Pressionado, Copom mantem juro a 14,25%; Dólar sobe a R$ 4,1050, maior patamar desde setembro

Publicado em 20/01/2016 19:53
Reuters + Folha de S. Paulo

BC mantém Selic em 14,25% em decisão dividida

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa básica de juros inalterada em 14,25 por cento ao ano, em decisão dividida tomada em meio a pressões para que não mexesse na Selic diante da forte deterioração da economia, apesar da persistente desancoragem das expectativas para a inflação.

Em pesquisa Reuters com 43 economistas, oito previam a manutenção da Selic, enquanto 24 estimaram que o BC elevaria os juros em 0,50 ponto percentual e 11 apontaram um aumento de 0,25 ponto.

 

REPERCUSSÃO-Copom mantém taxa de juros em 14,25% por 6 votos a 2


SÃO PAULO (Reuters) - O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu nesta quarta-feira manter a taxa Selic em 14,25 por cento ao ano, por seis votos a dois.

Os diretores Sidnei Corrêa Marques e Tony Volpon votaram pela elevação da taxa em 0,5 ponto percentual.

No comunicado, o BC disse que a decisão foi tomada "avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, e considerando a elevação das incertezas domésticas e, principalmente, externas".

Apesar de pesquisa Reuters mostrar que a maioria dos 43 economistas ouvidos ainda previam alta da Selic, a decisão do Copom não foi uma grande surpresa, já que o presidente da instituição, Alexandre Tombini, divulgou nota na véspera indicando que o BC poderia não elevar os juros por conta da contração da economia brasileira. [nL2N1530HJ]

 

Veja a seguir comentários sobre a decisão do Copom:

 

CARLOS KAWALL, ECONOMISTA-CHEFE, BANCO J.SAFRA

“Não acredito que a decisão resultou de pressões do governo, acho que é mais uma questão de mudança do cenário externo mesmo.”

“Como as incertezas globais não parecem perto de acabar, a próxima reunião deve ser de manutenção e talvez agora a gente tenha que ter trajetória de estabilidade nos próximos meses.”

“O cenário mudou lá fora. O próprio Fed já vai ter que repensar sua estratégia de 4 altas de juros este ano. No ano passado, o que determinou a dinâmica da política monetária foi sobretudo o Brasil, mas agora tem também uma coisa muito complicada que é o cenário externo.”

 

GUSTAVO LOYOLA, SÓCIO, TENDÊNCIAS CONSULTORIA

"Depois da comunicação (da véspera), o Banco Central só faltou dizer que ia manter a taxa, então eu acho que não houve, a partir daí, mais uma surpresa".

"Eu acho que a credibilidade do BC fica muito abalada, não consegue estabelecer uma comunicação coerente com os agentes econômicos, dá sinais contraditórios, e como não houve nenhuma mudança relevante na conjuntura econômica entre dezembro e agora, então não há justificativa. O que houve foi só mudança do ministro (da Fazenda), mas isso não deveria ser motivo para o BC mudar de rumo."

"Realmente, fica aberta aí essa especulação de que teria havido pressão política. Ninguém consegue acreditar, por mais crédulo que seja, que foi por causa do FMI que o Banco Central mudou sua comunicação e, depois, sua decisão".

"Existem algumas incertezas externas, sem dúvidas elas existem, mas também essas incertezas não estavam ausentes em dezembro, também aí eu acho que não houve grandes mudanças de cenário internacional nas últimas semanas".

"Vamos torcer para que na ata o BC explicite um pouquinho mais o que ele pretende fazer, mas mesmo assim a gente fica sujeito a uma mudança de opinião de última hora."

 

BRUNO ROAVI E ANDRES JAIME MARTINEZ, BARCLAYS RESEARCH

"Com as condições domésticas continuando a deteriorar-se, o aprofundamento da recessão, o ajuste do mercado de trabalho em plena aceleração e agora com riscos materiais provenientes do ambiente internacional, mantemos o nosso cenário base de que o Copom vai começar a flexibilização da política monetária em agosto deste ano, levando a taxa Selic até 13 por cento no final do ano."

