Caso Eike Batista: se fosse nos Estados Unidos isso dava cadeia!...

Publicado em 15/04/2014 19:07 e atualizado em 04/07/2014 11:17
por Rodrigo Constantino, de veja.com.br

Caso Eike Batista: se fosse nos Estados Unidos isso dava cadeia!

A atuação de Eike Batista na crise da petroleira OGpar (ex-OGX) vai ser investigada no Rio e em São Paulo. Uma associação que representa minoritários de empresas brasileiras, apresenta nesta terça-feira ao Ministério Público Federal (MPF) paulista uma queixa contra o empresário, contra a Bolsa de Valores de São Paulo e contra seu presidente, Edemir Pinto.

Entre as acusações está a omissão da identidade de Eike enquanto ele vendia ações da ex-OGX durante negociações na Bovespa entre 24 de maio e 10 de junho de 2013. O empresário só informou ao mercado que estava se desfazendo dos papéis em 10 de junho daquele ano. O anúncio derrubou a cotação em 9% naquele dia.

Em outra frente, o MPF no Rio de Janeiro solicitou que a Polícia Federal (PF) instaure um inquérito para apurar a suposta prática de crimes financeiros por Eike, enquanto controlador da petroleira. O pedido foi embasado nas conclusões do relatório de acusação elaborado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), encaminhado ao MPF em 19 de março. O procurador que está à frente do caso é Marcio Barra Lima.

Crime financeiro é coisa muito séria em país sério. Quando houve as primeiras acusações e indícios de “insider trading” por parte de Eike Batista, escrevi sobre o assunto no meu antigo blog. À época, eis minha mensagem, que repito aqui:

O mercado só funciona com regras claras, e punição para quem as descumpre. Leiam Luigi Zingales sobre o assunto: seus dois livros são fundamentais para compreender a importância das instituições no bom funcionamento do capitalismo. Tem libertário que defende o “insider trading”, mas o fato é que esse tipo de atitude vai minando a credibilidade do próprio mercado. E ela é crucial para o progresso.

Fosse nos Estados Unidos, Eike Batista acabaria atrás das grades, caso fique comprovado o “insider trading”. Acho que os americanos não chegaram aonde chegaram à toa, ou porque são bobos. Eles entendem – ou ao menos entendiam – a relevância da confiança nas regras do jogo. O Brasil precisa trilhar esse caminho também.

Guardadas as devidas proporções, Bernard Madoff está preso até hoje, apesar de sua fortuna. No Brasil, ninguém acredita que Eike Batista possa parar atrás das grades. E isso diz muito sobre a diferença entre cada país…

Rodrigo Constantino

 

CorrupçãoInvestimentosPrivatização

Dilma: “Querem destruir a imagem da Petrobras”. Eu concordo! E não só a imagem…

Ao lado da presidente da Petrobras em cerimônia de lançamento de um novo navio em Pernambuco, a presidente Dilma disse que vai investigar e punir “malfeitos” na estatal, e que também vai defendê-la daqueles que querem destruir sua imagem. Ela disse:

Está errado quando alguns dizem que a Pretrobras está perdendo valor, quando distorcem análises para transformar eventuais problemas conjunturais de mercado em supostos fatos irreversíveis e definitivos. [...] Não ouvirei calada a campanha negativa dos que, por proveito político não hesitam em ferir a imagem da nossa empresa. A Petrobras é maior do que qualquer um de nós. A Petrobras tem o tamanho do Brasil. [...] Não podemos permitir – é bom dizer isto – como brasileiros que somos, que defendem este país, que se utilize ações individuais e pontuais – mesmo que graves, para destruir a imagem de nossa maior empresa, nossa empresa mãe. Ou para tentar confundir quem de fato trabalha a favor e quem trabalha contra a Petrobras.

De fato, há muita gente tentando destruir a imagem da Petrobras. Na verdade, não só a imagem, como a empresa toda mesmo. Mas quem seriam esses golpistas, esses agentes da destruição infiltrados na maior empresa nacional, patrimônio do povo? Os tucanos? Os “conservadores”? Os agentes da CIA?

