Governo Temer tem 13% de avaliação positiva e quase metade o vê como igual ao de Dilma, diz CNI

Publicado em 01/07/2016 13:05
O ônus da interinidade (editorial do ESTADÃO) e Incertezas aumentam POR MERVAL PEREIRA (em O GLOBO)

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Por Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) - O governo do presidente interino Michel Temer foi avaliado como ótimo ou bom por 13 por cento da população e 44 por cento o consideram igual ao da presidente afastada Dilma Rousseff, mostrou pesquisa CNI/Ibope nesta sexta-feira.

Em março, na pesquisa anterior do Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria, a avaliação positiva de 10 por cento de Dilma era bastante similar a de Temer, embora agora a opção pela nota regular tenha aumentado em relação a três meses atrás e diminuído a avaliação negativa.

"O que a gente percebe, é que claramente... não houve um descolamento completo do governo do presidente Temer do governo da presidente Dilma, na visão da população", explicou o gerente executivo de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca.

O governo Temer foi avaliado como regular por 36 por cento dos entrevistados, enquanto 39 por cento o veem como ruim ou péssimo. Em março, os números de Dilma eram, respectivamente, 19 e 69 por cento.

Na comparação direta entre os dois, além dos 44 por cento que os consideram iguais, 23 por cento acreditam o que o governo Temer está sendo melhor, enquanto 25 por cento acham que o de Dilma era melhor.

Para Fonseca, a percepção de continuidade dos governos pela população pode ter sido influenciada pelo fato de a gestão ter sido assumida por partidos e políticos que integraram o governo anterior. É o caso do próprio Temer (PMDB), que além de vice-presidente de Dilma, chegou a ser responsável pela coordenação e articulação política do governo durante alguns meses.

"É um fator que já se esperava, porque é um dos principais partidos que estavam na base do governo passado que está no governo, alguns ministros, até, participaram em ocasiões anteriores do governo passado, o que pode levar a essa impressão da população de que o governo está muito parecido."

Muitos dos integrantes do governo Temer fizeram parte da administração Dilma, como o atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, além de Romero Jucá (PMDB-RR), que foi líder do governo da petista no Congresso e agora chegou a ocupar o Ministério do Planejamento até deixar o cargo devido a denúncias, e Henrique Eduardo Alves, que pediu exoneração do comando do Ministério do Turismo pelo mesmo motivo. 

AINDA É CEDO

Outro ponto, disse Fonseca, diz respeito ao período relativamente curto de governo. Para ele, "um mês e meio é muito pouco" para uma avaliação, e esse pode ter sido um dos motivos pelos quais os índices de avaliação regular e de não respostas se mostraram mais altos nesta pesquisa.

"O índice de não sabe, não respondeu é grande, a tendência do regular também... a próxima pesquisa de setembro vai nos dar um cenário melhor da avaliação", afirmou. 

A pesquisa, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria, apontou ainda que 27 por cento confiam no presidente interino, enquanto 66 por cento não confiam. Já a maneira de governar de Temer é aprovada por 31 por cento e desaprovada por 53 por cento.

Em março, apenas 18 por cento confiavam em Dilma, contra 80 por cento que não confiavam. Sobre a maneira da petista governar, 14 por cento aprovavam e 82 por cento desaprovavam.

O levantamento foi realizado entre 24 e 27 de junho, com 2.002 pessoas em 141 municípios. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais.

O ônus da interinidade, editorial do ESTADÃO

Se não bastassem as enormes dificuldades para lidar com uma conjuntura econômica deteriorada, que apenas começa a dar tímidos sinais de recuperação, o governo de Michel Temer enfrenta um problema adicional, de natureza essencialmente política, que pode ser definido como o ônus da interinidade. O processo de impeachment de Dilma Rousseff foi instaurado com o vigoroso apoio de esmagadora maioria dos brasileiros, mas esse apoio não se transferiu automaticamente para o presidente em exercício, o que é perfeitamente compreensível pela razão óbvia de que confiança não se impõe, conquista-se.

Temer, até o momento, pouco mais conseguiu fazer para conquistar a confiança dos brasileiros do que nomear uma equipe econômica de reconhecida competência cujo trabalho, como não poderia deixar de ser, está ainda pouco além da fase da semeadura de um plano cujas linhas gerais estão delineadas.

