Aécio crava na testa de Dilma a “Futebras”, e a soberana logo muda de assunto, tentando jogar a batata quente no colo de Aldo Re

Publicado em 11/07/2014 20:23 e atualizado em 11/08/2014 13:09
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Partida contra a Holanda revela que Felipão perdeu o controle da equipe; jogadores da reserva tomam o lugar do técnico e instruem companheiros. Vexame chega ao fim com a defesa mais vazada da história da Seleção; Felipão insiste em ficar!!!

Júlio César pula mas não defende o pênalti chutavo pelo holandês Van Persie, no Mané Garrincha em Brasília - Ivan Pacheco/VEJA.com

Júlio César pula mas, não defende o pênalti cobrado pelo holandês Van Persie, no Mané Garrincha, em Brasília (Foto: Ivan Pacheco/VEJA.com)

Como resta claro, não foi o acaso que levou a Seleção Brasileira a perder para a Alemã por 7 a 1. Também não foi um apagão, como se se tentou vender. Só pode apagar o que aceso está. E, de fato, nunca chegamos a ter uma equipe. O vexame teve continuidade hoje, na derrota para a Holanda por três a zero. Dez gols tomados em dois jogos! É a pior defesa das 20 jornadas de que o país participou.

Como se vê, até o sósia de Felipão, que trabalha no Zorro Total, estava certo, não é? Havia também um problema na… defesa! O conjunto da obra é patético. Num momento de paralisação do jogo para atendimento a um jogador da Holanda, todo o banco de reservas do Brasil se levantou para dar “instruções técnicas” a jogadores, inclusive Neymar, que assistia à partida. Felipão ficou sentado, apalermado, demonstrando que já não tinha, se é que chegou a ter, o comando da equipe.

No dia 23 de junho, depois da vitória contra Camarões, escrevi aqui:

Brasil conrra Camarões

Nesse texto, aliás, eu contestava a besteira que parte da crônica esportiva começou a dizer, repetindo Felipão, segundo a qual seria preferível o time brasileiro enfrentar a Holanda nas Oitavas de Final a enfrentar o Chile. O jogo deste sábado disse tudo.

Na primeira vez em que a Holanda conseguiu passar para o campo de ataque, com 1min30s, Thiago Silva fez falta e derrubou Robben. Foi fora da área, mas o juiz marcou o pênalti. Roubou para a Holanda? Bem, depende, né? O zagueiro brasileiro deveria ter sido expulso e não foi. Com menos de dois minutos decorridos, convenham: o primeiro gol holandês acabou sendo um preço barato. “Ah, no segundo gol, havia impedimento…” A ruindade do juiz não foi responsável pelo resultado melancólico. Aos 26 minutos do primeiro tempo, a equipe brasileira havia feito uma única finalização.

Os vexames foram se acumulando. Oscar levou um cartão amarelo por simular pênalti. E simulou mesmo! Enquanto os jogadores brasileiros insistirem nessa palhaçada — e isso também é resultado de um treinamento ruim —, não vamos muito longe. Insisto, ademais, num outro aspecto: o jogo da Seleção Brasileira, além de feio, não é dos mais leais. Não fiz a contabilidade, mas Fernandinho deve ser o jogador com mais faltas desse torneio. Mesmo Hernanes entrou pilhado. No primeiro lance de que participou, fez uma falta meio grotesca. No segundo, outra.

Nunca existiu um time. A contusão de Neymar revelou isso de forma cabal. Não acho que o Brasil tivesse ido adiante com ele em campo, mas o vexame talvez fosse menor porque levaria mais intranquilidade aos adversários, e sempre haveria a possibilidade de, num lance fortuito, fazer brilhar seu talento. Pode, no entanto, uma seleção depender de um único jogador?

A torcida resistiu o quanto pôde. Num dado momento, houve até uma disputa entre uma parcela que gritava “olé” quando a Holanda trocava passes, e outra que insistia em aplaudir a equipe. Ao fim, não teve jeito: o estádio, em uníssono, vaiou a Seleção.

Tchau, Felipão!
Felipão não se dá por vencido. Mesmo tendo demonstrado neste sábado que não tem controle da equipe — afinal, os jogadores da reserva é que davam instruções a quem estava em campo —, não pediu demissão. Limitou-se a “entregar o cargo” à direção da CBF para que ela tome a decisão. Ora, isso é o mesmo que nada. O cargo sempre pertenceu à confederação, não é? A CBF não precisa da autorização de Felipão para demiti-lo.