Nada disso. São os petistas mesmo. Ou a presidente Dilma acha que é invenção da imprensa a prisão de um importante diretor da estatal sob o comando de seu governo? Seria tudo isso apenas “problemas pontuais”? Quem foi que inventou que a Petrobras está perdendo valor? Especuladores insensíveis do mercado financeiro? Um simples problema conjuntural? Vejamos:

PETR4. Fonte: Bloomberg

PETR4. Fonte: Bloomberg

Como fica claro, não se trata de um “problema conjuntural” ou de algum movimento especulativo localizado. É uma clara tendência de destruição de valor da estatal sob a gestão Dilma. E vale notar que o repique recente ocorreu justamente porque Dilma caiu nas pesquisas eleitorais, ou seja, os investidores brasileiros e estrangeiros foram às compras da ação da estatal na maior esperança de que Dilma perca em outubro.

E não é para menos! A única coisa que aumenta na Petrobras durante o governo Dilma é a dívida. A produção cai, o rombo do fluxo de caixa sobe como resultado. Some-se a isso os escândalos de corrupção, com a Polícia Federal tendo de entrar na sede da companhia para levar material para investigação, ex-diretor preso e 27 outras pessoas indiciadas, tem-se o quadro completo de destruição da maior empresa brasileira. Quem prejudica a Petrobras?

O candidato tucano Aécio Neves, ao garantir que tirará a Petrobras das “garras” do PT, resumiubem a situação:

Está na hora de a presidente da República devolver limpo o macacão dos funcionários da empresa. Quem está sujando a imagem da Petrobras é o PT, que estabeleceu o aparelhamento através da irresponsabilidade, que resulta na prisão de diretores em operações da Polícia Federal.

Não dá para discordar de Dilma: querem mesmo destruir a imagem da Petrobras. Querem até mais! Querem destruir a Petrobras inteira. Mas se Dilma deseja encontrar um culpado, seria melhor começar a busca pela manhã, na hora de escovar os dentes e passar o óleo de peroba, digo, a maquiagem…

Rodrigo Constantino

 

Investimentos

Graça Foster se agarra às promessas, mas evita a realidade ingrata do presente

Na tentativa de diminuir as pressões pela instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) da Petrobras, a base governista articulou uma audiência no Senado para ouvir a presidente da estatal, Graça Foster. A ideia é que os esclarecimentos de Foster esgotem questionamentos sobre irregularidades e contratos malsucedidos na petroleira e permitam que os governistas ganhem tempo para inviabilizar o funcionamento da CPI. Governistas acreditam que, com depoimentos como o da presidente da estatal, podem adiar o início de funcionamento de uma CPI, de preferência até junho, quando o foco de atenção deve estar voltado para a Copa do Mundo, e não para o funcionamento do Congresso.

Em sua apresentação, Graça Foster não foi muito convincente sobre o caso da compra da refinaria Pasadena, no Texas. Alegou que, em análises em andamento, o grupo Astra teria comprado a refinaria por US$ 360 milhões, enquanto a Petrobras teria pago US$ 1,25 bilhão pelos 100%. A diferença, ainda que enorme, seria menos absurda do que os valores divulgados pela imprensa, de que o grupo Astra pagou pouco mais de US$ 40 milhões pelo ativo.

Graça Foster inclui na conta os investimentos feitos pelo grupo Astra após a compra e até a venda para a Petrobras. Legítimo, pois quando há novos investimentos, isso tende a aumentar o valor do ativo. Só que, para comparar banana com banana, Graça Foster deveria ter incluído também os investimentos feitos pela Petrobras na refinaria após a compra, para saber quanto a Petrobras já enterrou no negócio. Quanto a refinaria valeria hoje se fosse vendida? Somente assim teríamos o mesmo critério de comparação.

Além desse detalhe, Graça Foster selecionou números favoráveis à Petrobras, de forma a não deixá-la tão feia na foto comparativa com as “majors” do setor. O lucro em dólar ficou estável na estatal, enquanto caiu nessas empresas. A produção de óleo (excluindo gás) ao longo dos últimos anos caiu nessas empresas e não na Petrobras. Mas os dados podem ser torturados até que confessem qualquer coisa. Basta selecionar, por exemplo, um ano diferente para o começo da comparação que muita coisa pode mudar. Ou excluir o gás da equação, já que essas empresas expandiram muito a produção de gás.

