Na FOLHA: Lula intervém no Governo e deve se lançar a candidato. Dilma cede para evitar o impeachment

Publicado em 01/10/2015 03:49
NA FOLHA DE S. PAULO + VEJA.COM

A presidente Dilma Rousseff cedeu às pressões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PMDB e decidiu afastar do coração de seu governo o petista Aloizio Mercadante, substituindo-o na chefia da Casa Civil por Jaques Wagner, hoje na Defesa.

A troca e a ampliação do naco do PMDB de seis para sete pastas devem garantir, na avaliação de assessores, o apoio de no mínimo 50 dos 66 deputados do partido para evitar abertura de um processo de impeachment contra Dilma.

Ela precisa de ao menos 172 deputados para barrar um pedido de impedimento, que, para passar, carece de 342 votos dos 513 da Câmara.

Mercadante, que volta à Educação, era citado por petistas e peemedebistas como desagregador. Lula defendia sua substituição desde o início do segundo mandato, mas reclamava de não ser ouvido.

O candidato do ex-presidente sempre foi Jaques Wagner, classificado como um petista mais habilidoso e com melhor trânsito no PMDB.

No início do governo, Mercadante tentou fortalecer o PSD e o Pros para minar o PMDB. Mas só conseguiu desagradar o principal aliado do governo no Congresso.

Agora, Lula contará com três petistas de sua confiança ao lado de Dilma: além de Wagner, Ricardo Berzoini, que vai assumir a nova Secretaria de Governo, e Edinho Silva (Comunicação Social).

Além disso, conseguiu, enfim, convencer Dilma a aumentar o poder do PMDB e, assim, tentar ao menos postergar um eventual desembarque do governo –em novembro, o partido fará um congresso para discutir a saída.

Dilma já definiu o nome de cinco ministros peemedebistas: Eduardo Braga (Minas e Energia), Kátia Abreu (Agricultura), Eliseu Padilha (Aviação Civil), Helder Barbalho (Portos) e Henrique Eduardo Alves (Turismo).

Ela está fechando os nomes dos indicados pela bancada da Câmara para a Saúde, hoje com o PT, e a Ciência e Tecnologia, da qual sairá Aldo Rebelo (PC do B) para substituir Wagner na Defesa.

Na Saúde, o mais cotado é o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI). Para Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (PMDB-RJ). Ambos sugeridos pelo líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ).

Dilma continua sendo pressionada por aliados de Lula a trocar José Eduardo Cardozo (Justiça). Lula queria trocá-lo pelo ex-ministro Nelson Jobim, peemedebista e advogado que tem atuado na defesa de empreiteiros na Lava Jato.

Nesta quinta (1º), Lula deve avaliar com Dilma os últimos detalhes da reforma, na qual prometeu cortar dez pastas. Pelo último desenho, seriam eliminadas nove.

Segundo Temer, há a possibilidade da reforma ser anunciada apenas na sexta (2), já que Dilma cancelou viagem a Bahia nesse dia.

Nesta quarta, quando oficializou a saída de Mercadante, Dilma também recebeu o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, para avisá-lo que ele deixará o governo.

Em dez meses, esta é a segunda troca na Educação, área que carrega o lema do segundo mandato de Dilma, "Pátria Educadora".

Janine é o segundo ministro da área social a ser demitido. Na terça (29), Dilma dispensou, por telefone, o ministro da Saúde, Arthur Chioro.

No campo petista, Dilma vai fundir os ministérios da Previdência, Trabalho e Desenvolvimento. Fará o mesmo com as três secretarias que têm status de ministérios: Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos formarão o Ministério da Cidadania.

Ela ainda tenta atrair o PSB e acertou com o PDT indicação para as Comunicações.

MÔNICA BERGAMO, na FOLHA: 

Lula estuda se lançar como pré-candidato à Presidência

Lula vem estudando há algum tempo a hipótese de se colocar mais claramente como pré-candidato à Presidência da República.

SABORES
O ex-presidente já discutiu o assunto com lideranças do PT e com interlocutores que o ajudam a analisar o quadro político. Há argumentos para que ele entre em campo e outros contrários à iniciativa.

RECUAR
O próprio Lula, de acordo com esses interlocutores, teria receio de virar um alvo ainda maior "da oposição e da mídia". E também de enfraquecer a autoridade da presidente Dilma Rousseff.

AVANÇAR
Os que defendem que ele se lance pré-candidato argumentam que Lula já é alvo tanto de parte da mídia quanto da oposição, justamente pela certeza que os adversários têm de que ele concorrerá à sucessão de Dilma em 2018. Ou seja, o ex-presidente tem o ônus de ser candidato –está sempre na mira–, mas não tem o bônus, que seria viajar o país "vendendo esperança", diz um petista.

PIOR IMPOSSÍVEL
Já sobre a possibilidade de uma pré-candidatura atrapalhar Dilma, interlocutores dizem que não há como enfraquecer um governo que já se mostra muito fragilizado. Ou seja, pior do que está não fica. "Ele é muito mais cuidadoso com a Dilma do que ela com ele", afirma um lulista que já participou dos debates no Instituto Lula.

