João Santana diz que fila do caixa dois do Brasil concorreria com a muralha da China

Publicado em 22/07/2016 15:50
POR MÔNICA BÉRGAMO, NA FOLHA DE S. PAULO (EXCLUSIVO)

Em seu depoimento prestado nesta quinta-feira (21) à Justiça em que admitiu o uso de caixa dois na campanha de Dilma Rousseff, o publicitário João Santana afirmou que "com generosidade, e com conhecimento de causa, eu digo que 98% das campanhas no Brasil utilizam caixa dois. Que isso envolve das pequenas às grandes campanhas. Que centenas de milhares de pessoas - quase certo que milhões - de todas as classes sociais e de dezenas de profissões são remuneradas com dinheiro de caixa dois. Mais que isso: o caixa dois é um dos principais - senão o principal - centros de gravidade da política brasileira".

Ele afirma ainda "se todos que já foram remunerados com caixa dois no Brasil fossem tratados com o mesmo rigor que eu, era para estar aqui, atrás de mim, uma fila de pessoas que chegaria a Brasília. Uma muralha humana capaz de concorrer com a muralha da China. Capaz de ser fotografada por qualquer satélite que orbita em torno da terra".

Santana ressalta ainda que, apesar disso, não defende a prática e que ele e a mulher estão dispostos a pagar por seus erros.

Leia abaixo a íntegra da fala do marqueteiro

"Nos últimos meses, eu vi destruídos, um trabalho e uma imagem pessoal que construí, com muito esforço, ao longo de mais de 20 anos. Eu entendo porque isso aconteceu. Primeiro porque escolhi uma profissão fascinante, mas cheia de riscos e incompreensões. Segundo porque me transformei em um profissional de destaque nacional e internacional. Terceiro porque meu trabalho esteve ligado, nos últimos anos, a um grupo político que está hoje sob severo questionamento. O que eu não entendo e não me conformo é com o fato de eu e minha mulher estarmos sendo acusados, injustamente, de corrupção, formação de organização criminosa e de lavagem de dinheiro. De estarmos sendo tratados como criminosos perigosos. E de estarmos servindo, involuntariamente, aos interesses dos que sempre tentaram ligar o marketing político a atividades obscuras e antiéticas.

O marketing eleitoral não cria corrupção, não corrompe, e não cobra propina. Não somos a causa de práticas eleitorais irregulares. Elas são consequência de um sistema eleitoral adulterado e distorcido em sua origem. Isto é assim aqui e na maioria esmagadora dos países. E atinge todos os partidos, sem exceção. Com generosidade, e com conhecimento de causa, eu digo que 98% das campanhas no Brasil utilizam caixa 2. Que isso envolve das pequenas às grandes campanhas. Que centenas de milhares de pessoas - quase certo que milhões - de todas as classes sociais e de dezenas de profissões são remuneradas com dinheiro de caixa 2. Mais que isso: o caixa 2 é um dos principais - senão o principal - centros de gravidade da política brasileira.

Se todos que já foram remunerados com caixa 2 no Brasil fossem tratados com o mesmo rigor que eu, era para estar aqui, atrás de mim, uma fila de pessoas que chegaria a Brasília. Uma muralha humana capaz de concorrer com a muralha da China. Capaz de ser fotografada por qualquer satélite que orbita em torno da terra.
Mas estaria eu aqui a defender o caixa 2? Jamais!

Erramos e estamos dispostos a pagar pelo nosso erro. Mas não somos corruptos nem lavadores de dinheiro.

Pelo que já foi apurado, há fortes indícios de que os crimes da Lava-Jato não estão circunscritos ao caixa 2 eleitoral. Mas no nosso caso nada foi apurado - e nunca será - que não esteja circunscrito ao caixa 2. Mas estamos presos, tivemos nossa reputação arruinada, nossos bens bloqueados, nosso patrimônio líquido sequestrado, nossas empresas, no Brasil e no exterior, ameaçadas de fechar. Tudo, sem que ninguém até hoje duvide, que aquilo que conseguimos na vida é fruto exclusivo do nosso trabalho.
Somos os únicos presos, neste país, por caixa 2.

