Kibutz: a utopia igualitária... e "Facções petistas brigam entre si e é a Petrobras que paga o pato"...

Publicado em 23/04/2014 19:18 e atualizado em 04/07/2014 14:31
por Rodrigo Constantino, de veja.com.br

ComunismoCulturaFilosofia política

Kibutz: a utopia igualitária

O mundo pode ser um mar de desilusões. Para fugir delas, muitos procuram abrigo em utopias. Após o término da Segunda Guerra Mundial e com a fundação de Israel, vários judeus imaginaram que os kibutzim seriam justamente esse refúgio, comunidades com um ambiente igualitário de paz.

O renomado escritor israelense Amós Oz, em seu mais recente livro, Entre amigos, trata do tema, revivendo e recriando histórias entrelaçadas dos anos 1950 no kibutz Ikhat, vizinho de uma antiga aldeia árabe. São oito histórias aparentemente desconexas, mas que vão revelando uma espécie de drama comum, pois universal.

Quem pensou ser possível entrar numa comunidade dessas e deixar do lado de fora os males da humanidade quebrou a cara. Inveja, traição, egoísmo, insensibilidade, solidão, mesquinhez, hipocrisia, tudo isso fica exposto nas comédias humanas que o autor nos conta em primeira pessoa e com narrativa seca, objetiva, como um membro do mesmo kibutz (ainda que divino, como todo autor, pois capaz de entrar nos sentimentos e pensamentos dos outros).

Comentando sobre o livro, Amós Oz disse: ”O fato de que a experiência de kibutz foi imperfeita não tem a ver com ser um kibutz, mas com ser um sonho”. E acrescentou: “A única maneira de manter uma fantasia intacta é não vivê-la”. A vida é sempre imperfeita, repleta de decepções e sofrimentos. Os utópicos igualitários acreditaram que era possível driblar tal destino. Nada mais falso.

Cada personagem do kibutz vai ganhando vida, com um perfil diferente do outro, mas a maioria imbuída do mesmo sonho igualitário, que não correspondia à vida prática. Um deles era “um marxista fervoroso, mas adorava ouvir preces judaicas entoadas por um chazan, um cantor de sinagoga. Todos esses anos David Dagan trabalhava como professor de história no instituto educacional. Trocava frequentemente de namorada e até teve seis filhos com quatro mulheres diferentes, do nosso kibutz e de dois kibutzim vizinhos”.

A nova namorada do professor era a filha de seu melhor amigo, Nahum. Este viu sua vida totalmente abalada. “Ele tentou, em vão, convocar em seu auxílio seus conceitos progressistas nas questões de amor e de liberdade. Seu coração se enchera de tristeza, constrangimento e vergonha”. Ideologias e conceitos progressistas não conseguem romper certas barreiras, certos “preconceitos” e tradições, que não existem por acaso, mas porque falam alto à natureza humana.

Era comum o debate interminável de quem deveria tomar conta das crianças: os pais biológicos ou todos em revezamento. A quem pertenciam os filhos? Uma das oito histórias passa justamente pelo drama de um pai cujo filho problemático, com 5 anos apenas, tímido e medroso, alvo de ataques das outras crianças (puras?), deseja desesperadamente dormir na casa com seus pais, mas é impedido pelo conselho do kibutz (toda decisão é coletiva).

O paisagista da comunidade, um velho solitário, tampouco encontrou no kibutz um refúgio adequado para seus problemas. Ele “pensou que a vida de um solteirão envelhecendo e solitário é mais difícil aqui entre nós do que em outro lugar, porque a sociedade kibutziana não tem nenhuma resposta para a solidão. Mais do que isso: o próprio conceito de kibutz nega o conceito de solidão”. Pode negar o conceito, claro, mas é incapaz de negar o sentimento.

A mãe viúva de um rapaz que recebe o convite do tio para estudar na Itália, com tudo pago, mas que ainda não se encontra na idade permitida pelo conselho para desfrutar desse privilégio, acaba revoltada com toda a inveja mascarada de altruísmo no local. O professor marxista, influente no kibutz, pensa que tais sonhos de autorrealização não passam de dengo, não um argumento. Pedido vetado. É preciso combater o individualismo.

