Agricultura e Amazônia, por Amilcar Centeno

Publicado em 05/03/2013 09:16
Por Amilcar Centeno Silva.
Em nosso artigo da semana passada discutimos a questão das emissões de gases de efeito estufa pela agricultura e de como a agricultura brasileira na verdade é uma capturadora de carbono, e não a emissora. Mas chamamos a atenção para uma prática de algumas agências ambientais estrangeiras que tentam afirmar o contrário usando um argumento duvidoso chamado “uso indireto da terra”.

De acordo com este conceito seria preciso contabilizar no balanço de carbono os efeitos indiretos que se supõe que a atividade tem em outros ambientes que não aquele em que atua diretamente. Aplicando-se este conceito à agricultura Brasileira, seria preciso contabilizar o impacto que a atividade agrícola provocaria na Amazônia e a consequente emissão de carbono pelas queimadas, bem como a potencial redução na captura de carbono pela floresta destruída.

Isto nos parece uma grande manipulação dos fatos, pois apesar de muitos artigos publicados insinuarem esta ligação entre agricultura e desmatamento da amazônia, é difícil estabelecer uma relação direta de causa e efeito entre os dois fatos.

Na verdade, a agricultura brasileira não precisa derrubar uma única árvore, nem na amazônia nem em qualquer outro bioma, para responder à explosiva demanda mundial de alimentos!

Digo isto baseado no fato que temos mais de 70 milhões de hectares de pastagens degradadas, para incorporar à produção agrícola.  E para responder à demanda dos próximos 10 anos estimamos que precisaremos de puco mais da metade desta área. Daí para a frente é difícil fazer qualquer previsão ou especulação, pois ninguém sabe o que poderá acontecer com a produtividade agrícola num período tão longo.

Assim mesmo, tentam argumentar que o avanço da agricultura sobre estas pastagens empurraria a pecuária para cima da floresta. Esta é outra forçada de barra, pois hoje sabemos que contamos com tecnologias de produção agrícola desenvolvidas aqui mesmo, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que nos permitem avançar com a produção agrícola sobre as áreas degradadas mantendo e sustentando a produção pecuária em rotação com estas culturas.

Aqueles que tentam demonstrar esta correlação entre agricultura e desmatamento na amazônia, normalmente se apoiam em fotos de áreas que antes eram floresta e hoje se transformaram em ranchos ou lavouras. O que este raciocínio ignora é o que de fato aconteceu entre uma foto e a outra!

Não é difícil fazer as contas e entender que ninguém consegue pagar o alto custo de uma operação pesada como o desmatamento de uma floresta tropical com sacas de soja ou arroubas de gado. É preciso uma fonte de renda mais robusta, como a venda de madeira de lei no  mercado negro. 

Afinal aonde foram parar todas aquelas grandiosas árvores? As estatísticas são muito variáveis, pois é difícil dimensionar a ilegalidade, mas já vi afirmações que indicam que até 95% da madeira nobre amazônica é extraída, comercializada e exportada de forma ilegal, a partir de corte total da floresta. Os outros 5% seriam resultado de exploração legal e sustentável, a partir do corte seletivo dentro da floresta, sem quebrar seu equilíbrio natural.

Costumo comparar esta atividade criminosa ao tráfego de drogas: é ilegal, internacional, movido pela ambição desenfreada e descomprometida de indivíduos em busca do lucro fácil, muitas vezes suportados pela corrupção das estruturas de poder que deveriam estar protegendo, e não fomentando este tipo de conduta. Assim como as drogas, a exploração ilegal da madeira amazônica deveria ser combatida como qualquer outro crime, ao invés de empurrar a culpa para cima da nobre atividade produtiva de nossa agricultura.

Isto não quer dizer que não existam agricultores inescrupulosos desmatando a amazônia, mas é preciso tratá-los na forma da lei, como qualquer outro crime, ao invés de se fazer uma generalização do problema, penalizando de forma injusta uma grande maioria de trabalhadores honestos, que nos alimentam todos os dias dentro da legalidade e utilizando práticas sustentáveis.

Costumo ilustrar este fato a meus eco conscientes amigos europeus dizendo-lhes que ao invés de se preocupar com o alimento dentro de seu prato, deveriam questionar a origem da madeira da mesa que os apóia!

Um fator que atrapalha e atrasa esta resposta é o alto custo da recuperação das áreas de pastagem degradadas, mas a solução para este problema está sendo encaminhada pelo Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que financia a adoção de práticas agronômicas sustentáveis, como o plantio direto na palha, a integração lavoura-pecuária-floresta; e a recuperação. O programa ainda está no começo e como todo programa de longo prazo há um período de ajuste, que leva de três a cinco anos, mas a solução está encaminhada.

Nosso país não precisa de criminosos ou de uma única árvore da amazônia para dar a resposta que o mundo precisa para alimentar sua crescente população urbana. Precisamos sim de reconhecimento e apoio para os que trabalham de forma honesta e sustentável (mesmo que alguns tentem provar o contrário).

PENSE NISSO!

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Fonte: Amilcar Centeno

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