Não queremos ser símbolos. Nem bodes expiatórios. Não quero clemência, nem piedade. Não espero perdão. Espero apenas proporcionalidade. Espero que Vossa Excia. possa resolver esta grave distorção, e possa darmos, a mim e a minha mulher, a exata medida da nossa responsabilidade. É isto - apenas isto - que esperamos da justiça." 

 

João Santana e mulher dizem que receberam dinheiro de caixa dois de campanha de Dilma

O publicitário João Santana e a mulher dele, Mônica Moura, admitiram nesta quinta (21) em audiência com o juiz Sergio Moro que receberam dinheiro de caixa dois para a campanha eleitoral de Dilma Rousseff de 2010. O total chega a US$ 4,5 milhões.

A informação de que eles assumiriam o ilícito foi antecipada pela coluna em junho.

Mônica, que cuidava das finanças do casal, deu maiores detalhes. Segundo disse, depois que os trabalhos foram encerrados, a campanha não pagou tudo o que devia.

Por cerca de três anos, eles fizeram cobranças insistentes ao PT. Em 2013, foram chamados pelo então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que disse que enfim saldaria o débito. Vaccari orientou Mônica a procurar Zwi Skornicki, que tinha negócios com a Petrobras. Ele faria os pagamentos.

Ficou acertado que o débito seria saldado em dez parcelas, numa conta não declarada no exterior. Nove parcelas foram pagas. A última ficou pendurada.

Santana afirmou no depoimento que sabia como a dívida estava sendo saldada, embora Mônica fosse a responsável pelas finanças. Os dois afirmam que não sabiam que Zwi tinha contratos com a Petrobras nem que os recursos poderiam ser fruto de propina. No depoimento eles também nada falaram sobre Dilma Rousseff ou de qualquer outro integrante da coordenação da campanha dela em 2010.

Mônica e Santana devem fazer acordo de delação premiada, mas o depoimento desta quinta (21) faz parte da audiência de defesa do casal.

  Heuler Andrey - 23.fev.16/Folhapress  
Prisão de Mônica Moura

Mônica Moura, mulher de João Santana, é levada para realizar exame do corpo de delito

 

Marqueteiro de Dilma admite que recebeu US$ 4,5 mi de caixa 2 (na VEJA)

O marqueteiro João Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura, foram interrogados na tarde desta quinta-feira na ação penal em que são acusados de recebimento de propinas do esquema montado na Petrobras, e confessaram que, ao serem presos em fevereiro pela Polícia Federal, mentiram no inquérito. Ao juiz federal Sergio Moro, o casal esclareceu que 4,5 milhões de dólares recebidos por meio do doleiro e operador de propinas Zwi Skornicki era dinheiro da campanha eleitoral de Dilma Rousseff, em 2010.

Segundo Mônica, os valores recebidos por meio do operador eram relativos a “dívidas da campanha presidencial de 2010 (Dilma) e Zwi lhe foi indicado pelo então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto”. Ela negou, contudo, que soubesse que o dinheiro tinha origem em propinas do esquema Petrobras. Afirmou que está disposta a colaborar com a Justiça, mas só o fará com “acordo assinado”.

Mônica não quis responder sobre os depósitos e pagamentos da Odebrecht que fazem parte de outra ação penal – referente ao Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, conhecido como “Divisão de Propinas”. “Excelência, sobre isso prefiro falar no outro processo. Como eu disse estou disposta a falar, a colaborar com a Justiça, inclusive mediante acordo com a Justiça. Pretendo falar tudo sobre isso, não quero me furtar a falar nada, nenhuma informação, mas no outro processo.”

Mônica Moura foi categórica ao dizer na audiência que o caixa dois é uma prática corriqueira nas campanhas eleitorais. “Caixa dois nunca deixou de haver.” Ao final da audiência, desabafou. “Nunca soubemos de Mensalão, de propinas na Petrobras. Somos publicitários, nunca recebi propina, sempre recebi pelo meu trabalho. Não sou agente público, não sou política, não sou empreiteira. Sempre trabalhei para partidos políticos, fazendo campanha.”

