Um mar infindável de lama. Ou: Meio bilhão em propina só da Petrobras...

Publicado em 06/02/2015 14:27
por Rodrigo Constantino, de veja.com

Um mar infindável de lama. Ou: Meio bilhão em propina só da Petrobras

Se Dilma acredita em inferno astral, então é isso que ela está vivendo. Como eu não acredito, tampouco acho que o mar de lama em que o PT se afundou tenha algum elo com o alinhamento dos astros, só posso dizer que o PT está colhendo aquilo que plantou. Completa 35 anos de existência no auge de sua decadência ética e responsável por uma crise econômica de proporções assustadoras.

Comecemos por esse aspecto: crise hídrica, que no meu dicionário quer dizer seca; risco de apagão e racionamento de eletricidade, mesmo com tarifas subindo até 40% em um único ano; queda de atividade econômica e indústria na penúria, demitindo aos milhares; confiança dos investidores e consumidores em baixa histórica; o país passou a ter um enorme déficit nas contas correntes e também fiscal, colocando em risco o grau de investimento; a taxa de juros voltou a subir muito; e inflação galopante e bem acima do topo da elevada meta, como podemos ver no IPCA divulgado hoje:

IPCA acumulado em 12 meses. Fonte: Bloomberg

IPCA acumulado em 12 meses. Fonte: Bloomberg

Da economia, portanto, só tem notícia ruim. Mas não é “apenas” esse o grande problema do PT. Há também a corrupção, ou, para ser mais preciso, os escândalos infindáveis de esquemas montados pelo PT para surrupiar recursos públicos e financiar seu projeto totalitário de poder perpétuo. A Operação Lava-Jato traz novidade todo dia, e quase anestesiou os brasileiros de tanta podridão que vem à tona. O PT banalizou a corrupção.

O foco, até aqui, tem sido somente a Petrobras. Não é pouco, pois é a maior estatal do país. Mas é a ponta do iceberg, quando lembramos que existem dezenas de outras estatais, os fundos de pensão, os ministérios, etc. Segundo o delator Pedro Barusco, que era o braço-dreito de Renato Duque, que por sua vez era o homem do PT na empresa, o partido levou até US$ 200 milhões em dez anos. Atenção: isso significa, a preços atuais, mais de meio bilhão de reais!

É isso mesmo: o PT teria desviado, só de uma estatal, mais de R$ 500 milhões desde 2003. É uma montanha de dinheiro! E qual a reação do partido, por meio de seu presidente Rui Falcão? Bancar a vítima, claro! Falar em golpismo, em tentativa de “criminalizar o partido” na véspera de seu trigézimo-quinto aniversário. Eu poderia jurar que quem criminalizou o PT foram os próprios petistas criminosos…

Mas assim é o PT. Fala em “criminalização dos movimentos sociais” também, quando esses “movimentos sociais” ignoram as leis e cometem crimes. O PT é um partido que enaltece o crime. Eis o fato que precisa ser constatado. Basta ver como trata seus mensaleiros, seus criminosos, seus tesoureiros que administram esses esquemas de propina. O PT não é mais um partido, e sim um ajuntamento mafioso.

O jornalista Merval Pereira resumiu bem a situação em sua coluna de hoje: está tudo “fora de controle”. Merval começa apontando a contradição do partido, ao alegar, em nota oficial, que não recebe doações por fora”, sendo que sua defesa na época do mensalão foi justamente apelar para a desculpa de “caixa dois”, ou “dinheiro não contabilizado”, no eufemismo do então tesoureiro Delúbio Soares, repetindo que era o que “todos faziam”. Ou seja, o PT já é réu confesso quando se trata de dinheiro ilegal para campanha, e agora nega o que confessou antes.

Em seguida, Merval descreve parte dos escândalos recentes envolvendo o partido e a Petrobras, e conclui:

Os 35 anos de criação do PT serão festejados em Belo Horizonte num momento em que o partido chega ao fundo do poço em termos de credibilidade. Claro que Vacari e outros companheiros serão ovacionados, e provavelmente exortados pelo ex-presidente Lula a não baixarem a cabeça e não se envergonharem da atuação do partido. 

Mas nada apagará o fato de que o PT perdeu o controle do Congresso, perdeu o controle da economia e está perdendo o controle da maior estatal brasileira, a Petrobras.

