Moody's alerta para "cenário macroeconômico desafiador no Brasil"

Publicado em 01/08/2014 08:51 e atualizado em 03/08/2014 15:05
Para agência de rating, ambiente econômico difícil representa desafio para as empresas brasileiras pelo menos até 2015 + Rodrigo Constantino, de veja.com.br

O cenário macroeconômico desafiador do Brasil vai continuar a representar riscos para as empresas brasileiros pelo menos até meados de 2015, afirma a agência de classificação de risco Moody's, no relatório "Qualidade do crédito corporativo no Brasil: exportações e real fraco impulsionam setor de carnes, mas açúcar/etanol e transportes terão defasagem".

Segundo a agência, o real fraco vai continuar a beneficiar os exportadores de carnes de boi e aves, que serão bastante competitivos globalmente. "Os produtores de açúcar e etanol, porém, enfrentarão outro ano difícil em 2015, com menor disponibilidade de cana de açúcar, condições ruins de clima e preços menores do etanol", afirma a Moody's.

O relatório destaca ainda que a economia fraca do Brasil se traduzirá em desempenhos mornos para empresas de transporte e logística em 2014 e 2015. Apesar disso, o programa brasileiro plurianual de infraestrutura de US$ 246 bilhões vai beneficiar as maiores construtoras, pondera a Moody's, enquanto as mineradoras e siderúrgicas deverão resistir aos preços mais baixos e à demanda mais enfraquecida.

"O ambiente macroeconômico do Brasil continua desafiador em 2014", avalia Barbara Mattos, vice-presidente e analista sênior da Moody's. "A economia apresenta dificuldades com o declínio gradual do consumo, desaceleração do investimento e deterioração da confiança do investidor. O consumo e a disponibilidade de crédito perderam fôlego, à medida que o endividamento das famílias e a inflação deixaram os consumidores menos inclinados a gastar."

A Moody's prevê que o produto interno bruto (PIB) do Brasil crescerá 1,3% em 2014 e 1,5% em 2015, depois de uma expansão de apenas 0,2% no primeiro trimestre ante o trimestre anterior. A agência lembra que a confiança do consumidor brasileiro em junho atingiu o menor nível em quase uma década.

Energia. Ainda na avaliação da Moody's, pouca chuva e o clima quente elevaram o risco de racionamento de energia, em decorrência do baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas e comprometimento da geração de energia elétrica. "Uma redução obrigatória eventual no consumo de energia elétrica reduziria a produção industrial e, portanto, as receitas, e os preços mais elevados de eletricidade aumentariam os custos e pressionariam as margens", avalia a agência.

Segundo o relatório, porém, um racionamento pode ficar limitado às regiões mais afetadas pela seca no Brasil e as empresas com maior alcance geográfico podem implementar ajustes de forma apropriada. Além disso, as companhias com produção de energia superior ao seu consumo próprio - como empresas de celulose e açúcar e etanol - poderiam se beneficiar do racionamento, vendendo seu excesso de energia a preços mais altos, afirma a agência.

A morte do tripé macroeconômico

Antes de constatar a morte do tal tripé macroeconômico, vamos rapidamente compreender o que ele é e por que é tão importante. O tripé é composto de três pilares, como o nome já diz: 1) meta de inflação com autonomia do Banco Central para persegui-la; 2) câmbio flutuante; 3) responsabilidade fiscal. Por que essas três coisas são tão relevantes para a solidez da economia?

Comecemos pela meta de inflação. A inflação, grosso modo, é vista como a alta generalizada dos preços na economia. Para alguns economistas, em especial os austríacos, isso já seria um sintoma, não a própria inflação. Esta seria, na verdade, a alta dos agregados monetários, que por sua vez produziriam uma elevação nos preços aos consumidores.

O importante aqui é ressaltar que quem controla os agregados monetários que causam a inflação é o governo. E isso é uma tentação e tanto, pois ele pode se apropriar de recursos de terceiros de forma disfarçada e indireta, usando o tal “imposto inflacionário”.

Com receio do uso e abuso político dessa poderosa ferramenta – que a história comprova ser mais que legítimo – os países desenvolvidos criaram bancos centrais independentes com a missão de cumprir a meta de inflação definida pelo Congresso. O Brasil não chegou a esse grau de evolução, mas o governo FHC garantiu certa autonomia operacional ao BC, mantida no começo do governo Lula, com Henrique Meirelles no comando.