O momento exige, portanto, um mínimo de paciência e espírito crítico construtivo para que os governantes consigam transformar intenções em atos e desses atos possamos todos colher resultados positivos. Esse processo, que se pode definir como de amadurecimento do governo por enquanto provisório, tropeça desde logo no obstáculo representado exatamente pela interinidade. É uma estranha situação: apesar de Dilma e sua turma afetarem indignação pelo fato de Temer se comportar “como se não fosse apenas presidente interino”, é óbvio que o que se cobra do governo que está aí, interino ou não, são ações concretas, de curto e longo prazos, para tirar o Brasil do buraco em que o lulopetismo o afundou. Não é uma tarefa da qual o Executivo possa se desincumbir sozinho. O apoio do Legislativo é indispensável, até por razões constitucionais. E é aí que está o principal nó da interinidade.

Mais de 13 anos de Lula e Dilma no poder serviram para expor, de corpo inteiro, com a preciosa ajuda da Lava Jato e operações policiais congêneres, todos os vícios e a consequente vulnerabilidade de um sistema político-partidário armado com o objetivo de servir aos interesses da chamada classe política, comprometida até a medula com o patrimonialismo enraizado na gestão da coisa pública.

Pois é com essa situação que o governo provisório tem que se haver, até porque é formado, ele próprio, pelo material humano disponível. Além disso, o lulopetismo legou ao País um movimento sindical e de organizações sociais contaminado pelo viés populista do Estado todo-poderoso, paternalista, único responsável pelo bem comum. Tudo o que “o povo” exige, portanto, se o governo não atende prontamente é porque é “instrumento das elites”, “de direita” ou coisas do gênero.

Sem sólido apoio popular e pressionado de um lado por interesses políticos quase sempre fisiológicos e por outro lado pelas reivindicações salariais, Temer tem que se preocupar também em dar sentido e continuidade a seu governo, cuidando para que se transforme de substituto em sucessor de Dilma Rousseff, assim que se consumar o impeachment pelo Senado. Não é difícil imaginar o custo político de tudo isso.

Daí o loteamento político do governo e os “pacotes de bondades”, como o recentemente concedido reajuste de salário de servidores públicos. São medidas aparentemente incoerentes, adotadas para atender à necessidade de estabelecer o difícil e delicado equilíbrio entre o ideal e o possível na ação governamental. Isso se pode compreender, quando se adota uma postura de crítica construtiva voltada para os verdadeiros interesses nacionais. Mas o risco de que aquele equilíbrio seja rompido é sempre iminente.

O governo Temer se declara disposto a criar as condições indispensáveis à recuperação econômica. Ninguém precisa acreditar incondicionalmente nisso. Mas o que se pode esperar dos brasileiros é que estejam dispostos, sem renunciar ao necessário espírito crítico construtivo, a levar em conta o ônus da interinidade que no momento acossa Michel Temer e sua equipe e repudiar sempre, por palavras e atos, a inconsequência dos que se julgam bons demais – ou são cegamente intransigentes – para admitir que a política é a arte do possível. Ou de quem não se conforma por ter sido desmascarado pelos erros crassos que cometeu quando no governo do País.

 

Incertezas aumentam

POR MERVAL PEREIRA

(em O GLOBO)

A incerteza induzida pelo cenário político agrava as expectativas em torno de uma recuperação econômica e quanto à real possibilidade de um avanço em uma agenda mínima que permita ao país chegar, em 2018, não pior do que agora. Esta é uma das principais constatações da segunda pesquisa sobre expectativas em torno de cenários de sucesso do atual governo interino realizada pela consultoria Macroplan, especializada em estratégia e cenários.
Com a corrupção no centro do debate político no Brasil, os resultados da atual sondagem espelham claramente o poder de influência e transformação da Operação Lava-Jato e ações conexas ou derivadas na percepção de futuro do país. 
No primeiro levantamento, feito entre os dias 13 e 19 de maio, com amostra de 82 empresários, executivos, economistas, cientistas políticos, gestores públicos e jornalistas de todas as regiões, 64% indicavam sucesso parcial ou amplo do governo Temer, contra 36% de prognósticos pessimistas. 
Na sondagem atual, realizada entre 11 e 22 de junho, junto a 79 entrevistados, 58% apostaram em cenários de sucesso parcial ou amplo, enquanto 42% indicaram o fracasso (parcial ou total) do governo interino.  Os novos resultados são os seguintes:  
a)      Cenário de sucesso amplo – o  Brasil sai da “UTI econômica”, viabiliza ajustes econômicos e políticos essenciais e dá partida a um  ciclo de reformas, retomando um crescimento forte a partir de 2018. É um cenário que lembra os primórdios do Plano Real -  indicado por 13% dos pesquisados, contra 16% da pesquisa anterior.