Graça Foster se agarrou às promessas de crescimento da empresa, alegando que a dívida líquida sobre a geração de caixa começará a cair na frente. Até agora isso não ocorreu. A dívida líquida aumenta sem parar, mas a produção não acompanha, sem falar do preço (decisão de governo). O resultado é que as promessas passadas não foram cumpridas.

E eis o grande problema do discurso de Graça Foster: depende demais do futuro incerto, e ignora o passado e o presente incômodos. O primeiro senador a fazer perguntas foi Rodrigo Rollemberg, do PSB, e tocou no ponto certo: se tudo isso que a presidente da estatal mostrou é verdadeiro, então por que a perda de valor foi tão grande nos últimos anos?

Essa é uma sinuca de bico que Graça Foster não tem como evitar, mesmo com todo o malabarismo semântico e estatística selecionada. A imagem abaixo diz tudo. Se a Petrobras vai tão bem assim vis-à-vis seus pares internacionais, então como Graça Foster explica a acelerada deterioração de valor relativo da Petrobras?

Petrobras x XLE. Fonte: Bloomberg

Petrobras x XLE. Fonte: Bloomberg

O XLE é uma cesta de ações das principais empresas do setor nos Estados Unidos. Como fica claro, a Petrobras vale cada vez menos em relação ao grupo. Ou Graça Foster afirma que os investidores do mundo todo são uns completos ignorantes que vivem em outro planeta por não perceber todas as incríveis conquistas relativas da Petrobras, ou era melhor admitir que quem vive em outro planeta é ela mesmo, ao elogiar tanto uma gestão que só causou estrago no valor da estatal.

Contra fatos não há argumentos…

Rodrigo Constantino

 

A infiltração vermelha na Petrobras

Empresa continua aparelhada politicamente, usada por petistas como propriedade particular

‘A Petrobras, a maior empresa industrial do país, a que detém a maior soma de recursos, a que deveria dispor dos melhores técnicos, encontra-se hoje numa situação lastimável, reduzida à função de órgão atuante na comunização do Brasil. Seus índices técnicos e financeiros são, atualmente, dos mais baixos, e os escândalos se sucedem, sem que o governo se anime a dizer um ‘Basta!’ a esse estado de coisas.

“O único diretor não comunista, [...] foi demitido por pressão dos sindicatos controlados pelos vermelhos. Era o único técnico na diretoria, seus serviços sempre foram considerados valiosíssimos, mas excomungado pelas forças da subversão, que com ele não contam, teve de dar lugar a outro, julgado mais dócil e cooperativo.

“A diretoria não se reúne, os processos se acumulam, nada se resolve. Ou melhor, só se resolve aquilo que tem sentido político. Paga-se, por exemplo, rapidamente a divulgação de manifestos do CGT, alugam-se veículos para transportar figurantes em comícios políticos, custeia-se com o dinheiro do povo, a campanha de agitação e subversão.

“Até quando persistirá tal panorama? Quando será a Nação satisfeita pela verificação de que o governo resolveu tomar uma atitude, expulsando da Petrobras aqueles que a transformaram num instrumento de sovietização do país e entregando a companhia a uma direção de técnicos apolíticos, que possam fazê-la progredir?”

Quem escreveu isso? Seria Jair Bolsonaro acusando o PT de utilizar a Petrobras como instrumento bolivariano? Seria Olavo de Carvalho com alguma “teoria conspiratória” sobre a infiltração comunista na maior empresa do país?

Nada disso. Trata-se do editorial do GLOBO, publicado em 7 de setembro de 1963, data adequada por representar o Dia da Pátria (espero que o jornal não se arrependa desse editorial também). Era um grito patriótico contra a infiltração comunista na estatal, sob a conivência do presidente João Goulart.

Reparem como o Brasil parece andar em círculos. Hoje, a Petrobras continua financiando uma “campanha de agitação e subversão”, ao bancar os invasores do MST, por exemplo. Continua aparelhada politicamente, usada por petistas como propriedade particular. Petrodólares usados para disseminar o marxismo, enquanto o endividamento da empresa se avoluma por incompetência ou corrupção.

