P1, a variante brasileira da covid é mais transmissível e pode causar reinfecção (no Poder360)

Publicado em 07/03/2021 15:02
Brasil é o 22.o País em n.os de mortos/milhão, segundo o monitor Worldometer.

A variante brasileira do novo coronavírus – conhecida como P.1. ou variante de Manaus – provavelmente emergiu na capital amazonense em meados de novembro de 2020, cerca de um mês antes do número de internações por síndrome respiratória aguda grave na cidade dar um salto. Em apenas sete semanas, a P.1. tornou-se a linhagem do SARS-CoV-2 mais prevalente na região, relatam pesquisadores do Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE) em artigo divulgado em seu site na 6ª feira (27.fev.2021).

Vírus surgiu em novembro; Dados são de estudo da Fapesp (Leia mais em Poder360) 

Cientistas da Fiocruz Amazonas identificaram mutações na variante B.1.1.28 do novo coronavírus, presente em todo o Brasil

As conclusões do grupo coordenado por Ester Sabino, da Universidade de São Paulo (USP), e Nuno Faria, da Oxford University (Reino Unido), se baseiam na análise genômica de 184 amostras de secreção nasofaríngea de pacientes diagnosticados com COVID-19 em um laboratório de Manaus entre novembro de 2020 e janeiro de 2021.

Por meio de modelagem matemática, cruzando dados genômicos e de mortalidade, a equipe do CADDE calcula que a P.1. seja entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível que as linhagens que a precederam. Os cientistas estimam ainda que em parte dos indivíduos já infectados pelo SARS-CoV-2 – algo entre 25% e 61% – a nova variante seja capaz de driblar o sistema imune e causar uma nova infecção. O trabalho de modelagem foi feito em colaboração com pesquisadores do Imperial College London (Reino Unido).

"....quem já teve COVID-19 precisa continuar se precavendo"

“Esses números são uma aproximação, pois se trata de um modelo. De qualquer modo, a mensagem que os dados passam é: mesmo quem já teve COVID-19 precisa continuar se precavendo. A nova cepa é mais transmissível e pode infectar até mesmo quem já tem anticorpos contra o novo coronavírus. Foi isso que aconteceu em Manaus. A maior parte da população já tinha imunidade e mesmo assim houve uma grande epidemia”, diz Sabino à Agência Fapesp.

A pesquisa teve apoio da Fapesp e está em processo de revisão por pares.

Análises feitas pelo grupo em mais de 900 amostras coletadas no mesmo laboratório de Manaus, entre elas as 184 que foram sequenciadas, indicam que a carga viral presente na secreção dos pacientes foi aumentando à medida que a variante P.1. tornou-se mais prevalente.

De acordo com Sabino, é comum no início de uma epidemia a carga viral dos infectados ser mais alta e baixar com o tempo. Por esse motivo, os pesquisadores não sabem ao certo se o aumento observado nas amostras analisadas pode ser explicado por um fator meramente epidemiológico ou se, de fato, ele indica que a P.1. consegue se replicar mais no organismo humano do que a linhagem anterior. “Essa segunda opção parece bastante provável e explicaria por que a transmissão da nova cepa é mais rápida”, comenta a pesquisadora.

Outro estudo divulgado também na sexta-feira (27/02) por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia indica que em indivíduos infectados com a P.1. a carga viral no organismo pode ser até dez vezes mais alta.

No artigo do CADDE, os pesquisadores relatam que, até 24 de fevereiro de 2021, a variante P.1. já havia sido detectada em seis Estados brasileiros, que ao todo receberam 92 mil passageiros aéreos de Manaus em novembro de 2020. Desses, a maior parte teve São Paulo como destino (pouco mais de 30 mil). Na sequência vieram outras cidades do Amazonas, Pará, Rondônia, Ceará e Roraima. Segundo os autores, portanto, é provável que tenha havido múltiplas introduções da nova variante nesses Estados.

