Soja: Demanda crescente deve trazer equilíbrio aos preços

Publicado em 12/09/2014 17:39 e atualizado em 13/09/2014 08:33

O mercado da soja registra um novo e delicado patamar de preços nesta temporada 2014/15. Em um mês, o vencimento novembro/14, referência para a nova safra dos Estados Unidos, caiu 6,99%, passando de US$ 10,59 para fechar em US$ 9,85 nesta sexta-feira (12) na Bolsa de Chicago. A baixa do janeiro/15, no mesmo período, foi de 7,12% e a cotação recuou de US$ 10,68 para US$ 9,92 por bushel. Nos portos brasileiros, a perda foi mais acentuada - de 9,68% - e os preços para a soja com entrega em maio do ano que vem hoje negociadas na casa dos R$ 56,00 por saca, há um mês valiam R$ 62,00. 

O mercado vem sendo pressionado, principalmente, pelo expressivo aumento da colheita norte-americana que, segundo o último boletim de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), deve totalizar 106,4 milhões de toneladas, com uma produtividade superior a 52 sacas por hectare. 

Por outro lado, de acordo com alguns analistas e consultores de mercado, o fator reponsável pelo equilíbrio dos preços será a força e o crescimento da demanda global por soja. Ao mesmo tempo em que projetou um aumento na safra dos EUA, o USDA aponta também para um maior consumo da oleaginosa nessa temporada, na casa dos 5,9%. 

"O crescimento da demanda por soja tem uma média anual (dos últimos 10 anos) de 4,2%, nesta temporada 2014/15, com uma previsão de queda dos preços, o USDA está prevendo um aumento do consumo para 5,9%, um aumento bem expressivo", explicou Marcos Araújo, analista de mercado da Agrinvest. 

As exportações norte-americanas de soja da nova safra foram estimadas em 46,3 milhões de toneladas para todo o ano comercial 2014/15 - que se encerra em 31 de agosto - e, até a semana que terminou no dia 4 de setembro, as vendas do país no acumulado do ano já somavam quase 24 milhões de toneladas, ou seja, 50% do volume projetado já está comprometido ainda em setembro de 2014. 

"O mercado já trabalha com níveis de preços na CBOT abaixo do que é a realidade em si em Chicago, da realidade dos US$ 10,00; o mercado de demanda ainda não mostrou seu potencial de crescimento em 2015 em função das cotações menores da principal fonte de proteína - que é a soja - e ainda não está chegando soja barata para o consumidor, tanto na Ásia como na Europa, e isso deve começar a acontecer a partir de dezembro, janeiro, aí sim o mercado vai ver a soja chegando ao ponto de consumo a níveis menores do que os atuais", afirma o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.

No início de 2015, segundo o consultor, o mercado deverá ver esse maior potencial da demanda, com o produto mais barato chegando ao mercado e dando melhores margens de renda, principalmente, à cadeia de proteína animal, com produção de carnes, ovos e e leite. "A matéria-prima das rações fica mais barata, dá mais lucros e as compras aumentam", diz. "Porém, esse potencial maior do consumo ainda não impacta nas cotações", completa Brandalizze, acreditando que preços melhores poderão começar a aparecer na virada do ano.

Biodiesel e Carnes

Outro setor que deve exigir um volume maior da demanda daqui em diante é o do biodiesel. Biodiesel
O percentual do biodiesel no diesel, que hoje é de 6%, pode chegar, em 1º de novembro, a 7% e contribuir para preços melhores no mercado brasileiro, ainda segundo Vlamir Brandalizze. Para o consultor, isso poderia resultar em uma demanda de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas de óleo de soja, ou cerca de 6 a 8 milhões de toneladas de grão que terão que ser esmagadas para atender essa produção do combustível. 

"O Brasil pode deixar de ser exportador de óleo para ser atender a demanda interna de biodiesel", acredita. Além disso, Brandalizze afirma ainda que na Argentina essa demanda segmentada também cresce e que, no país, o percentual de biodiesel no diesel deve passar de 5 para 10%. Em 2015, o Brasil deverá se consolidar, segundo acredita Vlamir Brandalizze, como o líder mundial nas exportações de carne e isso também deve resultar em um maior volume de soja consumido, uma vez que a oleaginosa é a matéria-prima base para a produção de rações.

