El Niño prejudica produção de milho e trigo

Publicado em 27/07/2015 18:15

As regiões produtoras de milho safrinha do Paraná e região sul do Mato Grosso do Sul tiveram chuvas ininterruptas durante a primeira quinzena de julho, que causaram danos significativos à produtividade das lavouras e a qualidade dos grãos. Muitos grãos de milho chegaram a germinar na própria espiga e lavouras de trigo apresentaram índices elevados de focos de doenças. 

Além dessas culturas, o café e a cana de açúcar também foram seriamente prejudicados pelas chuvas acima da média. Alguns municípios paranaenses e sul-mato-grossenses chegaram a registrar valores até 400% acima da média para o mês de julho. E não foram somente as chuvas que causaram prejuízos aos produtores: rajadas de vento de mais de 80 km/h e queda de granizo também contribuíram para elevar esses percentuais e até mesmo um tornado foi registrado nestes Estados. 

O causador destes estragos foi o El Niño. As águas superficiais equatoriais do Oceano Pacífico estão até 03ºC acima da média, gerando um fenômeno de forte intensidade para este inverno no Hemisfério Sul. Juntamente com o El Niño, as águas mais quentes do Oceano Atlântico na costa da região Sul também contribuíram para que as frentes frias permanecessem estacionadas sobre os Estados, e com isso, mandaram água sobre as plantações por mais de duas semanas consecutivas. 

Estados Unidos

O fenômeno também gerou as chuvas acima da média sobre as regiões produtoras de grãos dos Estados Unidos, e consequentemente, provocou perdas irreversíveis de produtividade em lavouras de soja, milho e trigo de primavera. 

Os solos bastante encharcados dificultaram o desenvolvimento das lavouras, e com isso, geraram percentuais superiores com 10% de plantios em condições ruins e muito ruins, o que resultará em uma redução na produção final de grãos norte-americana. 

O clima ainda manterá neste padrão?

Apesar de alguns institutos de climatologia informarem que o El Niño será o mais intenso dos últimos 50 anos, a tendência é de que ele não dure até o próximo verão. As águas mais frias já são observadas na região mais ao oeste do Pacífico e desse modo, no final do inverno poderá vir ocorrência de uma desaceleração deste aquecimento, o que gera novos períodos de estiagem no Sudeste, Centro-Oeste e nas regiões produtoras de grãos do Nordeste e Norte entre os meses de setembro e outubro, bem semelhante ao ano passado. 

O período de chuvas mais intensas e de grande abrangência deverá voltar a ocorrer no Sul do Brasil, principalmente no Paraná e no Mato Grosso do Sul, o que pode gerar atrasos no plantio da nova safra de verão e também na realização da colheita do café e da cana de açúcar, ente outras culturas. 
Porém, vale lembrar que o segundo semestre de 2015 deverá ser muito semelhante ao ano passado. 

O grande problema das notícias divulgadas pelos institutos internacionais de climatologia é de que os impactos e observações do El Niño são diferentes para os brasileiros, já que as regiões são monitoradas e divulgadas pelos órgãos não as que influenciam o Brasil. A área do Pacífico que mais tem influência sobre o clima no país e até mesmo no Paraguai é a região costeira, a chamada Niño 1+2. De acordo com os modelos de previsão da NOAA (National Oceanic And Atmospheric Administration), haverá um grande abalo das temperaturas sobre essa região, o que gerará uma grande oscilação no regime de chuvas e temperaturas no Brasil. 
A região que mais influencia no clima dos Estados Unidos é a região central denominada 3.4 e para a Oceania e Ásia é a Niño 4, localizada na região mais ao oeste do Pacífico, na costa destes continentes. 

A previsão é de que haja uma grande oscilação no regime de chuvas e de temperaturas ao longo de todo o segundo semestre de 2015, por causa da grande oscilação da temperatura no Niño 1+2.

As chuvas até voltam a ocorrer em meados de setembro, no começo da safra no Brasil, mas os períodos de veranico entre o final do inverno e começo da primavera podem ocorrer em regiões produtoras do Sudeste e Centro-Oeste devido à oscilação das temperaturas das águas do Pacífico. As precipitações devem ocorrer somente no final de outubro e inicio de novembro no MAPITOBA. 

Como haverá um período mais seco no final do inverno sobre a região central e norte do país, a perspectiva é de que as chuvas continuem sobre o Sul com possibilidade de agravar as condições das lavouras de inverno, como a de milho, e atrapalhar o plantio da safra de verão.

O padrão mais chuvoso na segunda metade do inverno e primeira parte do verão também deverá ocorrer sobre as regiões produtoras dos Estados Unidos, o que gerará em novas perdas de produtividade e atrapalhará a colheita, que já deve iniciar no começar de setembro.

 

Marco Antonio dos Santos é agrometeorologista, graduado como engenheiro agrônomo pela Faculdade de Agronomia e Zootecnia Manoel Carlos Gonçalves, mestre em agrometeorologia pelo IAC, doutor em agrometeorologia pela ESALQ e consultor no segmento agrometeorológico para as empresas: de insumos, trades e bancos. Desde 2008 é colaborador da Somar Meteorologia.

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Fonte:
Jornal do Tempo

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1 comentário

  • Vilson Ambrozi Chapadinha - MA

    Em resumo, nao teremos boa safra em lugar nenhum. Nem nos EUA, nem na Europa, nem na Asia, nem na oceania nem ao sul nem ao norte.... Uma verdadeira acepsia aos baixos preços.

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    • Vilson Ambrozi Chapadinha - MA

      Dalzir. Não tenho idéia do que estão fazendo com o soja pelo mundo,mas somente do Brasil o aumento das importações beira a média de 8% ao ano, ,e a produção tem acompanhado,senão veja. Chegamos em 2015 aos 94 mil ton ,os compradores levarão 50 e so vai sobrar segundo Abiove entre 3 a 4 milhões.Não da pra 15 dias de negocios.

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