Ou Cunha se afasta da Presidência da Câmara ou afasta de vez as contas na Suíça. Ou uma coisa ou outra!

Publicado em 10/10/2015 08:50 e atualizado em 10/10/2015 09:59
POR REINALDO AZEVEDO, de VEJA.COM

Cunha e o dinheiro da academia de tênis: a fase da desmoralização, por REINALDO AZEVEDO

Eu conto como são as coisas. O juízo fica com vocês. As indústrias de vazamentos, montadas para destruir reputações, seguem uma lógica, um ritual. A sequência costuma ser esta:

1: Primeiro se noticia que alguém diz que Fulano está envolvido;
2: na sequência, aparecem os indícios mais sérios de envolvimento com coisa da pesada;
3: havendo a reação do alvo, negando a acusação, surgem uma segunda, uma terceira e uma quarta evidências ainda mais fortes;
4: espera-se que o acusado diga que não fala mais do assunto; que só seus advogados vão se manifestar;
5: aí vem a porrada para desmoralizar: aparece uma evidência de que dinheiro sujo, não declarado, suspeito (e variantes) pagou despesas exóticas, que denunciam a esquisitice do alvo ou seu divórcio com o povo.

Vejam o que aconteceu com Fernando Collor. Vejam o que está acontecendo com Eduardo Cunha. A experiência indica que essa dinâmica só se conclui com a renúncia do indigitado, quando menos, ao cargo, como aconteceu com Renan Calheiros em 2007. Sim, ele voltou à Presidência do Senado.

Por que estou escrevendo isso? A Folha informa que, segundo dossiê entregue pelo Ministério Público da Suíça à Procuradoria-Geral da República, Cláudia Cruz, mulher de Cunha, “pagou despesas com dois cartões de crédito e até uma famosa academia de tênis na Flórida (EUA)”.

Informa ainda o jornal: “Segundo os investigadores, o dinheiro é fruto de propina da Petrobras, mais especificamente de um contrato de US$ 34,5 milhões da estatal relativo à compra de um campo de exploração em Benin, na África”.

A reportagem vai além: “Segundo dados do banco Julius Baer, os recursos foram movimentados na conta com nome fantasia KOEK, que está em nome da jornalista, entre 2008 e 2015, e tem uma das filhas do deputado como dependente. Essa conta tinha 146,3 mil francos suíços e foi bloqueada pelo Ministério Público da Suíça em 17 de abril de 2015, um mês após a Polícia Federal deflagrar a Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras”.

Retomo
Olhem aqui: saber se o dinheiro deriva ou não de falcatruas na Petrobras, neste exato momento, nem é tão relevante. Ainda que fosse da venda do apartamento de uma tia, o fato é que o deputado havia negado a existência dessas contas. Se da Petrobras, pior.

É preciso saber a hora se dizer: “Não dá mais”.

E, convenham, não dá mais.

É escandalosamente claro, reitero, que o Ministério Público Federal fez de Eduardo Cunha seu alvo principal. É absurdo, sim, que seja ele a personagem política principal do petrolão. Mas isso não elimina as evidências das contas na Suíça.

A gente até pode começar a indagar se o país pode ter um MPFR que seleciona alvos. E a minha resposta é: “não”! Mas não podemos ter um presidente da Câmara com contas secretas na Suíça.

Por Reinaldo Azevedo

Ou Cunha se afasta da Presidência da Câmara ou afasta de vez as contas na Suíça. Ou uma coisa ou outra!

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) concedeu uma entrevista à Folha desta quinta. Diz que não renuncia de jeito nenhum e que se tornou um alvo seletivo — entende-se que da Procuradoria-Geral da República. EU JÁ DISSE AQUI QUE CONCORDO COM ELE NESSE PARTICULAR. É evidente o especial interesse em pegá-lo.

Isso, no entanto, não anula uma questão relevante: ele tem ou não tem contas na Suíça. Na entrevista concedida à Folha, ele se nega a falar do assunto. Caramba! Quantas instâncias há entre o “sim” e o “não” nesse caso, além de nenhuma?