PRIMEIRO PASSO
Lula já ensaiou avançar algumas casas quando deu entrevista a uma rádio de Minas Gerais, há cerca de um mês. "Se for necessário, eu vou para a disputa", afirmou.

 

Lula 3, governo provisório, por VINICIUS TORRES FREIRE, da FOLHA:

Em cerca de 15 dias, Lula evitou o desmoronamento final de Dilma Rousseff. Tornou-se um regente provisório, cargo informal no qual pode durar dias, não se sabe, dadas as intermitências do coração da presidente, para dar um nome proustiano às inconstâncias dilmianas.

Parece novidade. Enquanto durar.

Faz duas semanas, Lula negocia de modo frenético um modo de esfriar a chapa do impeachment e de embananar a Lava Jato. Ao menos, parece ter conseguido dobrar Dilma Rousseff a render-se a grossas obviedades da política politiqueira.

A presidente já bebia água do terceiro volume morto do PMDB, mas foi Lula que abriu as torneiras de modo a matar sedes variadas do partido e, de quebra, dar uma regada no PDT e até no PSB.

Assim talvez pelo menos se adie o impeachment e se leve apoio no Congresso a fim de catar dinheiros para remendar o buraco nas contas do governo. No caso de a abdicação branca de Dilma Rousseff ser mais completa, se especula se Lula arranjaria algum plano mais ambicioso (menos medíocre e derrotado) de colocar ordem na economia (evitar novos desastres no curto prazo).

Quanto ao impeachment, o calendário do drama ainda está mantido. Ou seja, o TCU deve votar na semana que vem se acusa Dilma de crime fiscal. A oposição pretende desencadear testes da votação do impeachment no final de outubro. A festa do adeus (ao governo) do PMDB ainda está marcada para novembro.

Os empecilhos eram ainda ontem os mesmos. Isto é: 1) Elites do dinheiro muito divididas sobre a conveniência política, econômica e democrática de jogar o país no conflito do impeachment; 2) PSDB dividido; 3) PMDB dividido.

O PMDB pode desfazer o circo do impeachment. Tem até bancada no TCU, ministros vinculados à sigla.

Suponha-se que o PMDB pelo menos adie o início do show. Como fica, por exemplo, o remendo fiscal? Passam a CPMF, a apropriação do dinheiro do Sistema "S", o corte do reajuste dos servidores e o confisco das emendas parlamentares, que perfazem 80% do pacote? Ontem, ainda parecia difícil.

Sem tal dinheiro, que em si não resolve grande coisa, o caldo entorna um tanto mais. Mais ainda: o deficit vai ser bem maior que o previsto até "no mercado". Sem tal remendo, há risco renovado de paniquitos como o da semana passada, altas de juro, rebaixamento formal de crédito do governo etc., a bola de neve que engorda desde julho. Em suma, isso dá em recessão maior e mais profunda.

Não precisa ser assim. Seria até possível salvar 2016 se por um milagre aparecesse um plano de mudança econômica.

Mas nem a paz com o PMDB é certa. Ontem, Michel Temer se reuniu com a bancada do impeachment. É difícil saber de Eduardo Cunha, sangrando mortalmente no Petrolão. Apesar dos ataques, a Lava Jato está muito operante. A tensão no "mercado" ainda é brutal. A Petrobras, com reajuste e empréstimo do BB, tem um pé na cova.

Lula, reunido ontem com o PT, tentava animar torcidas dizendo que quer a turma na rua e crédito do BNDES para empresas. Além de jogar para suas galeras e além da política politiqueira, tentaria articular algum plano de recuperação econômica sério? Combinou com Dilma Rousseff? E o povo bestificado e esfolado na recessão? 

Educação, Saúde e áreas sociais são postos no varejão por Dilma. E o que dizem as esquerdas? Por desonestas, nada! (por REINALDO AZEVEDO,  de VEJA.COM)

Não sou nem nunca fui fã de Renato Janine Ribeiro. Ao contrário: ele é do tipo que me irrita um tantinho. É o gato escondido com o rabo de fora. Você sabe que ali há um gato, embora se possa enxergar apenas uma parte da anatomia do bichano. Janine é um petista que não assume essa condição porque, assim, pode “petizar” à vontade como se fosse um pensador neutro. É, como costumo dizer, o petista que não ousa dizer seu nome.

Assim, ele na Educação ou Aloizio Mercadante, convenham, tanto faz como tanto fez. Acho que a Pasta continua igualmente desguarnecida. Mas é evidente que a lambança armada por Dilma é desrespeitosa com Janine, e isso é problema dele, e com a Educação, e isso é problema nosso.

Se a escolha de um professor que integra a fina flor do pensamento de esquerda pretendia atestar, segundo os valores lá deles, o apreço que Dilma tinha pela educação, a demissão, cinco meses depois, e a recondução de Marcadante ao cargo que já era seu atestam o desprezo da presidente pela área. Só neste mandato, três pessoas passaram pela Pasta.

