Carne bovina: Brasil mantém competitividade com custos e preços baixos

Publicado em 21/08/2014 10:57

A pecuária bovina de corte brasileira confirma sua competitividade em mais uma rodada de comparações internacionais. Entre 30 países participantes do agri benchmark (veja detalhes abaixo), o Brasil está entre os que têm menor custo de produção, mas registra também um dos menores valores pagos pela carne produzida e, por consequência, a rentabilidade do pecuarista brasileiro ocupa posição intermediária entre as várias nações analisadas.

Em situação oposta está a China, com custos elevados e preços recebidos pela carne ainda maiores e, por isso, figura entre os países com maior rentabilidade. 

Os dados comparados no agri benchmark são fornecidos por instituições, governamentais ou não, de cada país-membro – a rede abrange 31, mas o Paraguai ainda não apresentou dados.   

No Brasil, conforme as informações apresentadas pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, e CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) na 12° Conferência de Ovinos e Bovinos do agri benchmark realizada em Turim, na Itália, em junho, na atividade de engorda (terminação), o custo total de produção (incluindo todos os insumos, depreciações e também o custo de oportunidade do capital investido e pró-labore do produtor) de 100 quilos de carcaça variou de US$ 336 a US$ 473 em 2013 – ano em que o País voltou a ser o maior exportador de carne bovina (em volume). 

Considerando-se as seis fazendas brasileiras analisadas neste comparativo do sistema de engorda, apresentaram menor custo total aquelas com escalas maiores. Por exemplo, uma propriedade de ciclo completo que vendeu 400 bois em 2013 teve custo de US$ 385 por 100 quilos de carcaça vendidos. Já outra que ofertou no ano 60 cabeças, teve custo estimado em US$ 473 por 100 quilos de carcaça. 

A vantagem para escalas maiores aparece também no comparativo entre propriedades brasileiras de ciclo completo e naquelas que praticam a integração lavoura-pecuária. Em outros países, o efeito escala tem tido, igualmente, impacto sobre os custos. O principal motivo é que ajuda a ratear os dispêndios fixos.

Tendo em vista os preços obtidos pelos pecuaristas brasileiros no ano passado, um dos mais baixos em dólar, a margem depois de terem sido descontados todos os custos, inclusive taxa de juros sobre o capital investido na terra, no rebanho e nas demais estruturas, bem como o pró-labore do pecuarista, a rentabilidade variou de US$ 27 negativos até US$ 40 positivos a cada 100 quilos vendidos – foi analisada especificamente a atividade de engorda em seis propriedades típicas, com sistemas de ciclo completo (2 propriedades), recria-engorda (1), confinamento (1) e integração lavoura-pecuária (2). 

Ainda na análise que enfoca a rentabilidade da engorda de bovinos no Brasil, mas agora sem a inclusão da taxa de juros sobre o capital nem do pró-labore entre os custos, a margem variou de US$ 10 negativos até US$ 54 positivos a cada 100 quilos de carcaça vendidos. Nesse caso, os sistemas de ciclo completo com venda de 400 bois em 2013 e de recria-engorda com venda de 360 bois no ano obtiveram os melhores resultados, semelhantes aos obtidos por argentinos (em pastagem natural, com 380 bois vendidos/ano) e até mesmo por australianos que comercializaram 15 mil bois de confinamento.

Na China, o custo total de produção (incluindo insumos, depreciações, custo de oportunidade de todo o capital e pró-labore) foi de US$ 495 a US$ 856, dependendo do sistema 

de engorda analisado. A grande contrapartida vem dos preços recebidos pelo produtor. Na média do ano, foram US$ 771 por 100 quilos de carcaça. Já no Brasil, o valor variou de US$ 277 a US$ 311 por 100 quilos de carcaça em 2013, bem abaixo da média dos chineses e superando apenas o recebido por sul-africanos, colombianos e australianos – entre os 30 países comparados.

Além da China, alguns sistemas de produção da Austrália (grandes confinamentos) e também alguns do Reino Unido lideram com as maiores taxas de rentabilidade. Curiosamente, China e Reino Unido, assim como França e Polônia, figuram simultaneamente entre os países com os maiores custos de produção.

China – Conforme dados do agri benchmark, o consumo de carne bovina per capita na China aumentou 8% entre 2002 e 2012. A demanda aquecida puxou também o preço ao produtor, que avançou de pouco menos de US$ 2,00/kg em 2005 para mais de US$ 7,00 em 2013, superior ao dobro do preço médio obtido pelo pecuarista brasileiro, de aproximadamente US$ 3,00/kg, considerando-se as propriedades analisadas. Entre os países deste grupo, o aumento do preço da carcaça na China foi o maior no intervalo de 2005 a 2013.

