MERCADO DO AÇÚCAR: Um olho no peixe, outro no gato

Publicado em 05/03/2012 09:30
Comentário Semanal – de 27 de fevereiro a 2 de março de 2012. Por Arnaldo Luiz Corrêa.
O mercado de açúcar em NY até que se comportou muito bem na semana que passou. Como já era esperado pela maioria dos traders, a trading americana que tem sua base em Genebra recebeu mais de 850.000 toneladas de açúcar na entrega do março/2012. Não há como contestar que entregas dessa magnitude são interpretadas pelo mercado como baixistas, em especial quando ocorrem no período de entressafra em que os preços, em tese, deveriam ser mais favoráveis ao vendedor. As cotações de fechamento da sexta-feira indicaram uma queda de apenas 26 pontos no vencimento maio/2012 que se encerrou a 24,96 centavos de dólar por libra-peso. Os demais meses de vencimento fecharam com quedas de até 10 pontos (2,20 dólares por tonelada).

O que o mercado não conseguiu decifrar dessa entrega volumosa foi o porquê de a Tailândia entregar açúcar na bolsa. Que o Brasil e a América Central o fizessem tudo bem. Mas a Tailândia deveria ter vantagem competitiva de frete para o destino (seja ele qual fosse) que faria com que o seu basis (prêmio) fosse positivo em relação à NY, inibindo a entrega. Ocorre que os tailandeses possuem estoques - segundo traders do mercado - de mais de 3 milhões de toneladas de açúcar bruto. Aí a equação econômica muda de figura.

Se existe entrega desse tamanho é porque os vendedores não encontraram no mercado físico alguém disposto a pagar preços melhores do que aquele negociado em NY. Quem entrega sabe que o comprador pode apresentar o navio em até 75 dias após a expiração do contrato (15 de maio) e isso abre um desconto que reflete custos financeiros e armazenagem até a entrega efetiva do produto. Por outro lado, não faz nenhum sentido o comentário que se ouviu na semana, dando conta de que a trading em questão “recebeu mais açúcar do que queria”. Ninguém rasga dinheiro nem recebe um volume desse tamanho sem ter destino final contratado para o produto ou, pelo menos, ter o hedge dessa mercadoria. Além do mais, em empresas desse porte, a movimentação física é apenas uma ponta do negócio que envolve o jogo dos futuros, das opções, dos derivativos, dos spreads (principalmente), que adicionam valor no fluxo natural dos seus negócios. As tradings hoje em dia precisam estar cada vez mais atentas como aquele cozinheiro que fritava o peixe e olhava o gato certificando-se que o bichano não iria subir no fogão.

Uma importante usina de SP fechou razoável volume de exportação de etanol com uma empresa europeia com o preço a ser fixado contra o contrato de etanol na BM&F Bovespa. Como este é hidratado, o contrato entre as partes tem uma sofisticada fórmula de conversão para o anidro, incluindo ajuste de frete. Essa é uma boa notícia que ajuda a criar liquidez para o contrato futuro e demonstra a criatividade das empresas para tornar seus negócios mais seguros e rentáveis. Um exemplo a ser seguido.

De um lado, a nova presidente da estatal brasileira do petróleo – que recentemente trocou juras de amor com a Dilma - deu sinais de que o preço da gasolina deveria passar por um reajuste; do outro, o ministro das Minas e Energia rebate afirmando “que o governo não tem intenção de elevar os preços dos combustíveis”. Esse pessoal não se fala, impressionante. Para registrar, segundo estimativas da MB Associados, um aumento de 15% na gasolina, impactaria a inflação em apenas 0,6 pontos percentuais. 

Não adianta o governo vir com medidas que funcionam como placebo como é o tal financiamento de estoques de etanol cujos juros, segundo o diretor financeiro de uma usina, é de quase 100% da CDI se não reajustar o preço dos combustíveis. O assunto começa a chegar aos editoriais dos principais jornais sérios do país. O Brasil está pagando caro por essa falta de visibilidade ao importar petróleo a um preço equivalente mais alto do que o etanol que pretende substituir e que não é produzido em volume por essa mesma falta de transparência, que aumenta a volatilidade dos preços e repele novos investidores. Parece cachorro correndo atrás do rabo.

Uma cortesia de um velho amigo corretor de NY: os fundos aumentaram suas posições compradas em 100.000 lotes e o mercado se moveu apenas 200 pontos. Ou seja, para mover 1 pontinho pra cima são necessárias 25.000 toneladas. Não é surpresa então o volume alto de fixações das usinas nessa época do ano.

A segunda estimativa da Archer Consulting para a safra 2012/2013 do Centro-Sul aponta uma produção de 521 milhões de toneladas divididos em 32,56 milhões de toneladas de açúcar e 22,29 bilhões de litros de etanol. 

O custo de produção do anidro e do hidratado, de acordo com o modelo desenvolvido pela Archer Consulting, é de R$ 1,1889 e 1,1414, por litro na usina, respectivamente. Comparando com o fechamento da BM&F Bovespa, o hidratado apresenta uma rentabilidade média de 1,55% comparada ao custo de produção para o segundo trimestre de vencimento de 2012.

As inscrições para o XVII Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos da Archer Consulting estão ESGOTADAS. O próximo curso será em setembro. 

O Fundo administrado pela Archer Consulting, no balanço encerrado dia 29 de fevereiro, está rendendo aos seus investidores 55,5428% líquidos ao ano, em dólares, em 335 dias de existência. 
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Fonte:
Archer Consulting

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