b)      Cenário de sucesso moderado –o Brasil sai da “UTI econômica”, supera a fase mais aguda da crise, mas não o encaminhamento da solução dos maiores obstáculos estruturais para um novo ciclo de crescimento sustentado, em face de resistências políticas a medidas mais drásticas e/ou ao significativo passivo de problemas econômicos herdados. A Operação Lava-Jato e eventos correlatos continuam criando embaraços a uma atuação mais desenvolta do Governo – cenário mais provável,  apontado por 45% dos respondentes, contra 49% na pesquisa anterior.

c)       Cenário de fracasso parcial - o Governo Temer realiza ajustes econômicos pontuais, perde a confiança dos mercados, experimenta um progressivo processo de “sarneyzação”, ou “reedição do Levy””, acumula derrotas no Legislativo e enfrenta uma progressiva deterioração de expectativas dos agentes econômicos. O núcleo do Governo e de sua base de sustentação política sofre acentuado enfraquecimento com a operação “Lava Jato” e ações correlatas e isso se combina com a ampliação das práticas de fisiologismo e “varejo político”.  Indicação de 42% na pesquisa atual, contra 36% anteriormente.

d)     Fracasso amplo -  retorno do governo Dilma, com imediata  deterioração das expectativas econômicas e agravamento das tensões políticas ou mesmo um quadro quase caótico e de  ingovernabilidade, com fortes movimentos especulativos no mercado em meio a “surtos” de pânico e aguda instabilidade, no curto prazo.  9% das indicações, contra 6% na pesquisa passada.
 
“A queda das expectativas positivas não é surpreendente, mas até mesmo previsível, face à evolução da conjuntura nos últimos 45 dias”, explica o economista Claudio Porto, presidente da Macroplan, para quem o governo interino ultrapassou seus primeiros 30 dias de forma ambígua: com avanços positivos na agenda econômica de um lado, mas dificuldades expressivas no campo político. 

 

Na FOLHA: Conselho Federal de Economia repete o PT e emite nota criticando medidas de Temer

Os 18 conselheiros do Cofecon (Conselho Federal de Economia) assinaram nota neste sábado (2) criticando os "rumos propostos" na política econômica do governo do presidente interino Michel Temer.

Na análise do conselho, que é a autarquia federal responsável pela regulação da profissão de economista e se reúne bimestralmente, as decisões da equipe econômica do governo nas política fiscal, tributária e monetária deveriam ser alteradas. O órgão também alerta para problemas na política cambial com a recente valorização do dólar.

O Cofecon é presidido por Júlio Miragaya, militante do PT, que trabalhou no gestão do ex-governador petista do DF, Agnelo Queiroz, como presidente da Codeplan, a empresa de planejamento da capital federal.

A nota do Conselho repete a defesa de políticas que o Partido dos Trabalhadores tem apresentado como solução para a crise econômica iniciada na gestão do próprio partido no governo federal. Entre essas defesas, está a crítica à intenção do governo interino de restringir o aumento das despesas públicas à inflação, sem considerar controle semelhante para as despesas com pagamento de juros da dívida pública.

Para o conselho "a principal razão do crescimento do deficit primário não foi a elevação dos gastos, mas a forte contração da receita, em decorrência da retração econômica e da elevação da elisão e sonegação fiscais".

O conselheiros recomendam que o crescimento das despesas seja atrelado ao PIB, algo que em parte já acontecia no governo da Presidente Dilma Rousseff com a política de vincular o aumento do salário mínimo ao crescimento do país.

O conselho critica o fato do atual governo não trazer alteração em relação ao governo anterior em relação à política tributária do país. Temer assumiu o governo há 50 dias enquanto o PT permaneceu 13 anos e três meses no poder sem que o governo tenha tenha apoiado projetos legislativos de reforma tributária nesse sentido.

Segundo a nota, o país arrecada 72% dos impostos sobre o consumo e renda dos trabalhadores, contra apenas 28% sobre a renda do capital e a riqueza. Na média dos países da OCDE, uma organização de países desenvolvidos e em desenvolvimento, os valores são 33% e 67%, respectivamente.