Se alguém disser que tenho conta da Suíça, afirmarei: “É mentira! Achem a zorra da conta!”. E a razão é simples: eu não tenho conta na Suíça. Infelizmente! Gostaria de ter: legal e com a devida comunicação a todos os órgãos competentes. Mas não tenho. Nem o gerente do banco do bairro se interessa pelo meu saldo…

Cunha sabe que essa situação não pode perdurar. Já escrevi que o ódio que as esquerdas sempre tiveram dele — antes de qualquer denúncia — é ódio à democracia. Mas é evidente que deveria se afastar da Presidência da Câmara. Ou afastar de vez o cálice das contas. Ou uma coisa ou outra.

Dito isso, adiante: é realmente uma piada grotesca que seja ele hoje o político mais enrolado com o petrolão, embora esse escândalo, como é evidente, tenha o PT como protagonista.

Ignorar que, no seu caso, as coisas andaram mais depressa é ignorar o óbvio.

Ignorar que, no seu caso, existe uma estrutura armada para vazar informações é ignorar o óbvio.

Ignorar que, no seu caso, o calendário anda a uma velocidade que interessa ao Palácio do Planalto é ignorar o óbvio.

É comum que as pessoas perguntem: “Reinaldo, você acha que ele tem ou que não tem conta?”. Eu acho que tem. E é uma pena. Isso não muda os relevantíssimos serviços que ele prestou à democracia na Presidência da Câmara, mas é claro que cria a ilusão em certos círculos de que Dilma é sua vítima. Nota à margem: relevantíssimos serviços à democracia? Cito dois: 1) colaborou ativamente para tirar da Dilma a chance de indicar mais cinco ministros do Supremo caso ela fique até 2018; 2) enterrou a reforma política fascistoide do PT.

Posso até pedir uma estátua pra ele. Mas considero inaceitável a sua postura. Para que não tenhamos nenhuma dúvida: um presidente da República ou um presidente do Supremo poderiam dar a resposta que ele dá? É claro que não! Então o da Câmara também não pode.

Mas sejamos claros: que a sua situação indica um Ministério Público Federal especialmente mobilizado para pegar o principal adversário do Planalto, também isso é escancarado.

Para começar a encerrar: vocês notaram que a investigação sobre Renan Calheiros parece mesmo estar na geladeira? Depois que ele se tornou uma das âncoras da, como é mesmo?, governabilidade, foi saindo do noticiário, e ninguém mais se dispõe a vazar informações sobre o seu caso.

Olhem aqui, meus caros! Em situações como essa, a gente não tem de escolher esse lado ou aquele, isso ou aquilo. Não se trata disso. A gente tem de escolher a lei, a gente tem de escolher a verdade.

Tenho certeza absoluta de que seria outra a situação de Cunha se ele fosse um fiel escudeiro do Planalto. Isso não muda o seu passado. Só é relevante para o seu presente e para o seu futuro.

O mundo não é plano. Temos de conviver com o fato de que Cunha é um excelente presidente da Câmara; de que prestou um serviço inestimável à democracia; de que nos protegeu de golpes do petismo e de que está sendo alvo de uma investigação direcionada. Mas também é verdade que não consegue se defender de uma acusação grave, que o inabilita para continuar na Presidência da Câmara.

Por Reinaldo Azevedo
 

Carlos Alberto Sardenberg: Nem acordinho, nem acordão

Publicado no Globo

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

No começo do primeiro governo Lula, quando começavam a decolar os acordos de comércio entre grupos de países, negociados por fora da Organização Mundial de Comércio, o então chanceler brasileiro Celso Amorim saiu-se com esta: o Brasil não está interessado nesses acordinhos.

Na diplomacia lulista, só o acordão interessava  – um tratado global negociado há décadas no âmbito da OMC. Por isso, aliás, havia paralelamente o empenho brasileiro em conseguir o posto de diretor-geral da Organização, uma vitória alcançada em 2013, com o diplomata Roberto Azevedo.

