Florestas aqui, produção lá

Publicado em 18/06/2012 14:34
Por Glauber Silveira, produtor rural e presidente da Aprosoja Brasil.
Para nós produtores já ficou claro que nesta discussão sobre o Código Florestal o principal ponto é o mercado. O mesmo mercado que ronda a humanidade desde que nos entendemos por gente, o mesmo mercado que teve o fogo como fator de riqueza, o ouro, especiarias, petróleo, etc. O "Farms here, Forests there" - “Fazendas e produção aqui (EUA) e florestas lá (Brasil)” - com bolsa crédito de carbono é o uso da bandeira ambiental para se ganhar dinheiro.

Quando vejo ONGs fazendo campanha a favor do desmatamento zero aqui no Brasil me preocupa, uma vez que isto não é sustentável ao longo prazo, já que a sustentabilidade deve vir aliada em pelo menos três pilares: o ambiental, o social e o econômico. Mas esta proposta do desenvolvimento sustentável é mais complicada e dá trabalho, sendo assim é melhor radicalizar e vender o desmatamento zero, este sim arrecada só com blá blá blá.

O povo brasileiro infelizmente não consegue ver o que tem por trás de toda esta apologia. As ONGs, com competência, vendem muito bem isto, afinal quem vai ser contra se preservar a natureza? Enquanto nós, produtores, temos sido falhos na comunicação, falhos em mostrar a importância de se produzir preservando, gerando riqueza, comida para todos em perfeita harmonia com o meio ambiente, com Apps preservadas, curvas de nível, reservas florestais na propriedade, etc.

Na guerra da comunicação estamos perdendo, afinal com dinheiro internacional e uma boa pegada ideológica fica muito mais fácil, entendo que se tivéssemos dinheiro ou ao menos união do setor para mostrar o Brasil sério que preserva mais de 60% de suas florestas seria diferente. Mas infelizmente dá mais ibope pregar o caos do que mostrar o Brasil que produz e que tem feito o nosso país crescer.

Se conseguíssemos mostrar a verdade do campo, tenho certeza que o povo brasileiro entenderia. Ao contrário do que deveria ser a lógica da conta ambiental, apenas o setor produtivo tem pagado o preço, pois que cidadão abre mão de 20, 35 ou 80% de seu patrimônio em prol da humanidade? Não que isto não seja importante, mas a conta tem que ser dividida por todos, afinal quanto vale isto? Porém, infelizmente apoiar o meio ambiente todos apoiam, mas fazer sua parte e colocar a mão no bolso é raro.

A pergunta com relação ao meio ambiente na Rio+20 é: qual o compromisso mundial, já que lá fora não preservam nada? Qual o compromisso das cidades, das indústrias, do governo - que ao invés de investir em energia limpa, em transporte mais sustentáveis, faz o contrário e lança programas para incentivar a indústria a colocar mais carros e caminhões nas ruas e não investe em transportes mais limpos? O compromisso mundial parece ser “eles produzirem lá e os produtores preservarem aqui”.

Aí ficam os produtores como vilões ambientais, subjugados por interesses internacionais, interesses econômicos que não querem que aumentemos nossa produção, afinal este é o reflexo da hegemonia da exportação dos EUA e da Europa que se sente ameaçada pelo potencial brasileiro. Tanto que estamos ficando ricos sem desmatar mais nada e já podemos dobrar nossa produção. Imaginem então se pudermos abrir o que a lei ainda hoje permite, seríamos daqui 30 anos os maiores produtores e ainda com a maior floresta mundial.

A campanha mundial é que o Brasil seja a reserva florestal do mundo, e o governo brasileiro tem feito leis para isto, não só para impedir que se desmate mais, mas também para retornar áreas produtivas a florestas. Tudo ao contrário do que fazem, principalmente, os governos europeus que pagam aos produtores para continuar produzindo e não deixarem áreas produtivas virarem floresta.

Se ao menos o povo brasileiro fosse receber pela floresta em pé seria até interessante, mas infelizmente o Brasil tem renunciado a este beneficio, já que pelas leis internacionais as reservas florestais instituídas pela lei do país não podem ser remuneradas. Isto justifica o empenho das ONGs que representam os maiores poluidores mundiais em aumentar legalmente as reservas florestais brasileiras, assim ninguém precisa pagar para preservarmos.

Se fizermos uma conta simples considerando que temos 61% de nossas florestas intocadas e isto fosse remunerado a 200 dólares por hectare, o que não é muito, teríamos 500 milhões de hectares (isto equivale a aproximadamente 500 milhões de campos de futebol), o Brasil teria que receber da parcela do mundo que não preservou 100 bilhões de dólares ao ano, ou seja, o equivalente a cinco vezes o que se estima que o pré-sal gere de receitas em 2020.

Infelizmente o Brasil está entregando uma grande riqueza que pertence ao povo brasileiro sem pedir nada em troca, nem mesmo exigir que, no mínimo, tenhamos reciprocidade e os outros países reflorestem os percentuais que aqui são obrigados; que todos os rios do mundo tenham APP (matas na beira dos rios) e que todos os biomas mundiais tenham reserva. O governo brasileiro deveria exigir pelo menos que independente de lei nacional toda arvore em pé deva receber por isto. Ou simplesmente o povo brasileiro fará filantropia?

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Fonte: Glauber Silveira

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