Sem Lula, Dilma usa mosquito para unir o país.. (e ganha panelaço)

Publicado em 04/02/2016 04:01
por Josias de Souza, no UOL

Sem Lula, Dilma usa mosquito para unir o país (por Josias de Souza, do UOL)

Fraca e impopular, Dilma Rousseff fez o que costumam fazer os presidentes americanos quando precisam unir a nação em seu apoio: declarou guerra. Nada mais conveniente para entusiasmar os compatriotas e resolver as divisões internas do país do que um inimigo comum. “Convoco cada um de vocês para lutarmos juntos contra a propagação do mosquito transmissor do vírus zika”, disse Dilma, emcadeia nacional de radio e tevê. “Esse vírus deixou de ser um pesadelo distante para se transformar em ameaça real aos lares de todos os brasileiros.”

O país está dividido entre os que acham que Dilma e sua inepcia devem ser banidos do Planalto e os que avaliam que seu castigo não deve chegar a tanto. Essa divisão fulmina a credibilidade da presidente e paralisa o seu governo. Sem poder recorrer a Lula, que se dedica a debater diariamente com sua assessoria os termos da penúltima nota oficial de desmentido sobre o triplex do Guarujá e o sítio de Atibaia, Dilma acionou o mosquito.

O governo poderia ter encomendado uma campanha de utilidade pública para prevenir o brasileiro sobre os novos perigos do Aedes aegypti. Mas Dilma preferiu agir como Dilma. Colocando o marketing à frente dos resultados, cuidou de realçar o caráter traiçoeiro do inimigo que seu governo tardou a enxergar. “Ele só precisa depositar seus ovos em água parada, limpa ou suja, para nascer, se proliferar e picar pessoas de modo a contaminá-las. […] A maneira mais eficaz é não deixando ele nascer, destruindo os seus criadouros, que em mais de dois terços estão dentro das nossas residências”.

Dilma busca novos aliados: “Conversei com o presidente Obama e acertamos colaborar nesse desafio.” Anunciou o envio de tropas à frente de batalha. No próximo dia 13, vão à caça das larvas inimigas 220 mil homens e mulheres das Forças Armadas. “A guerra contra o mosquito transmissor do zika é complexa, porque deve ser travada em todos os lugares e por isso exige engajamento de todos”, a presidente alertou.

Dilma prometera a si mesma que não faria mais discursos na tevê enquanto não recuperasse a popularidade. Mas os sábios do seu governo avaliaram que a declaração de guerra ao mosquito livraria a presidente das vaias e dos panelaços. Não funcionou. Ouviram-se protestos em várias localidades. Dilma talvez devesse considerar a hipótese de eleger novos inimigos. Além do mosquitos, poderia bombardear os parasitas que infestam o seu governo.

 

O GLOBO visita Los Fubangos, onde o ex-presidente não é mais visto

Antes de chegar à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva tinha como refúgio uma propriedade muito mais modesta do que o sítio Santa Bárbara de Atibaia. Era no Los Fubangos, às margens da represa Billings, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que ele reunia os amigos e familiares para pescar, descansar e cozinhar coelho.

Com 7,3 mil metros quadrados, vinte vezes menor do que o sítio de Atibaia, o Los Fubangos tem como marca a simplicidade, simbolizada pelo nome que remeteria a algo fuleiro, sem muito valor, segundo pessoas que frequentaram o local.

 
 

O GLOBO visitou o antigo sítio e encontrou o portão fechado. Na vizinhança, formada por casas simples, ninguém tem visto o ex-presidente.

— Trabalho aqui há quatro anos e nunca vi o Lula — conta um funcionário do clube do Sindicato dos Metalúrgicos, ali perto.

A comparação entre os refúgios da era pré e pós-Planalto mostra que a família Silva hoje conta com mais espaço e privacidade. Enquanto em Atibaia a propriedade é protegida por um grande portão monitorado por circuito interno, em São Bernardo o portão de arame é baixo e não há sequer campainha.

