Soja – o cancelamento que nunca existiu

Publicado em 21/03/2013 12:55 e atualizado em 21/03/2013 13:39
Por Liones Severo, consultor de mercado da SIM Consult.

Nós brasileiros, temos verdadeiro frisson por notícias vindas do exterior. Via de regra, não importa a fonte e muito menos a confiabilidade da informação, nem tampouco a avaliação dos prejuízos que essas notícias podem causar para importantes segmentos econômicos, como a atividade agrícola, que por natureza já embute os maiores riscos como o clima e exatamente a renda, esta última decisiva para a continuidade do negócio.

Tenho insistido que o Brasil precisa de uma cultura própria, na qual devemos estruturar as nossas negociações e buscar o crescimento da agricultura brasileira como baluarte de nosso desenvolvimento, até para aumentarmos a produção agrícola que comunidade mundial já esta precisando.

Nesses últimos dias muitos veículos da mídia brasileira se concentrou na noticia do cancelamento de 2,0 milhões de toneladas pela China, que verdadeiramente não foi o pais China como todos se referiram, mas sim uma trading chinesa  e que muito provavelmente não passou de um ensaio provocativo, que nunca foi confirmado nem tampouco ofereceu qualquer correspondência em negócios de soja brasileira física, porque supostamente ofereceria uma certa mudança na mobilidade dos negócios por alguns dias. Coincidentemente houve um movimento de negociação entre revendedores (tradings) de muitos lotes de soja no porto de Paranaguá nos dias em que precederam a referida noticia. O Porto de Paranaguá é referência das negociações de soja brasileira, todas as demais negociações são a partir dos prêmios negociados neste porto.

 No atual cenário dos problemas logísticos existentes nos portos brasileiros, estamos muito expostos a um conjunto de fatores de risco imensurável, se analisarmos os termos e condições contratuais de toda cadeia envolvidas nas exportações de soja brasileira. Portanto, nossa sensibilidade está muito vulnerável, como experimentei nos últimos dias, quando assisti muitos amigos produtores desesperados pelas consequências que o fato poderia oferecer para seus negócios de soja.

Não costumo comentar as informações ou análises, já estou acostumado com esses eventos, cujos resultados quase sempre apontam para um mercado de preços em queda. O índice de frequência de noticias baixista superam os 90 pct no conjunto dessas informações. Em artigos anteriores já manifestei que os negociadores chineses não tem interesse em cancelar negócios de soja em qualquer parte, porque seria um grande risco depredar a produção que os abastece. Entretanto, muitas informações sobre a China são fabricadas para criar instabilidade nos mercados agrícolas. Possuo grande experiência sobre o mercado e os negociadores chineses. Muitas vezes assisto análises ´horoscopianas` quando se trata de China.

Há algum tempo atrás, experimentei uma crítica dos meus principais chineses da época. Suas colocações faziam referências as minhas análises altista para ano de 2012. Minha resposta foi a mais simples:

"Se afirmo é baseado no meu conhecimento de mercado, se não fosse assim, a produção brasileira não cresceria e não teriam como/onde se abastecer. Ademais, com produções menores os preços se tornariam muito mais altos e talvez tão altos e sem ter o produto para adquirir``. Esta é a razão que explica, que a única cura para preços altos são preços mais altos....

 Por fim, posso afirmar que nós brasileiros somos muito competentes, minha afirmação resulta de quase 50 anos como profissional do mercado de soja, tempo este que me confrontei com as mais diversas culturas a nível global.

 Este meu artigo não trata de crítica e nem reparo a qualquer participante do mercado de soja. Tenho somente o objetivo de levar conhecimento e tranquilidade para o campo. Me desculpem se estou sendo pretensioso.

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Fonte: Liones Severo

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