Para outra mulher, todos ali são companheiros, mas poucos são amigos. “Os companheiros veteranos são na verdade pessoas de fé que abandonaram a religião e em seu lugar adotaram uma religião nova, cheia de pecados e transgressões e cheia de proibições e de regras rígidas. Eles de fato não deixaram de ser ortodoxos e só trocaram uma ortodoxia por outra. Marx é o Talmude deles. A assembleia é a sinagoga e David Dagan é o rabino”. É mesmo possível abrir mão de regras e proibições? A “anarquia” funciona? Ou algum líder vai sempre mandar mais?

A última história é também a que retrata o mais rígido dos utópicos, da velha guarda que não faz concessão alguma aos valiosos princípios. Martin achava que a riqueza “é a mãe de todo pecado”, acreditava “na abolição de todos os estados nacionais e numa fraternidade mundial e pacifista que se libertaria depois que as fronteiras entre os povos fossem eliminadas”. “Martin tampouco acreditava na instituição familiar, porque a vida do casal em si mesma cria uma barreira supérflua entre a célula familiar e a sociedade”.

“Achava que a comunidade como um todo tinha de criar e educar todas as crianças, e não só seus pais biológicos. Tudo aqui pertence a todos nós, todos nós pertencemos uns aos outros e as crianças têm de ser crias de todos nós”. Para ele, o homem é, por natureza, bom e gentil. “São só as distorções da sociedade que o empurram para o egoísmo e a crueldade”. As crianças são puras e inocentes. Em suma, um perfeito filhote de Rousseau.

Era adepto fervoroso do esperanto, “língua que um dia seria falada por todos os habitantes do mundo nos cinco continentes par que fossem abolidas todas as barreiras entre um homem e outro, entre um povo e outro, como tinha sido antes da maldição da Torre de Babel”. Como dois alunos seus de esperanto lembram, os judeus alemães e os nazistas alemães falavam a mesma língua, assim como Caim e Abel. Mas quem liga para isso? A realidade é chata, a utopia é linda!

Osnat acompanha o avanço de sua doença respiratória, que acabaria por matá-lo. Ela abre a primeira história do livro também, como a mulher que fora abandonada pelo marido, trocada por outra. É sua a constatação que melhor resume a mensagem do livro:

Ficou descalça junto à janela aberta e disse consigo mesma que a maioria das pessoas, pelo visto, precisa de mais calor e afeto do que os outros são capazes de dar e que esse déficit entre a demanda e a oferta nenhum dos comitês do kibutz, nunca, conseguirá cobrir. O kibutz, pensou, muda um pouco as disposições da sociedade, mas a natureza humana não se modifica, e essa natureza não é fácil. Não se pode abolir de uma vez por todas a reles inveja e a mesquinhez numa votação em instituições do kibutz.

Amós Oz tenta manter a chama da esperança acesa, afinal, foi um militante pacifista pela vida toda. Ainda parece crer num mundo mais pacífico se cada um tentar dar mais calor e afeto e for menos egoísta. Alguém mais cético poderia dizer que o homem, sendo o que é, precisa mais das boas instituições do que das boas intenções, e que se aquelas dependem destas, estamos em maus lençóis. O grande mérito de Adam Smith foi justamente perceber que, mesmo sem o altruísmo, era possível alcançar o bem-geral por meio do livre mercado.

Os kibutzim, além de não refrearem as paixões humanas mais mesquinhas, acaba adotando instituições prejudiciais ao indivíduo, justamente por serem igualitárias. A realidade se mostrou dura para todas essas comunidades, estagnadas na subsistência e dependentes de ajuda externa.

A_Vila

O filme “A Vila”, do indiano M. Night Shyamaian (o mesmo de “O Sexto Sentido”), retrata bem a hipocrisia dessas comunidades fechadas. Os mais velhos, todos eles foragidos da grande cidade por sofrimentos e perdas pessoais, desenvolvem uma blindagem contra a civilização. As crianças, desde cedo, escutam terríveis histórias sobre as criaturas-cujo-nome-não-pode-ser-dito.

