IBGE revisa cálculos da Pnad após detectar problemas nas projeções de amostragem

Publicado em 20/09/2014 10:59
Erro 'grosseiro' coloca em perigo a reputação do Instituto. IBGE revisou os cálculos da Pnad após detectar problemas nas projeções de amostragem; com isso, mudaram os indicadores de desigualdade, analfabetismo e o cálculo da renda média dos brasileiros

erro cometido pela equipe de técnicos que elabora a Pesquisa Nacional por Amostragens de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coloca em risco a reputação do instituto e a confiança nos dados da própria pesquisa, realizada há 30 anos. O IBGE informou que a Pnad referente ao ano de 2013 foi publicada com erro no cálculo do peso de algumas regiões, o que resultou na divulgação de indicadores incorretos. Um deles é o índice de Gini, que mede a desigualdade, que teve de ser alterado. Fosse o erro uma exceção nos institutos de pesquisa ao longo dos últimos anos, o incidente atual não causaria tanto alarme. Ocorre que a Pnad acaba de ser revisada na sequência de outras confusões que envolvem os órgãos de estatísticas do país. A credibilidade do IBGE está em jogo, assim como a dos dados oficiais que por ele são divulgados, como o de desemprego, inflação e desigualdade.

Economistas ouvidos pelo site de VEJA classificam o erro como "grosseiro" e "primário" quando se trata de um órgão cuja única função é prover dados oficiais sobre o Brasil. Em abril, uma crise institucional foi instaurada no IBGE quando a presidente, Wasmália Bisval, afirmou que a Pnad Contínua, que calcula, entre outros índices, o de desemprego, teria sua metodologia revisada a pedido de senadores petistas. A Pnad acabara de divulgar que a taxa de desemprego de 2013 havia sido maior que a calculada pelo instituto no âmbito da Pesquisa Mensal de Emprego (PME). A possibilidade de revisão fez com que houvesse uma ameaça de debandada de técnicos da Pnad. Na sequência, uma greve teve início e foi capitaneada, justamente, por aqueles que apuravam a Pnad.

No Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), algo similar ocorreu em levantamento divulgado em março deste ano, que mostrava que 65% dos brasileiros concordariam total ou parcialmente com a ideia de que mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. O dado correto, divulgado posteriormente, era de 26%. Reportagem do site de VEJA aponta que, além de divulgar o número incorreto em abril, o instituto também engavetou um estudo importante que mostra que a concentração de renda aumentou. A tese, curiosamente, contraria o discurso recorrente dos governos petistas. O exemplo do IBGE apenas piora a situação.

Maria Helena Castro, diretora-executiva da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), o Portal das Estatísticas de São Paulo, recebeu com estranheza a notícia da revisão da Pnad. "É estranho que um dia depois de divulgarem os dados que mostraram que a desigualdade tinha aumentado, agora mudam. É necessário examinar com cuidado para ver qual foi o erro na metodologia. O IBGE deve convocar uma reunião com os técnicos dos Estados para explicar os problemas encontrar os motivos que levaram a essa revisão", afirma.

Erro não muda a tendência — O índice de Gini, que é usado mundialmente, leva em conta o número de pessoas em um domicílio e a renda de cada um, e mostra uma variação de zero a um, sendo que quanto mais próximo de um, maior é a desigualdade. Na pesquisa publicada na quinta-feira, o indicador que calcula o rendimento real das famílias com o trabalho ficou em 0,498. Com a correção, fica em 0,495. O novo número mostra leve melhora em relação ao resultado de 2012, que havia sido de 0,496. O novo dado também é o mais baixo já apontado pelo instituto. Contudo, como o avanço foi de apenas 0,001 ponto porcentual, economistas mantêm a avaliação de que a melhora na distribuição de riqueza parou. A diferença é tão pequena que, ao se construir um intervalo de confiança, a alteração estaria dentro dele. "O erro não muda a tendência, que continua sendo de estagnação", afirma o economista Marcos Lisboa, diretor e vice-presidente do Insper, e também um dos maiores especialistas em desigualdade no país.