Alguns gostam de repetir, com ar de superioridade, que a Guerra Fria acabou, tentando, com isso, pintar anticomunistas como seres ultrapassados, gente parada no tempo. Há só um detalhe: tem que avisar aos próprios comunistas que a Guerra Fria não só acabou, como foi com a derrota dos comunistas!

Tem uma turma que ainda não sabe disso. E pior: essa turma está no poder! Basta ver a própria Venezuela, mergulhada em uma tragédia justamente porque insistiu no modelo socialista fracassado. Mas não é só lá. Aqui tem um pessoal bolivariano doido para transformar o Brasil em uma nova Cuba, o sonho (pesadelo) perdido na década de 1960. Se a PDVSA foi útil ao projeto de Chávez, a Petrobras é útil aos planos de perpetuação do PT no poder.

Como evidência de que os comunistas, infelizmente, ainda não desapareceram da cena política nacional, a deputada Luciana Santos, do PCdoB, encaminhou ao Congresso projeto de lei que cria o Fundo de Desenvolvimento da Mídia Independente. Só mesmo um comunista poderia falar em “mídia independente” criando uma total dependência dos recursos estatais!

Talvez esteja ficando escancarado demais financiar indiretamente a imprensa chapa-branca com recursos das estatais, e os vermelhos, ligados ao governo do PT, pretendam oficializar logo a criação de seu exército de “jornalistas” sustentados por nossos impostos. Essa coisa de imprensa independente é muito chata, fica expondo os infindáveis escândalos da Petrobras...

Para concluir, o editorial de 1963 diz: “Deveria o presidente João Goulart iniciar pela Petrobras a purificação de seu governo. Afaste, imediatamente, os diretores comunistas, faça voltar os técnicos, ponha a empresa à margem da política, e a decepção que ele vem causando ao povo brasileiro se transformará em novas esperanças. Ao mesmo tempo dará Sua Excelência à Nação — se assim proceder — uma cabal demonstração de seus propósitos, provando que deseja governar afastado dos extremos, cujo facciosismo tantos males vem causando ao Brasil.”

O presidente não deu ouvidos. Sabemos como tudo acabou, e não foi nada bom. Resta torcer para que dessa vez seja diferente, pois, como dizia o próprio Marx, a história se repete primeiro como tragédia, e depois como farsa.

(por Rodrigo Constantino)

 

DemocraciaPolítica

Pirotecnia à lá Rambo ou propaganda à lá Goebbels?

Emartigo publicado hoje no GLOBO, Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, esmiuça aquilo que mais apavora o PT: os dados. A candidata Dilma, que parece esquecer que ainda é presidente, já anuncia com muita celeuma e fanfarra o PAC 3. Só há um pequeno problema: boa parte do PAC 1 e do PAC 2 sequer saiu do papel. Para Castello Branco, isso remete ao filme “Rambo”, com muita pirotecnia para agradar aos cinéfilos menos exigentes com conteúdo.

Outra analogia boa seria com o general Potemkin. Grigori Potemkin foi um oficial russo que construiu falsas fachadas para impressionar Catarina II durante uma visita a Crimeia. Por trás daquela “cidade” havia apenas ruínas, como um cenário de novela. Tudo “para inglês ver”, ou no caso dele, para a czarina ver, ou no nosso caso, para os eleitores acharem que viram alguma coisa. Aos dados:

Em síntese, até dezembro de 2013 mais da metade do PAC 2 sequer saiu do papel. Decorridos três anos, dentre os 49.095 empreendimentos, 26.154 (53%) estão nos estágios de “ação preparatória”, “em contratação”, “em licitação de obra” e “em licitação de projeto”. De cada dez iniciativas, menos de quatro estão “em obra” ou “em execução”. Apenas 12% dos empreendimentos estão “concluídos”.