Mas o isolamento não impede desgraças, e o personagem de Joaquin Phoenix acaba atingido por facadas de um outro com problemas mentais. Remédio para salvar sua vida? Apenas fora da vila. Mas quem vai atravessá-la e enfrentar as tais criaturas? Os mais velhos preferem deixar o rapaz morrer a reconhecer a farsa. Até que uma moça cega decide ir em busca de ajuda. Metáfora interessante.

No processo (atenção, spoiler), descobre-se que a vila é protegida por um imenso parque de propriedade de um de seus fundadores. A doce hipocrisia dos igualitários e pacifistas que precisam do capital e da força para manter suas ilusões.

O isolamento nunca foi boa resposta para os riscos da vida. E o igualitarismo sempre se transformou, na prática, em autoritarismo exercido por um seleto grupo de pessoas mais iguais que as outras. Sonhar é importante. Mas manter ao menos um pé no chão também.

Rodrigo Constantino

 

Corrupção

Facções petistas brigam entre si e é a Petrobras que paga o pato

Desde que o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, disse em entrevista ao Estadão que Dilma “não pode fugir da sua responsabilidade” no caso da refinaria no Texas, os petistas avaliam suas armas de cada lado, com um clima cada vez mais tenso.

O Planalto resolveu “entubar” a provocação de Gabrielli até agora, apenas reforçando indiretamente que a compra foi um mau negócio. Ambos os grupos, Gabrielli e Lula de um lado, Dilma e Graça Foster do outro, continuam unidos por um objetivo comum: evitar uma CPI exclusiva para investigar a Petrobras.

Como Merval Pereira disse, a presidente Dilma teria cometido um “sincericídio” ao reconhecer o enorme equívoco da compra da refinaria em Pasadena durante a gestão de Gabrielli. Agora, paga o preço de ter feito uma crítica sincera, ignorando seu próprio papel lá atrás, como presidente do Conselho de Administração da estatal, e também o fato de que a nuvem que impede a transparência da empresa serve para proteger seu próprio partido e seu mentor, o ex-presidente Lula.

editorial do GLOBO de hoje, após breve resumo do caso, conclui que essa confusão toda aumenta a necessidade de uma CPI:

Disso tudo, sai fortalecida ainda mais a ideia da CPI exclusiva — como deve ser, segundo juristas. E fica mais evidente o choque entre o lulopetismo e Dilma, em torno do passado nebuloso da Petrobras. Não esquecer que a gestão Gabrielli tem como patrono o presidente Lula, de cuja campanha à reeleição, em 2006, o então presidente da estatal participou com estrelinha na lapela do paletó. O conflito dentro de hostes do PT realça, ainda, o aparelhamento da estatal pelo lulopetismo, um combo de que participam sindicalistas e frações fisiológicas de partidos aliados na função de padrinhos de técnicos da casa, um estilo gerencial que marca a administração de Gabrielli.

Espera-se que as investigações da PF sobre o ex-diretor Paulo Roberto Costa, um dos elos naquele aparelhamento, ajude a desenrolar, pelo menos em parte, este novelo. Mas a CPI daria uma contribuição essencial no esclarecimento de desmandos e na defesa do patrimônio da Petrobras.

Nunca antes na história deste país a Polícia Federal havia invadido a sede da maior empresa brasileira e prendido um importante diretor seu. São coisas que somente o PT consegue. Ao mesmo tempo, o partido, apesar dessas brigas entre facções internas, faz de tudo para impedir uma investigação mais profunda.

O ex-presidente Lula chegou a afirmar aos “blogueiros camaradas” que uma CPI tem sempre alto grau de incerteza, lembrando do caso do mensalão e da CPI dos Correios. Ou seja, os petistas alegam abertamente que a preocupação é apenas com o risco de emergir do pântano novos escândalos de corrupção que afetem o partido. Para a estatal em si eles não dão a mínima!

Rodrigo Constantino

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Inflação

A culpa é do chuchu! Ou: Inflação alta? Quebra-se o termômetro…

O conceito de “core inflation” é até interessante: retira-se do cálculo aqueles itens mais voláteis, dependentes de condições climáticas ou geopolíticas, para suavizar a tendência e, dessa forma, analisar a real trajetória dos preços. São dois problemas que surgem: 1. acaba-se criando um índice de inflação para pessoas que não comem nem andam de carro; 2. quando os preços de alimentos e petróleo sobem sistematicamente, o índice “core” acaba subestimando muito a inflação verdadeira.

