O impacto da saída do Reino Unido da UE sobre o agronegócio, por Flávio França Jr.

Publicado em 27/06/2016 08:04
Flávio Roberto de França Junior é Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria

Caros amigos. O que parecia improvável e para muitos até mesmo impensável, acabou acontecendo. Por uma estreita maioria de 52% x 48% dos votos, os britânicos decidiram nesta última quinta, dia 23 de junho de 2016, pela retirada do Reino Unido do bloco de 28 países que atualmente forma a União Européia, depois de 43 anos de integração regional. É meus caros, por essa pouca gente esperava. Inclusive o “locutor” que vos fala. Nesta própria quinta, demos algumas entrevistas sobre as tendências do mercado de soja e milho, alertando para o nervosismo dominante no mercado financeiro em função do referendo, apelidado de BREXIT. E que a saída provocaria forte turbulência para o mercado financeiro e, por consequência, impactos negativos ao mercado de commodities agrícolas. Mas acreditávamos que a maioria dos britânicos teria bom senso e a saída não ocorreria.

Mas, infelizmente, não foi isso o que aconteceu. E estamos testemunhando um enorme retrocesso no processo de integração mundial, chamado popularmente de globalização, e uma forte guinada à direita por parte do Reino Unido. Neste caso, quer dizer, à extrema-direita. De uma reação ao problema da imigração que vem se agravando nos últimos meses, se optou por uma solução política que vai gerar enormes problemas no aspecto econômico. Algumas vozes foram ao extremo nesta sexta, afirmando que este é o começo do fim da globalização, uma vez que a saída trará efeito dominó para outros países e que a partir de agora a tendência será novamente de cada um por si. Embora me pareça uma posição também extremada, na verdade é difícil dizer.

Alguns dos principais impactos imediatos da notícia:

- Pânico no mercado financeiro global, com aumento brutal da aversão ao risco, com agentes optando pela venda de ativos considerados de risco, como ações, petróleo e commodities agrícolas, e comprando ativos considerados de maior segurança, como o dólar e os metais, especialmente o ouro.

- Queda vertiginosa nas Bolsas de Valores em todo o mundo. A Bolsa de Londres teve a maior queda de sua história, em mais de 10%. Avaliações preliminares dão conta de que as perdas em todo o mundo podem ter ultrapassado os US$ 2 trilhões. É isso mesmo, não escrevi errado: US$ 2 trilhões. Somente na Europa a avaliação inicial desta quinta aponta perdas de US$ 1 trilhão. E certamente as perdas não irão parar por aí.

- O valor do dólar disparou sobre praticamente todas as moedas do planeta, exceção ao ien. O dólar index, que mede a variação da moeda norte-americano para uma cesta de 6 das principais moedas do mundo teve alta de 2,3% nesta sexta. E também essa alta não deve se limitar a esse patamar.

- O valor do ouro teve a sua maior alta diária desde 2008.

- O valor da libra chegou a cair 10%, atingindo o menor nível desde 1985.

- O petróleo tipo WTI operado na Bolsa de Nova York experimentou recuo de 5,1%.

- Queda em praticamente todas as commodities agrícolas. Considerando que o mercado já vinha nervoso e registrando saída de investidores na ponta compradora nos pregões anteriores, fechamos a semana com queda nas posições spot de 4,9% na soja, 12,2% no milho e de 5,3% no trigo na Bolsa de Mercadorias de Chicago.

- Anúncio da renúncia para outubro do primeiro ministro conservador David Cameron.

- No Brasil o índice Bovespa teve queda de 2,8% e o câmbio, que chegou a subir 3% durante o dia, acabou fechando com alta de 1,1%.

Apesar desses devastadores impactos imediatos, e outros que ainda estão por vir, os efeitos sobre a economia real global não são exatamente previsíveis. E o mercado deve levar um bom tempo para digerir toda essa surpresa. Pode, por exemplo, haver alteração na posição do Federal Reserve sobre a política de juros nos EUA. Pode também haver enfraquecimento da economia da União Européia, que já anda capenga e com enormes dificuldades para sair da crise deflagrada em 2008. Pode haver efeito dominó com a saída de outros países do bloco europeu, como é o caso da Holanda, Suécia, Itália e França, que já se encontram atualmente divididos sobre o tema. A tendência é que exista duro impacto sobre o mercado financeiro do Reino Unido, uma vez que Londres não será mais o centro financeiro da UE. Com tudo isso, pelo conjunto da obra, acreditamos que o PIB global sofrerá sim algum tipo de impacto negativo.

Em relação ao agronegócio, não é possível ainda afirmar se teremos do impacto na produção, consumo e comércio global com o BREXIT. Estamos propensos a acreditar que não. Mas do impacto financeiro não se tem como escapar. Por isso temos uma provável redução momentânea nas bases de preços no mercado internacional. No caso da soja, por exemplo, se até esta quinta considerávamos o nível de US$ 11.00/bushel como o suporte para as cotações na CBOT, agora acreditamos que essa base poderá ser rompida no curto prazo. No milho, o suporte dos US$ 4.00 também ficou distante, e pode querer buscar novamente os US$ 3.50.

Poderíamos alongar essa discussão para diversos outros aspectos que podem ser influenciados pela decisão do Reino Unido. Comenta-se, por exemplo, em uma ótica mais otimista, que os britânicos passariam a ter mais liberdade na administração de sua política econômica e mais agilidade nas negociações de acordos bilaterais. Este é o caso especificamente dos EUA. Mas sempre esbarrará nos interesses da UE, que é o principal parceiro comercial dos norte-americanos. E não acreditamos que esse divórcio Reino Unido x UE acontecerá de forma amigável, ou seja, imaginamos litígios pela frente. Mas há uma coisa que entendemos como certa: o mundo não será mais o mesmo a partir do dia 23 de junho de 2016. Podíamos dormir sem essa!

Um “AgroAbraço” a todos!!!

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França Junior Consultoria

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