Na Saúde, das 24.006 obras tocadas pelo ministério e pela Funasa, só 2.547 (11%) foram colocadas à disposição da sociedade. As Unidades Básicas de Saúde (UBS) ilustram essa realidade: das 15.652 previstas, irrisórias 1.404 (9%) foram concluídas. Quanto às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), 503 estavam previstas, mas somente 14 ficaram prontas. Nas ações de saneamento e recursos hídricos, das 7.911 iniciativas, apenas 1.129 (14%) foram finalizadas. Pelo visto, para reduzir os problemas da saúde no Brasil, serão necessárias, além dos médicos cubanos, mais infraestrutura e melhor gestão.

[...]

Das 5.257 creches e pré-escolas constantes do PAC 2 apenas 223 estavam em funcionamento até o fim do ano passado. No esporte, os estádios padrão Fifa estão quase prontos; no entanto, das 9.158 quadras esportivas que seriam construídas em escolas, apenas 481 (5%) foram inauguradas. Nenhum dos 285 centros de iniciação ao esporte ficou pronto.

Os resultados também são pífios nos Transportes. Dos 106 empreendimentos em aeroportos, quase 70% ainda estão em fases burocráticas. De cada três obras em rodovias, apenas uma foi concluída. Das 48 intervenções em ferrovias, apenas 12 chegaram ao fim. Nos chamados PACs do “turismo”, das “cidades históricas” e das “cidades digitais” nenhum dos 733 empreendimentos foi finalizado.

Mas o mais impressionante de tudo é mesmo a cifra inflada do PAC por conta dos empréstimos que a Caixa faz para a compra ou reforma de imóveis. Castello Branco explica:

Como quantitativamente os projetos evoluem lentamente, o governo prefere enfatizar que as “ações concluídas” somam R$ 583 bilhões. Deste valor, 44%, isto é, R$ 253,8 bilhões são “empréstimos habitacionais à pessoa física”. Assim, caro leitor, se você for à Caixa Econômica Federal e solicitar empréstimo para a compra de imóvel novo, usado ou para reformas, o financiamento, tão logo liberado, será incluído como “ação concluída” do PAC. Por incrível que possa parecer, o dinheiro que a CEF lhe emprestou — em parte vindo do FGTS, que já era seu e sobre o qual você irá pagar juros — é a principal realização do PAC 2, tal como já acontecera no PAC 1. A soma dos “empréstimos habitacionais à pessoa física” é tão relevante que supera o montante de todas as obras concluídas dos eixos de transporte e energia.

O caso também foi tema da coluna de José Casado no mesmo jornal. O jornalista diz:

A presidente-candidata, desde 2010, faz do continuísmo sua oferta única ao eleitorado. Agora anuncia a nova versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O original, a bordo do qual se elegeu, listava sete mil projetos. Passados quatro anos, apenas 900 estão concluídos. Nove em cada dez obras de saneamento prometidas por Dilma na eleição passada simplesmente não saíram do papel, demonstram a Associação Contas Abertas e o Instituto Trata Brasil. Há cinco anos repete coisas assim: “Vamos recompor a capacidade do Estado de planejar, gerir e induzir o desenvolvimento, e reforçar também a capacidade de planejar do Estado brasileiro, a integração entre o Estado e o setor produtivo, setor privado, entre o governo e a sociedade, entre o governo federal, os estados e os municípios.”

Claro, nada disso foi inventado pelo PT, tampouco é exclusividade sua. Outros candidatos também apelam para promessas irreais, pois a democracia das massas virou um leilão de oferta de sonhos irrealizáveis com pouco apreço pela sua viabilidade ou custo.

Mas é inegável que o PT simplesmente levou tal tradição ao ápice da cara de pau no Brasil. Nunca antes na história deste país um governo foi tão pautado somente pelo marketing. Gil Castello Branco se lembrou de “Rambo” e toda aquela pirotecnia. Mas confesso que vem à minha mente outra figura, menos heróica que Sylvester Stallone.

Como era mesmo o nome daquele poderoso marqueteiro alemão, segundo na hierarquia do poder, que popularizou o slogan “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”?

Rodrigo Constantino

 

Liberdade de Imprensa

Liberdade de expressão para os radicais!

