Na FOLHA: Governo Dilma foi leniente e indicadores apontam para recessão

Publicado em 20/07/2014 06:56
na edição deste domingo (mais noticias na edição impressa, nas bancas)

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O inverno chegou, editorial deste domingo

Governo Dilma Rousseff foi leniente por muito tempo em suas contas, e agora diversos indicadores econômicos apontam para uma recessão

Não cessa a onda de dados econômicos negativos. Os últimos índices de confiança, produção, vendas e, agora, emprego apontam para uma recessão. O quadro fica cada vez pior para o governo Dilma Rousseff (PT), preso a um discurso otimista que em nada reflete o desalento disseminado pelo país.

Os sinais são inequívocos. O indicador mensal do PIB divulgado pelo Banco Central teve nova queda em maio, de 0,2%. A julgar pela conhecida redução da produção industrial e da atividade em outros setores, a retração em junho deve ser mais acentuada.

Se confirmada essa expectativa, será possível falar em recessão quando o IBGE divulgar o PIB oficial do segundo trimestre, o que fará no final de agosto. Analistas já revisam a projeção de 2014 para uma alta inferior a 1%.

Nos últimos meses, o governo tem procurado se esquivar lembrando que as pessoas não comem PIB. Puerilidade à parte, a afirmação soa infeliz num momento em que também o emprego engrossa o coro de notícias ruins --e, neste caso, trata-se de economia bem real.

Foram criadas 25 mil vagas formais em junho, o pior saldo desde 1998. Ajustado pela sazonalidade (nesse mês normalmente são gerados mais postos do que na média do ano), o número retrata o desaparecimento de 30 mil empregos. É a quarta redução consecutiva.

Todos os setores apresentam desempenho fraco. O pior, como esperado, é o industrial, que fez 28 mil demissões em junho e 60 mil no segundo trimestre.

Quanto às vendas no varejo, houve diminuição de 0,3% em maio, a despeito do forte aumento de atividade em eletrodomésticos, provavelmente devido à Copa do Mundo. Em junho, a situação deve piorar. O colapso no setor de automóveis é o principal destaque.

Um pedaço da trajetória em queda livre descrita pelos indicadores no período de maio a julho decorre, sem dúvida, do menor número de dias úteis e da paralisação provocada pelo Mundial. Mas o pano de fundo não muda: a economia está estacionando, e nada indica mudança de humor no curto prazo.

A inflação, tudo o mais sugere, terminará o ano perto do teto do regime de metas, 6,5%. Não há alívio, portanto, o que complica o cenário para o Banco Central.

A decisão de manter a taxa básica de juros em 11% "neste momento" era esperada, mas analistas interpretaram o comunicado do BC como um sinal de que em breve poderá haver recuo da Selic, apesar da contínua pressão nos preços.

A mistura atual de PIB estagnado e inflação em alta é a pior em muitos anos. O governo surfou a onda do consumo e do crédito fácil por tempo demais e foi leniente com suas próprias contas, entre outras estripulias econômicas. Não se preparou enquanto o clima era bom, e agora o país paga por isso.

ELIANE CANTANHÊDE

Gastando cartuchos

BRASÍLIA - Sabe o dado mais importante do Datafolha? Eduardo Campos, que só tem 8% de intenções de voto, dá um salto espetacular para 38% num eventual segundo turno entre ele e a presidente Dilma Rousseff. Como assim?

A única explicação é que as pessoas não votariam a favor dele, mas contra Dilma e o PT. A rejeição dela bate em 35%, o dobro da de Aécio (17%) e mais que o dobro da de Campos (12%); e a avaliação ruim/péssimo do governo bate em 29%.

Vai ficando cada vez mais evidente que a grande chance de Dilma ser reeleita é arrancar a vitória no primeiro turno. O que, pelo andar da carruagem, parece bastante improvável. Ela vai mal em São Paulo e caiu no Nordeste, entre as mulheres e nas maiores cidades, que são irradiadoras de votos.

