A agricultura e a difícil escolha entre dois caminhos, por Eduardo Lima Porto

Publicado em 21/04/2014 14:15
Por Eduardo Lima Porto, consultor de mercado da CustodoAgro – Consultoria Agrícola.

Ultimamente, verifica-se uma alternância de conduta por parte de algumas Lideranças Rurais no Brasil.

Tais comportamentos revelam-se contraditórios e trazem enorme intranquilidade para os “liderados” mais lúcidos , assim como para o Mercado em geral.

É chegada a hora do Agronegócio definir o caminho para o seu Futuro, consciente de que não existe duas estradas e com a certeza de que não há um atalho através do meio.

Se buscamos um arcabouço institucional fundado no respeito à propriedade privada, o Setor Agropecuário não pode de maneira alguma buscar socorro no Governo quando o cenário dos preços se torna desfavorável.

É constante a aparição de Líderes Rurais protestando pelo estabelecimento de “Preços Mínimos” e “Prêmios para o Escoamento da Produção”. Clama-se a todo momento por subsídios governamentais para que o setor continue produzindo Alimentos, ao mesmo tempo em que se defende fervorosamente o Direito à Propriedade.

Nada mais contraditório!

Antes que alguém se confunda e me chame de Comunista, declaro publicamente que sou um Liberal Convicto em matéria econômica.

Como Liberal, defendo a tese de que o Lucro é o motor da prosperidade. Quando é fruto do trabalho honesto, trata-se de algo absolutamente Sagrado.

Por essa razão, entendo que algumas das nossas Lideranças estão acometidas de uma dicotomia existencial que é extremamente perigosa.

Aqueles que reclamam pela ajuda do Governo na menor adversidade, buscam, na verdade, socializar o prejuízo das suas atividades e na essência colocam a descoberto a sua própria incompetência.

No ano passado, uma expoente liderança questionou publicamente: “E agora o que fazemos com tanto Milho?” Na ocasião fui muito criticado quando perguntei a alguns Agricultores se o Governo havia lhes obrigado a plantar.

Quem pede ajuda para escoar o excesso de produção para não ter que amargar prejuízos, está ao mesmo tempo pavimentando o caminho para que o Governo lhes diga o que fazer, quanto plantar e por qual preço vender. Ou não é verdade?

Somos responsáveis pelas nossas decisões. 

É muito fácil pregar o Livre Mercado quando os preços estão ascendentes. Difícil é administrar situações negativas quando o cenário se inverte, mas isso é parte do jogo e temos que aprender a jogar honestamente.

Como Liberal, sinto nojo daqueles que correm para baixo da “Saia da Mamãe Estado” quando o Mercado ou o Clima não lhes é favorável.
Se não quisermos que o Governo confisque boa parte dos nossos rendimentos, a exemplo do que ocorre na Argentina, deixemos, pois, de reclamar por subsídios através de  “Preços Mínimos.”

O Preço Mínimo literalmente se equivale a um Imposto.
 
Trata-se de um Imposto medonho que visa cobrir um prejuízo setorial, cuja conta se transfere para a Coletividade. A quem discorda desse argumento, pergunto: Alguém já viu alguma liderança do Setor oferecer desconto para a Sociedade quando os preços disparam no mercado internacional?

Se não quisermos ver legitimado um Modelo Intervencionista Cubano na Agricultura, temos que deixar de requerer a proteção do Estado. Ao contrário, temos que exigir que o Estado não atrapalhe o nosso trabalho, pois é plenamente justificável afirmar que o sustento de boa parte da máquina publica vem dos Impostos arrecadados na produção.

A população urbana, em geral, desconhece completamente a realidade do setor rural.

Em parte, essa ignorância generalizada tem origem na nossa própria incompetência para difundir concretamente o que fazemos e de que forma contribuímos para o desenvolvimento do País.

Os Agricultores Profissionais e Empresariais, sejam eles pequenos, médios ou grandes, não são Pobres Coitados! Não estão obrigados a seguir na atividade por imposição legal ou divina.

Ao invés de buscar subsídios ou incentivos à produção que lesam os cofres públicos, mais correto seria lutar pela eliminação das muitas distorções que afetam seriamente o Agronegócio brasileiro. 

Queremos uma Ditadura Comunista do Estilo Bolivariano, que nos determine o que produzir, por quanto e a quem vender? Ou buscamos um Estado Democrático e de Direito, onde seja legítimo que as pessoas prosperem ou quebrem de acordo com as suas competências e capacidades individuais?

Tão certo quanto o famoso axioma da Física que determina que “dois corpos não ocupam o mesmo espaço”, não é possível transitar entre polos opostos ou ter dois pesos e duas medidas.

Independente de qual caminho que venha a ser escolhido, importante sabermos que iremos enfrentar buracos e outras dificuldades na viagem.

Deixo essa humilde reflexão contributiva.

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Fonte: CustodoAgro

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