Soja: Boatos internacionais tentam desestabilizar mercado sustentado na CBOT

Publicado em 17/04/2014 17:15 e atualizado em 22/04/2014 07:14

Os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago já acumulam somente neste ano ganhos de 14% -- e nesta quinta-feira (17) os preços da oleaginosa atingiram os melhores patamares em 10 meses no mercado internacional (US$ 15,31 bushel). Ainda nessa mesma quinta-feira uma agência internacional de notícias divulgou uma nota informando que compradores chineses poderiam cancelar cerca de 1,2 milhão de toneladas, com um valor de, aproximadamente, US$ 900 milhões, alegando "default" (inadimplência) de compradores chineses.

De acordo com a notícia, em função dessa expressiva alta registrada pela soja em Chicago, "honrar os negócios já feitos levaria os compradores chineses a incorrer numa perda de até US$ 7 milhões por carga. (...) A maioria das cargas foi entregue pelo vendedor sem cartas de crédito como garantias, e os compradores não estão dispostos a pagar agora, porque vão sofrer perdas enormes". 

Entretanto, segundo analistas, abril é um mês de extrema volatilidade para o mercado da soja e de forte influência dos ativos financeiros e dos fundos de investimento nos negócios. Isso, ainda de acordo com analistas, estimularia a divulgação de informações inconsistentes de várias fontes e, também, de boatos que visam desestabilizar o mercado de soja, que vem exibindo até esse momento uma clara tendência de alta. 

Essa boataria no mercado internacional repete o que ocorreu exatamente neste mesmo período do ano passado, envolvendo as mesmas empresas - a chinesa Sunrise  e a japonesa Marubeni, uma alegando que a outra não estaria honrando seus contratos, e, com isso, o mercado reagiria negativamente a esse desacordo (com  consequente devolução de compras). No entanto, desta vez, há um fato novo no mercado: os americanos estão recomprando soja (vendida mais barato), pois suas indústrias de esmagamento ficaram sem suprimento para dar conta da demanda interna (farelo e óleo). Ou seja, mesmo que houvesse algum "washout" (devolução de carga por alguma empresa chinesa), imediatamente a carga seria comprada pelos americanos -- ou outra origem).

Os fundamentos de oferta e demanda, focados na realidade, principalmente norte-americana, têm sido a base de suporte para as cotações e mesmo com esse possível cancelamento ainda não seria alterado, o que, consequentemente, não altera o caminho promissor que os analistas e consultores de mercado vêm para os preços. A produção dos Estados Unidos sofreu uma ligeira quebra de produção na temporada 2013/14 em função de problemas climáticos, porém as exportações desse ano já registram o maior volume de vendas, acontecendo a um ritmo recorde, o maior desde 2004. 

De acordo com os últimos números divulgados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), o total de soja comprometido no país é de 44.608,9 milhões de toneladas e os embarques efetivos somam, até esse momento, 40.944,918 milhões de toneladas - enquanto que a estimativa de exportações para todo o ano-safra é de 43 milhões de toneladas e a temporada só se encerra em 31 de agosto. 

Paralelamente, a demanda interna dos Estados Unidos pela commodity também é muito forte e chega a não condizer com os últimos números trazidos pelo USDA, que reduziu o esmagamento em cerca de 100 mil toneladas em seu volume para todo o ano comercial. Na última terça-feira, a Associação Nacional dos Processadores de Óleos Vegetais (Nopa) informou que, em março, os EUA esmagaram 4,19 milhões de toneladas, contra 3,85 milhões de fevereiro. Além de superar o número do mês anterior, ficou acima ainda das expectativas do mercado. 

Essa intensa procura pela soja norte-americana, portanto, confirma o apetite global ainda muito forte, principalmente por parte da China (maior importadora mundial da oleaginosa). O esperado é que a nação asiática importe neste ano safra cerca de 70 milhões de toneladas, o que significa dizer, portanto, que cerca de 1150 navios tipo panamax já estriam comprometidos para levar essa enorme carga de grãos do Brasil para a Ásia. Assim, são cerca de 3,2 navios por dia se abastecendo com uma das mais valiosas commodities dos últimos tempos em portos brasileiros, argentinos ou norte-americanos. 

Essa mesma demanda, no entanto, drenou todas as reservas de grãos em estoque dos Estados Unidos, obrigando até mesmo o USDA a rever para cima seu número de importações de soja pelo país na temporada 2013/14, para 1,7 milhão de toneladas. Frente a isso, o mercado já conta ainda com notícias de que cargas de soja brasileira que teriam a China como destino estariam sendo direcionadas para o território norte-americano, em movimentos de washouts, para que os EUA possam cumprir seus compromissos.

Apesar desses números confirmarem a força dos fundamentos que vêm sustentando os preços em Chicago, analistas afirmam que informações como essa acima (ainda não confirmadas) demandam uma certa atenção, apesar de não alterarem o quadro (principalmente para o produtor rural), justamente por chegarem em momentos em que o mercado se mostra mais sensível, depois de tantas altas. Os fundamentos carregam muitas posições compradas nesse momento e acabam buscando motivos para os movimentos chamados de "realizações de lucros". Porém, ainda não é possível saber qual a força que tem essa informação e o impacto que terá sobre o mercado, mesmo caso seja somente um boato. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Marcos de Souza Dias Maringá - PR

    Excelente apanhado. O que desorienta o produtor é a absurda quantidade de noticias "plantadas", além da manipulação de preços por parte das cooperativas. Afinal, se o produtor não lucrar, qual o propósito de plantar? Não vendam, colegas. Esse ano será de redenção. Os anos seguintes, pela entrada das novas áreas produtivas da Africa, esses sim, serão incertos...

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