O que o treinador quer dizer com esse gesto? Que pretende continuar; que continua cheio de ideias. Quais? Ora, ninguém diverge muito, com uma outra exceção, sobre o time que deve ser escalado. É mais ou menos esse que está aí, não é? Eu gostaria de ver esse mesmo grupo treinado por Pep Gardiola ou por Mourinho. Mas não verei. Parece que vem Tite por aí, que me parecia o nome óbvio em 2012, quando a CBF decidiu escolher Felpão, o homem que havia sido demitido do Chelsea e que havia ajudado a enterrar o Palmeiras… Que seja Tite, então! Ao menos há a possibilidade de a Seleção organizar a defesa… Pode não levar a Copa, mas também não leva uma surra.

Por Reinaldo Azevedo

 

Aécio crava na testa de Dilma a “Futebras”, e a soberana logo muda de assunto, tentando jogar a batata quente no colo de Aldo Rebelo. Ou: Crônica esportiva brasileira, com raras exceções, é tão velha, decadente e viciada como a CBF

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O PT é realmente uma máquina de destroçar reputações — inclusive de seus aliados. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, foi quem menos sonhou, entre os governistas, com uma intervenção, digamos, “política” no futebol. No máximo, ele afirmou que o Estado deveria se interessar mais pela questão, sem especificar em que medida isso poderia acontecer. Não disse nada além de uma generalidade até cabível para a hora. Foram os petistas, estes sim, por intermédio de um site oficioso chamado “Muda Mais” — trata-se de uma franja do PT, empenhada na campanha de Dilma — que saíram por aí a demonizar a CBF, atacando lideranças que estariam há décadas a infelicitar o ludopédio e coisa e tal…

O movimento nem é novo. Quando José Maria Marin, com seu cabelo acaju, assumiu a CBF, logo foi “enquadrado” pela Comissão da Verdade, vocês devem se lembrar. Muitos chegaram a indagar se Dilma, uma ex-VAR-Palmares, aceitaria posar a seu lado numa solenidade. Como se posar ao lado de uma ex-VAR-Palmares fosse um valor meritório em si. Alguém acha que é? Apresente-se para o debate, por favor, com argumentos. Tentarei responder sem precisar apelar a cadáveres — só em último caso… Mas sigamos.

Não foi Aldo, não! Foi o PT que tentou criar um novo polo de debate, deslocando o foco para a CBF, depois de Dilma ter tentado pegar carona, de modo um tanto atrapalhado, na Copa do Mundo. A Soberana, ultimamente, anda a ouvir vozes estranhas, não é mesmo? Não faz tempo, ela comprou uma confusão danada, quando seus “especialistas” lhe sugeriram que procurasse tirar o corpo fora da compra da refinaria de Pasadena… Até então, o único que insistia nesse assunto na chamada grande imprensa — e isso está documentado — era eu. Quando a presidente teve a gloriosa ideia de dizer que fora enganada pela diretoria da Petrobras, o assunto pegou fogo. Coisa de gênio!!!

Mais uma vez, um de seus luminares deve ter tido uma ideia luminosa: “Presidente, livre-se daquela foto do ‘É TÓIS’ lançando a tese de que é preciso intervir na CBF”. O assunto prosperou. Intervir como? Em que medida? A resposta de Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, veio rápida e certeira, como deve ser. Sim, algo tem de ser feito para aumentar a responsabilidade de dirigentes esportivos, mas sem criar a “Futebras”. Até porque, e isto ainda não ganhou seu devido peso político, é preciso chamar o governo às suas reais responsabilidades: a Copa já acabou! Cadê as obras que tanto mudariam a vida do povo brasileiro? Pois é… Ou por outra: o governo que conseguiu afundar a Petrobras acha que pode fazer decolar a Futebras?

Comprando mais briga
Cronistas esportivos os mais variados resolveram entrar na onda petistófila. Como já escrevi, é muito fácil jogar caca na CBF. Ela fica bem no papel de Geni. Mas me digam: o que a eventual corrupção na confederação tem a ver com aquele resultado ridículo apresentado em campo? Nada! Até porque é possível ser corrupto e eficiente. É possível ser corrupto e ineficiente. É possível ser decente e ineficiente. É possível ser decente e eficiente — esta, sim, a combinação desejável. Ganhamos, por acaso, cinco Copas até aqui com uma equipe que misturava São Francisco de Assis com Schopenhauer? Ah, tenham a paciência!