E tudo por quê e para quê? Mercadante está voltando ao Ministério da Educação da “Pátria Educadora” com algum especial desígnio de sua chefe? Não! É que Dilma queria porque queria abrigá-lo em um lugar de prestígio, e a Educação foi o que sobrou. A troca não atende à conveniência da Pasta e nada tem a ver com a suas necessidades.

Goste-se ou não, e eu não gosto, Janine representa a academia brasileira num cargo bastante apropriado a um professor. Bem-feito para esses intelectuais lambe-botas do petismo! O partido e a presidente demonstram o apreço que têm por eles.

E, convenham, não é assim só com a Educação. O mesmo se verifica na Saúde. Já escrevi aqui e reitero que a área estará mais bem-servida qualquer que seja o substituto de Arthur Chioro. É inegável, no entanto, que ele chegou ao Ministério como quem tem uma leitura da questão — nem entro no mérito; pode estar erradíssima.

Tudo inútil! Também a Saúde entrou no mercadão das trocas, que buscam brecar o processo de impeachment. E Dilma não vai agir de modo diferente com as secretarias, com status de ministério, que lustram as convicções politicamente corretas das esquerdas que a apoiam: as secretarias das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos serão fundidas numa só.

Esquerdistas com um mínimo de honestidade intelectual deveriam estar furiosos com a humilhação. Mas essa gente já perdeu a vergonha faz tempo. “Ah, Reinaldo, se eles deveriam estar bravos, você, então, deveria estar feliz…” Errado! Esquerdistas não são meus interlocutores pelo avesso nem meus adversários qualificados.

Eu critico a lambança nessas áreas porque são importantes demais para estar expostas a essas trocas pautadas pelo toma-lá-dá-cá e pela versão perversa do “é dando que se recebe”.

O conjunto indica a degradação a que chegou o governo em seu décimo mês de gestão.

Por Reinaldo Azevedo

 

José Dirceu endossa o impeachment: ‘Qualquer deputado pode pedir à Câmara a abertura de processo contra o presidente. Dizer que isso é golpe é falta de assunto’

por AUGUSTO NUNES, de VEJA.COM

José Dirceu, em nome do PT e de aliados, entrega a Michel Temer, então presidente da Câmara, o pedido de impeachment contra Fernando Henrique Cardoso

25 de agosto de 1999: ao lado de Lula e Miguel Arraes, com o apoio do papagaio-de-pirata Agnelo Queiroz, da esforçada coajuvante Marina Silva (no canto esquerdo) e de vários figurantes, o deputado José Dirceu entrega ao presidente da Câmara, Michel Temer, o documento que propõe o impeachment de FHC

Presidente do PT, José Dirceu caprichou na pose de defensor da pátria em perigo ao tentar justificar o que acabara de fazer naquele 25 de agosto de 1999. “Qualquer deputado pode pedir à Mesa a abertura de processo de impeachment contra o presidente da República”, declamou depois de entregar ao presidente da Câmara, Michel Temer, o documento que propunha o afastamento de Fernando Henrique Cardoso, reeleito dez meses antes. “Dizer que isso é golpe é falta de assunto”.

Se os celebrantes de missa negra acreditassem nos sermões que Lula lhes sopra, o PT de 2015 teria a obrigação de enxergar no PT de 1999 um bando de golpistas a serviço do capitalismo selvagem — e o PT do século 20 teria o dever de achar que o PT do século 21 sofre de falta de assunto. Mas vigaristas sem cura não perdem tempo com o que disseram, dizem ou dirão.

No vídeo abaixo, uma amostra da reação indignada de Dirceu ao arquivamento do pedido de impeachment, o comandante da tropa petista no Congresso afirma que FHC descumpriu promessas de campanhas, favoreceu esquemas corruptos, conduziu a economia a um beco sem saída e fez concessões absurdas ao PMDB, fora o resto. Quem ouve o samba do mineiro doido deduz que, em 1999, FHC era uma Dilma Rousseff em miniatura, com terno, gravata e cérebro.

Com a expressão colérica recomendada a quem repetia de meia em meia hora que o PT “não róba nem dexa robá”, o orador trata com igual ferocidade a gramática e o chefe de governo que considera incapaz de governar. A perda do cargo seria um castigo até brando para FHC, brada o pregador de cabaré. (Por tais critérios, que punição mereceria Dilma Rousseff além do impeachment? Duzentas chibatadas? A guilhotina?)

Passados 16 anos, o moralista amoral curte a segunda temporada na cadeia. Descobriu-se que o guerreiro do povo era o disfarce do corrupto onipresente. A herança bendita de FHC está em frangalhos. Por tudo isso e muito mais, o vídeo virou uma perturbadora relíquia histórica. É outra prova de que, durante longos anos, os bandidos do faroeste à brasileira assumiram o controle do lugar e fizeram o diabo sob os aplausos do rebanho na plateia.

Pena que o reincidente engaiolado não tenha tempo nem ânimo para comentar o que andou fazendo em 1999. Absorvido por uma guerra particular, o guerrilheiro de festim agora luta para safar-se da cadeia. Abre o bico apenas para conversar com vizinhos de cela ou com o advogado. E só pensa no impeachment do juiz Sérgio Moro.

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Fonte:
Folha de S. Paulo + VEJA

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