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Fernando Gabeira: As fontes da ira

Publicado no Estadão

FERNANDO GABEIRA

Por toda parte, queixas e lamúrias: arrasaram o Brasil, estamos quebrados, tudo fechando, alugando. É uma fase pela qual temos de passar. Quanta energia, troca de insultos, amizades desfeitas. Às vezes penso que a melhor forma de abordar o novo momento é apenas deixar que os fatos se imponham.

Muitas vezes afirmei que o dinheiro roubado da Petrobras foi para os cofres do PT e usado na campanha de Dilma Rousseff. Caríssima campanha, R$ 50 mil por mês só para o blogueiro torná-la um pouco engraçada.

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O impeachment de Dilma é urgente, por FELIPE MOURA BRASIL

 

Brazil's President Dilma Rousseff blows a kiss to the public while giving a speech in front of Planalto Palace in Brasilia January 1, 2011. Rousseff is the first woman to become Brazil's president, taking the reins of an emerging giant with a booming economy, vast new oil reserves and growing international diplomatic clout. REUTERS/Paulo Whitaker (BRAZIL - Tags: POLITICS) (Newscom TagID: rtrlfour342868)     [Photo via Newscom]

O parecer do TCU que recomendou ao Congresso a reprovação das contas de 2014 do governo de Dilma Rousseff chegou oficialmente ao Senado.

Agora o documento é repassado à Comissão Mista de Orçamento, que tem 77 dias corridos para analisar o processo. Após a votação na CMO, ele segue para o plenário do Congresso.

Eduardo Cunha disse à Folha que “não vai ser um embate rápido, pois o trâmite é lento. Isso vai demorar”.

Por essa razão, a oposição decidiu usar o parecer do TCU a seu favor, sem esperar “a palavra final” do Congresso sobre as contas.

Parlamentares que lideram o movimento de impeachment, diz Mônica Bergamo, já dão como certo que “Cunha arquivará o pedido de afastamento da [suposta] presidente formulado por Hélio Bicudo na próxima terça-feira. Assim eles poderiam, já na quinta-feira, recorrer ao plenário, tentando votar a abertura de processo contra a petista”.

Márcio França, do PSB, explicou a pressa da oposição:

“O prazo de validade disso é novembro. Depois já começa o Natal, Carnaval, Olimpíada e eleição municipal. E após o pleito de 2016 começa a discussão da sucessão de Dilma. Não tem como arrastar esse clima de impeachment por quatro anos” –  até porque Dilma continua pedalando, à revelia da lei.

Segundo o Valor, ela repetiu em 2015 uma prática condenada pelo TCU nas contas de 2014:

“Dilma editou seis decretos autorizando créditos suplementares ao Orçamento deste ano antes do Congresso ter aprovado a redução da meta de superávit primário para 2015, o que fere o artigo 4º da lei orçamentária e o artigo 167, inciso V, da Constituição. Com os decretos, Dilma ampliou os gastos federais em 2,5 bilhões de reais”.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), no entanto, continua apostando no TSE, segundo o jornal.

Ele está tentando convencer o empresariado de que a cassação de Dilma e Michel Temer, com a consequente realização de novas eleições, “seria a única saída para dar a um novo presidente a legitimidade necessária para tirar o país da crise”.

Ministros do TSE ouvidos pelo Valor disseram que “a abertura da ação de impugnação de mandato eletivo” contra Dilma e Temer “transformou em possível o cenário, antes considerado improvável, de cassação de mandato da chapa presidencial”, como quer Aécio.

O problema é que, “em previsão otimista, o julgamento no TSE se dará dentro de seis a oito meses” – e o Brasil não pode esperar as Olimpíadas para dar cartão vermelho à mulher sapiens.

Em todo caso, o processo serve como instrumento de pressão para o PMDB: “advogados simpáticos a Michel Temer já sondaram magistrados em Brasília sobre a possibilidade de o peemedebista ser excluído da ação no TSE” e “a conclusão é a de que a manobra é juridicamente inviável”.

É urgente que o partido siga o meu conselho de seis meses atrás:

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Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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Fonte:
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