 

JOSÉ FRANCISCO DE LIMA, ECONOMISTA-CHEFE, BANCO FATOR

"Acho que houve uma inflexão ontem, então veio no que eu esperava. De ontem para hoje eu baixei (a expectativa de alta) de 50 pontos básicos para zero, porque entendi que eles não enxergavam 50 como adequado por conta da preocupação com a atividade doméstica e externa."

"Daqui pra frente a tendência é não subir mais, porque eu entendo que se o argumento deles é principalmente as incertezas externas, as incertezas externas vão se manter."

 

TATIANA PINHEIRO, ECONOMISTA, SANTANDER

"A preocupação com a atividade econômica ganhou importância e também muito provavelmente o BC deve ter reavaliado a expectativa de crescimento econômico em relação ao que ele tinha no relatório de inflação publicado no final de dezembro."

    "A inflação vai desacelerar este ano porque a inflação de (preços) regulados vai desacelerar."

    "A resposta do mercado amanhã vai ser desprecificar o ciclo inteiro, ou seja, a parte curta fecha (cai) um pouco mais. A parte longa deve sofrer (subir) um pouco, deve ter um sentido de inclinação maior da curva."

 

JUAN JENSEN, SÓCIO, 4E CONSULTORIA

"Diante das sinalizações do Banco Central não foi uma boa decisão. Aparentemente tem a digital do Planalto, isso já aconteceu outras vezes no gestão Dilma 1 e volta a ocorrer."

    "É uma decisão ruim e que afeta bastante a credibilidade do Banco Central. Quem está decidindo? O mercado e os analistas estão se questionando. É a presidenta que toma decisão ou a diretoria colegiada?”

 

 

ALENCAR BUTI, PRESIDENTE, ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO

"A manutenção da Selic foi acertada. O desemprego e a recessão já derrubaram a confiança e o consumo das famílias, e isso deverá levar ao recuo da inflação."

 

JOSÉ DO EGITO FROTA LOPES FILHO, PRESIDENTE, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ATACADISTAS E DISTRIBUIDORES

"A decisão do Copom de manter a taxa básica de juros sinaliza que o Banco Central começa a entrar em compasso com a economia real."

"Acreditamos que a equipe do BC tomou a decisão correta, tendo em vista o agravamento do cenário recessivo, que inclui o aumento do desemprego e dos pedidos de recuperação judicial."

 

Na FOLHA: Banco Central mantém taxa de juros a 14,25% pela 4ª reunião seguida

O Banco Central manteve nesta quarta-feira (20), por 6 votos a 2, a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano. Foi a quarta reunião seguida em que a taxa foi mantida.

A manutenção era esperada por 15 (ou 26,3%) dos 57 economistas ouvidos pela agência internacional Bloomberg. A maioria, 28 (49,1%), apostava que a Selic subiria 0,50 ponto percentual, para 14,75%. Já 14 (24,6%) previam alta de 0,25 ponto percentual, até 14,50%.

Uma nota do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, divulgada na véspera da decisão fez muitos economistas mudarem suas projeções. No texto, ele afirmou que considerava "significativas" as novas projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional) indicando piora no cenário econômico brasileiro.

Para analistas, foi um recado do BC de que adotaria uma postura maisalinhada com o Palácio do Planalto, que prefere manter os juros inalterados para evitar mais abatimento econômico.

A manutenção dos juros em novembro já havia mostrado que o BC estava dividido. Na ocasião, dois diretores votaram pelo aumento de juros em 0,50 ponto percentual, até 14,75% ao ano, enquanto seis decidiram deixar a taxa inalterada.

A decisão foi anunciada poucos dias depois de o boletim Focus apontar que a inflação deve encerrar o ano a 7%, após fechar 2015 em dois dígitos.

A preocupação do Banco Central é levar a inflação ao centro da meta, de 4,5% ao ano, em 2017. Segundo o Focus, a expectativa é que o IPCA encerre o próximo ano a 5,40%.

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A pesquisa mostra ainda que o mercado prevê que os juros terminem o ano em 15,25% e que caiam para 12,88% em 2017.

Na avaliação de analistas, a decisão de manter a Selic se baseia na desaceleração da atividade econômica pela qual passa o país.