MUTAÇÕES-CHAVE

O sequenciamento do genoma viral das 184 amostras foi feito com uma tecnologia conhecida como MinION, que por ser portátil e barata possibilita fazer estudos que ajudam a entender o processo de evolução do vírus.

Por uma técnica genômica chamada relógio molecular, os pesquisadores concluíram que a P.1. descende da cepa B.1.128, que foi identificada pela primeira vez em Manaus em março de 2020. Quando comparada à linhagem-mãe, a variante P.1. apresenta 17 mutações, sendo dez na proteína spike – usada pelo vírus para se conectar com a proteína ACE-2 existente na superfície das células humanas e viabilizar a infecção.

Três mutações são consideradas mais importantes – a N501Y, a K417T e a E484K –, pois se localizam na ponta da proteína spike, em uma região conhecida como RBD (sigla em inglês para domínio de ligação ao receptor). É nesse local que ocorre a ligação entre o vírus e a célula humana.

Segundo Sabino, essas três mutações-chave são idênticas às encontradas na variante mais transmissível reportada na África do Sul (B.1.351). Já a variante de preocupação descoberta no Reino Unido (B.1.1.7.) apresenta apenas a mutação E484K na região RBD. Para os autores, os dados indicam ter havido um processo de evolução convergente, ou seja, determinadas mutações que conferem vantagem ao vírus surgiram paralelamente em linhagens de diferentes regiões geográficas. Por seleção natural essas variantes foram se sobressaindo às linhagens anteriormente predominantes nesses locais.

No caso da P.1., relatam os autores, houve um período de rápida evolução molecular e ainda não se sabe por quê. “Surgiram de repente várias mutações que facilitam a transmissão do vírus, algo incomum. Para se ter ideia, a cepa P.2., que também descende da B.1.128, apresenta apenas uma mutação desse tipo”, conta Sabino.

Uma das possíveis explicações para o fenômeno, segundo a pesquisadora, é o vírus ter tido mais tempo para evoluir ao infectar um paciente com o sistema imune comprometido.

“Até que vacinas eficazes estejam disponíveis para todos, as intervenções não farmacológicas [distanciamento social, uso de máscara e higiene das mãos] continuam sendo necessárias e importantes para reduzir a emergência de novas variantes”, ressaltam os pesquisadores do CADDE.


Com informações da Agência Fapesp.

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NR.: Biólogo Fernando Reinach escreve no Estadão sobre a "possibilidade de a Coronavac não proteger contra a P.1.":

"... Os cientistas brasileiros já começaram a caracterizar a P.1. Os dados de um dos primeiros trabalhos são preocupantes. Os cientistas mediram a capacidade de neutralização dos anticorpos produzidos por uma infecção pelo Sars-CoV-2 e os produzidos pela vacina Coronavac frente ao vírus original e a variante P.1. O soro de 18 pessoas que se recuperaram de casos moderados de covid causados pela linhagem original e o de 8 pessoas vacinadas com a Coronavac foi usado no estudo. 

No primeiro experimento foi medida a capacidade dos anticorpos das 18 pessoas que se recuperaram de inibir a penetração do Sars-CoV-2 original e da variante P.1 em células humanas. O resultado foi o esperado. O soro dos curados tem uma capacidade alta de inibir a entrada do vírus original, mas essa capacidade é 75% menor quando a variante P.1 é usada. Isso significa que os infectados pelo vírus original devem possuir uma capacidade reduzida de combater a P.1 e podem ter nova infecção.

Em seguida os cientistas repetiram o experimento com o soro das oito pessoas vacinadas com a Coronavac. Esse é o resultado mais preocupante. Os anticorpos presentes em 6 das 8 pessoas vacinadas têm capacidade de bloquear o vírus original. Mas nenhuma das oito pessoas vacinadas com a Coronavac possui anticorpos capazes de bloquear a entrada da variante P.1 nas células. 