Tudo isso faz parte de debates econômicos interessantes, em condições normais de temperatura e pressão. Agora, quando a proposta de retirar os alimentos do índice surge no governo do PT, sob o comando do ministro Mantega, em época de inflação elevada e prestes a estourar o teto da banda, aí é para ter muitos calafrios. E foi justamente o que aconteceu:

Preocupados com o impacto da alta dos alimentos na inflação, alguns técnicos do governo começaram a defender nos bastidores mudanças polêmicas na formulação da política econômica. Diante dos frequentes choques nos preços de produtos in natura por causa de problemas climáticos, eles acreditam que esses itens deveriam simplesmente ser retirados do cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A ideia não é novidade e tem a simpatia da equipe econômica, pois tornaria o indicador mais realista. No entanto, todos os técnicos ouvidos pelo GLOBO são unânimes em afirmar que isso teria que ser feito com cuidado e num momento de inflação baixa, para que o governo não seja acusado de mais uma maquiagem.

Economistas do mercado financeiro estimaram na terça-feira, pela primeira vez, que a inflação vai estourar o teto da meta do governo em 2014. Analistas ouvidos pela pesquisa Focus, do Banco Central, pioraram suas estimativas e esperam agora que a inflação oficial medida pelo IPCA encerre o ano em 6,51% — ante uma projeção de 6,47% na semana passada. Esta foi a sétima alta consecutiva na previsão para a inflação.

O argumento dos defensores da mudança na formulação da política econômica é que as altas de alimentos, como o tomate e o chuchu, por exemplo, não deveriam influenciar o IPCA total, uma vez que não são produtos insubstituíveis. Os consumidores costumam deixar de comprá-los quando os preços sobem demais em função do clima. Eles afirmam que inflação teria de ser medida por itens que não podem ser trocados por outros, como combustíveis ou alimentação fora de casa.

E eis que, uma vez mais, o culpado é o chuchu! Só que não. A inflação brasileira está alta porque o Banco Central demorou muito a aumentar a taxa de juros, o governo gasta sem parar, e os bancos públicos expandiram demais a carteira de crédito. Com tanto estímulo à demanda e sem a contrapartida na oferta, por baixo investimento e nenhum ganho de produtividade, o efeito é direto nos preços.

Culpar o clima é indecoroso. Fingir que o tomate é o vilão é indecente. Estamos com uma inflação crônica, com ampla difusão (a maioria dos itens em alta), e isso mesmo com os preços administrados pelo governo represados. E técnicos do governo ainda vêm falar em retirar os alimentos do IPCA? Num momento desses? Com a credibilidade do governo totalmente em baixa? Após tantos malabarismos primários?

Alexandre Schwartsman resumiu bem quando disse que a ideia “tem um alto nível de cretinice”. Ele acrescentou: “Acho surpreendente que as pessoas voltem a debater isso neste momento, porque parece que elas não prestam atenção nos números”. E, de fato, é surpreendente. Se bem que nada mais nesse governo chega realmente a surpreender tanto, pois já esperamos o pior…

O núcleo da inflação (“core inflation”) está ainda maior do que o índice oficial nos últimos 12 meses! Daí o espanto de Schwartsman. A culpa não é dos alimentos. É a pressão no setor de serviços que tem mantido a inflação tão elevada. O que o governo deseja de fato? Retirar apenas o chuchu e o tomate, porque subiram muito?

É o debate errado na hora errada. O que os técnicos deveriam estar discutindo é como debelar efetivamente a inflação, e não o índice. A inflação é a perda de poder de compra da moeda, que o povo brasileiro sente toda vez que vai no supermercado, num restaurante, no shopping center.