"Há esses fatores de demanda interna de farelo e de óleo para biodiesel e isso deve ser favorável para o mercado. Ninguém vai usar óleo de girassol ou canola, por exemplo, que custa o dobro, enquanto o óleo de soja tem a mesma qualidade. E aí sim, quando se começar a olhar esse mercado crescente de demanda local, com a redução da oferta de grão para exportação, vai haver uma pressão maior sobre as compras e também prêmios melhores", diz o consultor.

Somente a China concentra um potencial de crescimento no consumo de farelo de soja na casa dos 8%, fora o Sudeste asiático, que tem uma demanda para o derivado da oleaginosa podendo crescer de 5 a 6%. Números esses que são refletidos em uma maior produção, principalmente, de aves e suínos. 

Excesso de Produção x Excesso de Oferta

Com esse atual cenário de preços confrontando com as perspectivas de melhores preços mais adiante em função dessa força da demanda, a comercialização da soja está parada. Não há grande vendas sendo efetivadas tanto no Brasil, quanto em outros importantes países produtores como Estados Unidos, Argentina e Paraguai, já que o sojicultor retém seu produto à espera de novas e melhores oportunidades de negócios.

No Brasil, nem 20% da nova safra de soja já foi comercializando quando, em anos anteriores, nessa mesma época do ano, os números variavam entre 30 e 50%, de acordo com as regiões. Para Brandalizze, os produtores brasileiros têm investido mais em armazenagem - com a compra dos chamados silos-bag - e voltar a comercializar expressivamente somente no meio do próximo ano. 

Nos Estados Unidos, a situação se repete. Há cerca de 30% da produção já vendida - travados quando houve comercialização com preços ainda operando na casa dos US$ 12 por bushel - e o produtor ainda não amarga um prejuízo tão severo, mas também não conta com lucros nem próximos dos registrados nas temporadas anteriores. E o quadro, portanto, não estimula novas vendas. 

"Um excedente de safra não quer dizer que vamos ter um excedente de oferta de soja para dar tranquilidade aos compradores (...) O excedente de produção não quer dizer que todo esse volume será ofertado ao mesmo tempo e esse fator é importante. Essa tática do produtor de não vender é boa, já que com isso ele pode administrar melhor essa pressão de oferta e, mais cedo ou mais tarde, o mercado vai ter que valorizar essa soja, compensando para valores que cubram os custos de produção e ainda deixe uma margem", explica Vlamir Brandalizze. 

E com a manutenção desse quadro de vendas paralisadas, o consultor acredita que os prêmios devem se manter positivos e podem até registrar patamares mais altos. Atualmente, sobre o contrato novembro o prêmio no porto de Paranaguá, é de US$ 2,85 por bushel sobre o valor praticado em Chicago. "Agora temos mais navios no mercado mundial, menos oferta de produtor e, provavelmente, não teremos aqueles grandes volumes chegando ao mesmo tempo nos portos", explica. "Além disso, temos mais capacidade para embarque em 2015 do que tínhamos em 2014 e mais ainda do que tínhamos em 2013 e esses fatores serão importantes para continuar estimulando os prêmios", completa. 

Dólar x Real

A valorização do dólar frente ao real também tem sido um componente positivo para a formação dos preços no Brasil, amenizando as baixas em Chicago. Na semana, o ganho da moeda norte-americana foi de 4,26%, terminando a sexta-feira a R$ 2,33, registrando o maior patamar desde março. A alta diária foi a maior desde novembro de 2013.

Custo da Armazenagem

A soja foi, aos poucos, se tornando um importante ativo financeiro para o produtor brasileiro que, opta por manter sua soja armazenada ao invés de vendê-la e investir os lucros em alguma outra aplicação. As incertezas sobre a economia brasileira, principalmente em ano de eleição presidencial, estimulam ainda mais posturas como essa. 

E os custos com armazenagem para a safra nova ainda valem a pena. Em opções alternativas, como o silo-bag, o gasto do produtor deve ser de algo em torno de R$ 1,00 por saca diante de um produto que vale de R$ 50,00 a R$ 60,00/saca. 

"R$ 1,00 representa 2% do valor do produto, e a soja entre o período do pico da safra e a entressafra flutua de 30 a 40%, quando não chega a 50%, ou seja, é uma valorização financeira muito grande. E no mercado financeiro, uma aplicação que lhe dê de 5 a 7% no ano acima da inflação já é uma grande rentabilidade, então, o grão para o produtor deve render mais. E o custo da armazenagem ele já carregou, então, para vender em outubro/novembro, o diferencial de custo é muito pequeno", conclui Brandalizze. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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