Dilma ainda é favorita (36%), mas, se a eleição for para o segundo turno, a coisa pode ficar feia. A diferença entre ela e Campos é de apenas sete pontos (45% a 38%). Entre ela e Aécio, que já foi de 27 pontos em fevereiro, caiu para irrisórios 4 pontos (44% a 40%) em cinco meses. Considerando a margem de erro de dois pontos, há empate técnico entre Dilma e Aécio, que tem muito menos exposição.

A situação da candidatura Dilma acirra os ânimos do PT e do seu grande líder, Lula, que vive hoje um triplo pesadelo: Geraldo Alckmin com mais de 50% para o governo e José Serra na dianteira para o Senado em São Paulo e Dilma gastando todos os seus cartuchos sem acertar o alvo para a reeleição.

Se Dilma está assim com Copa, Brics, presidentes da Rússia, da China e da América do Sul e uma série de entrevistas, como poderá evoluir bem daqui em diante?

Ela tem mais que o dobro do tempo de TV de Aécio e Campos na campanha, mas TV e marketing não fazem milagre. Talvez a economia fizesse, mas os ventos internacionais não induzem ao otimismo. Nem o desempenho do governo Dilma até aqui.

Aécio e Campos têm mais chance de crescer

Datafolha mostra que 46% do eleitorado dificilmente votaria em Dilma; no caso do tucano, esse índice é de 27%

Além dos que já se decidiram, eleitores que podem votar em Dilma somam 15%; são 36% no caso de Aécio

FERNANDO CANZIANDE SÃO PAULO

Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (17) mostra a possibilidade de uma reedição, em 2014, da polarização entre PT e PSDB que marcou as últimas eleições presidenciais no Brasil.

No cenário do primeiro turno, Dilma Rousseff (PT) tem 36%; Aécio Neves (PSDB), 20%; e Eduardo Campos (PSB), 8%. Mas Aécio e Campos são os que têm hoje maiores chances de crescer.

As três últimas eleições para presidente foram vencidas pelo PT, contra o PSDB, no segundo turno. Entre 2002 e 2010, os tucanos avançaram regionalmente a cada pleito.

Caso a polarização se consolide (com Campos não conseguindo desfrutar do seu potencial), Aécio tem mais chances de ganhar eleitores do que Dilma.

Pelo último Datafolha, em um segundo turno entre os dois melhores colocados hoje (Dilma e Aécio), eles estariam empatados na margem de erro de dois pontos do levantamento, com 44% e 40%, respectivamente.

Mas um recorte aprofundado da pesquisa mostra que 46% do eleitorado dificilmente votaria em Dilma. Esses eleitores, batizados de "causa perdida", dizem conhecer a petista, mas que não votariam nela de jeito nenhum.

Aécio tem um percentual mais baixo de eleitores "causa perdida" (27%); e Campos, ainda menor (19%). Ou seja, ambos têm, por enquanto, mais chances de atrair eleitores do que Dilma.

Somados, os eleitores que têm "alto potencial" ou "médio potencial" de votar em Dilma (além dos que já pretendem fazer isso) são apenas 15% do total. Eles chegam a 36% no caso de Aécio e a 44% no de Campos.

São qualificados como "potenciais eleitores" os que conhecem o candidato, cogitam votar nele e não o rejeitam necessariamente.

Esse tipo de recorte em pesquisas eleitorais é bastante usado nos EUA, onde os chamados "swing states" (Estados pêndulo) costumam decidir as eleições por margens muito apertadas.

Os candidatos se utilizam desse tipo de recorte justamente para focar recursos e presença onde têm mais potencial de crescimento.

No caso dos três líderes na atual corrida, o maior potencial de crescimento de Dilma está no Nordeste (18%); de Aécio, no Sul e Centro-Oeste (41%); e o de Campos, no Centro-Oeste (56%).

No geral, a não repetição do padrão das últimas eleições (de um embate direto entre PT e PSDB no segundo turno) dependerá, basicamente, do comportamento de Campos, que tem uma "avenida" para crescer.

"Campos tem grande potencial, mas precisará de uma comunicação eficiente para transformar isso em voto, e não deixar que se repita o padrão petistas contra tucanos das últimas eleições", diz Alessandro Janoni, diretor de Pesquisas do Datafolha.

Segundo as regras do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no primeiro turno Dilma terá cerca de 11min48s de tempo no horário eleitoral; Aécio, 4min31s; e Campos, 1min49s.