(Com Estadão Conteúdo)

Dilma diz que não autorizou caixa 2 em campanha; delações preocupam PT

A presidente afastada, Dilma Rousseff, afirmou nesta sexta-feira (22) que não autorizou pagamento de caixa dois durante suas campanhas eleitorais e que, se houve esse tipo de acerto, não foi com seu conhecimento.

"Não autorizei pagamento de caixa dois para ninguém. Se houve pagamento, não foi com o meu conhecimento", disse Dilma em entrevista para a rádio Jornal Commercio.

A declaração da petista aconteceu um dia após o publicitário João Santana e sua mulher, Mônica Moura, afirmarem em depoimento à Justiça que receberam dinheiro de caixa dois para fazer a campanha de Dilma em 2010. O total, segundo eles, chegou a US$ 4,5 milhões.

Os relatos de Santana e Mônica, assumindo a prática de caixa dois como recorrente em campanhas eleitorais, deixaram a cúpula do PT preocupada. Isso porque, presos há cinco meses em Curitiba pela Lava Jato, ambos negociam um acordo de delação premiada, para tentar atenuar suas penas.

Petistas acreditam que as delações em série podem estimular o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto a também colaborar com a Justiça. Ele tem sido pressionado por familiares a contar o que sabe.

A mulher de João Santana, que cuidava das finanças do casal, disse que, após a campanha de Dilma em 2010, o PT não pagou tudo o que devia e protelava uma dívida de R$ 10 milhões.

Mônica afirmou que tentou resolver o caso "de várias formas" junto a Vaccari, que a orientou a procurar Zwi Skornicki, representante no Brasil do estaleiro asiático Keppel Fels, com negócios com a Petrobras.

Ficou acertado então que o débito seria saldado por Zwi em dez parcelas, em uma conta não declarada no exterior.

Na entrevista nesta sexta, Dilma, por sua vez, disse que as declarações do publicitário e de sua mulher não a preocupam mas, nos bastidores, aliados temem repercussões negativas diante do já bastante difícil cenário para tentar reverter o impeachment no Senado. 

Barusco queria ficar preso em Angra dos Reis e tem pedido negado (na FOLHA)

A justiça negou nesta quarta-feira (20) pedido do ex-gerente da Petrobras Pedro José Barusco, que queria cumprir sua prisão domiciliar em Angra dos Reis (RJ). Segundo os advogados, casa em Angra é a segunda morada do preso.

Condenado na Operação Lava Jato, Barusco teria que cumprir sua pena em regime fechado de prisão –em que não se pode deixar o presídio. Como viroudelator do esquema, beneficiou-se de acordo de cooperação e foi autorizado a cumprir a pena em regime aberto diferenciado –ficará em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica por dois anos e prestará serviços comunitários.

Os advogados do ex-gerente da Petrobras pediram a inclusão da casa de Barusco em Angra como local de cumprimento da pena. Eles também pediram que a tornozeleira eletrônica fosse desinstalada e que o condenado não tivesse que cumprir recolhimento integral aos finais de semana, apenas das 20h às 6h, mesmos horários acertados para recolhimento em dias de semana.

De acordo com a defesa, o acordo de delação premiada previa menos limitações.

Relator do pedido no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), o desembargador João Pedro Gebran Neto considerou a solicitação sobre a casa em Angra "um pedido sem precedentes, que demonstra o completo desrespeito ao Judiciário e às demais instituições envolvidas nessa operação". Para ele, o acordo de colaboração de Barusco não o remove da condição de condenado.

Sobre a tornozeleira, Gebran afirmou que, sem ela, não é possível fazer um controle do retorno aos domicílios de quem cumpre pena em regime aberto. Em relação aos finais de semana, Gebran citou o trecho do acordo de delação que especifica a necessidade de recolhimento integral.

‘Foi caixa 2 mesmo, excelência’, diz marqueteira a juiz da Lava Jato (no ESTADÃO)

Diante do juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, a empresária Mônica Moura – mulher e sócia do publicitário João Santana, marqueteiro das campanhas de Lula e Dilma – confessou que US$ 4,5 milhões recebidos de o operador de propinas Zwi Scornicki em conta no exterior eram referentes ‘a uma dívida de campanha que o PT ficou devendo prá gente na campanha de 2010’.

