Lula como chefe da organização criminosa, da “propinocracia”. É essa a denúncia que o Brasil espera

Publicado em 27/09/2016 07:50
por REINALDO AZEVEDO, em VEJA.COM

À medida que a Operação Lava Jato vai revelando os meandros da organização criminosa que tomou conta do país, o que vai se revelando de maneira clara, inequívoca, didática, com poucas chances lógicas para o contraditório, é que o PT, cujo chefe inequívoco sempre foi Luiz Inácio Lula da Silva, se estruturou para:

a: liquidar com os outros partidos;
b: dividir o Brasil com sócios do capital privado;
c: eternizar-se no poder — nesse caso, o complemento era a reforma política.

Que coisa! Dia desses estranhei aqui que esquerdistas inteligentes — sim, os há — ainda tentem negar o caráter no PT. No dia 19 de setembro, um deles, Celso Rocha de Barros, escrevia um artigo na Folha em que se podia ler o seguinte, prestem atenção (em vermelho):
Tudo indica que Lula recebeu favores das empreiteiras, e as autoridades estão cumprindo seu dever quando investigam a natureza desses favores. Mas a história mais ampla sobre política brasileira que foi contada na quarta-feira é muito ruim. Ela parece ser a base para a acusação de que Lula era o “comandante supremo” da “propinocracia”. Isso não vale.
Na visão do procurador Deltan Dallagnol, o PT montou um sistema de distribuição de cargos e propinas que garantiu uma “governabilidade corrompida”, visando a “perpetuação criminosa” do PT no poder. No centro do esquema estaria Lula: sem ele, nenhum dos envolvidos teria sido nomeado para seus cargos. A roubalheira teve como fonte propinas cobradas do cartel das empreiteiras.
Se Lula estivesse no centro do esquema, como argumentou o procurador, poderíamos supor que sua presença nessa rede fosse fundamental para manutenção. Talvez isso seja eventualmente demonstrado, mas os dados disponíveis não o sugerem.
Tanto o cartel das empreiteiras quanto os aliados que venderam seu apoio ao PT já estavam no ramo antes de 2003. O cartel financiou a campanha de todos os partidos esses anos todos. Só o PT lhes ofereceu favores em troca? Os fisiológicos apoiaram FHC por oito anos, deslocaram-se em massa para o PT até recentemente e agora passaram todos para o lado de Temer. Foi só durante a era petista que essa necessidade de proximidade com a máquina pública foi motivada por interesses escusos?”
(…)

 

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Retomo
Esquerdista inteligente que é, Celso Rocha de Barros não exercita a negação. Oh, ele admite que, tudo indica, houve, sim, privilégios. Mas, como se nota, recusa o essencial: a organização criminosa e a particularidade do projeto petista. E por que o faz? Assim, ele pode manter a sua crença. Os crimes dos petistas teriam sido todos contingentes, a exemplo do que já fizeram outros partidos.

Não, senhor! Não há nada de errado —  E EU JÁ DISSE ISSO AQUI — com aquele organograma exposto por Deltan Dallagnol naquela infeliz entrevista coletiva. Ele só era um despropósito naquela hora, apresentado por aqueles motivos. Se e quando Lula for apontado como o chefe da organização criminosa, que seja, então, exposto. A minha restrição, como ficou claro aos alfabetizados, foi quanto ao método. Não se apresenta um troço daquele para depois acusar alguém de ter recebido R$ 3.738.738 em benefícios indevidos, ora essa!

Ou por outra: não se põe o carro adiante dos bois.

Ora, o que revela a 35ª fase da Operação Lava Jato, batizada de “Omertà”, numa referência à lei do silêncio que vigora na máfia? O projeto de privatização, sim, do estado. O grupo Odebrecht pode ter sido o mais íntimo e próximo de Lula e do PT. Mas, como se sabe, não foi o único.

Volto-me para Celso Rocha de Barros: o que se tem aí caracteriza ou não uma “propinocracia”?

É um espanto do cinismo que o PT tenha se tornado notório por ser um partido contrário às privatizações, não é mesmo? É do balacobaco que seu seus bate-paus, seus asseclas e seus comandados saiam às ruas para denunciar uma conspiração privatista, que seria representada pelo governo Temer.

