No ESTADÃO: "O destino de Kátia Abreu", POR ELIANE CANTANHÊDE

Publicado em 27/07/2016 09:59
na edição desta quarta-feira

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) reúne sua diretoria hoje, em Brasília, para debater uma questão bastante delicada: o que fazer se a presidente afastada da entidade, Kátia Abreu, decidir voltar ao cargo, depois que a Comissão de Ética Pública da Presidência da República, consultada por ela, a dispensou de cumprir um período de “quarentena” nesse caso.

A diretoria e as federações são contra a volta de Kátia Abreu, mas isso pode virar um problemaço de cunho jurídico, curiosamente repetindo a mesma divisão que ocorre com a Presidência da República, que também tem uma presidente afastada, Dilma Rousseff, e um presidente em exercício, Michel Temer.

Kátia pediu licença da presidência da CNA em janeiro de 2015 para assumir o Ministério da Agricultura no segundo mandato de Dilma, agora afastada. Senadora eleita pelo PMDB de Tocantins, ela foi substituída desde então na CNA por João Martins, que exerce a função com plenos direitos. Kátia é também presidente licenciada da Federação de Agricultura de Tocantins, seu estado.

O problema é delicado, até porque Kátia Abreu havia se firmado como uma grande, talvez a maior, liderança de um setor que consegue ir bem, apesar de todas as crises que se abatem dramaticamente sobre a indústria, por exemplo. Ela, porém, jogou para o alto esse patrimônio político junto à própria categoria, ao decidir ficar até o fim com Dilma, enquanto a CNA e as entidades ligadas ao agronegócio aderiram abertamente à tese do impeachment.

Além disso, Kátia Abreu abriu um outro flanco político, porque ela é filiada ao PMDB e historicamente adversária ao PT, mas ficou contra o peemedebista Michel Temer e a favor da petista Dilma, de quem se tornou interlocutora e amiga. Foi, inclusive, testemunha a favor de Dilma na Comissão do impeachment no Senado.

GUINESS – Na quinta-feira, 28/07, que é dia do agricultor, a CNA vai montar um mesão de 200 metros com frutas em plena Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O objetivo é ganhar o Guiness de maior quantidade de frutas reunidas de uma só vez, batendo o último récorde, de 8 toneladas. A coisa é séria, tanto que o Guiness está enviando um representante direto de Nova York para conferir a quantidade e atestar _ ou não _ o récorde.

 

Economista diz que delator mandou para Delcídio R$ 1,5 milhão ‘em caixas’

Antônio Alberto Leite Godinho declarou que foram levados à portaria de seu prédio, em São Paulo, ‘entre cinco e sete entregas de dinheiro’ (por FAUSTO MACEDO)

O economista Antônio Alberto Leite Godinho afirmou à Polícia Federal que, entre 2006 e 2007, em nome do então senador Delcídio Amaral (Sem partido-ex-PT-MS), recebeu R$ 1,5 milhão do operador de propinas e delator da Lava Jato Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano. Antônio Godinho afirmou que foram enviados a ele ‘em várias ocasiões, pacotes de dinheiro deixados na portaria do prédio’. Os valores pagaram, segundo o economista, credores da campanha de Delcídio ao governo do Mato Grosso do Sul, em 2006.

Um interlocutor identificado como ‘Godinho’ havia sido citado pelo ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró em março deste ano. Cerveró afirmou, em delação premiada, que em 2006 Delcídio pediu contribuição financeira para ‘auxiliá-lo na campanha eleitoral’. Ele declarou que Baiano repassou US$ 1,5 milhão ‘a uma pessoa ligada a Delcídio do Amaral de nome Godinho, indicada pelo senador’.

Em sua delação, Delcídio relatou que disse a Cerveró que Godinho, ‘amigo de longa data’ iria procurá-lo para receber US$ 1 milhão, a ser entregue por Fernando Baiano. O ex-senador afirmou que o valor recebido não foi contabilizado oficialmente por ele e as dívidas de campanha foram pagas. Delcídio declarou ainda se arrepender ‘da campanha eleitoral disputou em 2006 e que ‘soube, posteriormente, que a origem desses recursos teria advindo de propinas pagas a partir da compra da Refinaria de Pasadena, no valor global de US$ 15 milhões’.

O depoimento de Godinho foi prestado em 25 de maio de 2016. À PF, ele contou que estudou com Delcídio no Colégio São Luiz, em São Paulo. Em 2002, segundo Godinho, ele organizou um encontro da turma de escola para comemorar trinta anos de formatura e se reaproximou de Delcídio, recém-eleito senador.