O IBGE tem reputação respeitável e muitos de seus técnicos são renomados. Segundo economistas ouvidos pelo site de VEJA, o erro é grave, mas ainda não é o suficiente para que o Brasil seja comparado à Argentina quando se trata do cálculo de indicadores econômicos. Ao longo dos dois governos Kirchner, os órgãos responsáveis pelos principais índices, como o de inflação, não são levados em conta pelo mercado. Enquanto as estatísticas oficiais apontam inflação anual próxima de 10%, por exemplo, o índice medido por consultorias privadas é mais que o dobro. "No caso da Pnad, não acho que tenha havido má-fé. Ficaria muito surpreso se fosse. Mesmo em trabalho acadêmico, erros acontecem. E, no fim das contas, a mudança não é pra ninguém dar saltos de alegria", afirma o economista e pesquisador da Fundação Getulio Vargas Sérgio Firpo.

Gesner Oliveira, economista e sócio-diretor da GO Associados, não se recorda de ter visto, em algum período, o reconhecimento de tamanho erro. E sugere que se implemente uma melhora nos procedimentos de revisão e checagem. "É preciso máxima transparência para explicar à sociedade o porquê e como aconteceu. Também é preciso refletir sobre eventuais medidas para minimizar a probabilidade de novos erros no futuro", afirma. "Um sistema de revisão e de checagem mais rigoroso, além do aperfeiçoamento do sistema de divulgação são necessários, pois são estatísticas sensíveis, que têm efeitos sobre a opinião pública e o mercado. Seria desejável que não houvesse dúvidas sobre os números da principal instituição de estatísticas do país", afirma. 

Cortes de verba — As perspectivas orçamentárias para o órgão, contudo, não são animadoras quando se leva em conta a necessidade de investir num modelo mais seguro de análise de dados e checagem. Segundo o texto enviado ao Congresso pelo Ministério do Planejamento, a renda destinada ao IBGE teve um corte de 562 milhões de reais que seriam destinados à contagem da população 2016 e ao censo agropecuário 2015. O valor pedido pelo IBGE para o Projeto de Lei Orçamentária Anual 2015 era de 766 milhões de reais. Ao informar o problema, no início de setembro, a presidente do orgão, Wasmália Bivar, disse que as duas operações censitárias demandam muitos recursos e o instituto não tem como estabelecer parcerias para realizá-las. Com isso, o censo ficou para 2016. O corte também coloca em risco a realização da Pnad do ano que vem.

“Erro” no Pnad: governo vai criar comissões de especialistas

No Globo. Volto no próximo post:
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse que o governo está chocado com o erro no resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013, divulgado na quinta-feira, que provocou incorreções em resultados de sete estados: Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, que respondem por mais de 59% da população brasileira, segundo as estimativas populacionais para 2014. Entre os dados corrigidos, o IBGE informou que agora a desigualdade no país caiu, em vez de subir. O instituto negou que qualquer ingerência política tenha levado à correção dos dados.

Segundo Miriam, será constituída uma comissão de sindicância para encontrar as razões dos erros e, eventualmente, as responsabilidades funcionais por que isso aconteceu. “O governo está chocado com esse erro cometido pelo IBGE. Como disse a presidente do IBGE, doutora Wasmália Bivar, é um erro gravíssimo. E, em razão disso, o governo decidiu duas coisas. Em primeiro, constituir uma comissão de especialistas independentes para avaliar a consistência da Pnad”. A comissão de sindicância será formada pelos ministérios do Planejamento, da Justiça e da Casa Civil, além da Controladoria-Geral da União. O grupo de especialistas ainda será formalmente convidado e deverá ter um prazo para apresentar seus resultados. Antes de se manifestar em entrevista coletiva na sede do ministério, a ministra esteve com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, para avaliar a situação. Questionada sobre os problemas recentes de falta de quadros e ameaças de greve, além de um processo de cortes de gastos estar prejudicando as pesquisas do IBGE, a ministra negou essa relação. “O quadro de funcionários cresceu 6%, neste ano nós liberamos 660 novos servidores ao IBGE, exatamente para dar as condições de ele seguir fazendo as suas pesquisas e o orçamento, nesse período nosso no governo, cresceu mais do que 60%”, disse.

A ministra não quis comentar a hipótese de ter ocorrido um erro deliberado na elaboração dos resultados da pesquisa, nem sobre uma eventual demissão de Wasmália. Segundo ela, é preciso esperar os resultados da comissão de sindicância. De acordo com os novos cálculos apresentados pelo IBGE nesta sexta-feira, o índice de Gini da renda do trabalho, um dos indicadores de desigualdade, passou de 0,496 para 0,495 em vez de subir para 0,498, como o IBGE tinha informado anteriormente. O índice de todas as fontes tinha ficado estacionado, mas agora ele cai para 0,501. Já o Gini domiciliar tinha subido de 0,499 para 0,500 e agora cai para 0,497. Quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade. No novo cálculo, no Gini de todas as fontes, os 10% mais pobres têm avanço na renda superior aos 10% mais ricos. A renda da base avançou 2,9%, enquanto na parcela dos mais ricos, 2,1%.

