impeachment.

Há a Lava Jato, que pende sobre quase toda a cúpula peemedebista: tanto Renan (quanto o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acham a operação é manipulável contra eles com apoio do governo.

Não passou despercebida deles a abertura de um sétimo inquérito contra si na esteira de suas conversas sobre o "semipresidencialista" com tucanos na semana passada.

Leia a notícia na íntegra no site da Folha de S. Paulo

 

Acabou o governo Dilma, por CLÓVIS ROSSI

Os inquilinos mais sensatos do Palácio do Planalto admitem que a entrada de Luiz Inácio Lula da Silva no governo é a última carta que Dilma Rousseff poderia jogar para evitar o impeachment.

Hoje por hoje, nos cálculos de governistas fiéis, mas não cegos, o governo não dispõe de votos suficientes para barrar o impeachment, se e quando o processo começar no Congresso.

Parêntesis: há quem, entre os governistas, acredite que nem Lula operará o milagre de salvar Dilma, dada como em estado terminal.

Fecha parêntesis.

O ponto inevitável seguinte é especular sobre o que proporá Lula para salvar o governo. Analistas bem informados dizem que ele atuará em três direções, a saber:

1) Para tentar recuperar o quase inexistente prestígio do governo, proporá aumentar o Bolsa Família, o que, como é óbvio, beneficiará 14 milhões de famílias ou 40 e poucos milhões de pessoas.

Se esse já é um viveiro de fidelidade ao lulismo, mais ainda se tornará, o que ajudará, eventualmente, a atenuar a solidão da presidente.

2) Como tantos analistas já antecipam, tratará de destravar o crédito, para que as rodas da economia voltem a girar com alguma agilidade.

O crédito mais fácil foi, talvez, o grande segredo para a expansão do consumo interno no período Lula - e, por extensão, para o prestígio com que terminou o mandato.

3) Ajuda aos Estados, atolados e, muitos, insolventes. Mas aí não se trata de caridade, mas de interesse: o objetivo é fazer com que os governadores pressionem as bancadas estaduais a votar contra o impeachment.

Não me pergunte de onde sairá o dinheiro para medidas desse gênero. Não sei nem vejo de onde, talvez o próprio Lula não saiba. Mas ele sempre foi voluntarista, confiante em que vontade política —palavra mais que desgastada - basta para produzir mágicas.

Parte importante do pacote Lula é intangível: a saliva. Ou, mais objetivamente, sua capacidade de articulação política, que lhe permitiria manter o PMDB ao lado do governo, no que é, como todo o mundo sabe, a chave da história toda.

Se vai ou não dar certo, só o tempo dirá. Mas essa fuga para a frente, seja pela nomeação de Lula, seja por planos mais ou menos heterodoxos, significa também declarar guerra aos mercados.

É significativo que a simples possibilidade de que Lula assumisse função ministerial fez aumentar o dólar e levou a bolsa a cair. A explicitação de seus planos - expansionistas, quando o mercado cobra austeridade extrema —só pode provocar mais turbulência.

Além disso, é preciso sempre contar com o imponderável que, por isso, não entra em análises. Ninguém sabe o que mais pode sair da Lava Jato. Ninguém sabe se o juiz Sérgio Moro vai pedir a prisão de Lula e, se o fizer, se o Supremo concordará ou não.

Se a nomeação de Lula é a última carta do governo Dilma, a saída dele (ou por decisão judicial ou pelo fracasso de seus planos) significará, obviamente, o fim do jogo.

De uma forma ou de outra, acabou o governo Dilma. Agora, para o bem ou para o mal, é o governo Lula-3.

 

Como ministro, Lula inicia '3º mandato' e campanha para 2018 (análise da FOLHA)

Nas próximas horas, quando o chefe do cerimonial da Presidência entregar a Dilma o decreto denomeação do ex-presidente Lula como novo ministro de governo, a presidente empunhará a caneta e assinará o fim simbólico de seu próprio mandato. No mesmo momento, na prática, começará o terceiro mandato de Lula na Presidência.

Lula, como se fosse um copiloto, assumirá um jato que cruza o Atlântico no meio de uma turbulência fortíssima, com avarias e em queda brusca. Ele terá de assumir o manche (no lugar de Dilma), retomar o contato com a torre de comando (PMDB e demais aliados), estabilizar a aeronave (evitar o impeachment) e pousá-la em local seguro (em 2018).

Não é preciso nenhuma bola de cristal para prever que ele será o centro de todas as atenções a partir de agora. Servidores, assessores comissionados, jornalistas, parlamentares e ministros vão segui-lo e ouvi-lo como se ele fosse de novo presidente. Vai mandar no Planalto.

Já Dilma terá que se acostumar com o ofuscamento. Num evento oficial com os dois, para qual lado os jornalistas vão correr? Qual discurso a plateia gostará de ouvir? Com qual dos dois os empresários vão querer se reunir? Os líderes de partidos vão negociar com Dilma ou com Lula?

Lula é candidatíssimo para 2018. E, ao assumir o ministério, ganhará um palanque oficial para iniciar sua pré-campanha. Poderá rodar o país em jatos da Força Aérea para participar de lançamentos do Minha Casa Minha Vida e anunciar qualquer tipo de obra, assim como fez para retomar a popularidade após a crise do mensalão. Com isso, ganhará exposição nas mídias regionais e reforçará seu discurso de perseguido e de pai dos pobres.

A nomeação de Lula, neste momento, funciona como a aplicação de morfina em um paciente (governo) quase morto. O centro do poder do governo passa para o quarto andar do Planalto, com o ex-presidente e agora superministro reunido em cafezinhos com movimentos sociais e sindicatos, em articulações com parlamentares e nas discussões sobre os rumos da economia do país. No terceiro andar, onde fica o gabinete presidencial, estará Dilma, dando ao Palácio do Planalto uma cara de Palácio de Buckingham.

Se pode trazer um fio de ânimo aos petistas, essa nomeação de Lula também provoca uma corrida contra o tempo para a oposição. Ela terá de acelerar a votação do impeachment e segurar o PMDB ao seu lado para, numa tacada só, derrubar Dilma e Lula. Se a paulada não for certeira, e eles sabem disso, a jararaca ganha corpo e só sai do Planalto em 2026. 

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UOL + Folha de S. Paulo

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