Parte dessa crônica esportiva, doidinha para fazer parte de algum conselho estatal que supervisione a CBF, embarcou na mixuruquice intelectual da “Futebras” e saiu por aí a procurar bodes expiatórios. Não há nenhum! A CBF pode até ser um antro de bandidos, como querem alguns, mas qual é o peso real que isso tem na caipirice do nosso futebol? O jornalismo esportivo, com raras exceções, é o primeiro dos Jecas-Tatus  a rejeitar, por exemplo, a contratação de um técnico estrangeiro.

Volto ao Planalto
O governo mediu a repercussão de sua especulação intervencionista e percebeu que, mais uma vez, a coisa tinha dado errado. Na Folha de hoje, já se lê que “Dilma afasta hipótese de intervenção no futebol”, como se ela dispusesse de canais legais para intervir — e não dispõe —, jogando a batata quente no colo de Aldo Rebelo, coitado!, que acabou arcando com o peso da tentação intervencionista.

Lá ficou pelo meio do caminho mais uma trapalhada dos “especialistas” de Dilma em opinião pública. O mesmo cara que a aconselhou a tirar, um dia antes do desastre, aquela foto fazendo, com os bracinhos, o “T” do “É TÓIS” deve ter tido outra ideia genial: “Vamos, agora, propor a reforma da CBF”. Aécio veio e cravou na testa: “Futebras”. A soberana resolveu logo mudar de assunto.

Os únicos que se entusiasmaram foram mesmos aqueles, como direi?, cronistas esportivos que, há 35 anos  mais ou menos, têm uma pauta fixa: atacar a CBF. Não que ela não mereça ser atacada. Merece! Mas merece também ter críticos novos, e não os candidatos de sempre a burocratas da “Futebras”.

Atenção, veículos de comunicação! Renovem, pelo amor de Deus, a crônica esportiva!!! Com raras exceções, ela é mais velha, viciada e viciosa do que a própria CBF. Aliás, são dois atrasos que se estreitam, como diria o poeta, num abraço insano.

Ah, sim: caso alguém se sinta, como direi?, ultrajado por essas palavras, é só se apresentar para o debate. Passei a ter especial interesse em debater com ultrajados e ultrajantes, mas sempre ultrajando com rigor.

Por Reinaldo Azevedo

 

Protestos marcados para final da Copa acendem alerta no Planalto

Na VEJA.com:
O Palácio do Planalto monitora, com auxílio da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), uma convocação que circula pela internet para um protesto contra a Copa do Mundo logo após a final entre Argentina e Alemanha, neste domingo, no Maracanã. A partida começa às 16 horas.

A PF identificou um vídeo em que há uma convocação para as 18 horas deste domingo em quatro cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. Diante disso, a Abin está municiando os Centros de Coordenação de Defesa de Área criados para monitorar a segurança da Copa não só nessas quatro cidades, mas em todas as outras oito cidades-sede da Copa. Os serviços de inteligência das Forças Armadas e das Polícias dos Estados também estão alimentando o sistema. Outro protesto, batizado de “Não Vai Ter Final”, está agendado para as 13 horas na Praça Saens Peña, no Rio de Janeiro. O evento já tem 2.300 presenças confirmadas.

O governo quer que todas as forças convocadas para atuar na segurança durante a Copa se mantenham a postos mesmo depois do final do jogo em suas cidades. No Rio de Janeiro, a preocupação é ainda maior porque, além de ser o local da final da Copa, ali estarão pelo menos dez chefes de Estado, incluindo a presidente Dilma Rousseff, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e a chanceler alemã Angela Merkel. Pelo menos 26.000 agentes estarão de prontidão para garantir a segurança da final da Copa. Desses, 10.000 serão policiais militares.

 Segundo a Secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, 10.000 PMs vão trabalhar na operação do jogo entre Alemanha e Argentina. Outros 4.984 estarão em serviço no sábado, véspera da partida. A segurança no interior do estádio será feita por cerca de 1.500 seguranças privados, os “stewards”. A origem dos demais agentes de segurança não foi detalhada.

Na terça-feira, após a humilhante derrota do Brasil para a Alemanha, o ministro-chefe da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho, afirmou que o governo já havia detectado um movimento de black blocs em várias cidades brasileiras, como Rio, São Paulo e Belo Horizonte, que queriam se aproveitar da decepção da população com o resultado, para retomar protestos violentos. Carvalho avisou que o governo estava “atento” e “monitorando” estas convocações e que ia continuar mapeando para evitar confusões e prejuízos em todo o País. Gilberto pediu ainda “bom senso” e “cabeça fria” aos manifestantes.