Pois bem: eis o primeiro pilar abandonado pelo governo Dilma. A nossa meta de inflação é de 4,5% ao ano, patamar elevado para padrões internacionais, incluindo outros países emergentes. Tal meta nunca foi cumprida. Eis a inflação medida pelo IPCA, lembrando que vários preços administrados pelo governo foram represados:

IPCA. Fonte: Bloomberg

IPCA. Fonte: Bloomberg

Reparem que coloquei a linha vermelha no patamar de 4,5% ao ano, a meta oficial do governo. Nossa inflação jamais ficou perto dela durante a gestão Dilma. O que podemos observar é um índice de inflação acima até do topo da meta, de 6,5%, existente apenas para casos esporádicos e temporários. Não resta dúvida: o governo Dilma abandonou este pilar do tripé.

O segundo pilar é o câmbio flutuante. Por que seria tão importante? Ora, a taxa de câmbio é um preço como tantos outros, e sua função, portanto, é transmitir informações relevantes aos agentes tomadores de decisões. No caso do câmbio, isso é ainda mais relevante, pois ele é o resultado da interação de inúmeros fatores que sinalizam tendências cruciais para os empresários e investidores.

Se o país como um todo está importando muito mais do que conseguindo exportar, por exemplo, e se nossa conta-corrente está negativa, então o natural seria o real se desvalorizar frente ao dólar, para atrair mais investimento externo e estimular mais as exportações. Quando o governo intervém nesse processo, segurando artificialmente a taxa de câmbio, ele distorce todo o mecanismo de alocação de capital na economia.

Pois bem: o BC já realizou mais de US$ 100 bilhões em “swaps” cambiais nos últimos meses para tentar segurar nosso câmbio, com medo do impacto de uma desvalorização nos índices de inflação. Com isso, o real permanece fora de seu preço de equilíbrio, caro demais, o que prejudica bastante nossa indústria. Eis o resultado do câmbio que não chega a ser fixo, mas tem “flutuação suja”:

Taxa de câmbio: real x dólar. Fonte: Bloomberg

Taxa de câmbio: real x dólar. Fonte: Bloomberg

Não resta muita dúvida aqui também: esse pilar foi abandonado, e muitos analistas acreditam que o dólar já valeria quase R$ 3,00 não fosse a intervenção do governo.

Por fim, temos a questão das contas públicas, uma das maiores conquistas da era FHC, com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Esse pilar é talvez o mais importante e é simples entender o motivo: governo que gasta mais do que arrecada inevitavelmente terá problemas à frente, e ou vai ter de gerar inflação para fechar o buraco, ou ficará nas mãos de “agiotas” e colocará o país em risco de calote. Qualquer família entende isso.

Pois bem: acaba de ser divulgado o superávit primário, aquilo que o governo poupa antes de incluir o pagamento do serviço da dívida acumulada. Um desastre! O resultado do primeiro semestre foi o pior em 12 anos! Foi uma queda de 50% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Fonte: GLOBO

Fonte: GLOBO

Na margem, não há sequer superávit, mas sim déficit primário, ou seja, o governo não conseguiu nem economizar antes de incluir os gastos com juros. A dívida pública, que já é enorme, aumenta dessa forma. Isso mesmo com os “malabarismos contábeis”, ou seja, mesmo maquiando números com artimanhas. Não resta muita dúvida: o governo Dilma abandonou esse último pilar do tripé macroeconômico também.

Qualquer um que compreende a importância do tripé macroeconômico tem todos os motivos do mundo para alimentar grande pessimismo em relação ao futuro de nossa economia, especialmente se a equipe econômica atual permanecer no poder.

por Rodrigo Constantino, de veja.com.br 

Guido Mantega, mas pode chamar de Mr. Magoo

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A diferença é que as coisas acabavam dando certo para o Mr. Magoo sortudo, o que não acontece com Mantega…

Obs: O ministro não disse exatamente essa frase acima, que compilei, mas disse cada uma dessas coisas em separado. Seu mais recente comentário, sobre a crise argentina, está aqui.

