Café, por Escritório Carvalhaes: Cotação em NY é pressionada mesmo com o Brasil não tendo estoques de segurança

Publicado em 02/12/2016 17:08
A forte recessão econômica e a crise política brasileira de um lado e a renovada expectativa de alta nos juros americanos com a indicação dos novos secretários do tesouro e do comércio dos EUA, escolhidos pelo presidente eleito Donald Trump, continuaram elevando a cotação do dólar frente ao real. Após ter acumulado alta de 6,18% no decorrer do mês de novembro, ontem primeiro dia de dezembro o dólar subiu 2,35%, fechando a R$ 3,4669 - maior patamar desde 16 de junho. A valorização do dólar frente ao real ajudou a pressionar as cotações do café na ICE Futures US em Nova Iorque. Os especuladores sabem que o Brasil, maior produtor e exportador de café mundial, responsável por aproximadamente 37% do café consumido no mundo, terminou sua colheita e está nos meses de pico de suas exportações. Assim, derrubam as cotações na ICE para abocanhar a desvalorização de nossa moeda. 

Não importa que tenhamos enfrentado dois anos de seca severa sobre nossas regiões produtoras de café ao mesmo tempo em que batemos recordes de exportação em 2014 e 2015 para abastecer o crescente consumo mundial de café. Para tanto ficamos sem estoques de segurança, fato inédito em nossa longa história de produtores e exportadores de café, a ponto dos cafeicultores brasileiros estarem enfrentando forte pressão das indústrias brasileiras de solúvel e de torrefação para concordarem com a importação de café verde. 

Nesse quadro de mudanças climáticas, consumo mundial em alta e Brasil, maior produtor, maior exportador e segundo maior consumidor do mundo falando em importar café, derrubaram as cotações em Nova Iorque para baixo de US$ 1,50 por libra peso! O que será que farão com as cotações quando nossa produção voltar para um patamar confortável? 

O cafeicultor brasileiro precisa de bons lucros para recuperar prejuízos de anos anteriores e investir no aumento da produção brasileira de café. Está claro que precisamos desenvolver e implantar uma nova política de defesa dos preços do café. 

O governo brasileiro está leiloando o que resta de seus estoques para ajudar a indústria de torrefação brasileira. Acabamos de colher a safra 2016 e muito desse café ainda está nos armazéns. A pressão para importar café é muito mais para desanimar o cafeicultor e convencê-lo a vender nos preços desejados pelo mercado. O que desloca nosso solúvel em relação aos concorrentes é o imposto cobrado na Europa apenas para nosso solúvel. O governo brasileiro precisa lutar para derrubar esses impostos que encarecem nosso café industrializado e favorecem nossos concorrentes. Sem esses impostos a indústria de solúvel poderia remunerar melhor nossos cafeicultores. 

Além do perigo de trazermos novas pragas para nossos cafezais, é preciso pensar na concorrência desleal desses cafés que seriam importados. Nossos produtores atendem a rígidas leis trabalhistas, fiscais e ambientais, que são imensamente mais brandas (quando existem) na maioria dos países concorrentes do Brasil na produção de café. 

Até dia 1, os embarques de novembro estavam em 2.387.610 sacas de café arábica, 16.551 sacas de café conilon, mais 265.541 sacas de café solúvel, totalizando 2.669.702 sacas embarcadas, contra 2.430.506 sacas no mesmo dia de outubro. Até o mesmo dia 1, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em novembro totalizavam 3.199.874 sacas, contra 3.209.016 sacas no mesmo dia do mês anterior. 

A bolsa de Nova Iorque – ICE, do fechamento do dia 25, sexta-feira, até o fechamento de hoje, sexta-feira, dia 2, caiu nos contratos para entrega em março próximo 960 pontos ou US$ 12,70 (R$ 44,02) por saca. Em reais, as cotações para entrega em março próximo na ICE fecharam no dia 25 a R$ 700,76 por saca, e hoje dia 2, a R$ 668,47 por saca. Hoje, sexta-feira, nos contratos para entrega em março a bolsa de Nova Iorque fechou com alta de 90 pontos.

Fonte: Escritório Carvalhaes

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