Por Reinaldo Azevedo

 

Aécio diz que Brasil não precisa de “Futebras”. E não precisa mesmo!

Leiam o que informa Daniela Lima, naFolha Online:
Depois de a presidente Dilma Rousseff (PT) defender uma ” renovação do futebol brasileiro, e seu ministro do Esporte, Aldo Rebelo, sinalizar que o governo pretende criar projetos de lei que ampliem a participação do Estado na gerência do esporte, o senador Aécio Neves, candidato do PSDB ao Planalto disse na tarde desta sexta-feira que o “país não precisa da criação de uma ‘futebras’” e afirmou que a petista age com “oportunismo” ao defender, agora, uma reformulação.

“O futebol brasileiro precisa, é claro, de uma profunda reformulação. Mas não é hora de oportunismo. Principalmente daqueles que estão no governo há 12 anos e nada fizeram para melhorá-lo”, disse Aécio em nota publicada em suas redes sociais.

Ele ainda aproveitou para, mais uma vez, pregar a marca de intervencionista em Dilma. “Nada pode ser pior do que a intervenção estatal. O país não precisa da criação de uma ‘futebras’. Precisa de profissionalismo, gestão, de uma Lei de Responsabilidade do Esporte. Com foco nos atletas, nos clubes e nos torcedores”, concluiu.

Apesar de defender uma separação entre os temas eleição e Copa, há dias o tucano vem usando a postura do governo diante do Mundial para fazer críticas à presidente. Ele declarou que Dilma tentou “usar politicamente” o evento e que iria se “frustrar” se acreditasse que os brasileiros misturariam eleições com futebol.
(…)

Voltei
Na mosca! Dilma tentou se aproveitar de modo miserável da Copa do Mundo. Esforçou-se para pegar carona até na contusão de Neymar. Deu tudo errado. Agora o governo resolveu inventar um bode expiatório fácil: a CBF. Afinal, quem se habilita a defender aquilo?

Ainda voltarei a este assunto. Mas se abriu o período para as teses mais exóticas. E a maior dela é a estatização do futebol. Tenham paciência!

Dilma poderia ter demonstrando a eficiência do governo entregando as obras de mobilidade, por exemplo. Sim, é muito fácil jogar pedras da CBF porque faz tempo que ela é uma boa candidata a Geni. Mas é claro que estamos diante de uma empulhação.

Por Reinaldo Azevedo

 

Site da Nike permitia camisetas personalizadas hostis às oposições, mas não a Dilma e ao PT. Empresa, até agora, não deu explicação convincente

Recebi ontem à noite este vídeo. Prestem atenção!

Imediatamente, tentei repetir a simulação que ali é feita. Já não era mais possível. Àquela altura, não tinha como ter a certeza de que se tratasse, realmente, do site da Nike, embora tudo indicasse que sim. Deixei para a hoje a confirmação. Está confirmado, como se lê em texto abaixo, publicado no Globo Online. Leiam. Volto em seguida.

A fornecedora de material esportivo da Seleção Brasileira, Nike, vetou a venda de camisas personalizadas com as palavras PT, Dilma Rousseff, Lula e mensalão. Contudo, até quinta-feira, era permitido personalizar dizeres com os nomes dos candidatos da oposição Aécio Neves e Eduardo Campos.

A restrição foi divulgada pelo usuários Twitter @CarlinhosTroll que tentou escrever “FORA DILMA” e “MENSALÃO” com o número 13 — usado pelo PT — e foi vetado pelo sistema. Contudo, era permitido comprar uma camisa personalizada com a expressão “FORA AÉCIO” e “FORA PSDB” até a quinta-feira. Qualquer frase contendo a sigla “CBF” também era barrada pelo sistema da personalização.

Após a viralização de um vídeo na internet mostrando a contradição, o nome do candidato tucano à Presidência da República e do PSDB também foram vetados. Na manhã desta sexta-feira, o GLOBO tentou personalizar uma camisa, mas o sistema não abriu a opção. Procurada, a fornecedora de material esportivo informou em nota que “não é filiada a nenhum partido político, não só no Brasil como no mundo todo”. Informou ainda que “o sistema do website nike.com, como descrito na própria página, não permite customizações com palavras que possam conter qualquer cunho religioso, político, racista ou mesmo palavrões”, e que “sistema é atualizado periodicamente visando cobrir o maior número de palavras possíveis que se encaixem nesta regra”.

Voltei
Ok. É evidente que a Nike não é filiada a nenhum partido político, como diz a nota. Empresas não se filiam a partidos no Brasil — e, até onde sei, nas democracias mundo afora.