Esse resultado levanta a possibilidade de a Coronavac não proteger contra a P.1. Claro que esse é um estudo preliminar, feito em tubos de ensaio, com muito poucos vacinados (somente oito), e que ainda não foi revisado por pares. Mas os pesquisadores envolvidos são competentes e muito conhecidos. A AstraZeneca comunicou que sua vacina é capaz de neutralizar a P.1, mas ainda não mostrou os dados. 

Combater um coronavírus verde-amarelo é um problema que tem de ser resolvido por brasileiros. Mais do que nunca vamos precisar dos nossos cientistas.

Mais informações:

LEVELS OF SARS-COV-2 LINEAGE P.1 NEUTRALIZATION BY ANTIBODIES ELICITED AFTER NATURAL INFECTION AND VACCINATION. LANCET (PREPRINT)  (2021)

*É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS". (Em O Estado de S. Paulo, edição de sábado).

Média móvel de casos de covid-19 nos EUA cai 75% em relação a janeiro

Internações diminuíram 67%; 16% da população vacinada (Poder360)

A média móvel de novos casos de covid-19 nos Estados Unidos diminuiu 74,9% no início de março, em comparação ao maior pico registrado em janeiro deste ano.

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o índice de 249.360 contaminações (11.jan.2021) caiu para 62.555 (3.mar). Também afirmou que a média semanal de internações de pacientes com coronavírus teve queda de 67%: de 16.540 (9.jan) para 5.490 (2.mar).

A melhora dos índices acompanha o número de pessoas que já foram vacinadas no país. Segundo dados, até 4 de março, 16,1% dos cidadãos americanos já teriam recebido a 1ª dose da vacina.

Apesar dessa melhora e da diminuição do número de transmissões e hospitalizações, os Estados Unidos ainda registram números preocupantes em relação ao ano passado.

Hoje, o país ocupa o 8º lugar no ranking mundial, somando um total de 536.980 mortes até as 20h40 de 6 de março. São 1.616 mortes a cada milhão de habitantes. Os números são do monitor Worldometer.

Eis a lista:

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O país foi um dos primeiros a começar a vacinação contra a covid-19, ainda em dezembro de 2020. Joe Biden, presidente do país, afirma que os EUA terão doses para vacinar toda a população até fim de maio –2 meses antes do previsto.

Fauci está otimista em vacinar adolescentes nos EUA no outono e crianças mais jovens ano que vem

LOGO REUTERS

WASHINGTON (Reuters) - Estudantes do ensino médio nos Estados Unidos devem receber vacinas contra Covid-19 até o outono no hemisfério norte, e estudantes mais jovens devem ser liberados para a imunização no começo de 2022, afirmou a principal autoridade de doenças infecciosas dos EUA, Anthony Fauci, neste domingo.

Fauci afirmou que espera que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças emita orientações mais frouxas para pessoas que já foram vacinadas “dentro dos próximos dias”, mas apelou para que a vigilância continue em medidas de mitigação para mais de 80% de norte-americanos que ainda estão esperando receber as doses.

“Estamos indo na direção certa. Temos apenas que aguentar um pouco mais”, disse Fauci, à emissora de televisão CBS.

“Queremos levar as taxas de mortalidade pelo vírus a níveis muito, muito baixos e, então, teremos muito, muito mais facilidade para recuar com segurança” nas medidas de mitigação.

Os Estados Unidos agora estão vacinando em média 2,1 milhões de pessoas por dia.

“Projetamos que estudantes de ensino médio muito provavelmente serão vacinados até o outono, talvez não no primeiro dia de aula, mas certamente no começo do outono”, disse.

Ele disse que alunos do ensino primário devem estar prontos para receber a vacina no primeiro trimestre do próximo ano, após o fim de estudo sobre a segurança dessa inoculação, afirmou.

A queda de casos começou a se estabilizar em 60.000 a 70.000 novas infecções por dia, o que Fauci disse que é inaceitável. Ele destacou a necessidade de continuar a orientar o uso de máscaras e outras medidas de mitigação para evitar novos surtos, no momento em que surgem novas variantes do vírus.

(Reportagem de Andrea Shalal em Washington/Reuters).

 

 
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Fonte:
Poder360

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