No penúltimo debate, Dilma e Aécio ficam na retranca

Publicado em 20/10/2014 02:31 e atualizado em 20/10/2014 08:20
A uma semana da votação, os dois candidatos à Presidência travaram embate sem surpresas na Record e não repetiram o clima tenso do encontro no SBT... na veja.com
A distância que a TV Record determinou entre as bancadas de Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) no penúltimo debate na televisão antes das urnas, na noite deste domingo, era tudo o que os dois candidatos à Presidência da República queriam. A uma semana da eleição, Aécio e Dilma travaram um debate morno e sem surpresas, repisando frases ensaiadas e repetidas à exaustão nas propagandas eleitorais na TV. Não houve pancadaria. Mais: os comandos das duas campanhas avaliaram que o tenso embate no SBT, na última quinta-feira, marcado por ataques pessoais, causou estragos.

O duelo deste domingo não tirou nenhum dos candidatos do sério. O script foi o mesmo: Aécio lembrou a profusão de escândalos na Petrobras, e Dilma respondeu dizendo que o PSDB planejava vender a Petrobras quando governou o país. Aécio apontou a inflação crescente, e Dilma disse que os “pessimistas” não reconhecem as conquistas sociais dos doze anos de governo do PT.
A petista até ensaiou ataques, por exemplo, sugerindo que um eventual governo tucano reduziria o papel dos bancos públicos – Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Aécio reclamou do terrorismo eleitoral: “Quero me dirigir aos funcionários do Banco do Brasil, da Caixa Federal, eles sim estão sofrendo com o terrorismo da propaganda. No nosso governo não haverá senhores Pizzolatos à frente do Banco do Brasil”, disse, em alusão a Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil que ficou famoso pela fuga hollywoodiana após ser condenado no julgamento do mensalão.

Ao falar da inflação, o tucano sacou uma carta nova: citou o Chile como exemplo de país vizinho cuja economia cresce mais do que a brasileira. "O Chile consegue crescer bem mais do que o Brasil, controlando sua inflação. Onde está o erro, candidata?", cutucou. Dilma, por sua vez, resgatou o discurso do desemprego: “Para ter 3% de inflação, o senhor vai triplicar o desemprego, que vai para 15%, e o senhor vai elevar a taxa de juros, como já fizeram antes, esse é o receituário".

Petrobras – A temperatura quase subiu quando a Petrobras foi o tema. Aécio questionou a petista sobre a revelação de que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi um dos beneficiários do esquema montado para desviar recursos da estatal para políticos e partidos. "A senhora reconhece agora que houve desvios na Petrobras. O tesoureiro do seu partido, João Vacari Neto, continuará também como membro do conselho de administração de Itaipu. A senhora confia nele, candidata?", disse.
A petista rebateu dizendo que o delator do esquema de desvios, Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, apontou o ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra, como beneficiário. "O senhor confia em todos aqueles que segundo as mesmas fontes que acusam o Vaccari dizem que o seu partido, o presidente dele, que lamentavelmente está morto, recebeu recursos para acabar com a CPI?”, questionou.
Último a falar, o tucano devolveu: “Se na Petrobras, onde ele não tinha  acesso formal, dois terços da propina eram transferidos para ele, fico imaginando em Itaipu, onde ele tem um crachá e assina documentos, o que pode estar acontecendo lá". Mas parou aí. Na campanha mais acirrada do país desde a redemocratização, nem Dilma nem Aécio quiseram arriscar. O próximo – e derradeiro confronto – será na sexta-feira, antevéspera das eleições, na TV Globo.
 

O ibope do debate da Record

O debate da Record: enfrentamento

O debate da Record: enfrentamento

O penúltimo debate da eleição presidencial está rendendo doze pontos de audiência à Record  neste primeiro bloco, de acordo com dados prévios do Ibope para a Grande São Paulo. No mesmo horário, a Globo lidera com dezenove pontos, o SBT registra nove pontos  e a Band.

(Atualização, às 23h43: até o final do terceiro bloco, a audiência média do debate foi de treze pontos, de acordo com dados do Ibope para a Grande São Paulo. A Globo liderou com dezoito e o SBT  registrou nove pontos.   partir do final do Fantástico, a Record passou a liderar: treze pontos contra onze pontos da Globo)

(Atualização, às 00h16. O resultado final ao longo do debate foi: Record, doze pontos; Globo, dezesseis pontos; SBT, nove)

Isso significa mais quatro pontos percentuais que o debate do primeiro turno na Record (leia maisaqui ).

Em 2010, o debate do segundo turno promovido pela Record, também o penúltimo antes da eleição, cravou nove pontos. Mas, àquela altura, José Serra e Dilma debatera numa segunda-feira.

O debate será reprisado amanhã, na Record News, às 8h e às 18h.

Por Lauro Jardim

 

ANÁLISE

Agressão cede lugar ao tédio, tornando evidente falta que fazem os jornalistas

POR NELSON DE SÁ, DA FOLHA DE SÃO PAULO

Sob controle, medindo os adjetivos, Dilma Rousseff e Aécio Neves fizeram um programa bem menos agressivo, no terceiro debate do segundo turno, na Record.

Os erros correram mais por conta da própria rede de televisão, como na iluminação que tornou Dilma muito pálida ao longo do primeiro e longo bloco. No segundo, Aécio foi mais afetado.

Também foi incompreensível escalar dois apresentadores para ações burocráticas como cortar as falas dos candidatos ou pedir silêncio à plateia.