Ora, ora… Por que é que o PT quer um estado gigante? Porque, no comando dessa poderosa máquina, o partido poderia, então, exercer o poder de fato, punindo ou beneficiando parceiros segundo as necessidades do partido e de sua elite dirigente.

“Ah, isso é ilação sua, Reinaldo, e de outros que pensam como você!” Errado! A esta altura, os fatos estão dados de maneira absolutamente inequívoca.

É claro que outros partidos e outras lideranças se beneficiaram da estrutura criminosa. É evidente que as empreiteiras negociaram com outros partidos. Mas é preciso ter claro qual legenda e qual grupo se estruturaram para que a nova cara do estado brasileiro fosse esse condomínio em que o núcleo dirigente de um partido e uma elite empresarial eleita governariam, de fato, o país, num projeto sem tempo para acabar.

O tal “povo”, nesse tempo, iria recebendo alguns caraminguás e sendo chamado a referendar o modelo nas urnas a cada quatro anos.

Lula como chefe da organização criminosa! É essa a denúncia que o país espera.

Lula sobe no palanque e é o caso de lhe dizer: “Olha o teu rabo!”

 

Ai, ai, ai…

Daqui a pouco Lula verá aceita contra ele uma terceira denúncia: “dumping e concorrência desleal”. Desta vez, os humoristas é que vão denunciá-lo. Na minha coluna de sexta, na Folha, tratei justamente de seu fim melancólico. Que coisa! Que obsessão! Obsessão que o faz ter pouco respeito até por sua biografia.

Neste domingo, o chefão petista decidiu comparecer a um evento na Zona Leste de São Paulo, em apoio à candidatura de Fernando Haddad, do PT, à Prefeitura da cidade. E mandou ver na concorrência desleal com os especialistas em stand up.  O ex-presidente incitou aqueles que gritam “Fora Temer” a votar no candidato petista. Atenção! Aquele que presidiu a República duas vezes e que já foi, com efeito, um dos governantes do mundo pobre com maior projeção internacional atraiu não mais do que umas… 400 pessoas. Um vexame.

Notem: obviamente, os que compareceram ao evento já votam em Haddad — daí a presença inexpressiva — e certamente são sensíveis ao grito golpista “fora Temer”. Mas o ponto nem é esse. O pensador fez a seguinte afirmação, informa a Folha: “O povo de São Paulo não está diferente do resto do Brasil inteiro, gritando ‘fora, Temer’. O que eu acho estranho é que […] o povo que grita ‘fora, Temer’ está nas pesquisas votando em três candidatos que apoiam o Temer. Ora, se o povo não quer um, como está aceitando três?”. Ele fazia referência aos três nomes que lideram as pesquisas e que pertencem a partidos da base de apoio ao governo federal: João Doria (PSDB), Celso Russomanno (PRB) e Marta Suplicy (PMDB).

É um raciocínio mentiroso — afinal, uma extrema minoria grita “fora Temer” — e também asnal, especialmente vindo de quem vem. O homem que falava é nada menos do que a figura mais rejeitada pelos paulistanos quando o tema é eleição: dizem não votar num candidato apoiado por Lula, segundo o Datafolha, nada menos do que 73% dos entrevistados. Vale dizer: aquele que foi chamado para reforçar a candidatura de Haddad tem um potencial enorme para lhe tirar votos, uma vez que é mais rejeitado do que o próprio prefeito.

Com a grosseria habitual — e pensar que isto, antigamente, funcionava… —, afirmou Lula sobre o tucano João Doria: “Por causa da publicidade contra o PT, vão colocar uma raposa no galinheiro. Tucano, que é menor do que raposa, já come filhote de passarinho. Imagine uma raposa. Então, dia 2, vamos eleger Haddad e Chalita para prefeito e vice em São Paulo”.

Imaginem vocês: o político mais rejeitado pelos paulistanos, réu duas vezes (por enquanto) — por obstrução da Justiça, corrupção passiva e lavagem de dinheiro —, comandante maior do partido que, está claro, comportou-se como organização criminosa, acha que pode sair por aí acusando os outros de ser… raposa.

Eis um caso em que se deve apelar ao velho chavão: “Olha o teu rabo!”.