Só discordo de Merval quando ele usa o verbo no gerúndio. Como assim, o PT “está perdendo o controle” da estatal? Já perdeu faz tempo! A empresa virou uma zona, uma bagunça acéfala, e Dilma demorou tempo demais para se livrar de Graça Foster e sua diretoria. Muitos ainda especularam que um nome de respeito seria escolhido para substituí-la, e as ações subiram por conta disso. Como se Dilma e o PT quisessem ou pudessem realmente colocar um executivo totalmente independente na empresa!

Hoje saiu o nome do escolhido, diretamente pela presidente Dilma: Aldemir Bendine, atual presidente do Banco do Brasil. Ou seja: um nome ligado ao PT! Um nome que não tem o peso da independência necessária para colocar ordem no caos. As ações, como resultado, já voltaram a cair de forma acelerada, retornando à tendência de longo prazo, que é de total destruição da Petrobras:

Petrobras PN. Fonte: Bloomberg

Petrobras PN. Fonte: Bloomberg

Eis o triste retrato do Brasil sob o PT, após 12 anos de incompetência, autoritarismo e corrupção: um país em crise por todos os lados, com uma economia patinando, com inflação descontrolada, com falta de água e eletricidade cada vez mais cara, com taxa de juros absurdamente alta, com a maior estatal do país sendo destruída bem diante de nossos olhos, com bilhões de reais desviados como se fossem trocado em Brasília.

E o que a população vai fazer diante disso tudo? Vai para às ruas protestar, sem mascarados vândalos, para mostrar sua indignação? Vai se mobilizar para exigir investigações independentes numa CPI e pressionar por um eventual impeachment? Nada disso. Vai para às ruas para curtir a folia do carnaval. O PT tem o povo que pediu a Deus, pois não é possível imaginar qualquer outro país mais sério aceitando com tanta passividade esse mar infindável de lama.

Rodrigo Constantino

 

 

Sinal de fracasso

Bendine: de presidência em presidência

Bendine: de presidência em presidência

Aldemir Bendinena presidência da Petrobras significa que o governo não conseguiu arranjar nenhum nome de peso do setor privado respeitado pelo mercado. O governo falhou nesta missão, portanto.

E significa também que estará à frente da Petrobras alguém que o governo comanda. Por exemplo, se Dilma Rousseff quiser usar a Petrobras como braço de sua política econômica, Bendine não será um obstáculo.

Se Dilma quiser segurar o preço da gasolina para controlar a inflação artificialmente, Bendine poderá até ser contra intimamente, mas não levantará um dedo contra uma decisão deste tipo vinda do Planalto.

Bendine tem algumas passagens inusitadas em sua biografia. Em 2010, por exemplo, comprou um apartamento em São Paulo com dinheiro vivo. Pagou os 150 000 reais por um apartamento de 160 metros quadrados com dinheiro que guardava em casa, embora fosse presidente do Banco do Brasil.

Por Lauro Jardim

A fantasia de Val

Val: festeira

Val: festeira

A nomeação de Aldemir Bendine para a Petrobras fez explodir as menções à sua amiga Val Marchiori nas redes sociais e nas conversas entre executivos financeiros. Agora há pouco, um deles garantia que  neste Carnaval Val sairá fantasiada de barril…

 

Não, o problema do Brasil não é o brasileiro

Falta água, sobra inflação, falta luz, sobram escândalos, o Congresso e as escolas públicas são pura piada, as ações da empresa que já foi o maior orgulho nacional valem trocados. Com tanta notícia apontando para um colapso nacional, é fácil culpar a própria cultura pelos erros do país e cravar que “o problema do Brasil é o brasileiro”.

Não somos os únicos a culpar a própria cultura. Os argentinos, numa versão similar ao nosso “é culpa de Portugal”, atribuem suas falhas à colonização de “brutos” espanhóis e italianos. Só que uma colonização muito parecida ocorreu no Chile, que está décadas à frente da Argentina. Os italianos até concordariam com os argentinos, pois também acham que o problema da Itália é o italiano. Já vi gente afirmando que a herança histórica e cultural levou os venezuelanos ao coletivismo, mas então o que dizer de colombianos e panamenhos, tão parecidos culturalmente e cada vez mais liberais?