A economia brasileira está doente, com febre. O governo parece preocupado só com a imagem no termômetro, não com a febre em si. Se ao menos esse maldito termômetro pudesse ser quebrado…

Rodrigo Constantino

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O novo plano de Maduro para destravar a produção na Venezuela

Por que faltam produtos nas prateleiras em países socialistas? Ora, porque os donos de supermercados são capitalistas insensíveis e egoístas que só querem lucrar, claro! Parece piada, eu sei. Em pleno século 21 alguém defender algo tão estúpido seria mesmo chocante. Mas é exatamente o quefazem os bolivarianosliderados por Maduro:

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, lançou ações para incrementar a produção e combater o desabastecimento, baseadas no aumento da fiscalização sobre estabelecimentos como frigoríficos e supermercados.

A Venezuela tem atualmente a maior inflação da América Latina (cerca de 57% no ano passado) e sofre com a escassez de produtos básicos, o que, junto com os altos índices de violência, levou à realização de protestos que já deixaram 41 mortos desde fevereiro deste ano.

A ação econômica se iniciaria ontem com a inspeção em locais de comércio de alimentos. As primeiras empresas a serem fiscalizadas seriam a processadora de carnes Fitca, no Estado de Aragua, e o supermercado Central Madeirense, em Miranda, segundo informou a agência de notícias AVN.

Na noite de anteontem, Maduro disse que a operação é “uma nova ofensiva econômica para produzir mais, para produzir melhor e para destravar todos os mecanismos que impedem a produção no país”.

Ele acrescentou que os pilares da medida são “o abastecimento pleno em todos os níveis” e o “estabelecimento de preços justos”.

Não é incrível? Quem fiscaliza a produção e o comércio nos Estados Unidos? Será que o presidente Obama tem um exército de fiscais para garantir o nível de produção local? Será que a Wal-Mart conta com um fiscal do estado em cada loja para garantir o abastecimento dos produtos? Será que os empresários venezuelanos são mais gananciosos do que os capitalistas ianques?

É uma mistura de constrangimento com tristeza e comicidade ver o socialismo mergulhando nos mesmíssimos equívocos do passado. Não aprenderam nada com a história! A Gosplan calculava o “preço justo” de milhares de produtos, os bolcheviques inspecionavam os estabelecimentos, e o resultado era a escassez até de papel higiênico nas prateleiras e um enorme mercado paralelo. Por que será que nos países capitalistas e mais liberais nada disso ocorre?

O mais trágico de tudo, pela ótica de um brasileiro, é o fato de termos, aqui em nosso país, uma legião de sacripantas que deseja copiar exatamente o modelo socialista bolivariano. E apenas para adicionar gravidade à tragédia, tais pulhas estão no poder!

Rodrigo Constantino

Tags: Maduro

 

Francisco Bosco ou Rolando Lero? Quando uma mente confusa posa de profunda…

Bosco tendo um de seus pensamentos “profundos”…

Em sua coluna de hoje no GLOBO, Francisco Bosco tece pensamentos sobre a ética e a moral, e em determinado momento parece rebater críticas feitas a ele pelos leitores deste blog. Vários leitores apontaram, naquela sua tentativa de “dissecar” o meu livro Esquerda Caviar (que ele não leu), para o fato de que Bosco tenta falar bonito e de forma complicada, sem dizer coisa alguma. Seu relativismo moral foi condenado também, por mim mesmo, pois na hora de defender os black blocs ele consegue ser bem objetivo. Diz ele:

A dúvida e a hesitação intelectuais não representam necessariamente falta de clareza cognitiva ou coragem moral para se posicionar com firmeza diante da realidade. Pois muitas vezes a própria realidade não é clara e firme, e sim turva e ambígua. Nesses casos, ao contrário do que se poderia pensar, o estatuto cognitivo da dúvida é justamente a verdade, e seu estatuto moral é a coragem (não é fácil suportar a angústia da indecisão).

[...]

Quem chama de “pedante” alguém que escreve “difícil” (difícil para quem?) mobiliza um álibi moral para uma reação, no fundo, imaginária: sente-se diminuído porque sua incompreensão revela sua ignorância — e procura recalcar isso projetando no outro seu sentimento de inferioridade. De resto, é absurdo moralizar o que não se compreende.