O Cofecon também entende que não há mais necessidade da manutenção da taxa básica de juros no atual patamar de 14,25% ao ano para combater a inflação. O governo da presidente afastada Dilma Rousseff manteve em toda a sua primeira gestão a inflação acima da meta (4,5% ao ano) e próxima ao teto da meta (6,5% ao ano), usando para isso interferência em preços administrados como combustíveis e passagens de ônibus. No ano passado, a inflação estourou o teto e chegou aos 10% ao ano.

Com o índice oficial de inflação registrando 9% ao ano em maio e outros índices apontando tendência de aumento nos preços do atacado, a nota informa que "a tendência já está clara, que os fatores que implicaram na elevação da taxa de inflação no primeiro semestre de 2015 não se fazem mais presentes (forte correção dos preços administrados e repasse cambial), que o quadro recessivo elimina qualquer pressão de demanda e que a taxa básica de juros, portanto, já devia estar em queda desde o segundo semestre de 2015".

A nota do conselho também alerta para o risco de valorização da moeda nacional frente ao dólar observada no último mês. "A rápida valorização observada nas últimas semanas é funcional para a queda da inflação, mas novamente deverá colocar em cheque a indústria doméstica, dificultando a reversão do elevado desemprego", informa o texto. 

Pouca renda, muito gasto (por ELIANE CANTANHÊDE)

O êxito (ou sobrevivência...) do governo Michel Temer depende de um complexo equilíbrio num tripé, especialmente enquanto o impeachment definitivo de Dilma Rousseff não vem: opinião pública, Congresso Nacional e o chamado “mercado”. Quando ele joga excessivamente o peso numa dessas pernas, as outras duas se ressentem. Quando joga em duas, a terceira ameaça ruir.

Para não assombrar ainda mais a opinião pública, Temer tem de repetir, dia sim, dia não, que não quer, não pretende e não pode ameaçar a Lava Jato e, além disso, precisa gastar lábia e recursos para neutralizar o discurso de Dilma e do PT de que ele vai enxugar os programas sociais e acabar com a Bolsa Família.

Foi por isso que Temer anunciou um reajuste médio de 12,5% no Bolsa Família, pegando carona numa solenidade de liberação de R$ 742, 8 milhões para a educação básica de Estados e municípios. É o primeiro reajuste do programa central da era petista em dois anos, com um porcentual maior, inclusive, do que os 9% que Dilma prometeu em maio, mas ainda não tinham sido aplicados. Logo, os 12,5% são mais políticos do que econômicos ou sociais.

Ainda em sintonia com a “opinião pública”, Temer achou muito mais prudente levar adiante o aumento salarial do Judiciário e do Ministério Público do que alegar a imensidão da crise para adiar a medida. Em público, ele argumenta que Dilma já tinha assumido o compromisso, a tramitação já estava avançada no Congresso e, afinal, o valor já fora “precificado” no rombo de R$ 170 bilhões. Em privado, admitiu: é melhor pagar o preço do que amanhecer com o Judiciário e o MP detonando uma temporada de greves no serviço público.

Se contemplada a opinião pública, que não quer nem ouvir falar na volta de Dilma, mas também não morre de amores por Temer, ele cede em todas no Congresso e não titubeou um minuto antes de atender à novíssima pressão dos senadores, que ameaçaram não aprovar a medida provisória que dá fôlego financeiro à Infraero se ele não se comprometesse a vetar a cláusula que abre 100% das empresas aéreas brasileiras ao capital estrangeiro. O Senado estava, evidentemente, atendendo ao lobby do setor, apesar de a Latam ter um pé no Chile e a Avianca, na Colômbia. E quem é mesmo dono da Azul? Mas o Planalto fechou os olhos para esses “detalhes” e topou o veto.

É também com um olho na real crise dos Estados e com o outro na influência dos governadores em suas bancadas em Brasília que Temer, camarada, abriu mão de receber boa parte do pagamento da dívida dos Estados que não fizeram o dever de casa e estão devendo até salário de funcionários, aposentados e pensionistas. Como se apenas os Estados estivessem endividados e a União estivesse nadando em dinheiro...

Somando os R$ 50 bilhões que o governo federal deixará de receber dos Estados endividados nestes três anos aos R$ 25 bilhões estimados com o aumento do Judiciário até 2019 e aos R$ 2,1 bilhões ao ano com o reajuste do Bolsa Família, o resultado é: o governo Temer anda muito perdulário para quem chora tanto a falta de dinheiro e o tamanho do rombo fiscal. Sem contar que a prioridade do País é criar emprego para quem não tem, não aumentar o salário dos que já têm.