Lava Jato chega ao núcleo duro do petismo. Soa o alarme no PT: “O alvo é Lula”. Luciano Coutinho na mira

Desde o começo da Operação Lava Jato, fazia-se uma pergunta surda: “Quando chegará a vez de Antonio Palocci?”. Chegou! Se José Dirceu, antigamente, guardava os arcanos das negociações políticas do PT e depois acabou sendo posto de lado e hoje é um pote até aqui de mágoa com Lula e com o PT, Palocci sempre foi o mago dos entendimentos com o alto empresariado. O mensalão chegou a tangenciá-lo, na figura de um irmão, mas a coisa não prosperou.

Palocci sempre foi o mago do entendimento com o “capital”. E nunca escondeu que fez disso também uma profissão. Tornou-se o, como vou chamar?, consultor mais bem-sucedido do Brasil, mas raramente se meteu com miudezas do cotidiano. Nunca mais voltou a ter o poder que concentrou quando ministro da Fazenda do primeiro governo Lula — nem no breve tempo que chefiou a Casa Civil no primeiro mandato de Dilma. Mas uma coisa é certa: a falta de poder nunca significou falta de influência. Inclusive junto a Lula.

 

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Na raiz da prisão temporária — que é de cinco dias, renováveis por mais cinco —, consta, estão as suas relações com a Odebrecht. Vamos ver. Executivos da empreiteira negociam um acordo de delação premiada que, até onde se sabe, ainda está longe de ser concluído. A questão é saber se as informações que orientam a operação já derivam dessas informações ou a ela se chegou independentemente da colaboração.

Os três tesoureiros do PT já foram presos. Os dois ministros da Fazenda de Lula já tiveram prisão provisória decretada: Guido Mantega e agora Palocci. Quem aguarda na fila a hora de ser atraído para o olho do furacão é Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES. O banco foi peça central do, digamos assim, modelo econômico do PT.

Segundo informações que já chegaram à imprensa, executivos da Odebrecht teriam revelado aos procuradores que Guido Mantega e Luciano Coutinho usaram o BNDES para pressionar empresários a fazer doações à campanha de Dilma. Ricardo Pessoa, da UTC, fez afirmação semelhante em depoimento a Sergio Moro.

Note-se: nesse caso, não se trata de dizer que o diretor X ou Y da Petrobras, afinal, devia satisfações a Lula porque este, no fim das contas, era o responsável último pelas nomeações. Ninguém tem dúvida de que Mantega, Palocci e Coutinho, estes sim, obedeciam às ordens de um chefe.

Agora a Lava Jato chega ao núcleo duro do sistema.

Prisão justa?
Vamos ver os motivos alegados. Palocci está na mira faz tempo. Segundo a Lei 7.960, ao expediente se justifica nestes três casos:

Art. 1° Caberá prisão temporária:
I – quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II – quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
III – quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso;
b) sequestro ou cárcere privado;
c) roubo;
d) extorsão;
e) extorsão mediante sequestro;
f) estupro;
g) atentado violento ao pudor;
h) rapto violento;
i) epidemia com resultado de morte;
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte;
l) quadrilha ou bando;
m) genocídio, em qualquer de sua formas típicas;
n) tráfico de drogas;
o) crimes contra o sistema financeiro;
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.

Descartem-se, claro, os Incisos II e III. Assim, Palocci certamente foi preso porque o Ministério Público e o juiz Sergio Moro consideraram que a prisão era imprescindível para a investigação. Quando houver mais dados, ficará claro se era ou não.

De todo modo, ao prender aquele que é, até agora, o petista mais graduado quando se somam a importância que teve no governo, a influência que tem no partido e a proximidade com Lula, a Lava Jato também manda um recado: não se intimidou com os protestos que se sucederam à prisão de Guido Mantega.

O alarme tocou no PT: os capas-pretas do partido acham que a operação está fechando o cerco a Lula.

Prisão de Palocci expõe divisão entre PF e MPF. Ou: Ele teria dado vida mais longa ao detestável “regime petista”

 

Embora se fale em força-tarefa como uma unidade para designar delegados da PF, Ministério Público e agentes da Receita, sabe-se, desde sempre, que há uma espécie de disputa surda entre os procuradores e os policias federais pelo protagonismo. Insisto nisto faz tempo: o único risco que corre a Lava-Jato é o da guerra de vaidades. Para que pudesse ser ameaçada pelo governo, seria preciso que o Palácio do Planalto conseguisse manipular o MP, a PF e o juiz Sérgio Moro. Não parece que isso seja possível. O PT, diga-se, sempre lamentou não ter conseguido esse controle.