Aqui chegamos ao cerne da questão. O conto de Hans Christian Anderson, publicado em 1837, já nos alertava para essa tática: se você não enxerga algo estupendo e magnífico, então claro que o problema só pode estar em você mesmo, em sua capacidade cognitiva. Não pode ver a linda roupa invisível do rei? Não pode compreender o que o pensador diz com seus rodeios repletos de termos pomposos? É porque apenas os muito inteligentes são capazes disso…

Só que o rei muitas vezes está nu mesmo. Há, infelizmente, quem escreva de forma deliberadamente difícil só para simular inteligência e profundidade, pois lhe faltam verdadeira inteligência e objetividade. A linguagem é muito importante para a comunicação, troca de ideias, raciocínio e debates. Portanto, é fundamental para preservar a liberdade. Dou tanto valor a isso que acrescentei um capítulo sobre o “duplipensar” nesse mesmo livro que Bosco tentou rebater sem ler. Segue um longo trecho:

Para Orwell, uma linguagem com regras aceitas e mutuamente compreendidas era condição indispensável a uma democracia aberta. Karl Popper era outro que defendia como um dever de todo intelectual “o cultivo de uma linguagem simples e despretensiosa”. E foi além: “Quem não pode falar de modo simples e claro deve calar-se e continuar trabalhando até que possa fazê-lo”.

Para Isaiah Berlin, a meta da filosofia é sempre “ajudar os homens na compreensão de si mesmos e assim operar na claridade, e não loucamente, no escuro”. Em seu livro A força das ideias, Berlin resume:

Uma retórica pretensiosa, uma obscuridade ou imprecisão deliberada ou compulsiva, uma arenga metafísica recheada de alusões irrelevantes ou desorientadoras a teorias científicas ou filosóficas (na melhor das hipóteses) mal compreendidas ou a nomes famosos, é um expediente antigo, mas no presente particularmente predominante, para ocultar a pobreza de pensamento ou a confusão, e às vezes perigosamente próximo da vigarice.

Muitos intelectuais da esquerda caviar tentam criar a impressão de profundidade, mesmo quando dizem algo mais raso que um pires. A Escola de Frankfurt ora vem à mente. Karl Popper, em O mito do contexto, chega a analisar trechos desses pensadores obscuros, e conclui sobre um deles:

É por razões deste teor que acho tão difícil discutir qualquer problema sério com o professor Habernas. Tenho certeza de que é perfeitamente sincero. Mas penso que não sabe como colocar as coisas de modo simples, claro e modesto, em vez de um modo impressionante. A maior parte do que diz parece-me trivial. O resto parece-me errado.

Outro Karl, o Kraus, também atacou esse tipo de postura: “Uma aparência de profundidade surge com frequência pelo fato de uma cabeça rasa ser ao mesmo tempo uma cabeça confusa”. Alguém aí pensou em Gilberto Gil? Roger Scruton, em The Uses of Pessimism, bate no mesmo ponto, mostrando como isso pode ser também uma tática deliberada:

Professores de ciências humanas aprenderam com seus mentores franceses que há uma forma de escrever que sempre será considerada “profunda”, contanto que ela seja (a) subversiva e (b) ininteligível. Enquanto um texto puder ser lido, de alguma forma, contra o status quo da cultura e da sociedade ocidentais, minando a sua pretensão de autoridade ou verdade, não importa que ele seja sem sentido. Pelo contrário, isso é apenas uma prova de que o seu argumento opera em um nível de profundidade que faz com que ele seja imune às críticas.

Alan Sokal adotou uma estratégia para desmascarar vários desses intelectuais. Mandou para uma famosa revista um artigo com título complexo, e trechos bem obscuros. Seu texto não só foi aceito, como gerou bastante reação positiva. Qual não foi a surpresa geral quando o autor confessou tratar-se de um emaranhado de frases soltas e sem sentido?

Sokal aprofundou então o tema em seu livro Imposturas intelectuais, que, segundo o próprio autor, “trata da mistificação, da linguagem deliberadamente obscura, dos pensamentos confusos e do emprego incorreto dos conceitos científicos”. São desmontadas certas táticas, como o uso de terminologia científica ou pseudocientífica sem dar a atenção ao seu real significado, ou a ostentação de erudição superficial, que recorre a termos técnicos fora de contexto, para impressionar. 