É aí que entra a terceira ponta do tripé. O tal “mercado” dá de ombros para a Lava Jato e para escândalos e só pensa naquilo: a recomposição da economia brasileira. Mas, se Temer abre tanto a guarda para agradar a opinião pública e o Congresso, no que ele conseguirá se distinguir de Dilma na sobriedade com as contas públicas? Dilma torrou o que tinha e o que não tinha na eleição de 2014. Temer pode estar torrando a confiança do empresariado na transição de 2016 – e, com ela, suas chances. A perna do tripé que mais torce e trabalha pelo sucesso de Temer é justamente o setor produtivo, no campo e nas cidades.

Refém do Corporativismo (por RONALDO CAIADO)

O Brasil tem sido, já há alguns anos, refém do corporativismo sindical. Em contraste com o colossal contingente de quase 12 milhões de desempregados, que não tem quem o defenda, os que se abrigam sob o guarda-chuva corporativo veem o país a partir do próprio umbigo –e reivindicam aumentos salariais como se a economia estivesse em plena normalidade. Mas está na UTI.

Ninguém, em circunstâncias normais, é contra repor perdas salariais. A crise atinge a todos: leva Estados à falência, faz com que o país perca grau de investimento, fecha empresas e gera desemprego em escala jamais vista. Serão 14 milhões até o fim do ano. Multiplique-se essa cifra por cinco –média das famílias brasileiras– e chegamos a 70 milhões de brasileiros sem ganha-pão.

Mesmo assim, o governo Temer decidiu ceder à pressão e conceder aumentos a diversas carreiras do serviço público. A Câmara dos Deputados não opôs resistência. Mas o Senado está determinado a ser a última bastilha em defesa do bom senso da economia e também da justiça social –pois é disso que, no fundo, se trata: optar pelos desvalidos.

Os aumentos –que montam a R$ 58 bilhões até 2019– foram negociados ao tempo da presiden- te afastada, Dilma Rousseff, mas nem ela teve a audácia de encaminhá-los ao Congresso. Não é acei- tável que o governo que a substituiu o faça e comprometa o processo de saneamento da economia. As despesas decorrentes dessa iniciativa, segundo se argumenta, já estavam embutidas no deficit do Orçamento de 2017, que é de estratosféricos R$ 170 bilhões.

Ora, o fato de haver autorização não legitima a despesa. A lei orçamentária brasileira é autorizati- va, e não impositiva. E o que está em pauta é decidir se vamos atender a uma massa de desprovidos de tudo –e, portanto, sem salário, sem aumento, sem meios de pressão– ou se atenderemos aos que, mes- mo com perdas salariais, detêm o patrimônio inigualável da estabilidade funcional.

O cobertor financeiro é curto; não dá para todos. Ou atendemos quem não tem nada ou os que já têm a sobrevivência garantida. Minha prioridade são os desempregados. Não têm lobistas ou recursos para vir a Brasília e pressionar fisicamente os parlamentares. E dependem da redução do deficit, premissa para que a economia se recupere e os empregos voltem. O argumento de que tais despesas já estão no deficit contribui apenas para perenizá-lo.

O único aumento admissível foi o dos servidores do Judiciário, que há nove anos estavam sem reposição. Além disso, há, no Orçamento daquele Poder, espaço fiscal para absorver a conta sem onerar o Tesouro. As demais carreiras não apresentam essa especificidade. Por isso, o Senado não deve contemplá-las.

O país pede sacrifícios a todos –e todos, de algum modo, estão a atendê-lo. Não é justo que o próprio Estado descumpra o que pede aos demais. Não é por outro motivo que o governo anterior está sendo submetido a um processo de impeachment: leviandade com as contas públicas. Não há justiça social sem verba.

A gastança arruinou o país, e a expectativa é que o governo Temer imponha outro paradigma, de austeridade, nos termos do que inicialmente projetou a equipe do ministro Henrique Meirelles. Não se pode relativizar tal compromisso, o que já ocorreu em relação às dívidas dos Estados, premiando os maus gestores e punindo os bons.

Os aumentos, além do impacto direto nas contas da União, provocarão efeito cascata nos Estados e nos municípios, agravando ainda mais a crise econômica. Nesse ritmo, o número de desempregados tende a aumentar e levar o país ao caos social. 

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Fonte:
Reuters +ESTADÃO + FOLHA

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