Açúcar: De olho na cana

Publicado em 01/08/2011 11:27
omentário Semanal – de 25 a 29 de julho de 2011.
O mercado de açúcar em NY fechou a semana em baixa de 165 pontos no vencimento outubro/2011, cotado no final do pregão de sexta-feira a 29,81 centavos de dólar por libra-peso. Março/12 e maio/12 amargaram perdas de 32 e 26 dólares por tonelada na semana, respectivamente. Os demais meses de vencimento experimentaram reduções médias de 11 dólares por tonelada. O mercado está se acomodando em novos níveis aguardando o desenrolar da moagem no Centro Sul.

Vários produtores de cana comentam pelos cantos que a queda está muito maior do que originalmente poderiam supor. O número mágico com o qual se trabalha é uma queda de 12% no volume de cana, o que traria a produção para os 515 milhões de toneladas já mencionadas aqui. Todo mundo está de olho nos canaviais.

O governo acertou em não mudar a mistura de anidro na gasolina. Se fizesse isso poderia dar a entender ao setor que menos etanol poderia ser produzido já que o governo reduzira a mistura e essa percepção faria com que mais cana fosse dirigida para a produção de açúcar, o que seria péssimo no médio prazo.

Analisando a trajetória de preços do açúcar em NY, observamos que os vencimentos de outubro/2011 até julho/2013, que negociavam em 31/12/2010 e ainda não expiraram, se valorizaram neste ano de maneira quase uniforme, ou seja, não houve uma variação pontual, mas uma elevação da curva em paralelo. As cotações no acumulado do ano subiram entre 19,8% e 22,2%, indicando que o mercado acredita que a oferta de açúcar não é um problema pontual (senão, os meses de vencimento mais curto se elevariam com maior magnitude) nem está longe de ser equacionado.

Não se quer dizer que as cotações irão para a lua, mas que o mês que substituir o mês expirado vai repetir os níveis por este negociado. Tanto é assim, que olhando apenas o primeiro mês de vencimento na tela, o açúcar caiu de 32,12 (cotação de 31/12) para 29,81. Se essa teoria de repetição se comprovar, é evidente que os meses com vencimento mais longo têm mais potencial de valorização, pois deverão repetir os níveis altos negociados pelos meses mais curtos que refletem mais pesadamente os fundamentos do mercado.

Se alguém quisesse fixar hoje toda sua produção de açúcar para a exportação para a safra 2011/2012 e 2012/2013, hedgeando também o dólar via NDF (contratos à termo sem entrega da moeda), obteria a média equivalente a R$ 42,94 e R$ 40,09 por saca na usina, respectivamente 27% e 18,6% acima do custo de produção. Muito tentador.

Entre as possíveis consequências de um eventual rebaixamento do risco soberano nos EUA seria a desvalorização do dólar que, segundo alguns analistas do mercado, poderia ser de 2% a 3%. Caso isso ocorra, as commodities poderiam ter um novo ciclo de alta elevando seus valores como proteção dos ativos financeiros. O custo do açúcar passaria para 22,56 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos.

Quem está há muito tempo no setor deve lembrar-se dos mandos e desmandos patrocinados pelo finado Instituto do Açúcar e do Álcool. Criado originalmente em 1933 para fomentar o aumento de produção de álcool (que desde 1931 já era misturado à gasolina na proporção de 5%), nos anos 1980 e início dos anos 1990 instituiu, por exemplo, que cada saco de açúcar produzido no país tivesse uma numeração de produção e outra de venda carimbadas na própria sacaria, numa burocracia insana que faria inveja aos soviéticos da época do comunismo. Ninguém podia plantar um pé de cana sem autorização de Brasília que era dada, segundo alguns decanos do setor ainda na ativa, por um intrincado sistema de cotas e outros instrumentos menos republicanos que objetivavam criar dificuldades para gerar facilidades.

Enquanto em países sérios Institutos e Agências têm propósitos definidos de fomentação, pesquisa, regulamentação, entre outros, no Brasil, com honrosas exceções, servem para pendurar os apaniguados do poder central. Os critérios de ocupação de cargos quase nunca são técnicos ou por mérito, mas políticos. E não raras vezes dão espaço para a corrupção.

A socióloga paranaense Maria Lucia Victor Barbosa acertou em cheio quando disse que “O Brasil padece de septicemia corruptiva, uma infecção moral generalizada, cujo maior fomentador tem sido o ex-presidente Lula. Ao proteger o assassino italiano Cesare Battisti rompendo tratado internacional ou acolher bandidos das Farc, ele sinalizou que tudo pode ser praticado impunemente. Lula não inventou a corrupção brasileira, mas a elevou a um grau assustadoramente alto. Hoje, no Brasil, só não rouba quem é honesto por princípio, por berço, por caráter”, diz ela.

O leitor atento pode perguntar, “mas que diabos isso tem a ver com o mercado de açúcar?” Vou apropriar-me de uma frase da filósofa e escritora Ayn Rand, nascida na Rússia Imperial e cujos bens do pai farmacêutico foram confiscados pelos bolcheviques, tendo vivido nos Estados Unidos de 1925 até sua morte em 1982: “Quando percebemos que, para produzir, precisamos obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovamos que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando percebemos que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de nós; quando percebemos que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em privação; então poderemos afirmar, sem medo de errar, que nossa sociedade está condenada”. Em algumas coisas, o Brasil está no século retrasado.

Um amigo americano de longa data me provoca: “Você sabe o que o que eu gosto sobre o seu relatório semanal?”, e eu entusiasmado pelo possível elogio que se avizinhava aguardo o desfecho: “Não importa se eu concordar ou discordar com o que você diz, pelo menos ele é de graça”. Muito encorajador.

No Fundo Fictício da Archer Consulting perdemos US$ 321.927,28 na semana em função de aumento na volatilidade. Nosso lucro acumulado nos 939 dias de existência do fundo está em US$ 7.541.770,47, com rendimento líquido anualizado de 130,33%. Nossa posição no delta é equivalente a 96 lotes vendidos.

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Fonte:
Archer Consulting

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