Ela afirmou que o então tesoureiro do PT João Vaccari Neto orientou-a a procurar Zwi. “Primeira campanha da presidente Dilma. Ficou uma dívida de quase 10 milhões de reais que não foi paga, demorou, foi protelada, eu cobrei muito, tinha muitas dívidas de campanha, se tentou resolver de várias formas. Enfim, depois de muita luta tive uma conversa com o Vaccari que acertava os pagamentos de campanha. Ele mandou procurar um empresário. Assim eu cheguei no sr. Zwi. O Vaccari me deu o contato dele, fui a um escritório dele no Rio. Fui acertar com ele a forma de pagamento.”

O DEPOIMENTO DE MONICA MOURA:

O juiz Moro questionou a mulher de João Santana se ‘foi tratado de onde vinha o dinheiro’.

“Não, não”, ela respondeu.

A sra não perguntou a Vaccari ou a Zwi?, insistiu o juiz.

“Não, não. Estava recebendo pelo meu trabalho. Só perguntei ao Vaccari ‘como vai ser feito isso’. Ele disse ‘olha, vai ter que parcelar, vai conversar com ele (Zwi) que já está tudo acertado.”

Ela admitiu que não registrou o pagamento parcelado na Justiça Eleitoral. “Não, foi caixa 2 mesmo excelência. Não foi declarado”

O juiz perguntou à ré por que não confessou logo que foi presa em fevereiro e depôs na Polícia Federal. “Primeiro, porque eu passava por uma situação extrema. E o País estava vivendo um momento muito grave política e institucionalmente. As coisas acontecendo com a presidente Dilma, todo o processo, eu não quis atrapalhar esse processo, eu não quis incriminar, não queria contribuir com uma coisa para piorar. Acabei falando que (recebeu) de campanha no exterior. Eu queria apenas poupar (Dilma) de piorar a situação. Eu quis apenas não piorar a situação.”

O juiz indagou a Mônica se ela não tinha receio de receber propinas do esquema Petrobrás. “Nunca pensei nisso, nunca me passou pela cabeça. Eu estava recebendo remuneração pelo meu trabalho, usando uma conta não declarada no exterior. O receio que eu tinha, óbvio, é que estava usando uma conta não declarada no exterior. Sempre tive muito receio disso, mas, infelizmente, no meu trabalho, na minha atividade, isso acontece sempre. Faz parte dos trabalhos da campanha política. Sempre são pagamentos em caixa 2, uma prática que acontece.”

Laudo da Polícia Federal indica que a empresa do casal (Pólis Propaganda) recebeu R$ 170 milhões do PT, entre 2006 e 2014. “São valores expressivos”, ela reconheceu. “Fazer TV, campanha no Brasil, é muito caro. Isso (R$ 170 milhões) se refere a campanhas.”

Moro perguntou o motivo de não ter incluído os US$ 4,5 milhões recebidos de Zwi Scornicki na contabilidade da agência Pólis Propaganda. “Os partidos não aceitam, sempre tentei para ficar mais tranquila, não tinha que correr riscos, fazer esse malabarismo de empresário doador de campanha, mas o partido não aceita porque tem o teto, vai extrapolar o teto limite que tem no Tribunal Superior Eleitoral. Os partidos não querem declarar o real valor que recebem das empresas. Em contrapartida nós profissionais ficamos no meio disso. Portanto, nunca era declarado todo o valor. Não era uma opção minha, era uma prática, não só do PT, em todos os partidos.”

Moro questionou a mulher de João Santana se ela não considera ‘uma trapaça a banalização do caixa 2’.

“Eu queria receber esses valores o mais rápido possível, mas o Vaccari já havia me informado que ia parcelar, não tinha como pagar de uma vez. Eu queria. O (Vaccari) disse que (Zwi) era um grande empresário, uma pessoa honesta, decente, que colaborava com o partido e que iria pagar essa dívida nossa. Mas eu nunca pensei em dinheiro sujo.”

 

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo/VEJA/ESTADÃO

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