Operações de “Barter” e os custos ocultos. Existe alternativa melhor para o custeio? Por Eduardo Lima Porto

Publicado em 22/07/2016 10:32
Eduardo Lima Porto é diretor da CustodoAgro Consultoria Agrícola

As operações conhecidas por “Barter" ou Troca de Insumos por Grãos tornaram-se o principal mecanismo de financiamento da produção agrícola, justamente pelo desinteresse dos Bancos de afrontarem os Riscos e de constituírem linhas de crédito ajustadas ao ciclo agronômico, comercial e financeiro do setor.

Num primeiro momento, para os Produtores de pequeno porte e eventualmente de baixa escolaridade, a conversão de um pacote de insumos em sacos de Soja ou de Milho para entrega na colheita trouxe certa “previsibilidade” e não faltaram argumentos de marketing das empresas aludindo que esse mecanismo simplificaria os processos no campo, traduzindo os custos na “Moeda do Produtor”.

Não obstante, se bem essa alternativa realmente facilitou o entendimento de que para produzir 1 hectare de Milho são necessários X sacos, numa determinada equivalência-preço, é indiscutível que essa modalidade de comercialização e de financiamento dos insumos traz uma série de custos ocultos que, na maior parte das vezes, são superiores aos disponíveis no mercado financeiro.

Essa assimetria de informação ocorre, em parte, por causa do desconhecimento dos Produtores sobre os parâmetros que compõe a formação dos preços dos principais insumos utilizados na lavoura.

Informações fundamentais como o comportamento da Oferta e da Demanda específica de um determinado insumo a nível mundial soa como algo distante, impossível e que não está no Radar dos interesses da maior parte dos Produtores.

Na via oposta, os fabricantes de insumos conhecem muito bem a composição dos custos agrícolas, os mecanismos de financiamento disponíveis, de que forma os clientes obtém lucro e os riscos a que estão submetidos. Contam com profissionais competentes para gerar coberturas contra flutuações de preços, focados na captura das melhores margens possíveis para o negócio.

Como se diz popularmente: “O Jogo é Bruto”. Ganha quem estiver melhor preparado.

Do ponto de vista jurídico e financeiro, as operações de Barter envolvem um conjunto de obrigações onerosas:

- Entre 130% a 150% do valor negociado como penhor da produção registrado numa CPR – Cédula de Produto Rural;
- Hipoteca da propriedade, normalmente registrada numa única matrícula, com todas as despesas cartoriais correndo por conta do Produtor.

A indisponibilidade das garantias do Agricultor limita a capacidade de tomar linhas de Capital de Giro.

Da leitura dos balanços de empresas de Defensivos Agrícolas publicados no exterior, se extrai o entendimento de que boa parte da rentabilidade diferenciada que se obtém no mercado brasileiro é originada em operações de Barter e na arbitragem de taxas de juros (diferença entre o custo de captação da multinacional e o custo financeiro praticado pelos Bancos daqui, os quais são repassados aos Distribuidores e Produtores). 

Os Agricultores mais bem informados sabem que os juros nos países desenvolvidos são extremamente baixos e em alguns casos até negativos. Enquanto no Brasil, os Bancos podem cobrar pelo desconto de uma duplicata algo entre 2% a 3,5% ao mês.

A precificação dos Defensivos Agrícolas oferecidos nas operações de Barter inclui:

a) Margem de Lucro do Fabricante + Custo Financeiro do “Prazo-Safra” + % de Risco de Inadimplência;

b) Margem de Lucro do Revendedor + Custo Financeiro determinado pelo Fabricante (que embute o % de Inadimplência e eventualmente outros encargos).

Quando o vendedor dos Insumos é uma Trading, eventualmente, os preços poderão ser melhores do que as Revendas devido a diferença na escala de compra, por oferecerem um Risco de Crédito muito menor ou simplesmente por pagarem à vista ao Fabricante.

As Tradings normalmente estabelecem condições adicionais sobre os contratos, sendo que algumas são plenamente justificáveis devido aos compromissos de exportação pactuados com vários meses de antecedencia.

Nesse caso, é comum utilizar-se como parâmetro os preços futuros da Bolsa de Chicago para o periodo que se pretende liquidar o contrato, menos a despesa de frete do local de produção até o Porto de Embarque e outros descontos, o que se denomina como “Preço de Originação” ou “Diferença de Base”.

A vantagem aparente está em saber a equivalência preço-produto para cobrir o custeio, permitindo com certa precisão que se estime a margem, caso se atinja um determinado rendimento por hectare. Dito de outra forma, se estabelece por essa via um “Hedge” do  volume que estiver sendo transacionado de forma a cobrir a totalidade ou uma parte substancial dos custos de produção.