A resposta da empresa é amplamente insuficiente. Existe um programa por trás da ferramenta que permitia a personalização das camisetas. E ele permitia “Fora Aécio” e “Fora PSDB”, mas não “Fora Dilma” e “Fora PT”. Isso quer dizer que alguém programou para que as palavras “Fora” e “PT” não pudessem compor uma unidade, mas não viu nada demais em compatibilizar “Fora” e “PSDB”, por exemplo, o mesmo valendo para Campos.

Diz a empresa que “o sistema do website nike.com, como descrito na própria página, “não permite customizações com palavras que possam conter qualquer cunho religioso, político, racista ou mesmo palavrões”. Isso é que está escrito lá. Mas o fato é que permitia mensagens hostis à oposição, mas não ao governismo. Quando há uma flagrante contradição entre o princípio anunciado e a prática, alguma explicação tem de ser dada, não?

A questão é, aparentemente, irrelevante. Só aparentemente. Faz parte do processo de construção da hegemonia partidária, que busca a uniformização da opinião e a ditadura do partido único, a naturalização da discriminação de quem pensa diferente do partido que se pretende majoritário. No site da Nike, alguém achou que era natural e conforme os princípios vetar as palavras “Fora Dilma”, mas que não havia impedimento nenhum no “Fora Aécio”.

A resposta da Nike me lembra a que recebi, certa feita, de uma empresa de alimentos. Sou alérgico a gergelim — alergia do tipo que mata mesmo! Consumi um pão de forma certa feita e fui parar no hospital. Nos ingredientes, não constava a existência do dito-cujo. Não havia nem mesmo aquele “este produto pode conter resquícios de…”. Nada!  A empresa insistia em me dar a seguinte resposta: “Nossos produtos são feitos seguindo as mais rigorosas normas de etc. etc. etc”. Ah, disso, eu já sabia. Eu queria saber a razão da minha crise. Acabaram admitindo que, no processo industrial, o gergelim acabou se imiscuindo no pão que eu consumira. Vale dizer: era mentira que os produtos fossem feitos “segundo as mais rigorosas regras etc. etc. etc.”. Quando menos, as regras não eram rigorosas o bastante para impedir alguém de consumir involuntariamente algo que poderia matá-lo.

A Nike continua a dever uma explicação. Quando menos, está convidada a demonstrar o que há de errado no raciocínio que vai aqui. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Juiz cassa liminar que impedia PT de disputar eleições em SP, mas decide que Luiz Moura pode se candidatar e que só Justiça Eleitoral pode lhe tirar esse direito

Aconteceu o que me parecia óbvio: a Justiça revalidou a convenção do PT. Embora o partido tenha me incluído na sua lista negra, não acho que ela deva ser privado de disputar as eleições em São Paulo.

Qual é o busílis? O deputado estadual Luiz Moura (PT), aquele que manteve um encontro com membros do PCC, recorreu à Justiça comum contra a decisão da direção estadual do partido, que o suspendeu, negando-lhe, assim, a possibilidade de se candidatar à reeleição. A direção considerou insatisfatórias suas explicações sobre aquele encontro.

Muito bem! Ele recorreu à Justiça, e o juiz Fernando Camargo, do Tribunal de Justiça de São Paulo, concedeu uma liminar que tornou sem efeito a própria convenção, o que impediria os petistas de concorrer a qualquer cargo em São Paulo. Agora o juiz Renato de Abreu Perine, da 17ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, reverteu essa decisão.

Mas as coisas não aconteceram exatamente como o PT queria. O juiz decidiu que Moura tem, sim, o direito de se candidatar. Segundo seu despacho, só a Justiça Eleitoral pode inviabilizar a sua candidatura.

A Justiça Eleitoral, leitores, só age quando provocada. Vamos ver se o PT vai recorrer a ela para tentar impedir a candidatura de Moura.

Por Reinaldo Azevedo

 

Uma questão que vai à Justiça: um sindicato tem o direito de cassar direitos fundamentais do cidadão comum?

Vamos a um debate relevantíssimo, senhores leitores! O Ministério Público Estadual decidiu recorrer à Justiça para que o Sindicato de Motoristas e Cobradores de Ônibus e o dos Metroviários de São Paulo paguem multas, respectivamente, de R$ 131,7 milhões e de R$ 354 milhões em razão de greves abusivas que foram deflagradas: a primeira ocorreu entre os dias 20 e 23 de maio, e a segunda, entre os dias 5 e 9 de junho.

