"Amadurecimento da classe produtora por meio do voto"

Publicado em 12/11/2013 16:15 e atualizado em 12/11/2013 16:52
por Carlos Fávaro, presidente da Aprosoja/MT (leia também artigo de Xico Graziano, Ecologia e Ideologia)

A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso acaba de passar por um processo eleitoral que nos orgulhou muito. No dia 4 de novembro, mais de mil associados foram até os Sindicatos Rurais de seus municípios e depositaram seus votos e sua confiança em uma diretoria e em delegados representantes dos quatro cantos do estado para fortalecer o setor.
 
Acreditamos que a entidade precisa de renovação e, por isso, discutimos amplamente com nossa base os nomes que seriam colocados à disposição para o voto. Desde junho foram realizadas diversas reuniões para que conseguíssemos chegar a uma chapa que representasse os anseios da maioria.
 
Nossa gestão foi reconhecida e referendada para continuar à frente da Aprosoja por mais dois anos. E houve uma oxigenação, temos quatro novos nomes que estão dispostos a trabalhar para conquistarmos ainda mais.
 
O ápice desta eleição, porém, foi a disputa para os cargos de delegados da entidade. Pela primeira vez, eles foram eleitos e não indicados por cada núcleo da Aprosoja. E houve disputa nos 22 municípios em que a entidade tem representação, tanto para titulares como para suplentes. Vejam a credibilidade que nossa associação está conquistando: disputa para ser um representante voluntário!
 
O reconhecimento do trabalho da Aprosoja faz com que os associados se interessem em participar mais ativamente das decisões. Isso foi provado nesta eleição, quando tivemos um aumento de 40% no número de votos, que não são obrigatórios, em relação ao pleito anterior.
 
Além disso, a eleição ocorre em plena época de plantio da safra de soja, quando os produtores rurais estão envolvidos com os trabalhos em suas fazendas. Mesmo assim, vieram à cidade exercer o direito democrático de escolher seus representantes.
 
Mas esse processo também não começou da noite para o dia. Desde a eleição para o Conselho Fiscal da entidade, em março do ano passado, houve o voto direto. Assim, conseguimos renovar os quadros e incentivar a disputa sadia para a melhoria da associação.
 
Não podemos deixar de ressaltar o importantíssimo trabalho realizado pela equipe de colaboradores da Aprosoja. Nesta eleição, criamos um sistema informatizado que deu agilidade ao processo e transparência, até mesmo para que houvesse o voto itinerante.
 
É um caminho positivo que não pode retroceder. De agora em diante, cada vez mais a Aprosoja irá crescer e representar os produtores rurais de Mato Grosso no Brasil e no mundo. E precisamos estar unidos, trabalhando para uma entidade forte e transparente. Que venham os próximos dois anos de conquistas!
 
* Carlos Fávaro é produtor rural em Lucas do Rio Verde e presidente da Aprosoja-MT

 

Ecologia e ideologia, por Xico Graziano

Importante tendência ideológica anda se esforçando para dominar o ambientalismo brasileiro. Sua mais recente tacada se materializou com o lançamento, pelo governo federal, do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo). Verdadeiro anticapitalismo no campo.

Recheado de boas intenções, tal plano configura uma espécie de socioesquerdismo esverdeado. Não é fácil defini-lo. Sua articulação política envolve os chamados "povos oprimidos", em que se misturam índios, quilombolas, quebradoras de coco, comunidades ribeirinhas, pescadores artesanais, grupos em geral alinhados com o ideário do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na contramão da História, eles propugnam uma "via camponesa" em contraposição ao agronegócio empresarial.

Naquela conferência mundial sobre sustentabilidade promovida em 2012 pela ONU no Brasil (Rio+20) já se podia perceber a força desse movimento, que, mais amplamente, pretende falar pelos "excluídos" da sociedade contemporânea. Lideranças de várias organizações não governamentais (ONGs) lutaram para derrubar o enunciado oficial sobre a "economia verde", argumentando que pouco lhes interessava esverdear o capitalismo. Defendiam uma sociedade pós-capitalista.

Embora sem jamais explicar ao certo como funcionaria esse mundo alternativo, obtiveram sucesso ao emperrar as negociações da diplomacia internacional. Dezenas de causas, as mais inesperadas, progressivamente postas nas mesas de discussão, embaralharam os debates sobre a agenda do desenvolvimento sustentável. Resultado: tudo se confundiu e nada se decidiu na Conferência Rio+20.