Eis a questão: Francisco Bosco ou Rolando Lero? Trata-se de um “pensador profundo” ou de uma mente confusa e rasa em busca de uma blindagem impermeável para ocultar a triste realidade? Há muita gente especializada na arte de não dizer absolutamente nada, mas de forma pedante. Ou gente que defende o que há de pior, como o socialismo e os vândalos niilistas dos black blocs, simulando uma superioridade moral, “elástica”, que no fundo serve somente para enaltecer o podre. Gente que escreve:

Os que querem pairar ou soar acima da moral dizem: “Eu não julgo”. Mas não se deve simplesmente abdicar da moral (seria um desastre), e sim alargá-la, complexificá-la, torná-la compreensiva (nos dois sentidos da palavra: abrangência e entendimento). Logo, eu julgo sim, o tempo todo, mas compreensivamente.

Uma pessoa mais “pé no chão” poderia perguntar, com ceticismo: que raios é “julgar compreensivamente”? Porque dá a nítida impressão de ser apenas relativizar a moral a ponto de abrigar nela muita coisa imoral, tipo vandalismo de mascarados vagabundos ou ditaduras socialistas, por conta de suas “conquistas sociais”. Não é mesmo?

Por essas e outras eu digo: eu julgo sim, o tempo todo, mas objetivamente.

Rodrigo Constantino

Tags: Francisco BoscoKarl KrausKarl PopperlinguagemOrwellSokal

 

Túnel do tempo: Bresser-Pereira aplaudindo o desenvolvimentismo do governo Dilma

Um leitor, passeando pelo meu antigo blog, recuperou um artigo de Bresser-Pereira que lá postei, recomendando antes um Engov. Trata-se de uma empolgada defesa do desenvolvimentismo do governo Dilma, antes de este completar um ano de vida.

Hoje, todos tentam se afastar do modelo adotado por Dilma, ou alegar que não é efetivamente desenvolvimentista. O fracasso, como sabemos, é órfão. Mas basta seguir o rastro das cenas do crime que encontraremos todas as impressões digitais dos desenvolvimentistas. Bresser-Pereira escreveu:

Desde 1991 a política econômica do Brasil se pautava pelo ortodoxia convencional ou o consenso de Washington. A partir, porém, de 2006, já com Guido Mantega no Ministério da Fazenda e Luciano Coutinho no BNDES, o governo Lula começou a mudar a estratégia de desenvolvimento em direção ao novo desenvolvimentismo.

Em 2009 um passo decisivo nesse sentido foi dado com o início do controle da entrada de capitais. Agora, no nono mês do governo Dilma Rousseff, a decisão do Banco Central de baixar a taxa de juros, surpreendendo o mercado financeiro, e a decisão do governo de taxar a importação de automóveis com menos de 35% de conteúdo nacional consolidam essa mudança.

[...]

O novo desenvolvimentismo não é uma panaceia, mas está ancorado teoricamente em uma macroeconomia estruturalista do desenvolvimento, tem como critério o interesse nacional, e sabe que este só pode ser atendido por governantes que em vez de aplicarem fórmulas prontas avaliam cada problema e cada política com competência. Adotado com firmeza e prudência, o Brasil crescerá a taxas mais elevadas, com maior estabilidade financeira, e com a inflação sob controle.

[...]

Dessa maneira, a hegemonia neoliberal entrou em colapso, e as forças desenvolvimentistas – os empresários industriais, os trabalhadores e uma parcela da classe profissional- fortaleceram-se, o que abriu espaço para que o governo Dilma aprofundasse seus compromissos para com elas. Um novo e amplo pacto político está se formando no Brasil. Vamos esperar que leve o Brasil mais depressa para o desenvolvimento.

Pois é, eis o resultado concreto: estagflação. O Brasil não cresce praticamente nada e continua com uma inflação alta, no topo da meta já elevada. Mas nem tente cobrar responsabilidade dos desenvolvimentistas! Essa turma nunca reconhece erros, até porque se o fizesse teria de abandonar uma ideologia tão equivocada e sem nada de bom para mostrar no currículo prático.