No Brasil, a ideia de algum traço da cultura sabota o país se manifesta à esquerda e à direita, em conversas de rua e em teses universitárias. Tem quem explique os problemas nacionais por uma suposta preguiça de negros e mestiços. “O brasileiro é pobre porque não gosta de trabalhar”, ouvíamos anos atrás. Hoje se propaga uma versão simétrica desse equívoco. O problema não seria os negros, mas os brancos: a raiz das mazelas nacionais seria uma elite branca preconceituosa e apegada a privilégios.

Na rua, dizem que culpa é do jeitinho brasileiro, a nossa bem conhecida habilidade de ignorar as regras e favorecer parentes e amigos. Na Unicamp, empilham-se teses sobre os efeitos da “herança escravagista do Brasil patriarcal”, que teria criado uma elite acostumada a viver do esforço dos outros. Como se estivéssemos presos num determinismo sociológico.

Longe de mim ter orgulho ou defender a cultura brasileira. Meu ponto é que outras culturas cheias de defeitos desprezaram arcaísmos e prosperaram. Os americanos sulistas são muito mais racistas que nós – mas isso não impede que a renda média dos negros americanos seja mais de três vezes a dos brasileiros. Ingleses até hoje mantém distinções de classe, o que muito professor da Unicamp consideraria motivo suficiente para subdesenvolvimento. Nos anos 70, pouca gente acreditaria que países da Ásia seriam tão ricos e desenvolvidos quanto os europeus. Era comum pensar que algum traço cultural limitava o progresso da Ásia, como o confucionismo na China. Hoje o PIB per capita de Hong Kong é 40% maior que o da Inglaterra; o de Cingapura é duas vezes o da França.

O problema não é cultura, mas as regras do jogo. O “jeitinho brasileiro” não é exclusivo ao Brasil – na verdade existe em todo lugar com excesso de burocracia. Um venezuelano ou um lord inglês vão andar na linha se acharem que os outros fazem o mesmo; e vão picaretear se acreditarem que os outros picareteiam impunemente. Se há instituições (públicas ou privadas) que façam valer o que foi combinado e garantam direitos de propriedade, a cooperação aparece.

Dito isso, admito que há teses interessantes sobre características da população capazes de influenciar a política. Os economistas Alberto Alesina e Edward Glaeser acreditam que, em países com mais diversidade étnica, as pessoas são menos dispostas a contribuir com o estado de bem-estar social (por isso os EUA não teriam um sistema equivalente ao da homogênea Dinamarca). Também se diz que, em países mais desiguais, os governos são mais irresponsáveis na economia, pois tendem a sacrificar as contas públicas com assistencialismo, para garantir o voto dos pobres. Mas isso diz pouco sobre costumes ou herança cultural: aconteceria com alemães ou dinamarqueses nas mesmas condições de população. E não impediu os Estados Unidos – um país tão heterogêneo quanto o Brasil e bem mais desigual que a Europa – de enriquecer.

O Brasil, como mostra o noticiário das últimas semanas, tem problemas de sobra. Mas o brasileiro não é um deles.

(por Leandro Narloch)

 

Tese do “clube do cartel” perde força

O PT tentou se defender do “petrolão” fazendo o que sempre fez: bancando a vítima. Os diretores da Petrobras, indicados pelo partido, seriam pobres coitados corrompidos por um “clube do cartel”, formado por empreiteiras malvadas e gananciosas que apareciam com malas irresistíveis de dinheiro.

No Brasil, país cuja mentalidade predominante costuma associar automaticamente lucro ao crime, a tese quase pegou. Até porque, convenhamos, as empreiteiras não são santas. O desejo de condenar ricos empresários e aliviar políticos é forte, e os executivos das empreiteiras é que foram parar atrás das grades.

Ocorre que os empreiteiros ficaram com medo de pagar o pato sozinhos, pois tinham fresco na memória o resultado do mensalão, com publicitário e banqueira ainda presos, e políticos do PT em casa. Começaram, então, a fazer denúncias que apontavam para algo bem diferente, e muito mais provável: era o PT que havia montado uma quadrilha na estatal e o esquema de propina era a única forma de fazer negócios com a empresa gigante.