Rodrigo Constantino 

O ódio da esquerda aos “especuladores”

especuladores

“Enquanto não aplicarmos o terror sobre os especuladores – uma bala na cabeça, imediatamente – não chegaremos a lugar algum!”. A recomendação radical foi feita pelo revolucionário Lênin, incitando seus camaradas comunistas à violência contra os “especuladores”.

Felizmente, parece que o uso da força física na batalha das idéias saiu um pouco de moda, à exceção de alguns grupos minoritários, como os baderneiros do MTST ou os black blocs. Mas isso não quer dizer que a agressão moral contra esses bodes expiatórios de sempre tenha desaparecido. Pelo contrário.

Desde Shakespeare, com Shylock representando o ícone desses “desalmados agiotas”, o ódio contra os financistas e especuladores nunca esteve tão alto. Eles são o alvo preferido de quase todos quando o assunto é apontar culpados por crises econômicas. O governo argentino os culpa pela crise que deve culminar em novo calote. A presidente Dilma os condena pelo pessimismo com a economia. Mas será que há bons fundamentos por trás disso?

“Sem especulação não pode haver nenhuma atividade econômica alcançando além do presente imediato”, disse o economista austríaco Ludwig von Mises. Poucas são as profissões tão repudiadas pelo senso comum como a especulação de ativos. No entanto, o principal motivo para esse preconceito reside na falta de conhecimento acerca das funções que a especulação exerce no mercado.

Em primeiro lugar, podemos considerar os arbitradores de preços em termos geográficos, ou seja, aqueles indivíduos que buscam o lucro através de oportunidades que surgem pelo fato de o preço de um determinado produto estar elevado em um lugar e baixo em outro. Havendo livre mercado, essa diferença tende a desaparecer, restando somente o custo de transporte como diferencial de preços.

A mesma tendência de equalização se aplica no caso de preços no tempo. Eis onde surge o importante papel dos especuladores. A relação entre o preço presente e o preço futuro de umacommodity é que eles tendem a diferir não mais do que os custos de estocagem somados a uma taxa de lucro do capital que deve ser investido nessa estocagem.

Os especuladores tentam antecipar os movimentos que vão ocorrer nos mercados. Agindo dessa forma, eles acabam diluindo as oscilações abruptas no tempo. A atividade dos especuladores serve então para transferir oferta de um período no qual ela é menos urgente, como indicado pelos preços menores, para um período no qual ela é mais necessária, como indicado pelos preços maiores.

Como exemplo, pode-se pensar no petróleo. Antecipando algum tipo de escassez futura, pelo motivo que for, os especuladores irão comprar petróleo no presente e estocá-lo. Isso irá forçar seu preço para cima no momento atual, incentivando uma menor demanda. Em compensação, esse petróleo estocado terá que ser consumido algum dia, e nesse momento os preços serão pressionados para baixo, estimulando a demanda.

É importante lembrar que toda empresa que decide sobre estoque de produção está especulando também, pelo mesmo princípio que o especulador. Consumidores que adiam ou antecipam as compras estão especulando também. Especular é apenas tomar uma decisão hoje com base em uma expectativa futura, sempre incerta, por definição.

Mas pelo fato de a especulação transmitir os preços maiores esperados no futuro para o presente, ela é denunciada como a causa desses maiores preços. Aqueles que assim o fazem estão ignorando que os estoques acumulados no presente como resultado da especulação terão que ser usados algum dia, e neste momento irão necessariamente agir de forma a reduzir os preços. Quando o preço do barril disparou para US$ 150, todos culpavam os especuladores, mas quando ele despencou para baixo de US$ 90, ninguém se lembrou dos especuladores como responsáveis pela queda.

Além disso, se os especuladores errarem em suas estimativas, eles mesmos pagam o preço, pois compraram o produto e investiram em sua estocagem a preços maiores, sendo que deverão vender a preços mais baixos, arcando com o prejuízo. Se, por outro lado, acertaram na previsão, apenas anteciparam uma mudança na relação entre a oferta e a demanda, suavizando seu impacto nos preços no tempo.

É verdade que em alguns casos, a própria expectativa dos especuladores pode afetar o futuro, como numa profecia autorrealizável. É o que George Soros chamou de “reflexividade” dos mercados. Mas os pilares de uma economia precisam ser de areia para que os especuladores possam mudar assim os fundamentos. Era o caso da Inglaterra, quando o próprio Soros ganhou bilhões especulando contra sua moeda, artificialmente manipulada pelo governo.