“Após essa reaproximação, o declarante teve a oportunidade de acompanhar Delcídio do Amaral, em entrevistas e eventos, quando realizados em São Paulo, além de tê-lo encontrado em diversas ocasiões, sobretudo de cunho social, envolvendo as famílias de ambos”, relatou Godinho, que disse ter ocupado cargos na administração pública, ‘tais como na Casa Civil do Estado de São Paulo, no Ministério da Agricultura e na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp)’.

“Em algum dos encontros que travou com Delcídio Amaral, este lhe mostrou uma lista com diversas pessoas e empresas, as quais seriam credores da campanha eleitoral ao Governo do Estado do Mato Grosso do Sul, realizada naquele ano de 2006; que o então senador queixou-se de que estava enfrentando muitas dificuldades para saldar tais dívidas, alegando que recém havia obtido a possibilidade de um apoio financeiro no Rio de Janeiro; perguntando ao declarante (Antônio Godinho) se este poderia prestar-lhe ajuda para a operacionalização desses pagamentos; que a tarefa do declarante seria apanhar os valores e realizar o pagamento dos credores das dívidas de campanha.”

De acordo com o economista, Delcídio então lhe passou um número de telefone para que fosse feito um primeiro contato com Fernando Baiano, ‘que seria o responsável por disponibilizar os valores no Rio’. Antônio Godinho declarou que ligou para Baiano ‘a quem não conhecia e, ao mencionar o nome Alberto Godinho, Fernando afirmou que sabia do que se tratava, orientando o declarante a comparecer no Rio de Janeiro, em endereço do qual não recorda’.

À Federal, o economista relatou que acabou indo de São Paulo ao Rio em três ocasiões. Na primeira, logo após a campanha eleitoral de 2006, esteve em um endereço no centro da capital fluminense. Segundo o economista, tratava-se ‘de um prédio velho, pequeno, aparentemente empresarial, em que Fernando Soares mantinha um escritório’.

“Ao chegar no endereço, o declarante conversou pessoalmente com Fernando Soares, mas não obteve nenhum valor, tendo apenas tratado a respeito”, disse.
“Fernando Soares confirmou que disponibilizaria os valores, cerca de R$ 1,5 milhão, mas não dispunha, naquela oportunidade, de nenhuma parcela dessa monta.”

No depoimento, Antônio Godinho contou que as duas idas seguintes ao Rio, também para cobrar valores de Fernando Baiano, foram ‘sem sucesso’. Todas as viagens, afirmou, foram realizadas por transporte aéreo, com ida e retorno no mesmo dia, pelos aeroportos de Congonhas, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio.

“Em algum momento das tratativas com Fernando Soares ficou acertado que o dinheiro seria levado até a residência do declarante (Antônio Godinho), em São Paulo, o que de fato ocorreu; que esclarece que foram enviados ao declarante, em várias ocasiões, pacotes de dinheiro deixados na portaria do prédio; que tais valores estavam acondicionados em caixas cobertas por papel pardo, contendo o nome do declarante; que foram entre cinco e sete entregas de dinheiro realizadas na forma recém-descrita”, disse.

Godinho afirmou à PF que ‘nunca teve contato com a pessoa que deixou tais valores na portaria do prédio, complementando que saía pela manhã de casa e retornava somente ao final do dia’. O economista declarou que ‘achou estranho essa modalidade de entrega, mas nunca a questionou’.

“O ex-senador Delcídio apenas perguntava ao declarante se estava correndo tudo bem, referindo-se à chegada do dinheiro e aos pagamentos; que o intervalo de tempo entre cada remessa de dinheiro ficava entre quinze e vinte dias, salvo engano; que, no total, o declarante acredita que tenha recebido em torno de R$ 1,5 milhão”, relatou.

Godinho declarou que ‘por desempenhar essas tarefas’, recebeu do ex-senador ressarcimento dos gastos que teve com passagens aéreas e demais despesas relacionadas às viagens, e uma pequena compensação financeira de cerca de R$ 6 mil a R$ 8 mil. Os valores foram solicitados, disse Godinho, ‘em face do grande transtorno que teve ao realizar os pagamentos no interesse do ex-senador’. Segundo o economista, ao receber os valores de Fernando Baiano, ele passava a pagar os credores de Delcídio, ‘seguindo as prioridades que o ex-senador tinha indicado’.