Usando como pano de fundo a tentativa de censura à apresentadora do SBT Rachel Sheherezade, que surtiu o efeito desejado pela esquerda, Pedro Doria defendeu, em sua coluna de hoje no GLOBO, uma liberdade de expressão ampla, que inclui o direito de os mais radicais também colocarem seus pontos de vista. Doria cita Thomas Jefferson, ele mesmo um radical, para sustentar seu raciocínio:

Thomas Jefferson, cuja data de nascimento foi celebrada domingo, disse que “a liberdade de expressão não pode ser limitada sem ser perdida”. Os EUA, país que ajudou a fundar, têm a legislação mais incisiva na defesa da livre expressão. Não quer dizer que seja absoluta. Mas que, antes de punir o discurso, pesam se vale o risco. Porque, a não ser que os critérios para punir o discurso sejam extremamente rigorosos, fica fácil demais. E a censura se estabelece.

Entre um governo sem imprensa ou uma imprensa sem governo, o “pai fundador” dos Estados Unidos não tinha dúvida de qual escolher: a imprensa sem governo. Doria é autor de um livro novo sobre Tiradentes, que li nesse fim de semana. Sabe do que está falando, portanto, pois Tiradentes, outro radical, foi influenciado pelas ideias de Jefferson e acabou morto por falar demais, por defender ideais iluministas e republicanos no Brasil colonial. Faltava liberdade de expressão.

Defender a liberdade apenas quando estamos de acordo com o que é dito é muito fácil. O teste vem justamente quando precisamos defender essa liberdade para ideias que abominamos, que rejeitamos com toda a nossa força, que batem de frente com nossas ideologias. E, como reconhece Doria, o “radicalismo” de Sheherezade encontra eco em pelo menos um quarto da população brasileira, que deve ser escutada (ainda que para poder ser contestada, se for o caso).

Não quer dizer que não haverá algum limite, mas sim que o liberal tenderá a ser muito mais tolerante com o discurso de quem discorda, enquanto a esquerda e a direita mais autoritárias costumam optar por maiores restrições.

No caso de incitação ao crime, Doria lembra como pode ser um caminho escorregadio, uma vez que muita coisa hoje poderia ser vista como “apologia ao crime”: defender legalização das drogas, do aborto, ou quando a esquerda justifica a invasão de propriedade privada com base no vago conceito de “justiça social”. Ele tenta traçar uma linha divisória:

Incitação ao crime é critério para punir a fala. Mas é preciso provar que um crime ocorreu causado por ela. Uma coisa é desejar a morte de alguém numa conversa de bar. Outra é clamar pela morte da pessoa, em frente a sua casa, perante uma turba em fúria. Não se pune a mensagem. Punem-se os efeitos concretos da mensagem.

Não haverá nunca um critério perfeitamente objetivo, simples. Será inevitável cair em algumas regiões cinzentas. Mas, como já disse, o liberal vai preferir sempre pecar pelo excesso de liberdade de expressão, doa a quem doer, enquanto a esquerda costuma defender o direito de expressão daqueles com quem concorda, ponto. Doria conclui:

Pode não parecer intuitivo, mas é só quando garantimos o livre discurso dos mais radicais em uma sociedade, à direita e à esquerda, que realmente expomos seus vícios. Só assim somos realmente livres. A internet é uma máquina de livre expressão. Que seja amplamente usada.

A única diferença, ignorada por Doria, é que a esquerda radical já goza de ampla liberdade de expressão, a ponto de ter vários representantes na mídia “mainstream”. Para piorar a situação, vivemos em um quadro tão evidente de hegemonia da esquerda que muitos desses radicais são vistos como moderados, enquanto alguns nem tão radicais assim do outro lado são tachados de ultra-radicais.

O que é novidade é justamente alguns mais radicais (ou enfáticos) do lado direito surgindo em cena, e causando esse furor todo, deixando a esquerda em polvorosa, despertando essa reação autoritária de censura. O que prova, uma vez mais, que todo o discurso da esquerda em prol da pluralidade é da boca para fora, conversa para boi dormir. No caso, a população bovina de eleitores que ainda acredita na moderação dessa nossa esquerda…

Rodrigo Constantino

 

DemocraciaFilosofia políticaSocialismo

O mais impopular é a esquerda que diz seu nome

A marca registrada da esquerda o leitor já conhece: inverter tudo. Foi o que fez Vladimir Lênin, digo, Safatle em sua coluna de hoje na Folha. Ao ler essa verdadeira peça de ficção, o leitor sai convencido de que a enorme taxa de rejeição ao socialista Hollande na França se deve à sua migração para a direita. O rabo é que balança o cachorro!