Os valores são altos demais? Acho que se pode até discutir esse aspecto. Duvido que as duas entidades disponham desse dinheiro, e não faria sentido fechar uma entidade sindical porque ela não poderia arcar com a pena. Sigamos. Vamos ver como reagiu o presidente da Comissão de Direito Administrativo da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), Adib Kassouf Sad, ao comentar o caso em entrevista ao Estadão: “É a Justiça trabalhista que deve apurar eventuais erros ou abusos dessas entidades. Esses pedidos, de R$ 131 milhões e R$ 354 milhões, em princípio, são valores que estão sendo encontrados sem um critério objetivo fixado por lei, o que se mostra absolutamente inadequado”. Para ele, os abusos no direito de greve ”têm que ser resolvidos na esfera trabalhista”.

A depender do que queria o doutor dizer com isso, está certo; a depender, está erradíssimo. E eu apostaria mais nesta segunda hipótese. Sim, que a Justiça do Trabalho trate dos direitos dos abusos de greve. Ao Ministério Público cabe zelar pelos direitos do conjunto dos cidadãos, não é mesmo?

Os serviços de metrô e ônibus não dizem respeito apenas a empregadores e empregados. Há mais, muito mais, nessa relação: milhões de passageiros. Posso até achar a multa exagerada — e algum critério legal mais objetivo deveria haver —, mas me parece inequívoco que o Ministério Público Estadual acerta quando cobra desses sindicatos a responsabilidade pelos danos causados a milhões de pessoas. Abusos de ordem trabalhista, sejam cometidos por patrões ou por empregados, dizem respeito à Justiça do Trabalho. Mas e os abusos que uns e outros podem cometer contra a cidadania? Por que haver uma Justiça especial para isso? De jeito nenhum! Eu, por exemplo, não sou empregado de linhas de ônibus. Eu não sou dono de linhas de ônibus. Mas vi meus direitos aviltados ou solapados. Por que há de ser a Justiça trabalhista a cuidar do assunto? O agravo que sofri como cidadão é de competência da Justiça comum.

A greve do Metrô afetou diretamente 7.177.932, segundo cálculos da empresa; a dos ônibus, 2.729.900, segundo estima a SPTrans. O promotor de Justiça de Habitação e Urbanismo Maurício Ribeiro Lopes, responsável pelas duas ações, pediu ainda o bloqueio de todos os bens dos dois sindicatos. O dinheiro arrecadado com a aplicação das multas seria destinado ao Fundo Especial de Despesa de Reparação de Interesses Difusos Lesados (Fid), mantido pela Secretaria Estadual da Justiça. Para fazer o seu cálculo, Ribeiro Lopes levou em conta uma porção de fatores: o prejuízo provocado aos cidadãos, a interrupção do rodízio, que provocou congestionamentos homéricos, o desgaste emocional da população e a piora da qualidade do ar.

Vamos ver. Uma boa maneira de fazer com que nada aconteça é aplicar uma multa impagável, o que certamente acabará sendo rechaçado pela Justiça porque foge ao razoável. Por menos simpatias que eu tenha pelo comportamento dos dois sindicatos, parece-me que pode ser esse o caso. Então conviria ser mais realista.

Não tenho dúvida, no entanto, de que as ações movidas pelo MPE são absolutamente procedentes e pelas exatas razões apontadas. Uma cidade, um Estado ou um país não podem ser reféns de uma corporação. Quando um sindicato decide parar um serviço essencial — cassando, assim, direitos fundamentais dos cidadãos —, é preciso que atente para as consequências de sua decisão.

Por isso, a Justiça do Trabalho determina, em casos assim, as condições em que a greve pode ser realizada. Elas foram escancaradamente desrespeitadas. A Justiça Trabalhista que cuide das questões trabalhistas. Não lhe cabe arbitrar sobre os direitos da cidadania. Quando se diz que um sindicato não está acima das leis trabalhistas, está-se dizendo uma verdade parcial. A verdade integral é que um sindicato não está acima das leis. Sem adjetivo.

Por Reinaldo Azevedo

 

Minha coluna na Folha de hoje: “Dilma simula pênalti: Schwalbe!”

Leiam trechos de minha coluna na Folha de hoje.

