O enredo da desinformação e do preconceito, por Glauber Silveira

Publicado em 10/01/2017 06:58
Glauber Silveira é Presidente do Sindicato Rural de Campos de Júlio-MT, presidente da Camara Setorial da Soja, presidente a associação de reflorestadores do MT, vice-presidente da Abramilho e Diretor Conselheiro da Aprosoja.

O Brasil é um país em crise. Dados oficiais apontam que em 2017 mais de 13 milhões de pessoas estarão desempregadas. Em contrapartida, o agronegócio – formado pela produção de alimentos, energia e roupas – segue firme, contribuindo para que uma tragédia maior não ocorra.

O agronegócio tem segurado o PIB brasileiro nestes anos de crise. Em 2016, foi o único setor que teve saldo positivo. Há 30 anos, éramos importadores de alimentos, e passamos a exportador mundial, atrás apenas dos EUA e União Europeia. Para se ter uma ideia, produzimos 8% do milho mundial, 7,5% do algodão, 30% da soja, 16% da carne bovina e 16% da carne de frango. Em produtos como arroz, produzimos 2,5% do total mundial, leite 5,8% e carne suína 3,2%.

O Brasil precisa continuar a produzir mais e melhor na área disponível, já que 60% do território brasileiro é intocável. Temos 28% que podem ser usados para a produção de frutas, carnes, leite, ovos, legumes, florestas, verduras, arroz, feijão, soja, milho, café, algodão, etc.

Temos evoluído muito na produção. Tivemos nossas falhas, apanhamos para aprender (os carros não vieram desde sua invenção com cinto de segurança!), mas hoje a produção brasileira é um exemplo. Temos plantio direto, onde o solo é preservado, fazemos duas culturas ao ano para melhor aproveitar a mesma área e com isto evitar a abertura de novas áreas. Nossa agricultura é a mais sustentável do mundo, e que se informe quem acredita no contrário.

Porém, apesar da nossa enorme capacidade de produção, do sol e chuva abundantes, temos algumas dificuldades à produção trazidas pelo clima tropical. A principal delas é o número de pragas e doenças. Mesmo quem tem uma horta na sacada do seu apartamento deve sentir a dificuldade de se controlar as ervas daninhas, os insetos e as doenças. Mas em uma horta na sacada ou no quintal de casa podemos tentar controlar manualmente, mas nem sempre é possível fazer isso em larga escala. Doenças com a chuva vem e destroem tudo se não se aplicar um fungicida.

Imagine como exemplo uma pessoa que fica doente com uma tuberculose e não toma antibiótico. Pode até não tomar o remédio, mas vai morrer. Importante ressaltar que o Brasil consome muito defensivo agrícola porque produz muito, mas comparado a outros países nosso consumo é menor por tonelada de alimento produzido.

Agora, é preciso que se respondam algumas questões: hoje, a sociedade brasileira está pronta para abrir mão de grande parte de suas terras produtivas a fim de não usar defensivos? O Brasil pode reduzir sua produção agrícola ou no mínimo não crescer?

Essas perguntas fazem sentido hoje porque a escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense fez um samba enredo retratando a questão indígena do Xingu – tema muito justo, por sinal – mas denegrindo a imagem da produção brasileira. O samba coloca a produção brasileira como bandida, maléfica.

É injusto generalizar todo o agronegócio como vilão. Ver este segmento atacado em nossa maior festa cultural, de forma equivocada e preconceituosa, é repugnante, é irresponsável. Sabemos que o carnaval tem visibilidade internacional e um enredo chamando produtores de bandidos, de exterminadores de índios e destruidores da natureza fará o serviço de afugentar investimentos importantes e de macular a imagem do nosso País entre nós e no exterior.

Sabemos da importância em se preservar as tradições, da preservação ambiental, da produção sustentável, mas daí a produção ser atacada de forma pejorativa, preconceituosa e irresponsável assim é criminoso. Produzir no Brasil não tem sido tarefa fácil. Falta infraestrutura, nossas estradas são péssimas, a energia é caríssima, temos o combustível mais caro do mundo. O produtor brasileiro é um herói, um apaixonado, porque produzir alimentos não tem dia ou hora. A agricultura e a pecuária são a arte de produzir alimentos e roupas para todos sem distinção entre raças, religiões e classes sociais.

Mesmo na Sapucaí ou em suas casas assistindo o carnaval as pessoas vão comer pipoca, lanches feitos de trigo, pão, carne, soja, tomar cerveja feita de cereais, vestir ou ver fantasias feitas de algodão! É difícil acreditar que ainda existem pessoas que acham que os agricultores são bandidos e destruidores de tudo. Acham que realmente os alimentos vem das prateleiras dos supermercados e que as roupas ‘surgem’ nas lojas?

Acreditamos que as tradições e culturas fortalecem a nação e elas jamais serão sinônimas de ignorância e de pobreza. Somos o país do futebol, do carnaval e da produção de alimentos, o mundo nos reconhece desta forma. Devemos nos respeitar e contribuir para que estes três setores contribuam com renda e desenvolvimento ao país. Futebol e carnaval trazem turismo importante para milhões de brasileiros terem empregos.

O agronegócio também emprega milhões de pessoas e alimenta todos, mas fica a pergunta: a sociedade brasileira quer um país rico, com igualdades sociais, com oportunidade a todos? Antes de a sociedade responder deveria pensar e conhecer o interior do Brasil, ver como seu alimento é produzido, daí sim responder o que espera do agro.

Veja também:

>> Lideranças do agro repudiam samba enredo da Imperatriz Leopoldinense

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Glauber Silveira

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