Mercado de Açúcar: Voo de galinha

Publicado em 21/02/2011 11:00 e atualizado em 21/02/2011 12:00
Comentário Semanal – de 14 a 18 de fevereiro de 2011
O mercado de açúcar fechou a semana novamente em baixa. É sempre assim, ele tenta içar novos voos, ensaia altas espetaculares e acaba no final fazendo um voo de galinha. Em um mês, os vencimentos da safra 2011/2012 perderam 22 dólares por tonelada. As usinas e as tradings não estão dormindo no ponto, pelo menos é o que mostra a fixação (veja abaixo). Na semana o vencimento março perdeu 6 dólares por tonelada, fechando a 31,02 centavos de dólar por libra-peso. Os meses da safra do Centro Sul perderam de 10 a 20 dólares por tonelada.

Nos últimos 20 dias úteis a oscilação do mercado foi de mais de 600 pontos entre a mínima e a máxima, deixando o trader na ponta dos dedos. As volatilidades anualizadas de 20, 45 e 90 dias, todas elas, estão acima dos 50%.

Uma grande parte dos executivos do mercado voou para Dubai para atender a uma conferência mundial de açúcar. No ano retrasado todos voltaram de lá altistas, no ano passado todos retornaram muito altistas. Agora, a questão é se o mercado vai se manter nesse intervalo de preços entre 30-33 centavos de dólar por libra-peso depois que o março sair da tela. Lembre-se que a alta do março foi de 36,08. Para o maio alcançá-la vai precisar de uma subida de quase 25%. Foi por isso que dissemos em recente comentário que entendemos ter visto a alta do mercado no ano. Muita gente concorda. E os números de fixação mostram isso.

De acordo com modelo da Archer Consulting, o volume fixado para a safra 2011/2012 está entre 9,3 e 11,7 milhões de toneladas com preço médio de 24,32 centavos de dólar por libra-peso. Se considerarmos que o Brasil vai exportar 27,5 milhões de toneladas, podemos dizer que as fixações estão entre 34% e 43%. No ano passado, nesse mesmo período, as fixações estavam entre 7,9 e 10,0 milhões de toneladas. Esse ano as fixações deram uma acelerada em função dos preços altamente remuneradores.

Existem alguns pontos que merecem ser observados de perto: o clima no Brasil, o tamanho da safra brasileira, a exportação indiana, os conflitos no Oriente Médio que tem como pano de fundo a inflação dos alimentos, as importações de China e Rússia.

O mercado viveu a semana alimentando-se de notícias altistas vindas do Oriente Médio, da China e do Egito. Este último tinha as mais desencontradas informações, umas davam conta que o governo egípcio dizia que o país tem estoques suficientes até outubro e que as refinarias estavam operando tranquilamente, outras diziam que leilões de compra estão programados para breve, pois o estoque de açúcar no país terminaria em maio. Enfim, o mercado de açúcar parece precisar de uma estorinha todo dia. Uma espécie de Sherazade que nos entorpeça a razão e nos faça empurrar com a barriga as decisões de fixar preços, por exemplo.

Todo mundo conhece a estória de Sherazade. Diz a lenda que um rei persa, enfurecido com a traição da primeira esposa, todo dia desposava uma nova donzela do reino e no dia seguinte mandava matá-la. Já havia quase dizimado todas as mulheres quando então conheceu Sherazade, que se ofereceu para casar com o enlouquecido rei, apesar dos protestos de seu pai. Sherazade tinha um plano para acabar com essa insanidade e para isso contava com a irmã, Duniazade. Nos aposentos reais, Sherazade pede ao rei para se despedir da irmã que, como haviam combinado antes, pede que Sherazade conte uma estória antes de dormir. Cativado pelas estórias magníficas e edificantes e, curioso para saber o desfecho delas, o rei foi concedendo mais um dia e assim passam-se 1.001 noites, período em que Sherazade dera à luz três filhos do rei, que arrependido de suas ações no passado e impressionado com a dedicação e inteligência de Sherazade, concede-lhe a vida e a faz rainha. Nas últimas 1.001 noites, o açúcar variou de 9,44 a 36,08. Uma fábula.

O físico continua largado. Para embarque maio, o açúcar é oferecido a 45 de prêmio sobre o maio, comprador na faixa de 30. Para segunda quinzena de maio, 20 de prêmio e para junho, 20 de desconto. Ambos sobre maio.

Um executivo do mercado conta numa roda de amigos que ficou impressionado com a falta de conhecimento sobre o mercado de um gestor de fundo de commodities estrangeiro, de milhões de dólares, que conhecera recentemente. Ainda existe excesso de dinheiro na mão de gente que não sabe como funciona o mercado de commodities. Gente que conhece matemática, tem habilidade com fórmulas, uma boa conversa, mas não sabe distinguir entre um pé de cana e um pé de alface. O objetivo é botar a taxa de administração no bolso. Se alguma coisa der errado, é só escrever uma carta aos investidores dizendo que “sente muitíssimo”.

A Cosan estima investir US$ 5 bilhões nos próximos 6 anos. Exatamente 10% do valor que a Archer Consulting estimou na semana passava como indispensável para atender à necessidade do mercado sucro-energético. Tem gente no setor que acha o cálculo muito baixo: os números apontariam para uma necessidade de 91 bilhões de dólares até 2020.

No Fundo Fictício, tivemos que vender 200 lotes no maio a 27,90 centavos de dólar por libra-peso para zerar nosso delta. Ainda assim fechamos a semana com um ganho de US$ 895,164.27 elevando nosso portfólio para US$ 3,866,525.44 com ganho anualizado de 110,20% nos 778 dias de existência do fundo. Nossa posição está short 199 lotes, o que nos obriga a zera-la na terça-feira na abertura do pregão pela manhã.

Fonte: Archer Consulting

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