Aos 17 minutos do primeiro tempo, no desastre de terça-feira (8), a seleção brasileira já perdia para a alemã por um a zero quando Marcelo, atendendo a um chamado do atavismo macunaímico, caiu na área, simulando um pênalti. O zagueiro alemão Jérôme Boateng, cujo pai é ganês, se zangou. Deu-lhe uma bronca humilhante. Os alemães execram esse teatro ridículo e têm uma palavra para defini-lo –na verdade, uma metáfora: “Schwalbe”, que quer dizer “andorinha”. É um pássaro de asas curtas em relação ao corpo e que voa rente ao solo, lembrando o atleta que agita, desajeitado, os braços ao encenar uma falta que não existiu. Boateng chegou a imitar com as mãos o voo da “Schwalbe”. Naquele pênalti patético cavado por Fred contra a Croácia, a imprensa alemã o chamou de “Schwalbinho”, acrescentando à palavra o sufixo do diminutivo que costuma vir colado a nomes de alguns de nossos craquinhos.

Apesar da humilhação dos 7 a 1, nunca foi tão civilizado perder. Os alemães vieram dispostos a conquistar também o coração dos brasileiros. Jogaram um futebol bonito, honesto, respeitoso. Quando os canarinhos estavam sem ânimo até para imitar andorinhas, os adversários não começaram a dar toquinhos de lado, a fazer firulas ou gracejos destinados a humilhar quem já não tinha mais nada. Ao contrário: um deles aplaudiu o gol de honra de Oscarzinho.
(…)
A simulação da falta é um vício nacional. No futebol, na vida, na política. Acusar o adversário de uma transgressão que ele não cometeu é uma falha moral grave. Trata-se de reivindicar a licença para reagir àquilo que não aconteceu, tentando fazer com que o outro pague uma conta indevida. Um dia antes da partida fatídica, a presidente Dilma Rousseff, demonstrando que anda com pouco serviço –e só gente muito ocupada tem tempo de fazer direito o seu trabalho–, resolveu participar de um bate-papo numa rede social. Exaltou o heroísmo de Neymar, discorreu sobre a garra do povo brasileiro e, ora vejam!, censurou os “urubus do pessimismo”.
(…)
Ouça o que diz Boateng, presidente! Levante-se da área! Jogue limpo! É muito melhor vencer com honra. Ou honrar o vencedor.
*
Para ler a íntegra da coluna, clique aqui

Por Reinaldo Azevedo

 

TEMPO NA TV – Distribuição rebaixa a política. Ou: Negociatas com bens públicos

Saiu a distribuição oficial do tempo de rádio e televisão. Ela expõe, por si, a imoralidade em que se transformou isto que, em tese, seria uma forma de privilegiar a democracia. O tempo transformou-se em mercadoria, em moeda de troca. Por causa dele, governos de turno, nas três esferas da administração, loteiam a coisa pública. Uma reforma política que fosse levada a sério começaria por rever essa indecência. Mas, claro!, isso não vai acontecer.

TABELA DO TEMPO NA TV

E atenção! Não escrevo essas coisas porque Dilma ficou com um latifúndio, não. Essa é a minha opinião desde que essa estrovenga existe. Vamos lá. A candidata do PT ficou com 11min48s do tempo — ou 47,2% do total. É o que resulta da coligação de nove partidos: PT, PMDB, PSD, PP, PR, PROS, PDT, PCdoB e PRB.

O tucano Aécio Neves tem o segundo maior tempo, mas que corresponde a menos da metade daquele destinado à sua adversária: 4min31s. Também ele conta com o apoio de nove legendas. Muitas, no entanto, são pequenos partidos, que rendem apenas alguns segundos. São eles: PSDB, PMN, SDD, DEM, PEN, PTN, PTB, PTC e PTdoB.

Em terceiro, mas muito atrás, vem Eduardo Campos, com 1min49s. Conta com o apoio de PSB, PHS, PRP, PPS, PPL e PSL. Pastor Everaldo, candidato do PSC, terá 1min8s. Na sequência, está Eduardo Jorge, do PV, com 1min1s. Os outros seis candidatos têm menos de um minuto: Luciana Genro (PSOL), 51s; Eymael (PSDC), 47s e Levy Fidelix (PRTB), Zé Maria (PSTU), Mauro Iasi (PCB) e Rui Pimenta (PCO), todos com 45s.

Quero que o leitor tenha claro uma coisa: EU SOU CONTRA A EXISTÊNCIA DO HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO — que, para começo de conversa, gratuito não é. Nós pagamos. As emissoras de rádio e TV deixam de arrecadar impostos — e é justo que assim seja porque, afinal, no tempo em que mantêm os políticos no ar, deixam de veicular propaganda.