A China também registra o maior aumento dos custos de produção, de 167% no mesmo período. No Brasil e na Argentina, os custos também mais que dobraram, mas, em valores absolutos, continuam expressivamente abaixo dos custos chineses. Já nos países europeus, as altas foram menos intensas. A expectativa é que, no longo prazo, ocorra uma aproximação dos custos em valores absolutos entre os países. 

Os custos elevados somados à restrição de área na China limitam o aumento do rebanho no país asiático, elevando a necessidade de importação de carne bovina para atender à demanda crescente. Esse cenário contribuiu para enxugar a oferta excedente da Austrália que, em 2013, registrou volume recorde de abate, e ampliar os embarques do Brasil. No ano passado, foram 421 toneladas de carne bovina exportada diretamente para os chineses (233 toneladas de miúdos e 188 toneladas do produto in natura). Considerando-se, porém, que grande parte da carne brasileira entra na China via Hong Kong, esse volume pode ser bem maior. Para Hong Kong, foram exportadas 360,7 mil toneladas, 63% a mais que no ano anterior, de acordo com levantamento da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).  

Internacional: Mesmo com maiores custos, perspectivas globais são positivas

O impacto do clima sobre os custos de produção foi o destaque da 12° Conferência de Ovinos e Bovinos. Produtores de países onde houve intempéries, principalmente com a ocorrência de seca, tiveram suas margens pressionadas – essas condições foram frequentes no hemisfério Sul. Por outro lado, onde o clima se manteve na normalidade, houve recuperação da margem em relação a 2012 – ano em que países europeus sofreram com adversidades climáticas.

O agri benchmark é uma rede global de economistas e especialistas em setores-chave da agropecuária mundial, sem fins lucrativos e sem cunho político, que analisa a rentabilidade da produção agropecuária em diversos países. 

Foram quatro dias de discussões entre os membros da rede e um dia de Fórum Global aberto ao público. Entre os temas de destaque estiveram preferências dos consumidores, bem-estar animal, produtividade da mão de obra, produção de carne a pasto, sistemas de produção de ovinos e produção sazonal de cordeiros, assim como altos níveis de preços da carne ovina. A pauta envolveu ainda mudanças climáticas, a falta de sustentabilidade financeira da pecuária bovina no longo prazo e mudança nos subsídios da União Europeia. 

Conforme os dados da Conferência, os custos e os preços das carnes bovina e ovina tiveram aumento significativo em 2013, mas a uma taxa menor do que no período 2009-2011. A combinação de preços elevados e economia fragilizada levou à redução per capita do consumo de carne em vários países, como Espanha e Itália. No entanto, na Ásia, destacadamente na China, a demanda segue crescente. Esse país rapidamente está se tornando o maior importador de carnes bovina e ovina, e isso tem grande influência nos preços internacionais.

Além da Ásia, a América do Sul, com destaque para o Brasil, também foi foco das atenções tanto por sua demanda firme quanto por suas ofertas expressivas – em 2013, o Brasil exportou 1,18 milhão de toneladas de carne bovina, aumento de 25% em relação a 2012.

Nas discussões sobre os sistemas de produção, a China também se destacou com seu esforço de avançar do sobrepastejo para um manejo mais sustentável das pastagens. Tratando-se de pastagens, Brasil, Argentina e Colômbia também têm grande espaço para aumentos produtivos. O manejo sustentável – mediante correta taxa de lotação e adoção de novas variedades de plantas – combinado com alimentação complementar melhoraria significativamente a produtividade, segundo conclusão dos participantes. O sistema silvo-pastoril (floresta e pastagem, sem incluir outra agricultura), que já consta dos dados comparativos analisados no agri benchmark, também parece ser capaz de criar situações de ganho triplo para ambiente, economia e bem-estar animal nos países tropicais.

Ao ser tratada a reforma da Política Agrícola da União Europeia, algumas das principais mudanças se referem ao pagamento feito aos produtores, que deixaria de ser baseado na quantidade produzida ou tamanho do rebanho, para se referenciar no tamanho da propriedade como um todo e também nas condições para o enquadramento na “política do verde”. As fazendas que fazem terminação de bovinos com altas taxas de lotação seriam as mais afetadas. Kees de Roest, parceiro italiano do agri benchmark e chefe da divisão econômica do CRPA (Instituto de Pesquisa Pecuária) avaliou que "no caso da Itália, essas fazendas perderão o equivalente a 400-600 euros por hectare até 2020."

Além da apresentação de dados e discussões, os participantes também visitaram áreas de produção na Itália, incluindo alguns dos melhores solos na região do rio Po, onde é grande a concorrência entre culturas e também e elevados os preços da terra. 

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Fonte:
Cepea

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