Redução na área de soja da Argentina, por Sebastian Gavalda

Publicado em 21/10/2013 14:03 e atualizado em 22/10/2013 14:02

Enquanto a Argentina vem reduzindo sua área de plantio do trigo e do milho nos últimos anos, o mesmo fenômeno não vinha sendo observado na cultura da soja. Basicamente, por ser o único grão exportável quase em sua totalidade, ele acaba por ser de menor custo e, consequentemente, de maior renda e menor risco.

A próxima safra, surpreendentemente, aponta para uma queda na área de soja argentina, ou então um crescimento menor do que o ritmo de safras anteriores. As causas são diversas. Na somatória, se encontram uma baixa renda esperada, a falta de liquidez nas empresas do setor, um ambiente de negócios ruins, redução nos arrendamentos e o clima, que está longe de ser ideal.

Negócio pouco atraente

A Argentina tem, nos últimos anos, e este parece ser a exceção, enfrentado uma taxa de inflação acima da desvalorização e isso, claramente, trouxe o aumento do dólar, com consequente perda de competitividade. Este aumento foi parcialmente compensado pelos preços da soja, que vêm subindo desde a safra 2009/10. Também é necessário esclarecer que a alta da soja do último ano está explicada por uma safra argentina com 10% a menos do que o total inicialmente esperado, o que não chegou a compensar aqueles que colheram abaixo da média histórica.

A primeira má notícia é que os preços para a próxima temporada são cerca de 10% inferiores ao mesmo período do ano passado (US$330/t contra US$295/t), devido, principalmente, a recuperação da oferta mundial dos grãos de soja. Com esses valores abaixo de US$300, há várias áreas na Argentina onde a renda é muito baixa para o produtor.

Falta de liquidez nas empresas

A falta de liquidez nas empresas em várias regiões também é responsável pela falta de bons negócios. Segundo uma pesquisa realizada pelo movimento CREA (Consórcio Regional de Experimentação Agrícola), 22% das empresas consultadas refinanciaram dívidas da safra anterior. No caso das áreas do noroeste argentino (NOA) e de Santa Fé, uma de cada 5 empresas refinanciou mais de 20% de sua dívida.

Outros dados relevantes da pesquisa apontam que 62% dos empresários indicaram que a situação econômica/financeira de suas empresas está pior do que a um ano atrás, e 50% pensa que a situação irá ficar pior na próxima safra. Quanto à situação do país, 84% acham que o país está pior do que há um ano.

Campos secos e sem renda

Em pleno outubro, tempo de iniciar o plantio da soja, muitas áreas ainda não foram arrendadas. Existe um descompasso entre as expectativas do proprietário do terreno e o que o negócio realmente pode pagar.

A situação vem se acentuando e permite observar que muitos campos não serão semeados porque o proprietário não o oferece a quem deseja pagar, outros porque estão em más condições e o clima também não ajuda, pois várias áreas do país, com epicentro em grande parte de Córdoba e Santa Fé, enfrentam o problema da seca.

Se não ocorrerem mudanças climáticas a curto prazo ou, sobretudo, um aumento significativo no preço da soja pode melhorar a situação atual, tudo indica que, pela primeira vez na história, a Argentina terá uma queda na área de soja a ser plantada.

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Fonte: Sebastian Gavalda

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