Potencial Negligenciado, por Rogério Arioli

Publicado em 20/05/2013 15:42
Por Rogério Arioli Silva, engenheiro agrônomo e produtor rural.

Muito se comenta sobre custos de logística e dificuldades em se produzir produtos primários no coração da América, portanto longe dos portos de exportação e dos principais mercados consumidores. Também é corriqueira a discussão sobre os modais de transporte utilizados pelo Brasil que tornam o escoamento da produção extremamente onerosa e pouco competitiva. Transportes a longas distâncias devem ser efetuados pelos modais ferroviários ou hidroviários. 

Esta verdade absoluta sempre foi desconsiderada na formatação do processo de desenvolvimento nacional. No estado de Mato Grosso existem inúmeras hidrovias que podem ser navegáveis, havendo necessidade de investimentos principalmente em eclusas, por ocasião dos barramentos dos rios. Há apenas uma hidrovia que está pronta para ser utilizada e foi a responsável pela penetração dos primeiros desbravadores deste estado. Esta hidrovia, representada pelo Rio Paraguai, infelizmente encontra-se paralisada por questões ambientais.

Em recente viagem ao município de Cáceres juntamente com lideranças executivas e legislativas, além de empresários das regiões Médio- Norte e Sudoeste de Mato Grosso, numa iniciativa do Movimento Pró-Logística e da Aprosoja, tivemos a oportunidade de visitar o local onde deverá ser instalado o futuro ETC (Estação de Transbordo de Cargas) de Santo Antônio das Lendas. Este local fica a aproximadamente 80 km pela rodovia BR 174 ao sul de Cáceres ou 100 km Rio Paraguai abaixo. 

Trata-se de um local privilegiado pelo fato de haver uma formação rochosa à beira do rio, além de o mesmo ser bastante profundo (até 10m) e livre das curvas que caracterizam o Paraguai na saída do porto de Cáceres. Este fato permitirá que a partir da ETC de Santo Antônio das Lendas os comboios de barcaças possam transportar de 8 a 10 mil ton., ou seja, o dobro do que atualmente é possível, devido ao baixo calado existente e em decorrência das já mencionadas curvas à montante do ponto visitado. 

A Ecovia (denominação mais atual) do Rio Paraguai percorre 1693 km em território brasileiro e se liga com o Rio Paraná totalizando 3.400 km, sendo considerado “o corredor de áreas úmidas de água doce mais extenso do planeta”, interligando cinco países: Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Brasil. Através deste sistema fluvial é possível atingir-se os portos de Rosário e Santa-Fé na Argentina chegando até Nueva Palmira no Uruguai, incrementando sobremaneira este mercado sul-americano que atualmente encontra-se negligenciado. Produtos como grãos, carnes, fibras, madeira além de outros da produção local ganhariam enorme competitividade, além do fato de que muitos insumos utilizados na região poderiam retornar pela Ecovia Paraguai-Paraná.

Atualmente o custo para transportar uma tonelada de grãos até os portos de Santos ou Paranaguá que distam em torno de 1800 km da região de Tangará da Serra está em torno de R$ 280,00 por tonelada. Estimativas consideram que o custo para transportar estes mesmos grãos desta região até a ETC de Santo Antônio das Lendas (em torno de 350 km) seria de R$ 60,00/ton. Acrescido do transporte fluvial até Nueva Palmira no Uruguai de R$ 80,00/ton. o total resultaria em R$ 140,00/ ton., ou seja, metade do que se gasta atualmente. Para que esta situação se concretize é necessária a pavimentação dos 70 km da BR 174 que dá acesso à futura ETC, além de outras estradas estaduais que permitiriam a ligação rodoviária entre as cidades próximas.

Os investimentos necessários à construção da ETC de Santo Antônio das Lendas estão estimados em R$ 60 milhões, e também estão previstos no PAC II mais R$ 53 milhões a serem alocados para sinalizar e melhorar as condições de navegabilidade do rio Paraguai até a cidade de Corumbá – MS. A ETC terá condições de movimentar aproximadamente de oito milhões de toneladas de grãos e beneficiará em torno de 30 municípios com grande capacidade de produção agropecuária além de significativo potencial turístico. 

Alguns entraves de ordem ambiental ainda existem sendo necessária a aprovação do EIA/RIMA pelo IBAMA, fato que geralmente demanda tempo e recursos para o atendimento da estapafúrdia burocracia existente nessas situações. Cabe lembrar que cada comboio de barcaças de 30.000 ton. evita o tráfego de aproximadamente mil caminhões com motores e pneus altamente poluidores do meio ambiente.

Não há, portanto, nenhum sentido em postergar tão importante operação desta Ecovia que emprestará maior competitividade aos produtos mato-grossenses, além de contribuir para a diminuição das emissões oriundas de milhares de caminhões que, perigosamente, trafegam nas precárias estradas do estado.

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Fonte:
Sind. Rur. Campo Novo do Parecis

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