Hollande não é o mais impopular de todos porque seu governo é medíocre em resultados, pois ignorou o bom senso da austeridade, resolveu sobretaxar os ricos, nada disso; é porque ele é “transformista” ideológico, fez como um tocador de violino: pegou o poder com a esquerda e tocou com a direita. Ou assim quer Safatle que seus leitores pensem. Diz o membro do PSOL:

Suas políticas econômicas não têm nada, mas absolutamente nada a oferecer de diferente em relação às receitas vigentes de “austeridade”. A mesma ladainha a respeito da diminuição do “custo do trabalho” e dos “gastos públicos” (ou seja, precarização do trabalho, menores salários e bancos com lucros recordes).

É mesmo? Nenhuma menção ao imposto de 75% sobre os mais ricos, responsável pela fuga de capitais e gente da França, com resultados terríveis para o país? Que austeridade é essa se Hollande veio com aumento de gastos e do papel do estado?

O discurso atual, que prega mais austeridade, é justamente conseqüência do fracasso das bandeiras de esquerda. Isso já aconteceu com Mitterrand no passado. A história se repete, ou rima muito. A esquerda, com um mapa de voo totalmente equivocado, faz um monte de besteira e depois precisa fazer concessões à realidade, com reformas mais liberais. Podemos pensar no PT tendo de privatizar…

Safatle conclui, invertendo uma vez mais tudo na equação cronológica:

Qual dos dois é o nosso Vlad?

Qual dos dois é o nosso Vlad?

Prova disso é a nomeação de seu novo primeiro-ministro, o senhor Manuel Valls, alguém que como ministro do Interior era exímio patrocinador das milenares tradições da caça aos ciganos, um verdadeiro marco do Iluminismo. Seu discurso securitário, exaltador dos “valores nacionais” e brutalizado fez dele alguém muito mais popular entre os eleitores de direita do que aqueles de esquerda. Foi a ele que Hollande recorreu depois de ter levado uma das maiores surras eleitorais na eleição municipal de semanas atrás.

Com esse mimetismo ideológico e essa prova de ausência completa de ideário próprio, os eleitores franceses se perguntam por que não entrar logo com os dois pés na direita do tipo Front National (frente nacional, em francês), não por acaso o partido que mais cresce atualmente. Tudo isso demonstra que nada pior do que uma esquerda que tem medo de dizer seu nome. 

É o contrário. O socialista precisou apelar para alguém menos radical de seu partido justamente porque o povo cansou do socialismo. A extrema-direita de Le Pen cresce sem parar justamente por causa das burradas que a esquerda tem feito, com péssimos resultados. É o cachorro que balança o rabo, Safatle…

Se a esquerda radical que o próprio Safatle defende não tivesse medo de dizer seu nome (“revolução”, “socialismo”), aí mesmo é que seria mais impopular ainda! Parte do relativo sucesso eleitoral dessa esquerda tem sido exatamente esconder seu nome, suas intenções, sua ideologia totalmente anticapitalista. Mostrando a cara, teria ainda menos voto.

Como o PSOL aqui no Brasil, que já percebeu isso e vem trabalhando na maquiagem e na falsa embalagem justamente para ocultar seu nome e deixar de ser um partido nanico…

Rodrigo Constantino

Tags: HollandeLe PenVladimir Safatle

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Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

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1 comentário

  • João Alves da Fonseca Paracatu - MG

    Não acredito em nenhuma punição ao sr Eike Batista,por que?Em primeiro lugar ele esteve sempre agarrado nas tetas do Estado Brasileiro e sabe de coisas do arco da velha,em segundo lugar,sempre foi ciceroneado por figurões que se colocam acima do bem e do mal e vai ser protegido, não se esqueçam que ele queria o controle da VALE e da PETROBRÀS

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