Desemprego
Já a taxa de desemprego, que entre 2012 e 2013 subiu de 6,1% para 6,5%, foi mantida. Mas, na revisão dos dados de 2013, a população desocupada subiu menos: em vez de 7,2%, avançou 6,3%, para 6,6 milhões de pessoas. Os novos cálculos mostram ainda que a taxa de analfabetismo caiu menos do que o estimado anteriormente. Os dados de quinta-feira mostravam o percentual passando de 8,7% para 8,3%. Agora, a redução foi menor, para 8,5%. O trabalho infantil também registrou uma queda menor. Passou de -12,3% para -10,6%. Os anos de estudo passaram de 7,7 anos para 7,6 anos agora.

Erro em “numerinho”
O diretor de pesquisa do IBGE, Roberto Olinto, explicou o falha, ocorrida na hora de colocar uma variável. E justificou as mudanças no resultado da Pnad: “O erro ocorreu porque o peso de nove regiões metropolitanas foi superestimado. Como o rendimento de regiões metropolitanas é normalmente maior que o das demais, o rendimento dos 10% mais ricos foi maior e isso impactou o Gini, Por outro lado, como o analfabetismo é maior no interior, com a correção, cresceu”, disse Olinto. “Como a amostra não cobre toda a região, existem pesos para cada região. Os dados brutos não têm problema, a questão foi na hora de calcular o numerinho que compõe a amostra, nesse processo, problema restrito às regiões metropolitanas de sete estados.”

“Extremamente grave”
O problema foi identificado por consultorias econômicas e outros órgãos do governo, que questionaram os dados das Unidades da Federação. A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, disse que a falha é muito séria. “Foi algo extremamente grave. Toda vez em que o IBGE erra, é nosso dever tornar isso público e pedir desculpas a toda a sociedade”, afirmou.

Já Olinto classificou o episódio como um “infeliz acidente”. Ele negou ter havido qualquer tipo de ingerência política e também descartou que a falha tenha sido fruto da greve ou da inexperiência de funcionários novos. Além disso, destacou que os dados passam por sete pessoas: “ Foi um infeliz acidente, estritamente técnico. As razões específicas do erro vão ser investigadas”. Quando indagado se houve interferência politica, afirmou: “Obviamente, não. Dados como a Pnad têm um embargo, com 48 horas de antecedência. O governo também participa desse embargo. Seria surrealista divulgar um dado para depois divulgá-lo sob pressão. Foi um erro técnico. Não há indício de pressão”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Estatísticas

Ministra não descarta demissão de presidente do IBGE

No comando da pasta ao qual o órgão está vinculado, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, classificou o erro como grave e disse que o governo está 'chocado'

Marcela Mattos, de Brasília
Miriam Belchior, ministra do Planejamento, pasta à qual o IBGE é subordinado

Miriam Belchior, ministra do Planejamento, pasta à qual o IBGE é subordinado (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr/VEJA)

A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse nesta sexta-feira que o governo está chocado com o erro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos cálculos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). Como o IBGE é subordinado ao Planejamento, a ministra foi instada a responder se o caso pode resultar a demissão da presidente do IBGE, Wasmália Bivar. Belchior não descartou a demissão, mas ponderou que o governo ainda está tentando entender o episódio e que vai aguardar o resultado de uma sindicância para tomar decisões administrativas. “O governo está chocado com esse erro cometido pelo IBGE. Como disse a presidente do IBGE, é um erro gravíssimo. O governo decidiu duas coisas: constituir uma comissão de especialistas para avaliar a consistência da Pnad e criar uma sindicância para encontrar as razões dos erros e, eventualmente, as responsabilidades funcionais", afirmou.