Uma vez existindo esse troço, é preciso haver algum critério para distribuir o tempo. E se usa como base a bancada de deputados. Ocorre que o tempo de TV deveria ser uma decorrência de alianças formadas com base em afinidades, princípios, causas comuns. Em vez disso, o que se tem é um comércio descarado. “Querem o meu tempo? Troco pelo ministério X”. Ou não vimos Dilma Rousseff tirar César Borges da pasta dos Transportes por exigência do PR? Foi o preço para ela contar com o tempo de que dispunha o partido na TV. Ou vocês acham que PCdoB e PP têm uma agenda comum? A forma que tomou essa questão no Brasil envergonha a institucionalidade e a democracia. Reparem: gratuito, o tempo não é porque, insisto, nós pagamos. Então, os políticos já negociam algo que nos pertence. E o fazem em troca de nacos da administração pública, que igualmente nos pertence. Usam o que é nosso para se apropriar do que… também é nosso! Algum político terá um dia a coragem de propor o fim dessa indecência?

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma consegue o inédito: a possibilidade de reeleição é que é vista como risco de instabilidade

A presidente Dilma Rousseff (PT) está logrando um feito verdadeiramente inédito. Nunca antes na história deste país, a possibilidade de reeleição do governo de turno gerou turbulências no mercado. Acontecia justamente o contrário: era a perspectiva de mudança que gerava intranquilidade. Negociantes, no melhor sentido da palavra, aceitam correr riscos, sim. Mas gostam de regras — e de regras conhecidas. A suspeita de que qualquer coisa pode acontecer e de que tudo é possível tem preço — para baixo.

Em 1994 e 1998, quem despertava temores no mercado era o PT de Lula, que perdeu as duas disputas no primeiro turno. A reeleição das forças governistas representava estabilidade. Em 2002, a possibilidade de o petista vencer a disputa custou caro ao país. A especulação passou a comer solta, a inflação disparou, e o país teve de recorrer ao FMI — uma solução negociada com os companheiros, diga-se. Por quê?

Mesmo com a “Carta ao Povo Brasileiro”, em que o partido prometia seguir as regras de mercado, respeitar contratos e não dar calote em ninguém, havia uma grande e justificada desconfiança. Afinal, o PT passara 21 anos prometendo intervir na economia com mão forte — e não se descartava calote por lá nem da dívida interna nem da externa. Antonio Palocci se encarregou de evidenciar, no primeiro ano de sua gestão, que aquela conversão à realidade era para valer. A tensão passou.

Nas eleições de 2006 e 2010, esse era um não assunto. Vencesse Dilma, Alckmin ou Serra, ninguém antevia grandes problemas pela frente. Aliás, se vocês recuperarem o noticiário da disputa em 2010, encontrarão alguns cretinos, fingindo-se de fundamentalistas de mercado, mas atuando como esbirros do PT, a falar, creiam, de um tal “risco Serra”.

Ou por outra: nas disputas de 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010, o governismo nunca foi encarado como risco pelo mercado. Ela era sempre a solução — porque, reitero, os agentes econômicos preferem a certeza de turbulência às incertezas da escuridão.

Nesta quinta, acreditem, o mercado reagiu bem à derrota da Seleção Brasileira para a Alemanha por 7 a 1 porque considerou que isso eleva a possibilidade de Dilma perder a eleição. A Bolsa no Brasil se descolou do mercado internacional, que teve um mau dia: no fim da sessão, o Ibovespa fechou em alta de 1,79%, aos 54.592,75 pontos, maior patamar desde 20 de junho (54.638,19 pontos).

E olhem que o Ibovespa resistiu até a indicadores ruins. Segundo o IBGE, a produção industrial recuou em sete dos 14 locais pesquisados de abril para maio. Os destaques foram as retrações verificadas no Amazonas (-9,7%), Bahia (-6,8%) e Região Nordeste (-4,5%).

Nunca antes na história “destepaiz”, a possibilidade de reeleição do governo foi encarada como um risco.

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi, analisando os procedimentos dos políticos de plantão, àqueles que “não largam o osso”, leva-nos à crer que são todos doutoraços na arte da politicagem.

    Ouso em afirmar que têm uma vasta aprendizagem no condicionamento pavloviano, método elucidado pelo fisiólogo russo Ivan Pavlov. Penso que há material de pesquisa para montar vários fóruns de debate, sobre uma variável da espécie Homo sapiens, provavelmente uma nova subespécie.

    Há só uma certeza: “ESTA SUBESPÉCIE É ALTAMENTE PROLÍFICA” !!

    ....”E VAMOS EM FRENTE” ! ! !....

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