O sítio de Atibaia recebeu R$ 500 mil só de material para uma reforma, segundo o depoimento de uma testemunha do inquérito que investiga a relação de Lula com a propriedade. Se o Santa Bárbara é cercado por uma grande reserva de mata fechada, o cenário no ABC é menos bucólico: Los Fubangos é colado a um simples espaço alugado para festas.

O sítio de São Bernardo foi comprado em 1992 e está em nome do casal Lula e Marisa. Em 2006, quando disputou a reeleição, o petista listou o Los Fubangos na sua declaração de bens, com valor de R$ 5.466,90. Em frente ao sítio do ex-presidente, uma chácara com a metragem parecida está sendo vendida por R$ 350 mil. Já as duas propriedades que compõe o sítio Santa Bárbara, em Atibaia, foram compradas em 2010 por dois sócios do filho de Lula, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, por R$ 1,5 milhão. O Instituto Lula não respondeu se o ex-presidente não frequenta mais o Los Fubangos.

 

Jefferson rebatiza sítio de Lula: ‘Los Roubangos’ (blog de Josias de Souza, UOL)

 

Quando desempenhou o papel de delator não-premiado do mensalão, Roberto Jefferson adotou toda uma linha de ziguezagues, foi do provável ao impossível, escondeu-se atrás de reticências para livrar a cara de Lula. Hoje, o ex-aliado já nã tem a mesma consideração.

Num par de notas veiculadas no Twitter, Jefferson sugeriu um novo nome para o sítio modesto em que Lula costumava espairecer no tempo em que era sindicalista — bem antes de passar a frequentar a propriedade chique de Atibaia, que pertence a “amigos” e foi reformada pela Odebrecht.

“O sítio verdadeiro de Lula e dona Marisa chama-se ‘Los Fubangos’, mas ele não vai lá há algum tempo. Afinal, há tempos ele não é mais ‘fubango’”, anotou Jefferson. “O sítio ‘Los Fubangos’, da ex-família presidencial, deveria mudar de nome e se chamar ‘Los Roubangos’.”

Desde que a corrupção passou a ser punida no Brasil, cresce no meio político um fenômeno inusitado. Tem muito mais gente falando contra a roubalheira. É como se cuspissem no prato em que já não conseguem comer.

Em 2001, Lula cozinhava para familiares e amigos no sítio Los Fubangos, sua modesta propriedade

 

Congresso logo será comandado por dois réus, por Josias de Souza (UOL)

O STF se equipa para analisar denúncias da Procuradoria contra Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Planeja fazê-lo entre o fim deste mês de fevereiro e os primeiros dias de março. Guiando-se pela lógica, os ministros da Suprema Corte acolherão as denúncias, convertendo-as em ações penais. Quando isso acontecer, as duas Casas do Legislativo brasileiro passarão a ser presididas por excentíssimos réus. E o vexame se converterá em escárnio.

Renan e Cunha não pensam em se afastar voluntariamente dos cargos. Seus poucos rivais não reúnem forças para arrancá-los da poltrona. “Já dei todas as explicações”, minimizou Renan, ao comentar a denúncia de que usou verbas de uma empreiteira para pagar a pensão de uma filha que teve fora do casamento, em 2007. “O fato de aceitar a denúncia não significa que eu sou condenado”, deu de ombros Cunha, ao se referir às evidências de que recebeu petropropinas. “Vou continuar em qualquer circunstância.”

Os mandachuvas do Legislativo são protótipos do patrimonialismo brasileiro. Ambos trazem implantada na alma a convicção de que não é o Congresso que tem um par de presidentes; são os presidentes do Senado e da Câmara que têm o Congresso. Os dois não se sentem como pessoas públicas. O país é que atrapalha suas vidas privadas.

Renan e Cunha são como o Aedes aegypt. Desenvolveram-se nas águas paradas do Congresso. Sugaram o sangue do Tesouro Nacional. E transmitem um vírus que causa microcefalia coletiva em seus pares, desobrigando-os de refletir. Os 38 congressistas investigados na Lava Jato —14 senadores e 24 deputados— dão aos outros 556 parlamentares uma péssima fama. Mas a democracia brasileira ainda não desenvolveu uma vacina capaz de imunizar o país contra zikas como Renan e Cunha.