A tese, bem mais factível, ganhou bastante força agora, na nova fase da Operação Lava-Jato, que mostra que o propinoduto tinha alcance internacional, que os tentáculos corruptos do PT atravessavam fronteiras e chegavam até a Ásia:

A nova fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta quinta-feira em São Paulo, Bahia, Santa Catarina e Rio de Janeiro, que leva o nome de My Way, revela um detalhado esquema de pagamento de propina de duas multinacionais da indústria naval, Keppel Fels e Jurong, para diretores da Petrobras e para o PT, por intermédio de seu tesoureiro João Vaccari Neto.

As duas multinacionais também pagaram propina a diretores da Sete Brasil, a empresa de afretamento de sondas do pré-sal, as chamadas plataformas FPSO (sigla para o termo em inglês floating production storage and offloading), nome técnico das sondas flutuantes que perfuram, armazenam e descarregam o petróleo retirado em alto mar. Segundo o documento de delação premiada do ex-diretor da Sete Brasil Pedro Barusco, Vaccari abocanhava em nome do PT dois terços da dinheiro pago por cada um dos estaleiros para levar o contrato de construção das sondas. A “comissão” equivalia a 1% sobre cada contrato firmado com a Petrobras e a Sete — porcentual que, por vezes, recuava para 0,9%, para que o montante total do contrato, inflado pelo dinheiro sujo, não “destoasse” dos preços internacionais.

A cada dia que passa a situação do PT fica mais complicada. A de seu tesoureiro, então, já está completamente insustentável. O ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco, afirmou à Justiça, em acordo de delação premiada, que João Vaccari Neto recebeu de 150 milhões a 200 milhões de dólares em propina de 2003 a 2013, por meio de desvios e fraudes em contratos com a Petrobras. 

O PT é guloso. Muito guloso. Faz o “diabo” pelo poder. Mas só mesmo acreditando numa infindável estupidez do povo brasileiro o partido poderia tentar vender uma versão de que os diretores da estatal foram corrompidos por empresas malvadas. Pelo visto, esse “clube do cartel” é mesmo enorme e poderoso, e controla empresas até em Cingapura…

Rodrigo Constantino

 

Bolsa Família, Pão & Circo

Por Ivan Dauchas, publicado no Instituto Liberal

Segundo o economista inglês Thomas Malthus (1766-1834), a pobreza e o sofrimento humano eram o destino inevitável da maioria das pessoas e qualquer tentativa de reduzir esses males tornaria a situação ainda pior. Por isso, Malthus reprovava qualquer política redistributiva que tivesse por objetivo melhorar as condições de vida dos mais pobres.

No começo do século XIX, vários economistas (inclusive Malthus) tinham uma visão sombria concernente ao futuro do capitalismo. Para nossa sorte, esses economistas estavam errados. Com o passar do tempo, essa nuvem negra foi se dissipando e o capitalismo mostrou-se um sistema altamente eficiente no sentido de gerar riqueza para todos, inclusive para os mais pobres.

Acho que todos concordamos que a pobreza excessiva é um problema social. Vejam bem, eu não estou me referindo aqui à justiça distributiva, que é um assunto bem mais complexo. A pobreza excessiva está altamente correlacionada a uma série de mazelas sociais, tais como: violência, uso de drogas, criminalidade, gravidez na adolescência, crianças abandonadas etc. Se tudo isso não bastasse, pessoas pobres, com baixa instrução, são mais facilmente manipuláveis e tendem a escolher mal seus representantes políticos.

Por conta disso, a parcela esclarecida da população normalmente apóia políticas que tenham por objetivo reduzir a pobreza. A questão fundamental aqui é: qual o instrumento mais eficiente para atingir esse objetivo? Muitos vão responder que é o acesso universal à educação de boa qualidade. Concordo plenamente. Porém, há um detalhe importante. A educação consiste em uma estratégia de longo prazo. E no curto prazo, o que pode ser feito? O que fazer com os que passam fome? Livros saciam apenas nosso apetite intelectual.

Dentro desse contexto, surgiram as chamadas políticas de complementação de renda. Convém ressaltar que a matriz teórica dessas políticas está assentada nas idéias de Milton Friedman (1912-2006), um dos maiores defensores do liberalismo no século XX. Em seu famoso livro Capitalismo e Liberdade, ele sugere a criação de um imposto de renda negativo. A ideia é muito simples. Quanto mais rico for um indivíduo, maior a alíquota do imposto de renda. Já os pobres, em vez de pagarem, recebem uma ajuda em dinheiro. Quanto mais pobre, maior a ajuda.

