Commodities Agrícolas: Quanto vale a necessidade? O céu é o limite?

Publicado em 20/07/2012 15:46
Por José Donizeti Pitoli, 53, economista em Cornélio Procópio (PR).
Crise na terra do “Tio Sam”:

Com água na boca de ver os preços na COBT (Bolsa de Chicago), os produtores americanos tiram o boné, olham para o céu em busca de nuvens.   

Enfrentando a maior seca já ocorrida nos últimos 50 anos, as lavouras dos EUA derretem e compromete o abastecimento alimentar do planeta.   A celeuma de que havia necessidade da formação de estoques capazes minimizarem uma possível catástrofe nas lavouras dos principais países produtores já vinha sendo cantada em prosa e verso.   Os efeitos das perdas estimadas até o momento pode ser sentidos na tabela de preços, que sobem aqui, mesmo na calada da noite.
Confirmando-se as estimativas das perdas os estoques mundiais só serão repostos ao longo de 3 ou 4 anos, salvo se houver a concentração de plantio num único produto.    

Isto significa que se o mundo concentrar o plantio das suas áreas de produção nas culturas de soja e milho, certamente haverá falta de outros alimentos como arroz, feijão, trigo, etc. ...., de algodão e outras fibras e cana de açúcar e todos os demais cultivos, ou seja, estamos num beco sem saída, a velha estória do: se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.

O momento é de grande reflexão para todos e especialmente para os governantes, que no interesse de saciar a fome de seus povos devem doravante incluir em seus orçamentos substanciais cifras a serem destinadas na formação de estoques públicos de alimentos, será um custo social a ser arcados por todas as classes da sociedade.

Nas terras da Dilma:

No Brasil, as duas principais commodities, soja e milho, são cardápio principal que trazem delírio e vislumbram os olhos de quem lê e ouve mídia, os expressivos índices de aumento registrados nos preços, tiram o sono e a tranquilidade das indústrias, granjeiros e setores que dependem destes produtos.   Na mesa do consumidor/trabalhador, resta cozinhar com menos óleo, comer pão sem margarina e dividir o bife.

Por sorte, a produção de milho safrinha será recorde; não ocorreram geadas nas principais regiões produtoras e o clima do outono foi melhor que o de verão para a cultura; o inverno ameno chega com 90,0% das lavouras fora da faixa de serem atingidas por geadas.    Resta torcer para que não chova muito na colheita e a qualidade do cereal será ótima.     Colheremos nesta safra plantada em 2012, uma produção estimada em 55,0 milhões toneladas; ufa! ...., nos safamos de ter que importar o produto aos preços atuais.

Aliás, podemos afirmar que “Deus é brasileiro”, e nossa saia não é tão justa quanto a 100 dias atrás.     

Refazendo as contas:

Com lavouras de inverno já garantidas, já é possível dizer que a produção brasileira terá grande peso e com certeza dará ao mundo a garantia do abastecimento na carne de suínos, bovinos e especialmente de frango.   Nosso mercado de milho está em condições privilegiada, vejamos:  Com estoque de passagem 2011 para 2012  de 9,0 milhões de toneladas, mais a produção do verão estimada em 35,0 milhões de toneladas, mais a soma da produção do inverno estimada em 55,0 milhões de toneladas, temos um estoque de 99,0 milhões de toneladas, menos um consumo interno de 54,0 milhões de toneladas, teremos capacidade de ofertar ao mercado 45,0 milhões de toneladas.

O perigo da ressaca depois da festa dos preços:

Na festa que esta sendo realizada pelo mercado com os preços atuais, o risco de uma forte ressaca (arrependimento por não tem vendido) será muito grande.     Estamos vivendo uma situação conhecida como “Mercado de Clima”; que se caracteriza pelo aviltamento dos preços em razão das severas condições e intempéries climáticas que sofrem as lavouras americanas; em muitas lavouras o efeito pode ser irreversível, mas na maioria das regiões produtoras se ocorrerem chuvas ainda este mês as perdas de produtividade podem ser amenizadas.    Por isto é bom que o produtor que ainda possua produção para ser comercializada, faça uma reflexão sobre os preços atuais e defina sua estratégia de venda dos produtos que ainda possui nos seus armazéns, dos que ainda vai colher e que são da lavoura de inverno e ainda da safra de verão que será plantada aqui no Brasil entre os meses de agosto e dezembro. 
   
Não há mal que sempre dure.    Quando a situação de clima se normalizar lá, provavelmente os preços desabarão; nesta situação o mercado trava e as perdas serão incalculáveis.   Também, tem-se que considerar que com a elevação dos preços dos insumos que compõem a ração animal, em especial o de soja e milho, as empresas de integração que haviam acelerado os alojamentos por consta de uma safrinha cheia (com grande produção), devem sem dúvida reduzir o alojamento de animais com a consequente redução no consumo.

Com a queda na demanda e o mercado mais a cauteloso operando da mão para boca (comprando conforme a necessidade), os preços também cederão a ressaca e a dor de cabeça fica com quem especulou, na maioria das vezes estes são produtores.

Prudência, cautela e canja de galinha:

Muitas são as recomendações dadas pelos especialistas e muitos também são os pitacos dos palpiteiros de plantão; por isso que o produtor tem que ter ideia firme e consciência da escolha a fazer, vale a pena lembrar algumas delas:
- Fazer vendas parceladas e de preferência com o mercado subindo;
- Definir o nível de preço para a venda dos produtos que ainda possui ou vai colher;
- Observar e aproveitar as oportunidades do mercado, (significa muitas vezes vender o produto no preço atual e comprar um outro produto necessário à atividade, mesmo que sejam os insumos); se possui dívidas, mesmo que não vencidas, é o momento de pedir um bom desconto e pagar antecipadamente o débito;
- Buscar fazer a entrega de sua produção em local seguro e de sua confiança;
- Não se encantar com promessas de preços maiores, lembre-se: “confiança não tem preço”.      O mercado é o mesmo para todos e pode pagar mais, quem for mais eficiente.     Propostas de pagamento a prazo e com valores muito elevados devem ser criteriosamente analisadas;
- E, mesmo que não tenha compromisso, o momento atual de preços é bom vender e fazer uma poupança.

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Fonte: José Donizeti Pitoli

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