Sem perguntas de jornalistas, na verdade, o formato dos debates neste segundo turno se resume a uma conversa cada vez mais roteirizada -tanto na agressão de antes como no controle de agora- entre a petista e o tucano.

Em relação ao debate no SBT, desta vez evitaram-se obviamente as agressões verbais, mas repetiram-se as formulações continuamente, quase em eco do que se ouve também no horário eleitoral.

Dilma se apresentou mais preparada em vários temas, como a Petrobras, mas travou o discurso em algumas passagens e gaguejou em quase todas as suas intervenções.

Aécio evitou ao máximo o sorriso sarcástico exibido nos debates anteriores, mas escorregou pontualmente na arrogância e até, como Dilma, nas palavras -como ao dizer que "propõe uma proposta".

Propostas e números foram amontoados por ambos os candidatos até o fim, evidenciando o esforço para não falar mais da irmã ou do irmão, do "alcoolizado" ou da "leviana", palavras agora evitadas, mas também afundando a conversa no tédio.

Aliás, propostas, números e tecnicalidades que não se traduziram em aprofundamento dos temas, mantidas na superficialidade das frases feitas publicitárias.

Ficou claro que duas ou três perguntas de jornalistas ajudariam a evitar não só programas tão ciclotímicos como os do SBT e da Record mas sobretudo a tirar o debate eleitoral do roteiro dos marqueteiros.

NO ESTADÃO, ANÁLISE DE Marcelo de Moraes:

Tom mais baixo para não perder eleitor

Depois do vale-tudo, repleto de ataques pessoais nos debates da semana passada, Dilma e Aécio fizeram ontem um confronto diferente e muito mais ameno. As críticas pelo baixo nível do debate passado fizeram com que petista e tucano mudassem suas estratégias e optassem por trocar perguntas e respostas sobre propostas para seus eventuais governos.

Obviamente, não faltaram críticas e acusações, mas as formulações foram feitas de forma muito mais suave. Sumiram expressões como “leviana”, por exemplo. No lugar, surgiram palavras muito mais leves como “o senhor é engraçado” ou “é estarrecedor”. Também não apareceram tópicos como as do debate passado, como agressão à mulheres, álcool, família, entre outros.

As críticas foram feitas de forma diferente. Aécio bateu na tecla das denúncias de irregularidades na Petrobrás, insistindo, por três vezes, se a presidente confiava no tesoureiro do PT, João Vaccari, justamente um dos acusados de receber propina pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa.

Dilma desviou do assunto e não respondeu. Mas ninguém perdeu a calma.

Pior: a presidente deu a impressão de ter recuado da declaração feita no sábado, quando reconheceu que houve desvio de recursos na Petrobrás. Ontem, no debate da TV Record, falou apenas de indícios de irregularidades, o que gerou a cobrança de explicações pelo adversário.

Já Dilma mirou mais uma vez os indicadores do governo de Minas Gerais, especialmente na administração de Aécio. Mas não aproveitou direito o que poderia ser uma ótima estocada no tucano, quando acusou a administração de Aécio em Minas de ter contabilizado vacinas em cavalos como gastos para a Saúde. Feita na última intervenção da presidente num dos blocos, a afirmação acabou caindo no vazio.

A presidente também aproveitou para martelar as críticas ao economista Arminio Fraga, anunciado por Aécio como seu ministro da Fazenda, insinuando que ele poderia mexer com os bancos públicos.

Sem a troca de acusações pesadas, o debate mostrou equilíbrio entre os candidatos e exibiu a clara preocupação de não aumentar a rejeição dos eleitores, aborrecidos com as baixarias na campanha. Além disso, ambos puderam começar a discutir temas que pareciam esquecidos como Saúde e Educação, ainda que abordados ainda de forma superficial. Assuntos como Cultura, Esporte, Turismo, Relações Internacionais seguiram sendo ignorados. E pontos polêmicos do primeiro turno, como as questões LGBT, sumiram completamente do mapa. A prioridade ontem era não correr riscos.

NA FOLHA, ANÁLISE DE ELIANE CANTANHÊDE:  eliane cantanhêdeeliane cantanhêdeeliane cantanhêde

Sem tom de guerra, debate tem Aécio contido e Dilma mais serena

O tom de guerra entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) não se repetiu neste domingo. Vimos, no debate de hoje, da Record, um Aécio mais contido e uma Dilma mais serena.

Os candidatos ampliaram os temas para educação, segurança, infraestrutura, bancos oficiais e a Petrobras não mais pelo lado do escândalo, mas da gestão.

Nem Aécio sacou um novo "Igor Rousseff" nem Dilma jogou a história da parentada empregada pelo tucano. Os telespectadores saíram ganhando.

Nada disso é por acaso. Certamente, as pesquisas qualitativas mostraram ampla resistência ao debate-ringue, com socos, cotoveladas e rasteiras.

Aécio manteve o bom desempenho dos debates anteriores, mas Dilma estava mais segura, mais tranquila, menos confusa e menos agressiva também. Teve bons momentos com expressões populares, tipo "o senhor ouviu o galo cantar e não sabe onde..."

No geral, porém, a sensação é de empate e, como eles também estão empatados nas pesquisas, ninguém ganha, ninguém perde e a eleição não sai do lugar. A conferir.

Tem pesquisa fresquinha nesta segunda (20) e vem aí o debate final, na Globo, na sexta-feira.

A eleição está terminando como começou e evoluiu durante todo o tempo: imprevisível.

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Fonte:
VEJA + ESTADÃO + FOLHA

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