Caso a disputa acabe indo para o segundo turno, os dois primeiros colocados dividirão igualmente o tempo de 20 minutos na TV.

SAMUEL PESSÔA

Anatomia de uma estagflação

A forte queda da atividade que ocorreu de 2013 para 2014 até o momento não fez cócegas na inflação

Na última coluna do ano passado, meu cenário sustentava crescimento da economia em 2014 de 1,8% ao ano e inflação de 6%.

Transcorrido o primeiro semestre, parece-me que a atividade corre para fechar o ano em medíocre 1%. A inflação deve ficar em 6,5% ou 6,7% se houver aumento de gasolina de 5%. O aumento provavelmente virá após as eleições, se a presidente Dilma conseguir se reeleger.

Ou seja, temos atividade para baixo e inflação para cima. A estagflação aprofunda-se.

Se olharmos o cenário inflacionário, o item com maior erro de previsão foi a inflação dos serviços. Esperávamos no final de 2013 que, devido ao fraco crescimento da economia, o mercado de trabalho começaria a dar sinais de maior folga, o que contribuiria para moderar a inflação de serviços. Esta deve- ria ficar mais próxima de 7,5% do que dos 8,5% em que deverá fechar este ano.

Nosso erro de previsão da inflação não ocorreu por causa de algum choque específico e não relacionado à política econômica. A elevação atípica nos preços de alimentos observada no primeiro semestre já foi parcialmente devolvida, enquanto a parcela do choque absorvida de forma permanente não explica a parte mais substancial da surpresa nos preços livres.

Com relação aos itens dos serviços --hotelaria e passagens áreas-- que estiveram pressionados em junho em razão da realização da Copa, a expectativa é que terão seus preços normalizados entre julho e agosto.

Lembremos que a inflação de serviços nos 12 meses findos em junho encontra-se em 9,1%. Ou seja, para fechar o ano em 8,5%, terá que haver até o final de 2014 desinflação de 0,6 ponto percentual (ponto percentual). Isso não é nada desprezível em se tratando dos serviços, o item com maior inércia do índice. Essa redução de inflação de serviços fica por conta da devolução da inflação da Copa.

Limpando o efeito dos choques --alimentos e Copa--, a inflação deste ano de serviços e de bens livres em geral está seguindo a do ano passado. A inflação maior em 2014 em relação ao ano passado, 6,5% ante 5,8%, deve-se ao ajuste dos preços administrados, que deverão fechar o ano com aumento de 5%, bem acima dos 1,5% de 2013.

A forte queda da atividade que ocorreu de 2013 para 2014 até o momento não fez cócegas na inflação. A inflação parou de subir, mas não há sinais de que tenha começado a baixar.

Minha leitura é que a desaceleração tem sido causada pela política de elevação da taxa de juros, mas também pela desorganização da atividade produtiva que resulta do regime de política econômica adotado a partir de 2009.

Um exemplo claríssimo é a forte desaceleração da produção de veículos automotores. Seguidos planos de desoneração anteciparam consumo. Adicionalmente, uma política de fechar ainda mais o setor à importação estimula forte aumento da oferta, muito além da demanda. A carência de deman- da e o excesso de oferta certamente requererão ajuste no setor. Ele vai desempregar.

No entanto, o ajustamento e a desaceleração do setor automobilístico não seguem prioritariamente da política monetária contracionista. O setor vai mal pois a políti- ca econômica desorganizou a sua dinâmica. Compreende-se melhor sua perda de dinamismo como perda de produtividade e de eficiência da economia.

A indústria automobilística é somente um exemplo do impacto desastroso de uma política microeconômica cujo princípio básico é ser discricionária e de uma política macroeconômica que reduz a previsibilidade e aumenta a expectativa de inflação. Em ambos os casos, trocam-se regimes e regras por medidas "ad hoc", sem fundamento na teoria econômica padrão.

A demanda cai em razão da política monetária mais apertada e a oferta cai como resultado da desorganização produtiva induzida pela política econômica.

Oferta e demanda para baixo resultam em atividade em retração apesar da estabilidade da inflação.

O longo prazo chegou. Construímos a estagflação.

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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