Executivos da Odebrecht negociam com o Ministério Público um acordo de delação premiada que, supõe-se, será de grandes proporções. A empresa também busca um acordo de leniência considerado vital para o seu futuro. Tudo indica que a operação de agora foi, vamos dizer, uma demanda que veio da Polícia Federal. No pedido de prisão de Antônio Palocci, escreveu o delegado Filipe Pace:
“É fato público e notório de que o grupo Odebrecht está em negociação para celebração de acordo de colaboração premiada com a PGR, circunstância que, por si só, deixa em estado de alerta todos os criminosos que se envolveram com o grupo empresarial e poderá ensejar prejuízo a futuras investigações e instruções”.

 

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Ora, se a gente tomar o que aí vai escrito por aquilo que… aí vai escrito, sempre que algum investigado estiver prestes a celebrar um acordo, será preciso prender temporariamente todas as pessoas que com este futuro delator estejam implicadas. Queiram ou não, trata-se de um raciocínio estranho. Como observa corretamente a Folha, embora a Odebrecht seja, na versão apresentada, a parceira de lambança de Palocci, não houve mandado de busca e apreensão na empresa, o que é, vamos convir, um pouco estranho. Parece que é uma tentativa de manter as negociações para as delações.

A defesa de Palocci questiona a necessidade da prisão temporária, o que, levado na ponta do lápis o que diz a Lei 7.960, faz sentido. Afinal, se o recolhimento à prisão do ex-ministro se mostra fundamental para o inquérito agora, por que, então, não se fez isso antes? Desde quando Palocci está na mira, já haveria tempo mais do que suficiente para destruir provas. Não é crível que ele as estivesse guardando debaixo da cama. Vamos ver o que vem pela frente. Essa prisão pode ser renovada por mais cinco dias. No curso de sua validade, a preventiva pode ser requerida. Para tanto, será preciso demonstrar que Palocci é uma ameaça à ordem pública ou econômica — isto é, comete novos crimes; pode ameaçar a instrução criminal, com capacidade para influenciar testemunhas ou mexer em provas; ou representa uma ameaça à execução da Lei Penal — traduzindo: corre o risco de fugir.

O PT ficou em alerta máximo porque Palocci é um dos petistas mais próximos de Lula, à diferença, por exemplo, de José Dirceu, que o PT resolveu jogar às cobras. É bem verdade que a militância não se inflamou tanto com a prisão do ex-ministro — à diferença da reação à detenção de Guido Mantega. Há nisso um pouco de moralismo à moda petista: como Palocci se tornou, inequivocamente, um homem rico, acham que ele não atuou apenas em favor do partido.  A moral degenerada de fundo é a seguinte: quem faz lambança em nome do PT é herói; se o sujeito aproveita para cuidar também de seu futuro, aí já se torna menos puro.

Vamos ver o que vem pela frente. O núcleo da Lava-Jato que detonou o caso Palocci não é exatamente o mesmo que negocia as delações da Odebrecht, das quais, diga-se, o ex-ministro já era personagem, segundo o que vazou para a imprensa. Junto com Guido Mantega.

Palocci é uma figura curiosa no PT. É razoável supor que o país não teria mergulhado no desastre econômico se ele tivesse conseguido se manter como o home forte do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Sem que o PT deixasse de lado nenhum de seus vícios morais — muito pelo contrário —, é provável que ele tivesse forçado a mão para impedir que Dilma impusesse o seu “modelo econômico”, de que Guido Mantega foi fiel servidor.

Isso teria sido bom ou mau? Depende, leitor, daquilo que você quer saber. Que o modelo autoritário petista não causava repúdio a Palocci, isso é evidente. Tanto que ele seguiu um fiel servidor do partido e de Lula mesmo fora do poder. Aí a gente pode se perguntar, já respondendo: é melhor um autoritário eficiente ou trapalhão? Eu tendo a preferir o trapalhão. Termina como Dilma e Mantega.

Palocci teria dado vida mais longa ao regime.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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