Nessa época, circulava um documento da Articulação Nacional de Agroecologia propondo criar no Brasil uma política distinta para o desenvolvimento rural brasileiro. O texto expressava posição contrária aos empresários do campo e, até mesmo, criticava as políticas de apoio à agricultura familiar, acusando-as de induzirem à vinculação dos pequenos produtores aos setores do agronegócio. Algo como se fosse proibido progredir na roça.

Zander Navarro já apontou, em artigo publicado aqui, no Estado (Fadas, duendes e agricultura, 30/10), a fraqueza teórica e prática desse suposto "modelo agroecológico" de produção campesina. Seus formuladores vivem da retórica, não comprovam viabilidade prática. Existem, sim, casos interessantes de agricultura alternativa. Mas seguem restritos, funcionam isolados, com baixa produtividade, incapazes de gerar excedentes alimentares para abastecer a massa da população.

Há meio século, início do movimento ambientalista, alguns marxistas franceses tencionaram fazer da luta ecológica uma frente de batalha contra o capitalismo. A pregação não vingou plenamente. Uma das razões estava no fato de que os então países comunistas, União Soviética à frente, igualmente depredavam os recursos naturais do planeta. Nesse contexto se formaram inusitados partidos políticos na Europa: nem esquerda nem direita, mas verdes.

Bem antes disso, na agricultura mundial haviam surgido algumas tendências se contrapondo às tecnologias intensivas, principalmente contestando a quimificação. Primeiro nasceu a linha dos alimentos orgânicos, a partir das observações de sir Albert Howard, no começo do século 20, acerca dos métodos indianos de produção rural. Seu princípio básico, um dogma, estabelece que a sanidade das plantas depende do húmus existente no solo.

Outras vertentes se seguiram, cada qual liderada por renomados estudiosos. A biodinâmica iniciou-se na década de 1920, baseada nos princípios filosóficos do humanista alemão Rudolf Steiner, fundador da antroposofia. A agricultura biológica, por sua vez, surgiu entre a França e a Suíça, a partir dos trabalhos de Francis Dhaboussou, voltados para o controle natural de pragas e doenças. Mais recente, a permacultura, encabeçada na Austrália por Bill Mollison, baseia-se nas técnicas indígenas, que intercalam cultivos temporários com plantios florestais.

De todas essas correntes, a que mais se avolumou foi a orgânica, destacando-se principalmente na Europa. Há uma explicação técnica. Acontece que nos países temperados o frio intenso limita a população dos patógenos que atacam as lavouras, facilitando a produção. Nas calorentas e úmidas regiões tropicais, porém, sem neve a hibernar a terra, a enorme proliferação das pragas e doenças torna tudo mais complexo na produção rural. Mesmo assim, no Brasil e na Argentina existem bons produtores orgânicos.

Obrigatoriamente certificada, para comprovar que segue um rigoroso protocolo, a produção orgânica nada guarda de ideologia. Seu intuito é comercial, atendendo aos nichos de mercado constituídos por consumidores mais exigentes e mais ricos, capazes de pagar seu elevado preço. Essa característica advém dos modestos níveis de produtividade com que opera, resultado das tecnologias brandas que utiliza. Por essa razão, fora das quimeras, ninguém imagina que o cultivo orgânico seja capaz de alimentar a humanidade. Não no horizonte atual.

Nisso derrapa o Planapo da presidente Dilma Rousseff. Seus propósitos, positivos no estímulo de formas mais amigáveis de produção no campo, se diluem em seu recheio ideológico, condenando-o ao fracasso. Agora, perigosa mesmo é uma mamata escondida em suas ações. Nele existe uma fabulosa quantia, de R$ 100 milhões, destinada até 2015 ao "fortalecimento de redes de agroecologia, de agroextrativismo e de produção orgânica". Sabe-se lá o que significam essas "redes". Cheira a dinheiro público a ser liberado via convênios para entidades, algumas meio fantasmas, criadas para viverem à custa do erário.

Velha esperteza disfarçada na causa ecológica.

 

*Xico Graziano é agrônomo, foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: [email protected]

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Aprosoja + NA

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