Açúcar: Falta de política e de visão
A ANP (Agência Nacional do Petróleo) autorizou a elevação da mistura de água no álcool anidro que é adicionado à gasolina de 0,4% para 1%. A mudança é provisória (só até o final de abril) e atende às necessidades de importação do etanol americano de 200 milhões de litros. Como para importar gasolina o governo pagaria no exterior um preço maior do que o produto é comercializado aqui, decidiu-se pela compra do etanol de milho por ser economicamente viável. A alta do etanol no mercado interno fez com que a paridade de 70% fosse ultrapassada, provocando a migração dos consumidores que começaram a optar pela gasolina. No frigir dos ovos, toda essa movimentação mostra uma vez mais a falta de uma política inteligente de combustíveis por parte do governo. Poderiam começar com estoques reguladores para atender a entressafra, por exemplo. Preferem a política do imediatismo. E jogam o ônus dos preços altos do etanol nos produtores.
Tem gente que diz que os produtores estão segurando o etanol para especular com o preço. Conversa fiada. Somente agora etanol e açúcar liquidam para o produtor rigorosamente o mesmo valor. Por meses o etanol negociava bem abaixo do açúcar e ninguém falava nada. Com um agravante: o açúcar é um mercado livre regido pela lei da oferta e procura; o etanol está limitado à sinuosa politica de combustíveis do governo.
Não tenho dúvidas que passaremos pela mesma situação (senão pior) na próxima safra. Com as vendas elevadas de veículos flex, a economia aquecida, vamos chegar à próxima entressafra com uma necessidade maior de consumo sem a contrapartida da produção e estoques. Os preços caem agora com a entrada da nova safra, mas deverão ter altas mais cedo do que tivemos na safra que se encerrou. Os números não mentem. O retorno estimado para o açúcar na safra que se inicia, tomando como base o fechamento de NY na sexta-feira e assumindo que não haja prêmio nem desconto no mercado internacional, é de R$ 43,98 por saca líquido na usina, ou seja, vai se dar prioridade ao açúcar na produção da 2011/2012, o que prejudica ainda mais a equação da oferta e demanda de etanol. Falta de política.
O CFTC, órgão responsável nos EUA pela fiscalização dos mercados de commodities, estuda a introdução de regras para limitar o número de contratos por comitente levando-se em consideração todos os meses com posição em aberto, exceto o mês presente. Dessa forma, baseando-se na sugestão do órgão, o máximo de posição por comitente seria de 25.600 lotes de futuros e opções pelo delta por mês de vencimento, algo como 1,3 milhão de toneladas de açúcar.
O mercado ainda esconde alguns perigos não tão visíveis: apenas neste mês a variação do contrato com vencimento maio foi de 558 pontos, ou 123 dólares por tonelada. Uma volatilidade altíssima. A volatilidade histórica anualizada dos últimos 20 dias chega a 62,6%, a de 45 dias 55,9% e a de 90 53,9%. Paga-se muito caro para comprar opções. A menos que a compra faça parte de uma estrutura que embuta a venda de opções, não vale a pena comprar opções no seco.
No Fundo Fictício da Archer Consulting, vendemos 200 lotes no maio a 27,40. Fechamos a semana com uma posição vendida no delta equivalente a 193 lotes, o que significa que vamos ajustá-la comprando 250 contratos caso o maio negocie a 28,20, ou vendendo 250 contratos caso o maio negocie a 26,50 centavos de dólar por libra-peso. Na semana, ganhamos US$ 982.905,89 graças a queda da volatilidade e a deterioração do tempo afetando o prêmio das opções. Nosso lucro acumulado em 813 dias é de 6.021.169,37 com um ganho líquido anualizado de 140,03%.