Por que eu não travei o preço da soja?, por Glauber Silveira

Publicado em 21/11/2012 07:37
Por Glauber Silveira, produtor rural, engenheiro agrônomo e presidente da Aprosoja Brasil.
Esta é sempre a grande pergunta dos produtores quando o preço começa a cair: “por que eu não travei o preço da soja?”. Como sempre muitos pensam que o céu é o limite e o preço vai continuar subindo, mas felizmente temos observado uma reversão desse quadro a cada ano. Hoje podemos dizer que a maioria dos produtores já tem criado o hábito de ir fechando no mercado futuro o preço da soja que irá colher e, considerando que o mercado é cruel e implacável, sem dúvida, esta é uma estratégia essencial.

E aí fica a pergunta ecoando em nossa mente: se a safra norte-americana fosse cheia para a soja e milho, por quanto estaríamos vendendo a saca hoje? Embora não saiba a resposta, tudo aponta para um preço muito mais baixo do que o vigente. Isso em função dos números da safra de soja nos Estados Unidos terem sido confirmados bem abaixo do inicialmente estimado, e também por conta do bom andamento da safra sul-americana neste momento, ou seja, fatores suficientes para colocarem o preço em patamares mais baixos.

E agora o mercado volta seus olhares para o Brasil, afinal podemos nos tornar os maiores produtores de soja nesta safra superando os EUA. Isto é o que todos esperamos, e apesar dos analistas estarem colocando os números da safra brasileira de soja em 81 milhões de toneladas, este número pode ser maior ou menor, tudo vai depender do clima. 

Outro fator importante para o mercado da soja em 2013 é a safra da Argentina. Se for cheia, os preços podem não voltar a patamares mais altos atingidos e que motivaram os produtores de Mato Grosso a venderem mais de 60% da soja ainda por colher. Apesar dos estoques mundiais estarem muito baixos o mercado precisará de outros incentivadores do preço.

A previsão de consumo mundial tem aumentado a cada ano, e mesmo com o risco de agravamento da crise financeira mundial, imaginem como seria esta demanda se não houvesse crise. Isso na verdade é um bom sinal e confirma que a próxima década será a década da soja, em que prevalecerá um mercado de demanda. Mas não podemos descuidar, afinal o mercado apesar de ser altista é muito volátil.

Felizmente para nós produtores brasileiros os chineses começaram a comer soja e isto abre a possibilidade para que o Brasil venha a se tornar, em 2013, o maior exportador do grão do mundo. Os chineses continuam aumentando a importação e devem importar no próximo ano o equivalente à produção brasileira. O interessante é que sempre que falamos com eles o assunto é o preço. Claro, eles preocupados que os preços estejam altos e nós que sejam baixos.

Bons tempos em que assistíamos às palestras e os analistas nos falavam da relação estoque e demanda. Hoje já não é simples assim, existem os Fundos Internacionais, outras commodities e assim vai, por isto sempre é um grande risco para o produtor, principalmente o brasileiro que não tem seguro de preço, plantar sem ter garantido o preço de pelo menos uma parte da sua produção.

Muita chuva vai rolar ainda, tivemos um início de safra conturbado com seca, grande expectativa de ferrugem, temos a possibilidade de uma colheita chuvosa. Enfim, quem é produtor sabe as incertezas de uma safra e a nossa está apenas plantada - tem que crescer e colher ainda, e o mercado sabe disso, sendo assim poderemos ter momentos de pico de preço e que podem ser uma oportunidade para quem ainda não travou o preço de uma parte da sua produção.

Já ouvi centenas de relatos chorosos, principalmente por ter perdido a oportunidade de ter vendido, e o que eu sempre digo é: melhor deixar de ganhar do que perder.

E-mail: glauber@aprosoja.com.br Twitter: @GlauberAprosoja

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Fonte: Aprosoja Brasil

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