“Havia, na lista, muitas pessoas humildes, que sequer tinham conta bancária, sendo que outras, a maioria, mantinham contas-poupança na Caixa Federal ou no Banco do Brasil; que havia, na lista, também muitos postos de combustíveis e empresas de rádio, além de empresas de alimentação; que o declarante não se vê em condições de identificar nominalmente qualquer dessas empresas; que o declarante levou cerca de dois meses para conseguir saldar todas as dívidas que constavam na lista que Delcídio havia lhe passado”, afirmou.

O economista afirmou que ‘nunca teve conhecimento quanto à origem dos valores que Fernando Soares enviou à sua residência’. A PF questionou Godinho se ‘pelas circunstâncias como foram enviados os valores (de forma arriscada e sem o uso do sistema financeiro)’, ele nunca teria se questionado sobre a licitude do dinheiro.

“Respondeu que não, esclarecendo que, como Delcídio era amigo de muitas pessoas “bem posicionadas” financeiramente, pareceu tratar-se apenas de uma forma “excêntrica” de remeter os valores; que o declarante, após finalizar o pagamento dos credores de Delcídio, nunca mais realizou qualquer tarefa relacionada a dinheiro no interesse dele, quer estabelecendo contatos com colaboradores ou fornecedores de campanha, quer apanhando ou remetendo dinheiro a terceiros”, disse.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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1 comentário

  • João Alves da Fonseca Paracatu - MG

    Se a primeira comadre D. Kátia voltar a exercer (e deve voltar) a presidência da CNA e não for de lá enxotada, devemos assumir a pecha de frouxos (que ela mesmo gosta de pregar em seus oponentes) ou então fazer um movimento coletivo para questionar e não pagar a contribuição sindical --- ou pelo menos depositá-la em juízo (enquanto questionaremos o uso desta contribuição para promoção pessoal da maior traidora que tivemos nos últimos tempos)... quem topa?... Saudações mineiras, uai!

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. João esse depósito em juízo, "algum" juiz não pode liberar esse valor para a CNA para ela desenvolver as suas atividades?

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Sr. João Alves, tem muito produtor que sobe nas tamancas e prega o fim da agricultura no Brasil, dizem que os produtores precisam parar tudo, mas quando chega o momento tomar uma medida relativamente simples, a entrada na justiça pode ser conjunta, isso não conseguem fazer.

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      É um sentimento conflitante que muitos produtores espalham entre a classe, o de que a sociedade deve pagar, ao mesmo tempo em que são extremamente servis às autoridades. O povo deve pagar aos heróis, que e ajoelham diante de ministros e politicos corruptos.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. João Alves, sei que o Sr. é um homem ocupado com seus afazeres, mas no meu comentário acima postei um link onde tem um artigo no estadão que cita: ... A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) reúne sua diretoria hoje, em Brasília, para debater uma questão bastante delicada: o que fazer se a presidente afastada da entidade, Kátia Abreu, decidir voltar ao cargo, depois que a Comissão de Ética Pública da Presidência da República, consultada por ela, a dispensou de cumprir um período de "quarentena" nesse caso.

      A diretoria e as federações são contra a volta de Kátia Abreu, mas isso pode virar um problemaço de cunho jurídico, curiosamente repetindo a mesma divisão que ocorre com a Presidência da República, que também tem uma presidente afastada, Dilma Rousseff, e um presidente em exercício, Michel Temer.

      Kátia pediu licença da presidência da CNA em janeiro de 2015 para assumir o Ministério da Agricultura no segundo mandato de Dilma, agora afastada. Senadora eleita pelo PMDB de Tocantins, ela foi substituída desde então na CNA por João Martins, que exerce a função com plenos direitos. Kátia é também presidente licenciada da Federação de Agricultura de Tocantins, seu estado.

      O problema é delicado, até porque Kátia Abreu havia se firmado como uma grande, talvez a maior, liderança de um setor que consegue ir bem, apesar de todas as crises que se abatem dramaticamente sobre a indústria, por exemplo. Ela, porém, jogou para o alto esse patrimônio político junto à própria categoria, ao decidir ficar até o fim com Dilma, enquanto a CNA e as entidades ligadas ao agronegócio aderiram abertamente à tese do impeachment. ...ISSO É SER REPRESENTADO OU É UM "CABIDE" DE CARGOS NO PODER ??? ... Reitero minas REPETIÇÕES (com relação a "esse senhôra" ... ISSO NÃO VAI PRESTAR !!!

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Correção de DOIS pequenos erros... Onde Lê-se:... mas no meu comentário acima postei um link;;; Leia-se: ...mas no meu comentário ABAIXO postei um link... &... Onde lê-se: ... (com relação a "esse senhôra" ... Leia-se: ...(com relação a "essa senhôra")...

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