O Ministério do Planejamento foi comunicado na manhã desta sexta de que a pesquisa poderia conter um erro, mas só obteve os novos dados no fim do dia. Representantes da pasta vão se reunir para avaliar o levantamento correto e devem prestar novos esclarecimentos na manhã deste sábado. “Infelizmente um procedimento básico de checagem não funcionou na Pnad. Eu lamento que isso tenha acontecido. Isso prejudica uma pesquisa muito importante para o desenvolvimento de políticas públicas e para avaliar os avanços que o Brasil tem vivido nos últimos anos”, afirmou a ministra do Planejamento. Ela evitou vincular o caso às reivindicações por direitos trabalhistas e ajuste salarial. Neste ano, o órgão passou por uma crise institucional, com seus servidores em greve por mais de dois meses. “É uma coisa muito simples, que eu acredito que não depende de recurso orçamentário ou de pessoa.”

Leia também:
Pnad é publicada com erro grave, diz IBGE
Erros e atrasos marcam pesquisas do IBGE e do Ipea

Sobre o impacto que o erro do órgão pode ter na disputa eleitoral, Miriam tentou minimizar o assunto. “Em um momento eleitoral, qualquer coisa é usada politicamente”, disse. “O IBGE, alertado do erro, fez rapidamente uma correção. Acho que esse é o compromisso que o órgão tem: minimizar o impacto negativo desse erro tão grande.”, acrescentou.

Histórico de erros — O erro divulgado nesta sexta-feira pelo não é o primeiro cometido pelo Instituto este ano. Em abril, a Pnad Contínua, também divulgada pelo instituto e criada para substituir a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), foi suspensa por ter revelado uma taxa de desemprego superior à que era mostrada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Mais precisa, a Pnad coleta dados em mais de mil municípios. Já a PME avalia apenas seis regiões metropolitanas. À época, a suspensão da pesquisa criou uma crise institucional no Instituto, que culminou na ameaça de debandada de seus técnicos, que acusavam o governo de ingerência. À crise se seguiu a uma greve terminada apenas em agosto. Com isso, desde o mês de abril o país não conhece sua taxa de desemprego.

O que se passa com o IBGE? Não sei! Nenhuma possibilidade é boa

Ai, ai… Vamos lá.

O IBGE mobiliza uma tropa de técnicos para processar as informações colhidas pela Pnad. Se a rotina não mudou, há todo um processo de conferência de dados. Mais: há procedimentos justamente para capturar eventuais erros antes da divulgação. Fazer de conta que estamos diante de uma narrativa corriqueira corresponde a tapar o sol com a peneira. Não estamos.

Então, depois de uma demora que também não teve a devida explicação, os dados são divulgados, constata-se a estagnação da redução da desigualdade, o tema ganha óbvia tradução política — e nem poderia ser diferente —, e, com rapidez espantosa, corrige-se o “erro” e se obtém o resultado desejado? “Ah, a desigualdade continua em queda.” Que bom, né? A oposição já não poderá mais usar esse argumento.

Estou acusando o IBGE de ceder à pressão oficial? Não exatamente. Se achasse, diria. Mas que devemos estranhar o procedimento, ah, isso devemos, sim.

Reitero: o que me espanta é o fato de checagens periódicas, que fazem parte do método de processamento de dados, não terem identificado, durante meses, um erro tão sério, depois identificado num único dia.

O que se passa no IBGE? Não sei. Nenhuma possibilidade é boa.

Por Reinaldo Azevedo

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
veja.com

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi, os ovos da serpente, postos na década dos anos 60, pelos partidos comunistas, que após a queda do “Muro de Berlim”, transmutaram para “socialistas” e, estão sempre eclodindo, quando a necessidade exige.

    Os últimos “causos” da Petrobrás, a presidenta lançou o palavrório que: “o meu governo está investigando os escândalos de corrupção, através Policia Federal, Ministério Público e, faz através do Ministro da Justiça o pedido de acesso aos depoimentos de Paulo Roberto da Costa ao juiz federal Sérgio Moro”. O qual lhe é negado! Porque?

    Porque o Ministério Público e a Policia Federal são órgãos do Estado brasileiro, não como pensa erroneamente a “presidenta” do BRAZIL (com ZÊ), não são órgãos do governo ou deste ou daquele partido.

    COLOCARAM O BODE NA SALA! A intenção é fazer com que a opinião pública “VEJA O BODE”!

    Ah! O nome do “BODE” é IBGE, que provocou um erro na divulgação da pesquisa do PNAD.

    “Foi um erro grave”, palavras da ministra do planejamento e, pasmem, outros ministros vieram a público falar sobre o erro.

    NÃO É ASSASSINATO DAS INSTITUIÇÕES?

    ....”E VAMOS EM FRENTE” ! ! !....

    0