Foi também o caso da crise asiática, novamente vítima de erros dos próprios governos locais. Costuma ser mais comum os especuladores apenas anteciparem os fatos, tentando trabalhar em cima dos fundamentos em si. São esses que realmente importam. Em uma economia livre e saudável, a especulação só tem a agregar, através dessa arbitragem de preços. Negar isso é o mesmo que dizer que remédios testados não são desejáveis, pois em alguns casos podem acarretar em piora do doente, que já estava mesmo com um pé na cova.

Em resumo, essa é a mais importante função dos especuladores: a arbitragem de preços tanto geograficamente como no tempo, garantindo maior liquidez para os mercados, o que leva à sua maior eficiência. Aqueles que culpam os especuladores por uma mudança nos preços presentes estão ignorando um princípio básico de economia. Estão confundindo correlação com causalidade. Estão, em suma, condenando um termômetro por mostrar a febre do doente.

* * *

Compreendendo melhor a função do especulador, conclui-se com mais facilidade que a intervenção e tentativa de intimidação do governo no caso Santander é inaceitável. A função dos analistas dos bancos é justamente especular acerca do impacto político e eleitoral no valor dos ativos de seus clientes. Como escreveu Carlos Alberto Sardenberg em sua coluna de hoje:

Pior foi a reação da direção do banco, que pediu desculpas ao governo e demitiu o(a) analista. Disse que ele(a) fizera coisa errada. Quer dizer que o certo é comprar ações quando aumentarem as chances de Dilma? Os clientes do banco foram enganados nos últimos relatórios ou estão sendo enganados agora?

E o dono do banco, Dom Emilio Botin, defendeu o seu negócio. O governo é regulador e muito bom cliente. Uma ordem, e governos, prefeituras e entidades públicas podem fechar contas com o Santander. Resumo: prevaleceram o ataque à liberdade de informação e de fazer negócios; e o interesse do banqueiro.

Acontece que, em tempos de internet e redes sociais, para agradar ao governo o banco acabou incomodando milhares de correntistas, agora receosos da influência política em suas análises, o que polui o julgamento isento. Foi o que escreveu o colunista da Veja Geraldo Samor em suacarta à Dilma hoje:

O Santander — que como qualquer banco quer estar de bem com o Poder — esqueceu que o poder hoje não emana apenas do Estado. Ele também está nas mãos de seus milhões de correntistas, nas ideias da sociedade e na voz da opinião pública, conectada e potencializada pela tecnologia.

Os governos só gostam dos especuladores quando eles estão estimando algo positivo à frente, e puxando o valor dos ativos para cima no presente. Mas não dá para ser tão seletivo assim. A função do especulador é justamente tentar enxergar melhor o futuro. Não há mal algum nisso.

Se os fundamentos forem sólidos, são eles que vão perder. O problema é quando o governo sabe que os fundamentos são péssimos, e precisam sacrificar algum bode expiatório no altar da hipocrisia, para apagar sua culpa no cartório e enganar os eleitores mais leigos…

Rodrigo Constantino

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Estadão + veja

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    A presidente Dilma Rousseff explicou na tarde de hoje ao meu amigo Joselito Muller o motivo pelo qual ela guarda R$ 152.000,00 em casa como declarou em entrevista.

    > O fato que chamou a atenção do país nos últimos dias foi justificado da seguinte maneira: “primeiro é porque eu tenho um colchão enorme lá no palácio, por isso cabe muita grana embaixo. Segundo é que não confio deixar essa grana no banco, pois do jeito que a economia vai mal, nunca se sabe o que pode acontecer. Além do mais, a poupança nem tá rendendo essas coisas”.

    > As declarações de Dilma deixaram alguns membros do governo chateados. Segundo o ministro da Fazendo, Guido Mantega, “eu não me importo da presidente guardar esse dinheiro todo em casa. O que me dá mais raiva é que ela nunca racha a conta do bar no happy hour, dizendo que está sem dinheiro”, desabafou.

    > A presidente informou à imprensa que vai distribuir uma parte do dinheiro para os beneficiários do Bolsa Família que chegarem primeiro na porta do Palácio do Planalto na próxima segunda feira.

    “Vou dar dez reais para cada um”, informou a presidente.

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