Em nossa opinião, o custo financeiro implícito dessa operação supera facilmente 30% ao ano, sem considerar as implicações relacionadas à indisponibilidade dos Ativos já hipotecados, as exigências acessórias e a perda do prêmio que estiver sendo praticado à época da liquidação dos contratos.

Então, qual seria a melhor saída para os Produtores?

Os Agricultores de Pequeno Porte devem buscar o crédito oficial, por mais difícil e burocrático que seja, limitando as operações de troca no que efetivamente não conseguirem comprar à vista.

Os Produtores de maior escala, com propriedades a partir de 500 hectares, mesmo que atuem como “Pessoas Físicas”, poderão obter vantagens significativas ao registrarem-se como Exportadores.

Que vantagens seriam essas?

Não incidência do Funrural sobre o Faturamento de Exportação;
Acesso a linhas de ACC (Adiantamento sobre Contratos de Câmbio), cujas taxas na atualidade variam de 5,5% a 8% ao ano para liquidações em até 360 dias;
Liberdade de determinar o melhor momento para vender a produção, capturando os preços mais vantajosos;
Possibilidade de atuar diretamente no Mercado de Futuros & Opções, realizando operações de “Hedge”, gerando ganhos adicionais a partir de operações de recompra de contratos e outras estratégias financeiras que não envolvem a movimentação física dos Grãos;
Disponibilidade financeira para compra à vista da totalidade dos insumos, sem a necessidade de fechar pacotes, obtendo dessa forma descontos substanciais.

A lista não acaba aí.

As empresas Agroexportadoras podem ainda requerer o regime de Drawback para importação de insumos.

A obtenção de elevados rendimentos agronômicos é um dos fatores que contribuem para a redução dos custos de produção e para manutenção da sustentabilidade do negócio. Nesse aspecto, os Agricultores Brasileiros mostram-se muito preparados e no “Estado da Arte” a nível mundial.

No que diz respeito ao conhecimento dos mecanismos financeiros disponíveis e estratégias avançadas de comercialização, o setor ainda é pouco evoluído e altamente dependente.

O grande desafio, segundo o célebre Engenheiro Agrônomo Polan Lacki, é “o quê e como fazer para que os agricultores possam ser eficientes e competitivos com menos créditos, com menos subsídios, com menos investimentos, com menos garantias oficiais de comercialização, enfim, com menos Estado”.

É dele também a frase que diz: “O Agricultor compra os insumos no varejo e vende a sua produção no atacado”.

É na crença em conceitos sólidos, como os do Prof. Lacki, que a CustodoAgro vem fundamentando os seus esforços, buscando compartilhar conhecimentos e experiências para crescer junto com os Agricultores.

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Fonte:
CustodoAgro

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1 comentário

  • Sergio Aquiles Bellotto Palmital - SP

    No crédito oficial o juro é baixo, mas o Banco do Brasil vem embutidos um pacote (ourocap, seguros, aplicaçoes financeiras, taxas de cartorio) que acaba encarecendo em muito a taxa do tal juro do credito oficial (que, ainda assim, é baixo perante o mercado), além da burocracia ao se fazer o financiamento. Quem acaba subsidiando em parte o tal juro barato é o proprio produtor rural, ao comprar os produtos do banco (muitas vezes é obrigado a compra-los, pois nao tem opcão, ou fica fora do sistema)..., até entendo que o banco precise vender seus produtos mas em epoca de crise qualquer real que se tire da compra de insumos torna o juro mais caro.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. Sérgio, a nossa cultura é de que o Estado é "bonzinho", pois sempre que há um problema na sociedade, lá vem ele intervindo para resolver o problema. Numa hora é na saúde, segurança, comunicação, energia elétrica, infra estrutura e, por aí vai, nós ficamos à margem olhando essa "extrema capacidade do Estado" e, ignoramos como "as coisas" são feitas de fato. Ultimamente está nos sendo mostrado, através da Operação Lava Jato alguma coisa "por debaixo dos pano" da administração pública. Qual será o seu grau de indignação quando for mostrado "as coisas por debaixo dos pano" aí da sua cidade. Tente fazer um comparativo da realidade entre as empresas particulares que não têm negócios com a prefeitura da sua cidade com as que estão "bombando" em ganhos de licitações com a prefeitura. Só estou citando um dos casos, onde "por debaixo dos pano" correm grande percentual do PIB brasileiro. No caso o Banco do Brasil sempre foi um "banco oficial" na gora de receber os recursos governamentais para repassa-los a iniciativa privada, só que as taxas de juros que ele paga para o "governo" são bem menores daquela que nos cobra, desde que o Mundo é Mundo !!! Imagine num montante de R$ 200 bilhões uma diferença na taxa de juros de 0,05% qual o montante de reais que se arrecada. Ah! não se esqueça que o BB está há vários anos concorrendo com o Itau e Bradesco para ver quem apresenta o maior lucro anual, se não me engano em 2014 o seu lucro foi acima dos R$ 12 bilhões no ano, que dá 1 bi por mês.

