Os dois lados da moeda na agricultura brasileira.

Publicado em 23/11/2010 15:48

Geralmente o dinheiro em moeda estampam a cara do homenageado de um lado e de outro o valor da corroa. Com a valorização do real diante do dólar o poder de troca da moeda na agricultura Brasileira perde seu valor, e a cara do agricultor a cada dia estampa mais preocupação diante do aumento dos custos de produção na conquista da corroa .

Passou-se o tempo em que o produtor rural ia as compras dos insumos na hora do plantio, tão embora o Governo continue liberando recursos de custeio a quem ainda procura, somente após a hora da morte. Para salvar a cara que até hoje nunca esteve estampada em moeda alguma, o agricultor busca o mercado de compra de insumos e venda do produto de forma planejada, tentando garantir os custos no mercado futuro, apesar de continuar obrigado a assumir sozinho todos os riscos que a atividade apresenta, ou se sujeita a pagar alto valor de seguro que garante apenas parte das perdas em caso de frustração de safra.

Na “guerra cambial” travada pelas grandes economias mundiais, a agricultura Brasileira tem que aceitar duas moedas de valores diferentes à cada operação.

Na hora de efetuar a venda da produção agrícola Brasileira temos uma moeda de ouro com a valorização do real e sofremos com a concorrência da produção americana vendida em moeda de prata de um dólar desvalorizado que tem por objetivo salvar a economia dos Estados Unidos. Quando vamos as compras dos insumos, defensivos e fertilizantes (que detém matéria prima importada), os valores das moedas se invertem e a agricultura Brasileira fica com moeda de prata diante da valorização dos produtos no mercado internacional, aumentando os custos de produção.

Lembro aqui que no passado, logo após o inicio da mecanização agricola, os agricultores se uniram na formação das Cooperativas nos anos 60 e 70, para se livrar dos “cerealistas e atravessadores” e assim garantir maior lucratividade.  Com a crise dos anos 80, os sucessivos Planos Econômicos para salvar a economia Brasileira dos altos índices de inflação, provocou um descontrole de mercado e nem mesmo as cooperativas conseguiam mais garantir renda ao produtor, ao final da década fomos para as rodovias protestando para chamar a atenção do Governo e da sociedade.

Nos ultimos anos de 80 e inicio inicio dos anos 90, protestávamos pelo pouco recurso do Governo que era disponibilizado para o custeio agrícola, e as cooperativas descapitalizadas, não conseguíamos garantir bons negócios, muitos produtores e até mesmo cooperativas foram a falência, os que se salvaram ficaram endividados. Depois de tantas moedas muitos até hoje ainda pagam dividas renegociadas.

Ainda no inicio dos anos 90, como responsável pelo serviço de Planejamento e Assistência Técnica de centenas de produtores rurais instalados no Paraná e no Mato Grosso, sentia dificuldade até mesmo para motivar os produtores a persistirem na atividade, a qualquer luz no fundo do túnel buscava me inteirar, e foi em maio de 1991 com a criação da Bolsa de Mercadorias & Futuro, a BM&F instalada com a fusão da Bolsa de Mercadorias de São Paulo e a Bolsa de Mercantil de Futuro que ressurgia a esperança. Foi lá, participando de um seminário promovido pela FEBRABAM em Brasilia (ainda no Governo Collor), quando passei a acreditar em uma nova moeda para a agricultura Brasileira – o contrato futuro para garantir os custos de produção.

O mercado futuro se consolidou e contratos de commodites agricolas são fechados diariamente na BM&F, o que não quer dizer que a nova modalidade de mercado  da agricultura Barasileira esteja ao alcance de todos os produtores. mas esperança ainda tenho.

Das duas moedas, ouro e prata, uma conta com juros baixos e subsídios de Governo aos agricultores dos países desenvolvidos, enquanto nós agricultores Brasileiros temos que nos sujeitar a uma moeda de juros altos sem qualquer proteção do Governo.

Há falta de infra estrutura logística de transporte no Brasil corroe o produto agrícola, e a maioria dos agricultores não tem estrutura de armazenagem  o que nos impede de avançar no planejamento das vendas da produção disponível ao mercado físico para obtermos algum lucro. ou negociando com a BM&F no mercado futuro, enquanto não disponibilizarmos de recursos para investimento a moeda continua ficando de um lado só, ….do outro lado da fronteira.

Citando como exemplo a negociação da implantação do milho safrínha para o ano de 2011, apesar dos preços do milho estarem em alta no mercado futuro e a moeda do dólar estar desvalorizada perante o real, os insumos apresentam um acréscimo de 25 a 30% no custo final da produção, em relação a lavoura implantada em 2010. Se formos usar dos recursos obtidos com a comercialização do produto a baixo do preço mínimo na época da colheita (julho), os custos de produção se alteram ainda mais.

Para os milhões de agricultores Brasileiros que ainda não tem acesso direto aos negócios da BM&F, o sistema de troca feito hoje nas cooperativas e/ou em empresas multinacionais pode não ser o ideal, mas tem sido a melhor opções feita pelos produtores visando garantir o plantio, tanto é que já estamos fixando os negócios agora em novembro , até porque temos pela frente a mudança de Governo e o crédito bancário que ainda era disponibilizado para poucos, pode não chegar e/ou quando chegar já passou a hora da morte,  ….As sementes já devem estar enterradas, o que garante a esperança do agricultor em conquistar a corroa do outro lado da moeda, ….mesmo sem nunca ter sido majestade, poder continuar andando de cara limpa.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Valdir Edemar Fries

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário