Soja: Excesso de chuvas no Brasil Central e falta no Sul aumentam irregularidade da safra

Publicado em 19/01/2016 09:09

Se há algumas semanas a preocupação dos produtores de soja do Brasil Central era com a falta de chuvas, o contrário agora é verdadeiro. O excesso de umidade em áreas do Centro-Oeste e da região do Matopiba já compromete o início e avanço da colheita, reduz a qualidade dos grãos e, mais uma vez, ameaça a produtividade da safra 2015/16. Segundo um levantamento da consultoria AgRural, o país já havia colhido 0,5% de sua área cultivada com a oleaginosa até a última sexta-feira (15), enquanto no mesmo período do ano anterior esse índice era de 1,1% e a média dos últimos cinco anos é de 0,7%. 

Imagem do dia - Lavoura de soja em Sapezal (MT)

Imagem mostra a soja já brotando em lavouras para a colheita em Sapezal/MT 

O relato dos produtores rurais que já conseguiram colher algumas áreas é de um rendimento menor do que suas estimativas iniciais. E se muita chuva agora atrapalha no centro do Brasil, no Sul, onde as lavouras estão nas fases de floração e enchimento de grãos, o tempo secou e as previsões indicam que esse deve ser o padrão por pelo menos o período dos próximos sete dias. 

Imagem do dia - Soja em Dourados (MS), sentindo os efeitos das chuvas

Soja em Dourados/MS, sentindo os efeitos das chuvas

Previsão do Tempo

Para esta semana mais chuvas são previstas para o Centro-Norte do país. Nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, os acumulados, em determinados pontos, podem passar de 100 mm nos período de 19 a 23 de janeiro, segundo informou a Climatempo. 

No Mato Grosso do Sul e região Sul, por outro lado, o tempo deve ser de sol e calor. Porém, essas condições no estado gaúcho preocupam, uma vez que muitas áreas de soja estão na fase de floração e enchimento de grãos, precisando de água. 

"Nesta semana um sistema meteorológico chamado de "Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS)" será responsável por chuva frequente e volumosa em grande parte do país. Este sistema caracteriza-se por uma extensa faixa de nebulosidade que se estende desde o Atlântico até o sul da Região Norte, passando sobre parte do Sudeste e do Centro-Oeste.  Grandes áreas de instabilidade também vão atuar no interior do Nordeste e vão provocar chuvas intensas", informou a Climatempo em seu boletim semanal. 

E ainda nesta terça-feira (19), o agrometeorologista da Somar Meteorologia, Marco Antônio dos Santos, alertou para chuvas de mais de 200 mm nas próximas 72 horas que poderiam prejudicar as lavouras do Matopiba. "Há tempos não eram registradas tantas chuvas nas regiões Central e Norte do Brasil e pior, com tamanha frequência. Há locais em que desde o primeiro dia do ano chove todos os dias. E nessa terça-feira não será diferente, principalmente sobre as regiões produtoras do Matopiba", disse.

Alerta Agroclimático - 19 jan 2016

No oeste da Bahia, ainda segundo Santos, os volumes acumulados entre esta terça e a quinta-feira (21) podem passar dos 200 mm e atingir diretamente as plantações de soja, bem como comprometer o plantio local do algodão. "E, segundo os modelos de previsão, esse tempo fechado e chuvoso deverá se manter inalterado ao longo de todo o mês de janeiro", completa.

Na última semana também foram registradas chuvas fortes em grande parte do Brasil, com os mais elevados volumes em São Paulo, sul de Minas Gerais, Triângulo Mineiro e norte do Paraná. A frequência das precipitações, além de sua intensidade, tem chamado muito a atenção não só dos produtores rurais, mas também dos meteorologistas. 

De acordo com dados do CPTEC Inpe, em pontos no norte de Mato Grosso os acumulados chegaram a ficar entre 180 mm e 210 mm no intervalo dos dias 11 a 17 de janeiro. Em São Paulo, por exemplo, esses números sobem para algo entre 240 e 300 mm. 

Figura 1 - CT

Qual o tamanho da safra 2015/16 de soja do Brasil? 

Quanto o Brasil irá colher de soja? Essa é a pergunta que mais gera especulação não só entre os produtores e o mercado nacional, como também no cenário internacional.  A irregularidade tem sido a marca maior desta temporada e as previsões causam divergências de todas as proporções. 

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) é quem traz a projeção mais elevada, estimando a produção em 102,11 milhões de toneladas nesta temporada. Já o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) projeta a safra brasileira em 100 milhões de toneladas. Entre as consultorias privadas, porém, os números são ligeiramente menores. Para a Safras & Mercado, 99,84 milhões e para a Céleres Consultoria, 99,8 milhões de toneladas, enquanto a Agrinvest Commodities espera algo entre 97 milhões e 98 milhões de toneladas.

Mapa Safra 2015/16 - Soja - Colheita

Os números, principalmente os da Conab, foram questionados, uma vez que boa parte dos principais estados produtores já estimam produções locais mais baixas do que as projetadas. No entanto, como explica o consultor em agronegócios Ênio Fernandes, a Conab, tradicionalmente, faz cortes mais agressivos - quando os espera - nos meses mais adiante, entre fevereiro e abril. É neste período em que a colheita está mais desenvolvida, com médias de produtividade melhor definidas, podendo trazer uma visão mais realista dos números. 

Ao mesmo tempo, para Flávio França Junior, consultor da França Junior Consultoria, as perdas irreversíveis causadas pela falta de chuvas em áreas como o Matopiba e Mato Grosso, parecem não ter sido contabilizadas. Por outro lado, há lugares onde as lavouras semeadas mais tarde são beneficiadas por essas últimas chuvas. Além disso, afirma ainda que o mapeamento das perdas em regiões como o Sul do Brasil por conta do excesso de umidade será bastante difícil, já que a irregularidade também é bastante evidente. O novo número da França Junior Consultoria - atualmente em 97,9 milhões de toneladas - chega na próxima sexta-feira, 22. 

Já para Camilo Motter, analista de mercado e economista da Granoeste Corretora de Cereais, a Conab está bastante focada no quadro observado no ano passado, quando a safra também exibia alguns problemas, porém, com uma mudança do clima conseguiu garantir um bom potencial de recuperação. "Se este ano vai acontecer algo similar é difícil de dizer. Mas acredito que os transtornos são mais graves este ano, mais graves em profundidade e extensão", diz. 

Região Centro-Oeste

No Centro-Oeste a colheita já foi iniciada, porém, se desenvolve ainda em um ritmo bastante lento por conta do excesso de chuvas. A Conab estima que a produção na região seja de 46.536,0 milhões de toneladas. Em dezembro, esse número era ligeiramente maior, de 46.837,7 milhões. 

Mato Grosso - O Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) projetou, em seu boletim reportado nesta segunda-feira (18), a safra do estado em 27.817,019 milhões de toneladas, número que fica abaixo da última estimativa da companhia de 28.279,2 milhões. 

O volume esperado menor vem não só das preocupações com o impacto da umidade excessiva desse momento, mas também das perdas irreversíveis causadas pela falta de chuvas entre novembro e dezembro, reflexo dos impactos de um El Niño considerado o mais forte dos últimos anos. As primeiras produtividades que começam a ser contabilizadas estão aquém das projeções iniciais. 

Em Sapezal, por exemplo, as perdas na produção total devem variar entre 5% e 10%, de acordo com o presidente do Sindicato Rural, José Guarino Fernandes. A produtividade tem se mostrado na casa de 35 sacas por hectare, contra a média local de 52 sacas. Na cidade de Sorriso, a situação é semelhante. As primeiras colheitas também sinalizam rendimentos mais baixo, com os grãos já começando a arder e a projeção inicial de produtividade próxima de 60 sacas por hectare ficando para trás, conforme explicou Laérci Pedro Lenz, presidente do Sindicato Rural. 

Mato Grosso do Sul - Para o Mato Grosso do Sul, a Conab projeta uma safra de 7.581,6 milhões de toneladas. Os sojicultores, porém, já não apostam nesse número cheio, afinal, há muitas áreas do estado com lavouras alagadas e a soja se perdendo no campo sem a possibilidade de ser colhida. 

Nos primeiros 13 dias de janeiro, as chuvas na região de Douradina passaram de 300 mm e a projeção de rendimento, segundo Cláudio Pradela, presidente do Sindicato Rural local, deve ficar abaixo da média para a região de 55 sacas por hectare. "As lavouras em si estão muito boas, mas o problema vem agora até o fim do mês se não parar de chover na época da colheita", explica. 

Goiás - Em Goiás, onde a maior parte das lavouras se encontra agora na fase de enchimento de grãos, a Faeg (Federação de Agricultura do Estado de Goiás) estima uma produção de 9,8 milhões de toneladas. A Conab, por sua vez, aposta em um número maior de 10.462,9 milhões. 