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    • beto palotina - PR

      Sou da opiniao ta ruim sai fora troca d banco ou nao pega emprestado dele

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. Beto, o agricultor brasileiro vive uma realidade de "mercado concorrência perfeita" como um bem. No caso ele (produtor rural) é um bem, visto pelo banco, que se encaixa na definição de "concorrência perfeita", ou seja, são milhares de tomadores de empréstimo que não têm influência sobre o preço de mercado (normas impostas pelos bancos). Não devemos esquecer que são poucos os bancos que atuam no mercado com essa modalidade de financiamento. Enfim, não vai ser "mordido" pela onça pintada, mas sofre uma "mordida" da onça parda. Vai mudar a cor da onça, mas que vai ser "mordido"... Ah! ISSO VAI !!!

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    • EDMILSON JOSE ZABOTT PALOTINA - PR

      Imagino que a Grande Maioria dos Produtores Rurais , ainda dependem do Setor Financeiro Estatais ou Privados , sem dúvida seria bom que não tivéssemos que depender destes , mas tenho acompanhado a evolução do Setor Rural pelo menos em nossa Região oeste do Paraná e a Grande Maioria dos investimentos em Máquinas , Pivôs, e os Condôminos de Silos que aliás revolucionaram atividade de Palotina todos foram com Financiamento que no Futuro e no Presente foi o que tem Agregado valor da Produção. O que precisamos é de união e discutir Políticas de Juros p investimentos e Fomento com juros Justos , mesmo porque é o Agro em todas as. Suas atividades é que vem dando sustentação para as contas públicas deste País.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. Edmilson para se produzir riqueza há dois elementos "CAPITAL& TRABALHO". O Capital é tranquilo que não está em poder do setor agrícola, então só resta o outro elemento à disposição do setor agrícola;;; "TRABALHO"!!!

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    • beto palotina - PR

      Concordo com sr. Seu paulo agora onde entrariam orgaos como a CNA en defeza dos agricultores comtra esas mordidas maia so serve pra cobra contribuicao mais nada

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. Beto, só para complementar quando o senhor escreve: ... so serve pra cobra contribuicao mais nada... O senhor está certo (em parte), pois é uma contribuição SINDICAL... &... exemplos de sindicatos que protegem somente a sua elite de apaniguados no Brasil é que não falta. O senhor já ouviu falar do sistema "S" (SENAR, SENAI, SESI, SEBRAE, SENAC). Já tentaram abrir uma sindicância sobre o rio de dinheiro que irrigam essas autarquias, mas foi barrado na Câmara dos deputados. Acho que o rombo deve ser maior que a Petrobrás. Veja o caso da dona Kátia Abreu que presidia a CNA que tem ingerência direta no SENAR... é muito dinheiro.

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    • EDMILSON JOSE ZABOTT PALOTINA - PR

      Sr.Paulo tenho trabalhado muito , mas de vez enquando tenho que ir buscar uma Grana emprestado p dazer a máquina andar , e aí vem as mordidas infelizmente. Mas tenho sido bem atendido. Quanto a CNA e suas contribuições, este é um trabalho que devemos cobrar dosParlamentares para que mudem a lei que permite estás cobranças ou que afirma de como está é calculada seja mudada. Devemos começar a alimentar está idéia ,logo teremos eleições p Deputados , Governadores e Presidente, está é a hora .

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    • alexsandro peixoto leopoldino Canarana - MT

      Crédito... emprestar dinheiro, risco de inadimplência, utilizar parimonio para ''calçar" o cliente. É moçada, virar exportador??!!?!?!?!?!!? Qt custaria a um produtor de 500 ha se tornar exportador??????? FORMAÇAO DE PREÇO A PRAZO,,,, nao tem como ser diferente do citado..... Somos uma classe descapitalizada....... Quem paga os registros de CPR, quando é feita pelos bancos, tambem somos nós produtores....Revendas, com raras excessoes fecham as portas com menos de 7 anos, isso é estatistica.... Como nao transferir o risco???????????? Estou comentando na forma de BRAIN STORE.

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    • alexsandro peixoto leopoldino Canarana - MT

      Alguem se habilitaria a ser uma factoring nesse ramo de forma diferente do que esta sendo feito??????????????????

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    • alexsandro peixoto leopoldino Canarana - MT

      pq trading e revendas sao mesmo factoring's,, o que mais se comercializa hj é grana..... transformada em produtos

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    • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

      o problema do Brasil é custo burocrático e tributário basicamente, o que tira competitividade e autonomia do produtor Brasileiro é isso. O que ameniza esse problema é escala de produção que permite diluir melhor certos custos.

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