Como liberal, Friedman nunca foi um ardoroso defensor de políticas de redistribuição de renda. Seu argumento, porém, é de fácil compreensão. Caso o governo resolva implementar uma política de combate à pobreza, que essa política seja na forma de uma ajuda em espécie e não em qualquer outro tipo de bem. Por uma razão muito simples: o indivíduo beneficiado sabe melhor que o governo quais são as suas principais necessidades. Somente a ajuda em dinheiro respeita o direito de escolha do consumidor. Por exemplo, para uma pessoa faminta e sem dentes, uma dentadura, em determinadas situações, pode ser mais necessária até mesmo que o próprio alimento.

Na década de 1990, quando as primeiras políticas de complementação de renda começaram a ser implementadas no Brasil, vários segmentos da sociedade, inclusive muitos economistas liberais, aprovaram a iniciativa com exaltação. Além de respeitar a soberania do consumidor (ajuda em espécie), essa política era considerada mais eficiente que as tradicionais porque estava focada nos mais pobres. Um programa universal – como subsídio à produção de alimentos, por exemplo – favorece tanto os ricos como os pobres. Como não é focado, há um desperdício de recursos públicos e uma perda de eficiência.

Programas sociais de caráter universal podem se transformar em mecanismos brutais de concentração de renda. O melhor exemplo desse caso no Brasil são as universidades públicas. Todos sabemos que os alunos dos cursos mais concorridos dessas universidades são oriundos de famílias de classe alta ou média-alta. Ou seja, estudantes de famílias de alto poder aquisitivo têm seus estudos integralmente bancados pelos contribuintes. Por outro lado, estudantes universitários de famílias pobres têm de ralar duro para pagar seus estudos com o dinheiro do próprio bolso. Muito justo isso, concordam?

Durante o governo Lula, os vários programas federais existentes destinados a complementar renda (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás etc.) foram unificados em um só programa, batizado de Bolsa Família. Com o passar do tempo, o Bolsa Família foi mostrando certas fragilidades, que mais para frente se transformaram em verdadeiras aberrações. Nem em seus piores pesadelos Friedman poderia imaginar no que se transformaria sua criatura. Os beneficiários, em vez de ver o programa como um mecanismo de curto prazo que resgataria pessoas da miséria, passaram a entender que aquele dinheirinho mensal se tratava de um acréscimo definitivo em suas respectivas rendas. Em outras palavras, o programa tinha uma porta de entrada, mas não tinha (e continua não tendo) uma porta de saída.

Pior que isso foi uso eleitoral do programa. Durante a campanha para Presidência da República, a candidata Dilma Rousseff deitou e rolou ao falar sobre as grandes conquistas sociais de seu governo e de seu reverenciado grão-mestre. Disse que mais de 50 milhões de brasileiros são beneficiados com o Bolsa Família. Ou seja, aproximadamente um quarto de toda a população brasileira. Disse também que pretende ampliar o programa ainda mais e deixou a entender que os outros candidatos acabariam com o programa. Os beneficiários, logicamente, entraram em polvorosa e votaram massivamente na candidata do governo. Nesse circo de horrores, é evidente que o Bolsa Família foi um fator determinante para a vitória de Dilma.

Não é preciso ser doutor em economia para perceber que há algo de errado em um programa social que atende um quarto da população do país e continua sendo ampliado. Dilma e o PT não têm porque se orgulhar desses números. O ideal seria se o nosso país estivesse crescendo, gerando empregos e cada vez menos pessoas dependessem de políticas assistencialistas. Mas, em vez de crescimento, o PT, com sua “nova matriz econômica”, nos presenteou com estagnação da economia, crescimento da dívida pública e inflação. Além disso, o PT conseguiu criar um imbróglio demagógico de difícil solução. Ou melhor, dificílima solução. Aos pessimistas, porém, uma mensagem. Relaxem, não se desesperem, já temos pão, já temos circo. O melhor é curtir a festa.

(por Rodrigo Constantino)

 

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Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

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