Embora algumas áreas no Centro-Sul do estado tenha conseguido se recuperar, perdas nas áreas norte e nordeste pesam sobre a estimativa de colheita desta safra, segundo explica o assessor técnico do Senar, Cristiano Palavro. E a irregularidade também chegou ao estado nesta temporada. "Tivemos uma situação inusitada, pois ainda há algumas lavouras sendo implementadas e, na próxima semana, outras já começarão a colheita", diz. 

Região Sul

No Sul do Brasil também não há um padrão entre as lavouras. Ainda assim, a Conab elevou, do boletim de dezembro para o de janeiro, sua perspectiva para a safra 2015/16 da região de 35.250,6 milhões para 35.386,6 milhões de toneladas. Enquanto no Paraná a colheita já foi iniciada, no Rio Grande do Sul, onde o plantio ocorre um pouco mais tarde, as plantações estão na fase de floração e enchimento de grãos. Em Santa Catarina, perspectiva de perdas também por conta do excesso de umidade. 

Paraná - Para o presidente da Aprosoja Paraná, José Eduardo Sismeiro, o número da Conab para a colheita de soja do Paraná de 18.470,5 milhões de toneladas não deve ser alcançado, com a produção do estado próxima de 16 milhões de toneladas. Afinal, as primeiras áreas colhidas já trazem uma redução significativa em seu rendimento, como é o caso de Goioerê, por exemplo. No município, a produtividade tem ficad em 55 sacas por hectare, contra uma média de 70. 

E o excesso de umidade mais a falta de luminosidade, além de baixarem a produtividade, têm ainda favorecido o aparecimento de doenças, como a ferrugem asiática, e impedido o bom desenvolvimento da colheita. “Os produtores precisam uniformizar a colheita. Em muitas áreas, será necessário utilizar o dessecante, porém, se as chuvas não derem trégua, a soja pode apodrecer na lavoura. Estamos em um momento crucial”, afirma Sismeiro. 

Rio Grande do Sul - No Rio Grande do Sul, depois das preocupações com o excesso de chuvas - que deixou as raízes das plantas de soja mais superficiais e as lavouras mais suscetíveis ao aparecimento de doenças - a atenção agora é com o tempo mais seco. As áreas, em sua maior parte, estão nos estágios de floração e enchimento de grãos e, caso as chuvas não cheguem, pode haver o abortamento destas flores e queda na produtividade. 

Porém, como explica o vice-presidente do Sindicato Rural de Carazinho, a safra ainda está em um "sinal amarelo", observando o desenvolvimento do clima e as respostas que as plantas, por hora, ainda têm dado à boa reserva hídrica com que contam os solos gaúchos. Enquanto o acumulado de chuvas em dezembro, na região, foi de 580 mm, em janeiro é de apenas 37. 

A Conab projeta a safra gaúcha em 14.770,0 milhões de toneladas. 

Santa Catarina - Em Santa Catarina as primeiras áreas de soja começaram a ser colhidas com uma perspectiva de quebra de 20% da safra 2015/16. A produtividade foi bastante afetada pelas chuvas excessivas e frequentes, além da falta de luminosidade, segundo relata o vice-presidente da Faesc (Federação de Agricultura do Estado de Santa Catarina), Enori Barbieri. As primeiras áreas trazem rendimento de 40 a 45 sacas por hectare, enquanto em anos normais, esse intervalo seria de 50 a 60 sacas. 

Região do MATOPIBA

Entre Nordeste - com Maranhão, Piauí e Bahia - e mais o Tocantins, a Conab estima uma produção de 11.373,5 milhões de toneladas, número que também gera especulação e questionamento. 

No Tocantins, por exemplo, as chuvas que chegaram ao estado de pois de 19 de dezembro foram benéficas, porém, boa parte da área de produção já havia sido castigada com perdas irreversíveis pelo tempo seco. Agora, os produtores esperam pelas chuvas de abril para que favoreçam a fase do enchimento de grãos. 

 “Esse não é o cenário ideal, mas sobraram poucas alternativas aos produtores. Muitos contratos foram fixados anteriormente, então fica difícil tomar outro rumo, até porque o milho não cobre os custos da soja”, relata Marcílio Fernandes Marangoni, produtor do município de Darcinópolis. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • jakson scherer Unai - MG

    Na região do DF e entorno algumas lavouras irrigadas já se encontram em estagio de colheita, a produtividade está garantida mas a qualidade dos grãos vai registrar perdas significativas..., tem soja brotando, e soja que sofreu com o calor, chegando desigual... algumas vagens estão prontas, enquanto outras ainda em estagio de final de ciclo... são os problemas relatados pelos produtores que já tem algumas áreas de pivôs prontas para a colheita .

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