À época do texto de Bresser-Pereira enaltecendo o desenvolvimentismo do governo Dilma, quando os problemas ainda não tinham surgido, eu escrevi:

Comentário: Sem comentários! A estupidez ideológica é mesmo impressionante. Tem gente que nunca aprende, e insiste no erro com a obstinação de um jumento. É espantoso que este senhor ainda tenha espaço na imprensa para pregar suas imbecilidades. Vai idolatrar o fracasso assim em Cuba!

Um tanto agressivo, reconheço. Era a fúria de saber que tudo daria errado e que, quando isso acontecesse, ainda iam culpar o “neoliberalismo” ou as estrelas, tudo, menos o próprio modelo desenvolvimentista. Esse tipo de desonestidade cansa.

E advinha quem ainda tem espaço na imprensa para expor suas incríveis análises econômicas? Sim, o mesmo Bresser-Pereira, os desenvolvimentistas que soltavam fogos de artifício com as medidas do governo Dilma em 2011. Só me resta repetir: vai idolatrar o fracasso assim em Cuba!

Rodrigo Constantino

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Racismo

Suprema Corte americana mantém decisão de Michigan contra ação afirmativa

Uma decisão importante foi tomada pela Suprema Corte americana nesta terça: ela sustentou uma lei de Michigan vetando o uso do critério racial para a aprovação em universidades, batalha crucial envolvendo as ações afirmativas no país.

Por 6 votos a 2, foi decidido que a justiça de instância inferior não tinha autoridade para ignorar uma medida aprovada em 2006 por 58% dos eleitores em referendo. Essa medida proíbe que universidades financiadas com recursos públicos garantam tratamento preferencial a qualquer indivíduo ou grupo com base no critério de raça, sexo, etnia ou nacionalidade.

A juíza Sonia Sotomayor, vista como “progressista”, foi um dos votos vencidos e repudiou a decisão majoritária: “Para os membros de grupos historicamente marginalizados, que dependem dos tribunais federais para proteger os seus direitos constitucionais, a decisão dificilmente pode reforçar a esperança em uma visão de democracia que preserve para todos o direito de participar de forma significativa e igualitária no auto-governo”.

Mas, como outros juízes colocaram, o caso sequer era sobre a ação afirmativa em si, e sim sobre quem tem a autoridade de decidir sobre o assunto. Juízes “progressistas”, ligados ao presidente Obama, não costumam ter muito apreço pelo federalismo e a divisão de poderes, tampouco pela preferência da maioria. São “agentes do progresso” imbuídos de uma missão revolucionária que pode passar por cima da Constituição e das escolhas locais.

Nem preciso dizer que concordo tanto com a decisão da Suprema Corte como com a medida de Michigan, aprovada em referendo popular. Permitir que universidades financiadas com os impostos utilizem critérios raciais para discriminar alunos é absurdo, fere a igualdade perante as leis, e acaba fomentando o racismo que se pretende combater.

Não faz o menor sentido segregar a população com base na “raça” e criar privilégios, tudo isso em nome da luta contra o racismo. Que a decisão da Suprema Corte representa um marco na defesa do verdadeiro liberalismo, não aquele colocado na boca de “progressistas” de esquerda como Obama, e sim aquele clássico, que prega a igualdade de todos perante as leis.

Rodrigo Constantino

Tags: ação afirmativacotasMichigan

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Blog Rodrigo Constantino, VEJA

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    No artigo onde o senhor Constantino, realiza a exegese sobre a inflação, estimula-ma a matutar.

    Gostaria de fazer algumas "questions":

    Sendo o centro da meta da inflação 4,5% a.a. e o teto da meta 6,5% a.a., se a minha matemática está correta, a diferença são DOIS pontos percentuais, correto?

    No ponto de vista- aritmético,pois antigamente não se ensinava matemática, mas Aritmética- de um matuto, a variação de DOIS pontos percentuais, significa uma variação de 44,44% do objetivo.

    Diante do exposto, fica a "Question" central:

    Qual a seriedade daqueles que fazem essa previsão?

    ...." E VAMOS EM FRENTE " ! ! ! ....

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