Salmões rosados, brasileiros apequenados

Publicado em 10/10/2012 17:08
Por Rogério Arioli, engenheiro agrônomo e produtor rural.
Circula pela mídia nacional a percepção de que a opção pela condenação dos réus do mensalão, perpetrada pelo Supremo Tribunal Federal, seja capaz de, isoladamente, desencadear um processo de melhoria nos padrões éticos dos brasileiros.  Segundo esta tese, haveria um divisor de águas entre “antes e depois” da condenação dos vendilhões da pátria, envolvidos nas falcatruas e propinodutos irrigadores da corrupção nacional.

Embora seja grande a torcida a favor desta vertente de pensamento não parece que a situação seja a tal ponto simplista.  Poderá haver, quem sabe, no máximo a diminuição da desgastante sensação de impunidade que paira sobre a sociedade brasileira, como uma nuvem perigosa e fomentadora de novas ações indecorosas.  Ocorre que, infelizmente, o que se convencionou chamar de “jeitinho brasileiro” e anteriormente significava a capacidade das pessoas de adaptarem-se às dificuldades momentâneas, derrapou para fora dos padrões éticos e morais, acabando por transformar-se na total falta de escrúpulos.

Logicamente, ainda existem ilhas de moralidade e bons princípios no território brasileiro e, imagina-se que as mesmas sejam amplas e passíveis de repovoamento.  Mas fato é que uma parte significativa da população incorporou a lei do menor esforço ao seu DNA, e a classe política que aí está é a prova disso, pois foi chancelada pelo sufrágio popular.  Destarte, não parece tão fácil que, apenas o julgamento do STF seja capaz de banir todo mal que contaminou o tecido nacional, numa metástase chaguenta e dolorosa.  É preciso mais.  Muito mais!

É imperioso que se promova uma revolução que, consensualmente, iniciar-se-á pela educação ampla, geral e irrestrita.  Deverá passar, num segundo momento, pelo que a genética define como mutação induzida, ou seja, através do exemplo, agregar aos descendentes o respeito às leis e aos bons costumes.  É tarefa, portanto, para mais de uma geração, o que não deve servir para desânimo e sim para o fortalecimento do empenho.  Passa necessariamente pelo patrulhamento ao colega, ao vizinho, ao amigo e, principalmente, ao membro da família.  Resultará de uma guerra sem tréguas, pois é somente assim que a recuperação da autoestima acontecerá, e com ela o resgate do projeto de país que sonham as pessoas de bem.

Os salmões rosados do noroeste do Pacífico (Orchorhynchus gorbuscha), segundo ensina a Wikipédia, foram diminuindo de tamanho pelo fato de, nos últimos cinquenta anos, os pescadores reduzirem a malha de suas redes, pois passaram a receber pelo peso e não pelo tamanho dos indivíduos.  Assim como muitos brasileiros apequenaram-se nos últimos tempos, reduzindo seus padrões de ética e honestidade, os salmões sofreram uma mutação genética que também os degenerou em tamanho e palatabilidade. 

É chegado o momento de salmões e brasileiros promoverem nova mutação, desta vez positiva e induzida por sua própria população.  Não será nada fácil, pois as redes que os assombram continuarão tentando capturá-los com ou sem o seu consentimento, num canto de sereia que, na maioria das vezes, mostra-se pouco compensatório e sempre vergonhoso.   Espera-se que o exemplo do STF tenha capilaridade suficiente para atingir todas as instâncias do Judiciário e, com isso promova o emprego das leis ao que deveria depender dos costumes.  Paralelamente a isso, a sociedade como um todo - cansada que está desta degeneração moral que bate a sua porta, reaja de maneira contundente através do primeiro, segundo e terceiro setores, numa cruzada patriótica despida de contaminações eleitoreiras.

Feito isto, haverá, talvez um momento, onde os salmões voltarão a crescer e os brasileiros poderão sonhar novamente com uma sociedade onde a meritocracia, e apenas ela, configure-se no alicerce e nos desígnios do novo tempo.
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