A instituição tem dito que precisa manter os juros elevados para que a alta da inflação causada pelo dólar e pelo reajuste de tarifas e preços controlados não se espalhe por toda a economia. O desemprego causado pelo aperto na taxa, por exemplo, evita o repasse de toda a inflação para os salários.

QUEDA DO PIB

A decisão de manter os juros também é amparada pela fraqueza econômica do país. Até novembro, a economia brasileira registrou queda de 3,9% no ano, de acordo com o indicador de atividade do Banco Central, o IBC-Br.

A expectativa do mercado é que, após fechar 2015 com queda superior a 3%, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro caia 2,99% neste ano, segundo o boletim Focus. Para 2017, a projeção é de crescimento de 1% —embora o FMI veja estagnação e recuperação apenas em 2018.

Os juros estão hoje no maior patamar em nove anos. A próxima reunião do Copom ocorrerá nos dias 1º e 2 de março.

 

Dólar sobe a R$ 4,1050, maior patamar desde setembro, por mau humor externo e local
 

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subiu mais de 1 por cento em relação ao real nesta quarta-feira e fechou no maior patamar desde setembro, reagindo ao profundo mau humor nos mercados externos conforme os preços do petróleo desabavam e à apreensão com as perspectivas brasileiras.

O dólar avançou 1,24 por cento, a 4,1050 reais na venda, maior nível de fechamento desde 28 de setembro, quando fechou a 4,1095.

A moeda norte-americana atingiu 4,1306 reais na máxima da sessão, maior nível intradia desde 29 de setembro (4,1551 reais).

"Prevalece a aversão a risco nos mercados internacionais. O petróleo não para de cair e todo alívio tem se mostrado temporário", disse o operador da corretora Correparti Guilherme França Esquelbek.

O petróleo nos Estados Unidos desabou abaixo de 27 dólares por barril nesta quarta-feira pela primeira vez desde 2003, refletindo a sobreoferta nos mercados globais e expectativas de demanda fraca diante da fraqueza no crescimento econômico global.

O recuo da commodity arrastou consigo boa parte dos mercados globais, como as bolsas chinesas e norte-americanas. Os três principais índices norte-americanos chegaram a cair mais de 3 por cento, com o Standard & Poor's 500 atingindo seu menor nível desde fevereiro de 2014.

No mercado de câmbio, a moeda norte-americana avançava em relação ao peso mexicano, chegando a renovar a máxima histórica, mesmo após o banco central do país entrar no mercado vendendo dólares.

No Brasil, a pressão foi corroborada por incertezas sobre a estratégia do governo para enfrentar a crise econômica. Além de preocupações com a possibilidade de que o governo possa recorrer ao afrouxamento fiscal para estimular a atividade, alguns operadores temem que o Banco Central evite aumentar os juros diante da recessão econômica.

"Sazonalmente, os primeiros meses do ano são de fluxo positivo, mas não é isso que estamos vendo. O contexto técnico está muito desfavorável e a incerteza sobre o BC potencializa", disse o especialista em câmbio da corretora Icap, Ítalo Abucater.

O BC brasileiro realizou nesta manhã mais um leilão de rolagem dos swaps cambiais que vencem em 1º de fevereiro, vendendo a oferta total de até 11,6 mil contratos. Até o momento, a autoridade monetária já rolou o equivalente a 7,329 bilhões de dólares, ou cerca de 70 por cento do lote total, que corresponde a 10,431 bilhões de dólares.

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Fonte:
Reuters / Folha de S. Paulo

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1 comentário

  • Jorge Almada São José dos Campos - SP

    Enfim prevaleceu o BOM SENSO. A Taxa Selic se manteve no mesmo patamar 14,25%, já considerada muito alta e praticamente sem influência nenhuma no controle da inflação. O aumento da inflação é devido a ajustes dos preços administrados, à desvalorização do real e NÃO PELO CONSUMO. O governo parece não querer admitir QUE JÁ EXISTE UMA REDUÇÃO DO CONSUMO - pelo endividamento do brasileiro (cartão de crédito), o custo da energia elétrica, e dos combustíveis, pelo desemprego e pela alta dos preços generalizada.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      BOM SENSO ???? Você esqueceu que 14,25% ja' e' um crime contra o povo Brasileiro.

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