 

Depois que Dilma foi embora, PT e PSDB quebraram o pau na tribuna do Senado

Durou pouco a atmosfera de concórdia que Dilma Rousseff tentou criar ao comparecer à sessão inaugural do ano legislativo de 2016. Em seu discurso, a presidente propôs uma “parceria com o Congresso” para superar a crise. Depois que ela foi embora, petistas e tucanos quebraram o pau no plenário do Senado. Bem cedo perceberam que já é muito tarde para o diálogo.

Os petistas revezaram-se na tribuna. Deram de ombros para o pronunciamento de Dilma. Saíram em defesa de Lula e de seus familiares. E atacaram ferozmente o tucanato. Líder do PSDB, o senador Cássio Cunha Lima reagiu. No auge do arranca-rabo verbal, o petista Lindbergh Farias disse que Lula sofre “uma campanha de ódio dirigida por setores da mídia brasileira.” Comparou-o a FHC.

“Ele foi o presidente que fez a organização das instituições para que houvesse investigação no país, porque tucano não gosta de investigação. Na época do Fernando Henrique Cardoso, não havia investigação. O procurador-geral Geraldo Brindeiro era conhecido como engavetador-geral da República. Ele foi nomeado três vezes. Na quarta vez, houve uma eleição. Sabe em que lugar o Geraldo Brindeiro ficou? Em sétimo lugar, fora da lista tríplice. Sabe o que fez o presidente Fernando Henrique? Nomeou o sétimo colocado.”

Lindbergh prosseguiu: “Sabem quantas operações da Polícia Federal houve nos oito anos de governo Fernando Henrique? Foram 48, seis por ano. Isso é um escândalo. Hoje, são mais de 250 por ano. Olhem a comparação!”

Cunha Lima chamou de “pueril” a tese do petista. Afirmou que, sob FHC, “não se praticavam tantos crimes como se pratica hoje.” E Lindbergh: “Ah! Vossa Excelência acredita nisso? Ah!” O líder tucano elevou o tom. “Não havia uma organização criminosa comandando o Brasil, senador.”

Abespinhada, com a equiparação do PT a uma quadrilha, a senadora petista Fátima Bezerra recordou que a Justiça Eleitoral passou o mandato de Cunha Lima na lâmina quando ele era governador da Paraíba. “Vossa Excelência foi cassado, como outros. Então, […] a organização criminosa, tempos de corrupção, isso vem de longe.”

Cunha Lima reagiu: “Não fui cassado por corrupção, não fui cassado por malversação de dinheiro público… Curiosamente, veja só, senadora, a Justiça Eleitoral me puniu acreditando que um programa social que apliquei no meu governo, muito semelhante ao Bolsa Família, teria interferido no resultado da eleição. Foi essa a razão da minha cassação: um programa social que a Justiça Eleitoral entendeu que havia interferido no resultado da eleição.”

Nesse ponto, o tucano evocou o processo que corre no TSE contra Dilma e o vice Michel Temer por suspeita de abuso do poder econômico na campanha presidencial de 2014. “O que dizer de tudo o que foi feito pela candidata Dilma? Não sei até quando ela será presidente, porque além do processo de impeachment há as ações na Justiça Eleitoral. E é um rosário de crimes que foram praticados e que devem ser analisados. Quem for inocente vai ter a oportunidade de provar a sua inocência. Não se desesperem tanto!”

“Não confunda desespero com indignação”, Lindbergh voltou à carga. Ele tachou de “ridícula” a investigação sobre o triplex no Guarujá, que o Minitério Público de São Paulo suspeita ser de Lula. Manuseando recortes de jornal, insinuou que há investigações melhores por realizar. Lindbergh lastimou: “Nunca foram atrás do apartamento do Fernando Henrique Cardoso”, na rua Rio de Janeiro, no elegante bairro paulistano de Higienópolis.

O imóvel pertencia ao banqueiro Edmundo Safdié, ex-dono do Banco Cidade, disse o senador. Teria sido adquirido pelo ex-presidente tucano por R$ 1,1 milhão. “Não estou falando desse ‘triplexzinho’ no Guarujá”, ironizou Lindbergh. “O apartamento tem quatro suítes e cinco vagas na garagem.”

