Análise de mercado de açúcar

Publicado em 10/05/2010 12:00 e atualizado em 10/05/2010 13:30
Comentário Semanal de 03 a 07 de maio de 2010

PARA PALAVRAS LOUCAS, OUVIDOS MOUCOS

O mercado de açúcar em NY fechou a semana sofrendo as agruras da crise européia, que afugentou os investidores de qualquer coisa que cheirasse risco e fez com que as commodities em geral despencassem.
Somam-se a isso a crescente percepção de aumento de produção no Brasil e na Índia. Dessa forma, a semana amargou quedas praticamente lineares desde o contrato com vencimento para julho de 2010 até o último (março de 2013). Na média, um estrago de 28 dólares por tonelada. De 1º de fevereiro, a perda acumulada é de 53%. A última vez que tivemos um desmoronamento dessa magnitude, nesse espaço de tempo, foi em junho de 1975 (mercado caiu de 28,60 para 12,02), que também foi a maior queda da história do açúcar em 12.300 pregões pesquisados. Portanto, pense bem se quiser continuar vendendo o mercado.
Com os fechamentos semanais, percebe-se que o açúcar exportação tem uma margem negativa de 4,79%, enquanto no mercado interno (base ESALQ) está sendo negociado equivalente NY de 21,14 centavos de dólar por libra-peso. Anidro e hidratado sofrem reveses de 2,53% e 11,86% respectivamente. Se analisarmos a cana com os preços de sexta-feira a perda equivalente está em 0,91 dólares por tonelada de cana moída. Se o mercado de açúcar escolhesse uma trilha sonora para demonstrar o sentimento geral, a música seria Meu Mundo Caiu, sucesso dos anos 60 de Maysa.
Uma pessoa que tivesse despertado de um coma profundo ocorrido há exatamente um ano e perguntasse como está o mercado de açúcar teria a impressão que nada aconteceu nesse período. A cotação de fechamento entre os dois extremos nem mudou. Mas, quanta turbulência vimos nesses últimos doze meses.
 Há um ano ouvíamos uma melopéia que os preços iriam bater recordes, 40, 50 até 66 centavos de dólar por libra-peso, daí para cima, porque a Índia isso, a Índia aquilo, o aquecimento global, o petróleo acabando, etc etc. Agora - pasmem! - a cantilena é que os preços podem chegar a 8 centavos de dólar por libra-peso. A impressão que dá (desculpem o eufemismo) é que tem sempre alguém ganhando dinheiro quando espalha de maneira ordenada o vírus do pânico entre os participantes do mercado. Eu já vi esse filme antes. Em 1998, quando vestia a camisa da então gigante da Mooca, lembro-me que da mesma fonte de hoje vinham ares de que o mercado pudesse chegar a 12, 13 e até 16 centavos de dólar por libra-peso (negociava então a 9 centavos de dólar por libra-peso) o que tumultuava o processo decisório comercial de qualquer empresa. Por sorte, compramos alguns milhares de puts (opções de venda) financiadas com vendas de calls (opções de compra)  as famosas fences. Em maio de 1999, seguin  do a turbulência de desvalorização do real e crises mundiais, o açúcar bateu 4,36 centavos de dólar por libra-peso. Os ares da mesma fonte passaram a prever que o mercado iria para 2 centavos de dólar por libra-peso!!!
Como diriam nossos ancestrais lusitanos, Às palavras loucas, ouvidos moucos.
 A boa notícia da semana vem da BM&F Bovespa com o anúncio do lançamento, para 17 de maio, do contrato futuro de etanol hidratado com liquidação financeira. O contrato será cotado em reais por metro cúbico, livres de ICMS, PIS e Cofins. O tamanho do lote é de 30.000 litros, com formação de preço na região de Paulínia (SP).
Sempre defendi que os contratos futuros agropecuários tivessem liquidação física para dar ao trader a oportunidade de escolher qual melhor alternativa na hora do vencimento. No entanto, por outras razões, entre elas a intrincada regulamentação da ANP, essa saída parece-me satisfatória. O contato futuro de milho também tem liquidação financeira e tem alcançado enorme sucesso a ponto de representar (em termos de volume) entre 15-18% do total da produção brasileira de milho. A diferença com o etanol é a tal paridade com a gasolina. Quando essa paridade chegar próximo aos 70% vai ser difícil encontrar comprador de etanol. O ideal seria um mercado livre (o da gas  olina) e não regulado direta ou indiretamente pelo governo. O futuro é caminharmos para o livre mercado.
 Veja onde nós estamos!! Um operador da bolsa, ao compor uma oferta de venda de ações para o mercado, supostamente errou o dedo e na hora de apertar M (de milhão) apertou B (de bilhão). O Dow Jones caiu 9% devido a um erro que poderia ter sido evitado caso o sistema fosse inteligente. Poderia ser pior, disse um executivo do mercado de açúcar, imagine se ele fosse proctologista.  Melhor não.
 No Fundo Fictício da Archer Consulting, rolamos a call (opção de compra) de 20 para 17 no julho, ou seja, recompramos as 1,636 calls (opções de compra) vendidas com preço de exercício de 20 e vendemos 1,814 lotes de preço de exercício 17, ficando expostos nos 1,000 lotes equivalentes. Como estamos expostos na direção do mercado e este caiu na semana, o lucro do fundo derreteu para apenas US$ 615.480,09 (retorno anualizado de 42,87%). Perdemos mais de US$ 2.700.000,00 na semana em função da queda do mercado. Um atropelamento de caminhão basculante carregado de cimento. Os investidores fictícios estão apavorados. Vamos segurar.
 Boa semana para todos.

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Fonte:
Archer Consulting

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