Lindbergh mirou também em Aécio Neves, presidnete do PSDB: “Eu quero que passem a limpo este país, senador Cássio, vamos atrás dos apartamentos de todo mundo. O seu colega, o senador Aécio, tem um apartamento no Rio de Janeiro. Quanto custa? Como foi comprado? Existe uma perseguição sistemática contra o presidente Lula. E isso não vamos admitir. Tocar no presidente Lula é chamar a gente para a luta. Nós não vamos ter covardia nesse momento.”

Cunha Lima lamentou: “Aécio Neves possui no Rio de Janeiro um apartamento comprado há 50 anos pela mãe do senador. Esse apartamento pertence à família do senador Aécio há 50 anos, adquirido por sua genitora. O desespero é tamanho que tentam mostrar que no quarto escuro todos ficam iguais. E nós não somos iguais. Temos diferenças profundas.”

O triplex do Guarujá é “caso de polícia, não de política”, alfinetou o tucano. “Lula pode ser investigado, como qualquer cidadão.” E Lindbergh: “Nós é que queremos que a investigação seja para todos, inclusive para o seu colega Aécio Neves, que foi citado pela segunda vez por delatores [na Lava Jato]. O Ministério Público vai ter de abrir [inquérito]. Por que isso? Tucano não se investiga? Tem de abrir. Nestor Cerveró falou que foram R$ 100 milhões de propina no governo Fernando Henrique. Tem de ser investigado.”

“O senador Aécio sequer está no plenário para se defender”, queixou-se Cunha Lima. “É impressionante a deslealdade de Vossa Excelência.” Lindbergh não se deu por achado: “Temos de acabar com essa história, no Brasil, de que tucano não é investigado. Pau que bate em Chico bate em Francisco. Isso tem de acontecer.”

Antes de Lindbergh, escalaram a tribuna do Senado para defender Lula outros dois petistas: Jorge Viana, vice-presidente do Senado, e Humberto Costa, líder da bancada de senadores do partido. Viana disse que ocorre no país “uma verdadeira caçada ao presidente Lula e seus familiares.” Humberto falou em “odioso cerco.”

“Este é um país que tem exemplos”, afirmou Viana. “Quem foram os grandes presidentes do Brasil? Getúlio Vargas se matou como um bandido, como um corrupto, como um homem do mal. E a história depois o julgou, e o julga até hoje, como um dos grandes presidentes da Nação. Como morreu Juscelino Kubitschek? Morreu como um ladrão, como um corrupto, como uma pessoa desmoralizada. E quem o desmoralizou, quem o carimbou como corrupto? Setores da grande imprensa brasileira, num conluio com algumas autoridades da época.”

Viana insinuou que Lula virou alvo para desviar a atenção de um escândalo que tisna o governo tucano de Geraldo Alckmin, em São Paulo: a máfia da merenda escolar. “Há denúncia contra o presidente da Assembleia Legislativa e contra secretários do governo Alckmin, do PSDB. Milhões de reais desviados, dinheiro tirado da merenda das crianças. Isso não é manchete. O assunto é a canoa que dona Marisa comprou para pescar” no sítio de “amigos” que a família Silva utiliza em Atibaia.

O tucano Cunha Lima disse que os petistas esquecem que a oposição não tem nada a ver com as investigações que varejam Lula e o petismo: “Nossa única participação é de apoio ao Ministério Público, à Polícia Federal e às instituições.” Num ano de eleições municipais, que funcionarão como uma espécie de prévia de 2018, é improvável que a temperatura do caldeirão desaqueça. A chance de vingar a “parceria” sugerida por Dilma é nula.

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UOL + O GLOBO

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1 comentário

  • Welbi Maia Brito São Paulo - SP

    O escândalo da merenda na verdade pertence ao Governo Dilma. A Polícia Civil apurou que o Ministério de Desenvolvimento Agrário recebeu denúncias contra a COAF em dezembro de 2014. Só agora que o caso veio a público o governo federal decidiu apurar o caso. O governador Alckmin já determinou a apuração do caso para que os culpados sejam punidos e os cofres públicos ressarcidos.

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